terça-feira, 30 de outubro de 2007

Oh, Up Yours Tony


Existe algures em Londres uma criatura saída do esgoto que dá pelo nome de Tony Parsons. Sabe-se que é colunista e escreveu uma biografia sobre George Michael. Em síntese, mais um paparazzo capaz de alinhar dois parágrafos. Pois bem, o emplastro acaba de assinar um artigo no "The Mirror", onde insulta despudoradamente o embaixador português em Londres, António Santana Carlos e faz uma série de alusões de carácter xenófobo em relação ao nosso país. Isto a propósito de uma entrevista que aquele concedeu ao "The Times", onde comentou o caso Mc Cann. O hominídeo aconselhou-o a "manter fechada a sua estúpida boca de comedor de sardinhas" e referiu-se à polícia portuguesa como "estúpida e cruel". A arrogância prossegue, atacando a "aterradora" imprensa portuguesa, sempre disposta a publicar qualquer pedaço de lixo tóxico. Uma prática desconhecida na velha Albion, como se sabe. Onde um tablóide espreita em cada esquina. E é precisamente num dos mais emblemáticos que pasta o nosso Tony "Thin Dick" Boy. Que aproveita ainda para afirmar que os apupos dos populares a Kate McCann "não foram de outro país, foram de outro planeta". É claro que o jornal deveria imediatamente enviar um pedido de desculpas ao Embaixador e aos portugueses. Todavia, a estratégia dos Mc Cann ganha peso e medida: a criação de uma turbulência mediática que passa pela xenofobia, o reavivar de preconceitos colonialistas, a insinuação de uma polícia incompetente, uma imprensa venal e uma opinião pública terceiromundista. Isto é, a criação de um casus belli com incidências nacionalistas, uma cortina de fumo propícia à confusão e à vitimização. De resto, a pose imaculada dos Mc Cann sempre me levantou suspeitas. A adesão obsessiva a uma exemplaridade moral, tecida através de spin doctors e bons contactos, é mais própria de um sociopata ou de uma consciência que sufoca sob o peso do remorso. Mas é unicamente às autoridades policiais que cabe concluir as averiguações. Para os Tonys refocilantes e restantes zotes pagos pela task force de public relations dos Mc Cann, aqui vai pois o respectivo. Se não chegar, este vai a seguir.

Ver aqui a notícia do artigo

Lido

espera-me onde tudo ficou por dizer
nessa casa de mágoa
entre árvores
no meio da solidão
num jardim de Outubro
perto do fim

A.M., no "Imitação dos Dias"

A estação sem apeadeiros

1984

Estas são realmente as coisas que me assustam. A deriva totalitária e as formas de controlo sobre o tráfego da web, numa excelente postagem de Rui Bebiano. Que remete para um artigo saído no Suplemento Digital do Público, intitulado "Quando os governos preferem que o seu país fique offline". A lista negra começa no Panamá e acaba em Cuba, passando pela China, Coreia do Norte, Bielorrússia e alguns países islâmicos. Muitos deles, santuários onde são inquestionáveis as verdadeiras liberdades, segundo o PCP.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Crimes exemplares - 18

L. é um homem de 55 anos. Há quinze anos que está reformado por invalidez psicológica, a família preferiu assim. Nunca casou e desde a morte dos pais passou a viver na casa do irmão mais velho que lhe arranjou um biscate onde se vai entretendo e juntando mais uns tostões à magra reforma que recebe do estado.
L. quase não fala. Até um ‘bom dia’ é coisa difícil de se lhe arrancar dos lábios. Não se sabe ao certo se vive de acordo com a sua vontade; nunca abriu a boca para dizer o que queria assim como nunca se queixou do destino que a família lhe escolheu. Vive hermeticamente dobrado sobre si próprio e os seus olhos negros terrivelmente brilhantes e irrequietos como o voar de uma mosca parecem ganhar alguma tranquilidade apenas quando o vemos regressar das longas caminhadas que faz todos os dias.
Na família não há memória de alguma vez L. ter tido amigas ou amantes. Pelos trinta e poucos, as irmãs, substituíram-se à sua extrema timidez e fizeram-lhe um arranjinho com a solteirona lá do bairro. Era vê-los todos os domingos sentados no banco de pedra em frente ao café, ele sem abrir a boca debruçado sobre os joelhos e ela tagarelando a tarde inteira fazendo as perguntas e respondendo por ele. Mas nem a anafada da J. resistiu a tanta apatia e continua até hoje sozinha à espera de arranjar marido. Anos mais tarde, o primo M., que tem fama de gabiru, pegou nele e levou-o às putas, mas L. nem uma nem duas, voltou de lá sem saber o que a coisa era.
A família de L. há muito tempo que não questiona a sua estranha existência. Dão-lhe cama e roupa lavada e lá deixam o homem viver à sua maneira. Das longas e misteriosas caminhadas adivinham apenas que regressa feliz. De tal forma que ninguém estranha umas manchas vermelhas que às vezes aparecem nos sapatos.

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Graffitis - 22


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domingo, 28 de outubro de 2007

Diário de um tolo

As abluções domingueiras aconselham uma colheita de pensamentos originais, desalinhados, clarividentes, de uma circunspecção à prova de fogo. Por conseguinte, deveria destilar um brilhante silogismo, um naco de ironia, uma posta de saber com provas dadas, que se sustem à beira do abismo do auto convencimento, um vôo poético de fazer inveja, uma carga certeira no bombo da festa do momento, um feixe de luz para um sentido oculto, um casus belli desencantado onde ninguém esperaria, o xeque-mate numa polémica à beira da caducidade, tudo isso, o exercício de austeridade virtual, o mantra cibernético, a erudição prostituída, o cheirinho a obscuridade, só porque sim, ou porque não, a solidão desfeita e refeita. Contudo, por mais que tente, é a alquimia que não sai, que se tornou impossível, porque basta estender a mão e respirar.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

O Expresso da página 161

Lembram-se daquele jogo em que uma folha de papel vai rodando, dobrada de forma a que cada um possa ler a frase anterior e escreva outra que lhe dê sequência? O processo pode continuar ad aeternum, mas o resultado é surpreendente. Assemelhando-se a um exercício de escrita automática, em que o todo é diferente de qualquer uma das partes. Pois bem, o Rui Bebiano teve a amabilidade de me lançar um repto: participar numa invulgar série de respostas em cadeia. O desafio é o seguinte: que escolha o livro mais próximo, literalmente; que o abra na página 161; que procure e transcreva a 5ª frase completa; que tenha o cuidado de não escolher a melhor frase nem o melhor livro; e que o passe a outros cinco bloggers. Agora, digam lá se uma coisa e outra não se assemelham?
Segui então à risca as instruções. Peguei no livro que repousava em cima da secretária: "Armai-vos Uns aos Outros", de Sérgio Almeida (ed. Deriva, Porto, 2004). No local pretendido, inserida num conto intitulado "Crítica da Ração Pura" - uma boutade a propósito do grande filósofo de Königsberg - encontrei esta pérola: "Há muito que os rudimentares jogos mentais tinham deixado de ser o terreno fértil onde o pensativo miúdo colhia sementes lúdicas que muito o auxiliavam a ter inconsciência plena de si."
E agora, aproveito para lançar o desafio ao Manuel, ao Sérgio e ao Américo.

Do outro lado

Lido

"Não sei se Luís Campos e Cunha pretende dizer mal de Sócrates, de Santana ou dos dois, com o que escreve hoje no Público: "Sócrates vai ter um interlocutor no Parlamento [Santana Lopes] do seu nível político e intelectual."

JPP, no "Abrupto"

Ela por ela

Doris Lessing foi recentemente entrevistada no "The Guardian". Às tantas, afirma a jornalista autora da peça, que "como todos os meios de comunicação ressaltaram, Doris Lessing é apenas a 11ª mulher recompensada entre os 104 laureados do Prémio Nobel da Literatura." Mais à frente, "se Doris Lessing não é uma escolha assim tão surpreendente, talvez seja, entre outras razões, porque ela é, acima de tudo, uma escritora de ideias e de ideais."
Se houvesse um detector de politicamente correcto em cada artigo de jornal ou prelecção académica, era muito difícil não começar logo a apitar com veemência. Neste caso, poupei trabalho ao leitor a aqui ficaram registadas duas pérolas dessa má consciência, que degenerou num whisfull thinking serôdio e totalitário. Em relação à mais básica, a distribuição do prémio pelos géneros, ela fala por si. Mas seria interessante saber quantos dentistas já foram galardoados. E quantos chineses? E quantos esquimós? E quantas donas de casa de Cincinatti? E quantos ex-nadadores-salvadores? E quantos húngaros com pé de atleta? E quantos membros da tribo Massai? A lista seria interminável. De resto, para quem sente a literatura mais perto de si do que a veia do pescoço, como é o caso do escriba, será que um galardão que ignorou Borges, Yourcenar, Lobo Antunes ou Duras tem alguma importância? No entanto, a partir de agora e para minimizar o "escândalo", deveria haver quotas para mulheres nobelizadas. Neste momento, o saldo está em 93-11 a favor desses hirsutos e primitivos usurpadores dos talentos femininos. O que quer dizer que, nos próximos 80 anos, deveriam ser unicamente premiadas mulheres. Ou então, num assomo de liberalidade, os descendentes de Greene, Camus, Hemingway, Mann, Kipling, Beckett, Faulkner, Eliot, Hesse ou Steinbeck, deveriam entregar os prémios a uma associação feminista qualquer, que depois daria conta do recado. Em qualquer caso, as laureadas seriam sempre, de preferência, escritoras de ideias e de ideais. Por essa ordem, claro.

Publicado no jornal "O Interior"

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Stalker

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Mecânica Popular

Pierre Bastien apresenta “Mecânica Popular” no TMG. Será na sexta-feira, às 21.30, no Pequeno Auditório. O espectáculo, que aqui estreia em Portugal, é uma co-produção TMG/Quarta Parede e insere-se no Festival Y#5, que decorre na Guarda, Covilhã e Fundão. O multifacetado músico francês cria complexas instalações sonoras e compõe música com a chave de fendas.

Adenda: o concerto foi adiado devido à greve na aviação civil

Upgrade

A lista de agradecimentos a todos aqueles que, ao longo de 20 meses, referenciaram este blogue, incluída na postagem que assinalou o seu primeiro aniversário, acaba de ser devidamente actualizada. Consultar aqui.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Contas de somar

via "Estrela no seu Melhor"

Os representantes das habituais capelinhas locais andam apavorados com o recente anúncio da criação de uma Região de Turismo do Centro. A medida, prevista na Lei-quadro do sector, pretende reordenar as 19 regiões existentes e reduzi-las a 5. Ver aqui a notícia completa. A Câmara da Guarda já se pronunciou desfavoravelmente, indo ao encontro das posições do incrível presidente vitalício da RTSE. A Vereadora do Turismo destaca mesmo a "criação de novos produtos turístico" em favor do status quo. Por outro lado, Luís Celínio, presidente do clube Escape Livre, vem acrescentar que a Serra da Estrela terá que ter um "tratamento especial" no novo mapa do turismo nacional. Comecemos então a juntar as parcelas. Um dos "produtos inovadores" criados foi precisamente o "BMW X Experience/Serra da Estrela 2007", uma iniciativa promovida pelo Escape Livre. Sabem no que consistia, grosso modo? Uma série de veículos todo o terreno galgando a pista da estância de ski, em pleno maciço central!!! Supostamente com a complacência do Parque Natural e o natural contentamento da Turistrela. Entidade que, de mãos dadas com a RTSE, encara a Serra como uma coutada privada, onde tudo é possível, desde que as negociatas se mantenham. E pronto, contas feitas, conclusões à vista. Perceberam agora porque é que estes senhores querem manter a situação?

NOTA: para uma melhor apreciação da "actividade", veja-se esta postagem no "Estrela no seu Melhor", que oportunamente denunciou a situação.

Já só falta um

O reinado dos gémeos Kaczynski acabou na Polónia. Nas legislativas de domingo, o partido Lei e Justiça do primeiro ministro Jaroslaw perdeu a favor da Plataforma Cívica, liderada por Donald Tusk. Nem as benesses concedidas na negociação do recente Tratado de Lisaboa impediram o desaire. Ora, como refere Pedro Mexia no "Gattopardo", não é com estes lideres reaccionários que a direita se afirma como alternativa política credível. No caso polaco, o consulado dos gémeos destacou-se pela negativa: impediu o desenvolvimento de uma classe média, favoreceu descaradamente os pequenos proprietários rurais, onde residia o seu suporte eleitoral, bloqueou as reformas económicas tendentes à entrada do país na zona euro, fez voz grossa na UE em relação a matérias que são parte integrante do património cultural e político europeu. Em suma, funcionou como uma típica força de bloqueio, refém dos sectores católicos mais conservadores.

The God Delusion - 2

Dawkins propõe-se demonstrar que Deus não existe. Com a mesma seriedade com que S. Tomás de Aquino quis fazer o contrário. Não é difícil, porque as suas famosas cinco provas da existência de Deus são singularmente vácuas. As três primeiras - o primeiro impulso, a causa indeterminada e o argumento cosmológico - baseiam-se em que não pode haver uma regressão infinita no sentido do movimento, das causas ou do tempo. E, por fim, tem que haver um Impulsor, uma Causa, ou um Criador originários. Mesmo que alguém aceite, a benefício de inventário, que a cadeia haja de partir-se nalgum ponto, não se poderá depreender que o Big Bang tenha que ser omnipotente, omnisciente e demais omnis. E menos ainda que tenha de escutar as nossas preces, ocupar-se dos pecados do mundo ou fazer de redentor. O argumento número 4, o dos graus de perfeição, nem sequer Dawkins, habitualmente parco em ironia, pode deixar de o expor ao ridículo. A nossa percepção de que neste mundo inferior há coisas mais perfeitas do que outras não necessita de um símbolo máximo de perfeição. A última tese de S. Tomás - tudo o que foi inteligentemente desenhado teve que ter por trás um desenhador inteligente - conduz a isso, ao desenho inteligente. Neste ponto, Dawkins observa que quanto maior o obstáculo a superar, maior será o mérito do criador; se supomos que o universo foi criado por um grande Ser, poderíamos imaginar outro ainda maior, que houvera criado tudo sem mesmo existir. Ergo... (ler mais)

Duplipensar


Lembra muito bem João Tunes a duplicidade do PCP: no mesmo dia em que promove uma mega manifestação, no Parque das Nações, para defender os interesses das "massas" filiadas nos sindicatos que controla, envia uma caloroso aerograma ao "irmão" chinês, lembrando as virtudes do regime que este tutela da forma que se sabe. Mas haverá aqui alguma incoerência? É claro que não. O PCP desde sempre assumiu uma estratégia ambivalente: é uma coisa fora do poder e outra quando "já lá está". Nem que seja a nível autárquico. Internamente, clamando pela unidade sindical, amarrou os sindicatos que controla à sua agenda política. Para utilizar a seu bel prazer a capacidade de mobilização destes . O disfarce cessa quando se trata de enaltecer as "conquistas" onde os seus émulos são poder. Já agora, recordemos que no Império do Meio não há sindicatos e os poucos que existem resumem-se a um ou dois representantes nomeados pela estrutura local do PCC junto das empresas. Nada que surpreenda. Afinal, este modelo, sumamente apropriado ao fim da luta de classes, sempre preencheu o imaginário dos dirigentes comunistas. Mas nem por isso deixa de ser notícia.

Nota: a CGTP criou um novo fantasma, que agita para agrupar os seus apaniguados: a flexisegurança. Ainda não percebeu, nem provavelmente o fará
nunca, que a sua aplicação é a única forma de salvar o Estado-providência.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

The God Delusion - 1

"The God Delusion" é a obra mais recente do zoólogo Richard Dawkins, o autor de "O Gene Egoísta". Quando li o livro, há cerca de 17 anos, fiquei definitivamente esclarecido sobre a natureza humana. Em especial sobre aquilo que é tido como comportamento altruísta. Neste excelente vídeo, que poderá ser aqui descarregado, ou visto em widescreen, facilmente se vislumbra o cerne das teses de Dawkins. A análise do livro, cuja tradução (delusion por desilusão não lembra a ninguém) é de tal forma lamentável que li a edição espanhola, virá muito em breve.

domingo, 21 de outubro de 2007

Um ou vários?

Podemos recorrer a vários critérios para arrumar os blogues. Repare-se que falo dos blogues, não do perfil dos bloguistas, embora uma coisa desemboque inevitavelmente na outra. E o universo em análise é determinado por um patamar mínimo, firmado na qualidade e pertinência dos conteúdos. De fora estarão naturalmente os blogues institucionais. Utilizarei então o diapasão mais simples: os números. Quantos bloguistas fazem um blogue? A resposta determina, por conseguinte, dois tipos, os unipessoais e os colectivos.
  1. Os primeiros são, à partida, mais consistentes: têm a marca pessoal do autor gravada no seu ADN; traduzem uma estratégia onde um determinado modelo se torna mais facilmente perceptível, onde os sobressaltos são a excepção; exprimem uma disponibilidade e uma vastidão discursiva que um espaço partilhado não acomoda; permitem um tom confessional que uma pluralidade de vozes anularia e uma total liberdade na gestão do ritmo das actualizações, do modelo, dos comentários e do próprio fim. São, em suma, o meio mais característico e irredutível da intervenção dos cidadãos no ciberespaço.
  2. Os colectivos podem ter qualquer uma das características apontadas. Todavia, como que aparecem diluídas. Não se dá tanto por elas. Neste tipo, é o resultado compósito, a regularidade, o que relamente interessa. Mais até do que a assinatura das postagens. É óbvio que cada blogue encerra uma história particular. Sendo que, nos colectivos, tenho descoberto duas formas típicas de associação. Por um lado, aqueles que nasceram e cresceram à volta de uma projecto editorial, jornalístico, científico, ou artístico, de um movimento de opinião, de uma determinada actividade, da defesa de determinada causa, entre outras razões similares. Por outro lado, aqueles em que os seus autores quiseram dar expressão, no ciberespaço, a uma sólida afinidade pessoal e/ou ideológica. Que não é incompatível, bem pelo contrário, com uma colaboração pontual ou intermitente. Ora, quer num caso quer noutro, abundam blogues de referência, espaços incontornáveis na blogosfera lusa. Mas se a união faz a força, pode não produzir a qualidade que se esperaria. Tenho visto inúmeros casos de blogues colectivos onde desapareceu a homogeneidade (diferente de uniformidade). Onde os próprios autores polemizam entre si, percebendo-se que as suas posições são inconciliáveis e o debate prima pela aridez. Onde, no oposto, abundam as reacções corporativas. Onde a unidade gráfica degenerou numa manta de retalhos. Onde o pulsar de várias vozes descambou numa apagada e vil cacofonia.
Quer tudo isto dizer que sugiro a existência de uma graduação de valor entre as duas categorias? A resposta é claramente negativa, nem a questão é essa. Afirmo, isso sim, que começa a ver-se na blogosfera um fenómeno transportado dos meios de informação convencionais: a concentração como estratégia e condição de visibilidade. Mas, se nuns casos o gregarismo é eficaz, noutros traduz a transformação dos blogues em simples newsgroups, salas de redacção que muitos só utilizam porque sabem que têm uma audiência que num projecto pessoal não alcançariam. Isto é, a descaracterização do todo como reflexo do comodismo das partes.

sábado, 20 de outubro de 2007

Momentos Zen - 25

Consegues escutar o murmúrio da fonte?


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Porreiro, pá?

Lido

"O congresso do partido sem ideologia, sem ideias e sem programa está a exibir em todo o esplendor o afundamento da dita classe política - cada vez mais sem classe e sem utilidade - que atinge a terceira geração sob o regime. De desclassificação em desclassificação, chegamos a este ponto sem regresso, entregues a fulanos e fulanas de vão-de-escada, semi-letrados e apenas mobilizados pela busca de uma nesga de notoriedade, de um lugar ou de uma promessa de favor. Sigo, aterrado, o tropel da jogatana, de exibicionismo alarve e falência que por ali vai. A Terceira República vai mal; antes, está comatosa. (...) como sempre aconteceu, o regime cairá de podre às mãos de betas e logo virá um novo regime. A esse regime colar-se-ão os adesivos, os trânsfugas e os parasitas do erário do Estado. E assim continuará a vil tristeza em que o país escolheu viver."
no "Combustões"

Economia paralela

(clicar para ampliar)

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

A nova UE

Foi hoje acordado o novo tratado constitucional da UE, designado Tratado de Lisboa. A notícia foi divulgada já passava da 1 hora. Que pôs fim à crise política e institucional no interior da UE, depois do chumbo da Constituição nos referendos em França e na Holanda, em 2005. Uma retrospectiva das vicissitudes da reforma das instituições europeias após o Tratado de Amsterdão até a Cimeira de Lisboa pode ser encontrada aqui. Por outro lado, recomenda-se a consulta do projecto original do Tratado, submetido à aprovação na Cimeira, cuja versão final sofreu simples alterações sem significado. Notar-se-á que o texto não pretende substituir os Tratados de Roma e Maastricht, mas sim introduzir as alterações nos textos respectivos, como aliás resulta do próprio cabeçalho. Para uma melhor percepção do que mudou, recomendo este texto. Mesmo assim, o conteúdo do Tratado corresponde em 95% à gorada Constituição. Veja-se aqui porquê.

Castelos da Guarda - 3

Castelo Mendo

Celorico

Vilar Maior
Fonte: Governo Civil

Não errar não é necessáriamente desumano

O Dr. James Watson foi Nobel da Medicina em 1962, graças ao seu contributo para a descoberta da estrutura molecular do ADN. O Museu da Ciência de Londres acaba de cancelar uma palestra do cientista, prevista para sexta-feira, na qual iria apresentar o seu mais recente livro. Em causa estão as declarações de Watson, quando afirmou que, do ponto de vista genético, "os negros são menos inteligentes do que os brancos", entre outros comentários. O Museu considerou que, desta vez, o laureado "foi longe demais", aludindo às suas afirmações polémicas anteriores. As restantes conferências previstas no Reino Unido mantem-se agendadas e, ao que parece, esgotadas. As reacções aquelas declarações naturalmente não se fizeram esperar nos foruns de discussão internacionais. Cabe aqui questionar a decisão do Museu. Ora, Watson disse o que disse por simples preconceito ideológico, como tudo indica. Mas nada impede que, como cidadão, tenha direito a emitir as suas opiniões, por muito controversas e repugnantes que se afigurem. Sobretudo quando abalam o quadro politicamente correcto que tomou conta dos meios académicos e jornalísticos no Ocidente. Mas desde que delas sejam excluídas a leviandade e o disparate. Especialmente em relação a temas que a ciência não cessa de desmentir e sobre os quais existe um consenso à escala universal. Neste caso, não existindo qualquer validação científica que as sustente, nem o próprio se propõe apresentá-la, deveriam os seus créditos como homem da ciência ser consideravelmente restringidos. Uma vez que é o desempenho ético do cientista que está em causa. De qualquer modo, o debate é estranho à ciência e, nesse caso, os palcos mediáticos deveriam ser outros que não um... Museu da Ciência. O próprio Watson reconheceu o erro, quando declarou, a posteriori, que não existem bases científicas para as suas afirmações.

ADENDA: sobre este tema, recomendo um excelente comentário de Desidério Murcho no "De Rerum Natura".

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Doclisboa


Começa hoje o Doclisboa, 5º Festival Internacional de Cinema Documental. Com um extenso e apetitoso programa, decorre até dia 28. O cabeça de cartaz é seguramente Sicko, de Michael Moore. Destaque também para When the leeves broke, de Spike Lee; Rithy Panh, com Le papier ne peut pas envelloper la braise e uma rectrospectiva da obra de Lech Kowalski, uma figura maior do cinema documental. Se tudo correr bem, na próxima segunda-feira darei lá uma escapadinha. Informações e programa: aqui.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Graffitis - 21


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A outra face

A revista Notícias Sábado, no JN de 6 de Outubro, publicou uma entrevista com Monsenhor Luciano Guerra, Reitor do Santuário de Fátima. Às tantas, Sua Eminência, na sua infinita sabedoria, deu a conhecer o que pensa acerca do carácter perpétuo da resignação. Tudo depende, afinal, do tipo de reincidência e da intensidade do soco, como se poderá ver:

Na sua opinião, uma mulher agredida pelo marido deve manter o casamento ou divorciar-se?
Depende do grau da agressão.
O que é isso do grau da agressão?
Há o indivíduo que bate na mulher todas as semanas e há o indivíduo que dá um soco na mulher de três em três anos.

(Via "Avenida Central")

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A não perder

"A Space Odissey" (2002), uma coreografia de Cuqui Jerez, no Pequeno Auditório do TMG, dia 18, às 21.30. O espectáculo insere-se no Festival Y#05, numa co-produção TMG/Quarta Parede.
Sobre ele, afirmou a autora: "Estou à procura de um tempo de perturbação, confusão, lentidão, dificuldade e prazer, perda e busca, um estado muito activo da mente, onde a única coisa que tentamos encontrar é o onde, o quê, quem, como e quando. O momento preciso antes do reconhecimento, onde a realidade não está ainda no sítio adequado".

A lição

(via "Atlântico")
Como é sabido, enquanto o Dalai Lama visitava Portugal, no mês passado, o Governo e o PR assobiavam para o ar. Segundo Amado, havia umas negociatas com a China em risco. Convenientemente acenado pela diplomacia imperial. Parecia teatro de marionetas de má qualidade. Entretanto, aquele líder espiritual é hoje recebido oficialmente pelo presidente Bush. Com pompa e circunstância. Conclusão: quem pode pode. Quem não pode, rasteja.

Visões


O tema hoje é a crendice e a superstição. Dois rios tumultuosos, cuja ira pode arrastar tudo à sua frente. Nada melhor, então, do que avançar com dois exemplos de peso.
Por um lado, temos Fátima. Não o produto, a marca. Que, aliás, o investimento considerável na nova catedral veio consolidar. Na inauguração, as palavras do cardeal Bertone contra a sociedade aberta pressagiam o apetite ainda não saciado da hierarquia católica pelos autos de fé. Palavras que não surpreendem, mas preocupam. Sobre o tema, o "Irmão Lúcia" dedicou um conjunto de postagens intitulado grande gala 'azinheira spoken word'. Trata-se de um convite dirigido a 13 bloguistas, correspondido, para escreverem sobre Fátima. O resultado foi notável. Gostei sobretudo da hipótese, não despicienda, de os três pastorinhos terem sido apreciadores do Psilocybe cyanescens, um cogumelo muito dado a visões.
Noutro segmento iconográfico, temos a incrível e rocambolesca história das mãos de Che Guevara. A relíquia mais bem guardada da Igreja comunista. Ler aqui. (via "Água Lisa").

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

A lota continua

Vale a pena ler este manifesto da antiquíssima esquerda. Chama-se "Mudar de Vida, Reerguer a Luta Contra o Capital" e é assinado pelo colectivo que edita o jornal "Mudar de Vida". Foi uma trabalheira dos diabos descobrir o ADN ideológico desta gente. Detestam a esquerda parlamentar, representantes espúrios dos verdadeiros oprimidos. Denunciam "o novo fascismo que irradia dos EUA sob a bandeira da democracia e dos direitos humanos". Fazem uma espécie de mea culpa: "Não temos de que nos penitenciar. Iludidos muitos de nós tempo demais quanto à natureza do “campo socialista”, não nos enganámos contudo ao defender os interesses operários e populares". O discurso alucinado prossegue, com o apelo a um "feminismo de massas" (????). Chegado aqui, aconselho a leitura de "A Traição do Eu", de Arno Gruen, na parte em que retrata o "rebelde". Sobram ainda referências hostis ao "estado de direito", às "massas de eleitores", à "escalada de guerras e invasões do imperialismo" (nem uma única referência ao terrorismo islâmico, note-se), às "leis do mercado", ao "programa neoliberal da UE", à "ofensiva do capital mundializado", etc. Este manifesto é realmente uma colecção completa de chavões atrás dos quais se blindou quem neles acredita. Um reservatório notável e em bruto do discurso esquizofrénico que tomou conta da esquerda histórica. Aquela que nem imagina que existe "A Sociedade do Espectáculo", de Debord. Aquela onde insuspeitas figuras, como Mário Soares, vão às vezes beber. Trata-se pois, como poderão confirmar, de um perigoso sonífero de que convém não abusar. Ora, devo dizer que, em relação à primeira parte do título, preferiria ouvir pela eternidade fora o tema homónimo do Carlos Paredes, pois não me cansaria. Quanto ao reerguer, sugeria a estes esclerosados adeptos da luta de classes um bom tratamento com Viagra, Cialis, ou até mesmo o natural Via Max.

NOTA: o texto foi reformulado, após leitura mais atenta da fonte, graças à referência feita por João Tunes, no "Agua Lisa".

A ver vamos

"A Câmara Municipal da Guarda reafirmou ontem a necessidade de o Ministério da Cultura apoiar o funcionamento do Teatro Municipal, considerando tratar-se de um projecto de “dimensão regional” que necessita de apoio estatal." Ler aqui a notícia completa. (Fonte: "O Primeiro de Janeiro" online)

Ódios de estimação - 2

O tabu chegou ao fim. Santana Lopes mostrou-se disponível para chefiar o Grupo Parlamentar do PSD. É que o ex-primeiro entre os ministros deve ter estado a ouvir os célebres concertos de Paganini, que jurou um dia ter descoberto. Talvez para se inspirar. Para exercitar a genialidade, como Nero, chamando a si o melómano e o pirómano. O dois em um só para os eleitos. Aqueles que elegeram o culto narcísico como tema único para as suas vidas. É de ciência certa que, para PSL, o primeiro dos atributos só faz sentido num cenário de "Terna é a Noite". O segundo esteve quase a levá-lo por diante. Quando ficou à beira de incendiar um país, graças à sua inefável incompetência. Felizmente, esse país percebeu a tempo e remeteu-o ao seu verdadeiro lugar: a insignificância das revistas cor-de-rosa. Mas nova liderança tomou conta do PSD. Constituída pelo sindicato do aparelho, na feliz expressão de JPP. Com um animador provinciano e psicologicamente instável à frente. Que promete todo o tipo de prebendas aos apaniguados, como se sabe. PSL percebeu que era hora de voltar à ribalta. A sua missão estava longe de ficar concluída. Mas como? Ser-lhe oferecida uma sinecura qualquer nos órgãos do partido seria pouco. Afinal, o homem é uma instituição de per si. Não seria mais consentâneo com o seu estatuto especial colocá-lo numa espécie de liderança paralela, eminentemente parda? Sim, mas seria escasso para o seu apetite de protagonismo. A liderança do grupo parlamentar viria mesmo a calhar. Não sem antes uma série de "não confirmo nem desminto, antes pelo contrário", como se viu no Congresso. Lances florentinos cada vez mais acessíveis a políticos menores. Como se o desfecho não se soubesse desde a primeira hora! Pois é. Para mal dos nossos pecados, o Dorian Gray da política portuguesa está de volta. O tribuno pífio. O Cícero de papelão às voltas com um egotismo de dimensão imperial. Adivinha-se nova catástrofe. A que este blogue vai assistir na primeira fila.

domingo, 14 de outubro de 2007

A grande ilusão

"O futuro do PSD? Linear, como se ouviu no Congresso. Em 2008, vai ganhar as "regionais" dos Açores. E, em 2009, vencerá as eleições autárquicas, legislativas e europeias, julgo que por esta ordem. Afinal, as sondagens mentiam. Afinal, o país em peso estava à espera deste PSD, unido e complacente mas sem "pseudo-elites desacreditadas e esgotadas". Meio milhão de de-sempregados esperava um PSD que não se resigina "ao fatalismo, ao derrotismo e ao pessimismo", julgo que por esta ordem. Não sei quantos mil emigrantes esperavam um PSD "regenerado". Os jovens, os idosos, os funcionários públicos, os autarcas, os empresários, os pais, os professores, os polícias, os farmacêuticos e os apicultores, julgo que por esta ordem, esperavam por um PSD "imparável". E as mulheres, sobretudo as sofridas mulheres, esperavam por um PSD libertador para se transformarem no "grande núcleo aglutinador da revolta contra este Governo".
Se, nas palavras do poeta, faltava cumprir Portugal, é porque Portugal, derrotista e exausto, apenas aguardava que Luís Filipe Menezes chegasse. Pelo menos, essa é a opinião de Luís Filipe Menezes e não há nada que a possa contrariar, salvo a realidade, o eleitorado e Santana Lopes, julgo que por esta ordem."

Alberto Goçalves, no DN de hoje

Crimes exemplares - 17

Aconteceu-lhe morrer no dia dois de Agosto de dois mil e cinco. Estava sentado à secretária do seu escritório, enquanto passava os olhos por um relatório, que ele próprio escrevera, sobre as condições de trabalho no segundo bairro da cidade. Foi encontrado pelo seu único colega de trabalho, que regressava ao emprego depois das férias. Este resolveu, de imediato, tomar a seu encargo comunicar com os familiares do morto. Todavia, essa tarefa revelou-se impossível desde o primeiro minuto. Não encontrou, em 12 anos de trabalho, qualquer pormenor da vida pessoal do outro, por mais insignificante que fosse. Reflectiu e descobriu que ele próprio nunca lhe revelou nada sobre a sua vida. Entrou em profundo desânimo. Tinha passado as férias a dois quarteirões dali, fechado em casa, sozinho, a ler. Nem por um instante lhe havia ocorrido contactar o colega, que devia estar no escritório a trabalhar. Sem conseguir contactar ninguém, sem sequer saber onde era a casa do antigo colega, tomou também como sua a tarefa de organizar o funeral. Chovia e ele era a única pessoa presente. Por falta de dinheiro, o colega jazia agora num despropositado sítio do cemitério, entalado entre o muro exterior e um regato que passava perto. Segundo o relatório que o seu antigo colega escrevera, sabia-se que vários habitantes daquela parte da cidade haviam morrido de doenças associadas à contaminação proveniente dos cadáveres, provavelmente pela água daquele regato. Ao voltar ao escritório, no dia seguinte ao funeral, descobriu que este teria que fechar, porque o único cliente, o município, não tolerara o atraso na entrega desse mesmo relatório. Sem emprego, voltou a casa, despiu toda a roupa, desligou todas as luzes e deitou-se na cama, à espera.

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Stalker

Momentos Zen - 24

És muito habilidoso com o arco, mas não com a mente que te faz errar o tiro!


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sábado, 13 de outubro de 2007

Sonhos dourados

Um tesouro romano do século IV d. C., com mais de 4500 moedas, foi encontrado no sítio arqueológico do Vale do Mouro, no concelho de Mêda. Falta garantir um local adequado para guardar esta descoberta até que seja incluída num museu. (Fonte: TSF Online)

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Ementa do Dia

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quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Pelo seguro...


É oficial. Pacheco Pereira vai mesmo avançar com a publicação de "O Paradoxo do Ornitorrinco", com o subtítulo "Textos sobre o PSD". A obra promete desencadear um terramoto com consequências imprevisíveis, a avaliar pelas amostras que o autor tem publicado no "Abrupto". A partir de amanhã, iremos ter pois um blockbuster no panorama político e editorial. Entretanto, aqui fica uma sugestão de casting para JPP levar a sério, nos tempos que virão.

A arte do romance - 2


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Myanmar - 3

Vale a pena ler esta postagem de Rui Bebiano, no "A Terceira Noite". Chama-se "A Birmânia não é aqui" e diz o essencial acerca do modo como parte da esquerda nacional se demitiu das lutas que realmente fazem sentido na actualidade. Limitando-se a correr atrás do clamor corporativo e do vazio ideológico.

A lota continua

A FENPROF, através da sua sucursal na zona Centro, alcançou as primeiras páginas dos jornais e já obrigou o Governo a dar explicações. Em poucas linhas, o que é a Fenprof? Uma estrutura satélite do PCP, amarrada à sua agenda política, onde alguns burocratas fazem carreira, aproveitando-se das leis demasiado permissivas que temos nessa matéria. Raramente defende os verdadeiros interesses de quem diz representar, mas tão só os próprios: um módico de visibilidade, integrar um frentismo desde sempre cavalo de batalha do PCP, um caderno de reivindicações irrealista e demagógico. A Fenprof é uma típica força do bloqueio. Defende o estado insustentável em que caiu o ensino, desde que isso envolva a continuação do laxismo e das regalias dos seus quadros e da minoria dos docentes que alinham nesta estratégia. Aliás, quem confiaria a educação dos seus filhos a supostos educadores que se mobilizam para insultar? Em suma, para além do umbigo e do agit-pop sazonal, nada mais interessa à direcção da Fenprof. As recentes "acções de luta" para insultar o Primeiro Ministro, em Montemor-o-Velho e na Covilhã, com palavras de ordem como "Fascismo nunca Mais", dizem tudo acerca do onanismo intelectual em que caíram os sindicatos afectos à CGTP. Que se limitam a uma reacção pavloviana, irresponsável e demagógica, face às reformas que o Governo empreende - umas discutíveis, outras acertadas - para salvar o Estado Social. E não olhando a meios para mediatizar a sua "luta", nem que seja através da vitimização. Por outro lado, a acção da PSP parece mais destinada a intimidar do que a fiscalizar o cumprimento da lei (DL nº 406/74, de 29/8). Devida em grande parte a um excesso de zelo da governadora-civil de Castelo Branco. Havendo ou não abuso de autoridade, a notícia deu os trunfos necessários ao PCp, e em em especial à CGTP, para arregimentar as massas nas próximas "jornadas de luta". Estruturas como a Fenprof representam o imobilismo militante e autista de certa esquerda. Aquele que vê nos portugueses 10 milhões de assistencializados à espera do Estado, e não cidadãos a quem deve ser deixado espaço para a iniciativa e responsabilidade pessoais.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Ódios de estimação - 1

Rui Oliveira e Costa. O comentador do programa "Trio de Ataque" reúne três excelentes requisitos: é sindicalista, é idiota e é adepto de um conhecido grupo excursionista do Campo Grande.

TV Shop

A SIC Notícias anda pelas ruas da amargura. Depois da reacção despropositada face à célebre retirada de Santana Lopes, o director daquele canal, Ricardo Costa, acaba de convidar Júdice para comentar a situação no PSD. O conhecido sofista, adulador crónico do Poder e angariador de pareceres chorudos para o seu escritório, meteu mais uma lança em África. Ups! Em Carnaxide, queria eu dizer. O novel comentador, celebrizado pela sua desonestidade intelectual e irrelevância ética, é seguramente a pessoa indicada para tecer considerações sobre uma catástrofe. Não, não é um simples erro de casting. Trata-se da promoção definitiva de Júdice a tarefeiro de luxo do regime.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Passeando na blogosfera

Descobri dois contributos para uma arrumação sistemática dos bloguistas. A meu ver, são ambos igualmente saborosos:

1º O sintético
"Três tipos de pessoas nos blogues: 1) os que gostam de conversar 2) os que querem conversa 3) os que só desconversam." (
Pedro Mexia, no "Estado Civil");
2º O prolixo
"Alguns tipos de bloguistas e como os tipos se entrelaçam", (GAF, em "O Vermelho e o Negro").

Descubram então qual(is) a(s) vossa(s) gaveta(s)... Sem esquecer que uma mistura do fura-vidas nervoso e do gastrónomo dá numa nova categoria híbrida: a úlcera.

Sobre a coragem

Anna Politkovskaya foi assassinada à porta de sua casa em Moscovo. Exactamente há um ano. Já aqui tinha deixado a minha profunda indignação por este acto hediondo. A qual decerto não deixará de estar presente em todos os que acreditam nos valores em que ela acreditava. De entre a sua obra, escolhi "A Rússia de Putin", (edição Pedra na Lua, 2007, trad. António Costa Santos), o seu último livro. Trata-se de um conjunto de peças jornalísticas cujo pano de fundo é o défice democrático e a cleptocracia que se instalaram na Rússia. Começa por relatar vários casos ocorridos no Exército em que os responsáveis ficam invariavelmente impunes. Graças à dependência das instâncias judiciais em relação ao poder político. Com excepção do respeitante ao Coronel Budanov, acusado de ter espancado um oficial subalterno e assassinado uma civil tchetchena. Depois de uma série de expedientes, incluindo relatórios psiquiátricoa forjados pelos mesmos que atiravam os dissidentes na era soviética para o degredo, o caso foi finalmente julgado. Com o resultado esperado pelos "patriotas". No entanto, a pressão do governo alemão determinou que o Supremo tribunal Militar anulasse o julgamento. Repostas as garantias básicas da acusação, Budanov foi finalmente condenado a 10 anos de degredo num campo prisional. A jornalista conta-nos também as profundas transformações que sofreu o país desde a perestroika. Através das histórias cruzadas e em primeira mão de quatro pessoas. As quais sinalizam a história recente da Rússia: Tanya, uma ex-engenheira que singrou no comércio que só graças a uma infinidade de subornos consegue manter a actividade; Misha, um tradutor e intérprete qualificado, despedido, que caiu no alcoolismo e se voltou para a Igreja, acabando por suicidar-se; Lena, sua mulher; Rinat, um antigo combatente operacional dos serviços especiais da era soviética, vítima da intriga de um oficial de secretaria, burocratas que naturalmente singraramm na era Putin. Fala-nos também da história tenebrosa da nova máfia dos Urais. Em especial do seu líder, Pashka Fedulev, que graças a uma rede de apoios e subornos na Administração se tornou um intocável. Realce para o seu antigo capanga, Nikolai Ovchinnikov, o qual foi designado por Putin para vice-ministro do Interior e chefe do GUBOP, a Agência Central de Combate ao... Crime Organizado.

1.Sobre a obra, veja-se também este comentário.
2. A recente
recusa de uma editora russa em publicar um livro de Kasparov não augura nada de bom.

A arte do romance - 1

Esta semana fui a um jornal local com a finalidade de por um anúncio: “Homem só busca romance consigo mesmo”. Não deixei número, nem direcção, nem email. Esta iniciativa faz parte de uma série de acontecimentos simbólicos que vou empreender para demonstrar a mim próprio o interesse que tenho pela minha vida. Geralmente, delegamos a responsabilidade de brindarmos afecto a outras pessoas e enfadamo-nos quando não obtemos o que desejamos. E ainda que pareça pretensioso, quis dar-me isso que ninguém me pode outorgar. Porém, ignoro o que é que desejo realmente de mim para mim. Considero pois esta acção um bom começo para este romance. Significa muito saber que me busco de forma autêntica. Quem sabe o que se irá passar quando me encontre. Parece absurdo, mas talvez seja esta uma das inúmeras maneiras de tolerar o isolamento no mundo contemporâneo. O mais provável é que esteja a exagerar, como sempre. Qual será a seguinte cena: um encontro às cegas, flores no trabalho, chocolates, cinema, sexo…? Tudo é possível...

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Stalker

Praia de Quiaios

domingo, 7 de outubro de 2007

Resumindo

Os livros são maus, dizem, e repetem-se numa sucessão infindável de acontecimentos que se repetem. São sempre os mesmos, contam sempre a mesma história. Sonho um sonho de os ler todos, um a um, cronologicamente, tirar referências e encontrar um fio, ténue seja, que os una. Não, para isso não preciso de os ler todos, tentar encontrar uma lógica, não isso também não, lê-los todos só porque me apetece, sim, porque aqui tudo se repete numa sucessão infindável de acontecimentos que se repetem. E o sonho não é mais do que ser apenas uma personagem.

Momentos Zen - 23

Movimento e quietude, solidificação e fluidez, extensão e contracção,unificação e divisão


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quinta-feira, 4 de outubro de 2007

É hoje!


Free Burma!

Lido

"Como explicou a 12 de Julho, no seu blogue, Menezes atribuiu-se a si próprio a missão de "salvar" este Estado Social, exterminando em Portugal a heresia do "capitalismo selvagem". (...) Não há aqui novidade. Há mais de dez anos que Menezes recenseou os seus inimigos: "sulistas, elitistas e liberais". Nesta lista negra cabe muita gente. (...) inclui os que aspiram a mais do que à mediocridade, ou preferem outro modelo social, assente na iniciativa e responsabilidade dos cidadãos. Se Menezes quisesse criar uma alternativa ao actual Governo precisaria deles. Porque é nas suas aspirações e ideias que estão as melhores razões para uma oposição que pretendesse ser mais do que a mera exploração oportunista e demagógica dos cortes impostos pela viabilização do Estado Social. Menezes julga que confusão com a esquerda o levará longe. Talvez não leve. Vai permitir ao governo, por comparação, fazer figura de esclarecido e respeitável. E se Sócrates fechar menos maternidades nos próximos anos, Menezes arrisca-se a ficar sem assunto, a não ser a guerra doméstica do partido."

Rui Ramos, no "Público" de ontem

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Sobre as praxes

No "Água Lisa", de que sou leitor quase-diário, João Tunes acaba de publicar um comentário sobre as praxes académicas, partindo de um texto que aqui editei. Fá-lo com bastante acuidade, pelo que o debate poderá ganhar com isso. Devo dizer, antes de mais, que embora perfilhe a sua grelha analítica, não sigo algumas das conclusões a que chegou.
1. É claro que não existe um "direito a praxar", da mesma forma que não existe um "direito a ser praxado". Nem será defensável tolerar agressões e humilhações várias, só porque se filiam numa tradição, seja isso o que for. Outra coisa são os costumes versus direito positivo. Aposto que orientamos a nossa vida numa ratio de 80% para os primeiros e 20% pelo segundo. Muitas vezes, o direito funciona como uma caução para o costume que acolhe e um index para o que ostraciza. E a balança está deveras inclinada para o primeiro prato. É por isso que o "direito por tradição" a que se refere, só o é verificando-se cumulativamente dois pressupostos: um amplo consenso social que o legitime; estando em causa bens juridicamente tutelados, a linha divisória passa pelo que é disponível, ficando de fora o que não é. Só no primeiro caso aceitaria a tradição. O que vale para qualquer uma, mesmo que o pensamento politicamente correcto lhes tente lançar o opróbrio: as touradas de morte, a matança do porco, os rituais nas sociedades secretas e as praxes em geral.
2. Não é igualmente razoável, como afirma, incluir no "contrato académico" de que fala qualquer estatuto determinado pela estranheza de quem entra ou pela prepotência de quem "já está". Mas isso nada tem a ver com paternalismo. O mais natural para quem chega a uma instituição, a um novo local de trabalho, é procurar a informação que lhe possa ser útil. Nada melhor do que os seus pares para lha transmitirem. Quer pelo exemplo, por uma reconhecível consciência ética, pela vastidão do conhecimento, pela coragem. Ou pelo seu oposto. Caberá ao recém-chegado validar as suas referências. Facultativas e não impostas, sublinhe-se. A Universidade é o local por excelência onde se fixam as coordenadas políticas, éticas e ideológicas que serão transportadas para o resto da vida. Minimizar esse encontro, possibilitado pela sobriedade, pela generosidade e por uma disponibilidade ímpar, é um erro que qualquer sociedade pagará caro. É legitimar o "cada um por si", o individualismo feroz, a anulação do logos. Daí falar em "crescimento".
3. De acordo, a "humilhação" e a "integração" só pelo praxado são percebidas como tal. Mas tomar a ideia até ao limite é elevar a simples subjectividade até ao absurdo. Há um carácter lúdico na praxe que não é de desprezar e que, quer o autor queira ou não, é comum aos participantes voluntários num mesmo espectáculo. Neste caso, o erzatz paródico da verdadeira violência, da verdadeira humilhação. É que, quando falo em integração, não é no sentido sociológico, mas num outro, que transporta para outra esfera. Por um lado, existem tipos de praxes, estas sim realmente bárbaras, associadas a universos fechados, e de que raramente há notícia: prisionais, militares, etc. O que as distingue da praxe académica, tal como eu a entendo, é que, para além de serem barbárie pura, não possuem o que esta tem como marca central: o seu lado teatral, a sua faceta catártica e subversiva. Organizada como um ritual em que o cómico nega a sacralidade do próprio ritual, que promove a sua lenta dissolução através da sátira, que lembra a universalidade do “humano demasiado humano”, que brinca, que quer a derrisão, que cria a dúvida em relação a um conhecimento que se vai adquirir para servir os verdadeiros praxantes.
4. Por último, cabe discordar de João Tunes, quando afirma que "nenhum cidadão tem o direito a abdicar dos seus direitos de cidadania, submetendo-se a poderes não legítimos." Neste caso, circunscreve a praxe a uma "violência não autorizada", sendo que participar nela "é uma conivência com o não permitido". Presumo que o autor parte do princípio, tal como eu, de que o Estado tem o monopólio da violência, em sede penal, e no respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos. Vamos então por partes. Se for negada aos cidadãos a possibilidade de abdicarem dos seus direitos, então deixaria de haver no Código Penal bens jurídicos disponíveis, incluindo a figura da exclusão da ilicitude no caso de ofensas corporais com consentimento expresso da vítima, fora das situações que envolvem tratamento médico. A conciência e o livre arbítrio preexistem em relação ao direito positivo. Os direitos de cidadania são essencialmente negativos: posso exigir, erga omnes, o seu reconhecimento e o seu respeito. Mas eles existem sobretudo para que possa exercer a minha liberdade e lutar pela minha dignidade. Por isso, não estarei nunca a abdicar deles se me submeter a uma autoridade que, não sendo legítima para uns, é legítima para mim. Se assim não fosse, ficaria arredado o direito, esse sim irrenunciável, à desobediência civil, à insurreição, ao não cumprimento de uma lei injusta, independentemente da sua origem. Por outro lado, a praxe académica é um costume. Concorde-se ou não com ela, associando-o estritamente ou não a uma prática violenta. Aferir ou não da sua legitimidade em função de juízos de valor não chega. Outra coisa é, como faço, afirmar que ela reproduz status sociais e dá livre curso a comportamentos psicóticos. Ou que se limita ao macaquear indigente de maus filmes de terror. Para tudo o resto, existem os tribunais. Rematando, o autor fornece o exemplo ad absurdum da escravatura voluntária como corolário dos seus argumentos. Devo dizer que, no caso, havendo uma manifestação de vontade dos intervenientes nesse sentido, livre de qualquer coação, consciente e expressa, na ausência de qualquer ilícito associado, nada há que o proíba. Poderemos naturalmente ter uma opinião sobre o assunto, mas não julgar quem o fizesse. Qualquer cidadão pode renunciar àquilo de que, no domínio da sua esfera jurídica, pode dispor. Até mesmo à sua liberdade. Da mesma forma que é o único decisor acerca do seu corpo, ou das substâncias que entender consumir. Por maioria de razão, decidir ser ou não praxado, quando isso é possível, advém de uma convicção imperscrutável e eminentemente pessoal.

Castelos da Guarda - 2

Sabugal
Torre dos Metelos, F. C. Rodrigo

Longroiva, Mêda
Fonte: Governo Civil

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Dizer não!

A propósito das praxes académicas, vale a pena ler um comentário de Tiago Mendes a um texto de João Luís Pinto, o qual coincide, grosso modo, com o que penso sobre o assunto. É óbvio que existe uma desproporção, de facto, entre quem comete as conhecidas sevícias e o neófito a quem são infligidas. Descobrir uma pretensa igualdade entre as partes é uma ficção, mais apropriada à ordem jurídica do séc. XIX, mas perfeitamente desadequada nos dias que correm. Relativamente à natureza das praxes, prima pela seu carácter controverso. Durante a minha passagem pela Universidade, bati-me sempre, nos lugares próprios, para que a praxe fosse encarada como um instrumento de crescimento e de integração e não um simples exercício de autoridade pífia, um hino à imaginação e não um nicho tolerado para a prática da humilhação. E que dela fosse banida qualquer violência, real ou figurada. Infelizmente, pelos relatos que chegam, parece ter triunfado a segunda versão. Se quem a ela se submete o faz de livre vontade, antecipando a humilhação que vai inflingir no ano seguinte, é uma decisão que só ao próprio diz respeito. Mas quem não quer, saiba dizer não. Sem medo.