terça-feira, 31 de julho de 2007

Preces atendidas - 13

Ashley Judd

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sábado, 21 de julho de 2007

O relativismo

No último número da revista "Atlântico", publicação de que este blogue é fã incondicional, destaque para um trabalho de Carlos do Carmo Carapinha, intitulado "A Esquerda Superior". Uma análise demolidora sobre a arrogância moral da esquerda, protagonizada pelas suas patrulhas bem pensantes. É um tema já várias vezes aqui abordado: o inacreditável desplante com que a esquerda se escuda numa superioridade moral que a si própria atribuiu. Uma falácia pejada de esqueletos no armário e que a História aos poucos vai desenterrando. Afinal, o único diapasão ético passa pelo crivo de Kant: a possibilidade de determinada conduta poder ou não ser universalizada. Agora, como desde sempre, é a ânsia de poder como um fim em si e o uso que dele se faz o que realmente marca a diferença. Neste ponto, remeto para "Falsos Ídolos", de Arno Gruen. Retomando o fio à meada, diz a certa altura o autor do artigo:
A esquerda "superior" tem uma cartilha, recheada de paradigmas, proposições e deduções, que explica "tudo". E o tudo é invariavelmente isto: o predomínio do mal só pode ser sinónimo de inconsciência e/ou de não autonomia moral. A intrínseca propensão para o "mal" e para a falibilidade não a comove. Dito de outra forma, o "mal" só existe porque existem vítimas que, deixadas sem alternativa, perpetram o "mal"por via de um qualquer "mau sistema" - político, claro - que as corrompeu e conduziu ao ressentimento e ao desespero. O facto da consciência moral é, então, filho único: trata-se exclusivamente da "condição social" do indivíduo. A esquerda "superior" alcança tudo. Só ela consegue ver que, por dertás de um canalha, há sempre uma vítima: o próprio canalha. A esquerda "superior" é sempre expedita e sapiente a compreender as razões do canalha, mas desvaloriza ou desatende as razões por detrás do receio ou do preconceito das verdadeiras vítimas, ou dos que receiam ser a próxima vítima.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

O Judas

Nunca gostei da peça. A recente nomeação, por baixo da porta, para gerir a requalificação do porto de Lisboa, generosamente paga com a presença na candidatura de Costa, só veio lembrar-me porquê. Como advogado, é o que se sabe: defende descaradamente que o Estado deve ser cliente "natural" das grandes sociedades de advogados, como aquela de que é sócio, by the way. Enquanto Bastonário, beneficiou claramente o tipo de advocacia "socialite". Mas deixemos essas minudências. Como figura pública, é um dos ornamentos mais caricatos do regime. Escreve artigos nos jornais que mais parecem case studies de retórica sofista. O Homem não diz nada de novo, como um aluno aplicado de La Palisse. Mas as palavras enchem, enchem, enlevam, descrevem trajectos fantásticos para voltarem ao mesmo lugar. Tresandam à velha burguesia recauchutada com as prebendas do regime. São palavras que se libertaram impunemente da Verdade. Que não se tomam verdadeiramente a sério, porque não podem. Se o fizessem, seriam pura brincadeira, uma brincadeira de mau gosto. Palavras que exudam arrogância por todos os poros, uma insuportável arrogância classista. Que sugerem erudição, mas pouco mais carregam do que chico-espertismo sofisticado. Palavras que transportam consigo o sibilino canto da corrupção moral e uma ânsia desmesurada de protagonismo, bem próprias do orgiasta acaciano que, no fundo, ele é. O resto, já se sabe. Onde cheirar a influência, lá está o homem.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Não viram nada e passem à frente

Ups! Mais abaixo, s.f.f....

Momentos Zen - 14

Ter para não ter
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O andarilho

Vítor Silva Tavares acaba de fazer 70 anos de uma vida cheia e incansável. A editora & etc, que fundou e manteve, está quase a chegar aos 35. A propósito, gostaria de dizer o seguinte: os homens e as mulheres realmente livres - cada vez menos - são os únicos fachos a ter em conta, neste lamaçal do hedonismo triunfante. Onde, se não estivermos atentos, a vidinha nos vai consumindo. Especialmente num país como o nosso, onde a mediocridade triunfa em grande escala. E onde um frenesi pindérico vai tapando os remendos e o medo da liberdade.O editor, escritor e tradutor foi na ocasião entrevistado por Alexandra Lucas Coelho, para o jornal "Público". É claro que, ideologicamente, raramente as suas posições coincidem com as minhas. Mas não é isso o que verdadeiramente aqui interessa. É o sabor partilhado da vida como uma calorosa e irredutível aventura. O documento pode ser lido aqui na íntegra.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Nostalgia

Entre a luz e as trevas, o sol negro é uma presença constante na cinematografia de Andrei Tarkovski, desde "A Infância de Ivan" (1962). Tanto está o céu ofuscado pelo esplendor solar, como obscurecido por uma densa camada de fumo. Que paira numa agitação constante, impedindo o brilho do sol. Mudança de um plano para outro, durante a qual o sol não reflecte, mas refracta. O sol negro reconfigura-se também em NOSTALGHIA, (1983), nas sequências finais, quando já não é possível fazer mais nada. A Rússia, para Andrei (Gorchacov), está tragicamente perdida, uma luz cheia que a distância encobre. A Rússia da qual Andrei se afasta, estabelecendo-se em Itália, é um tempo encravado num espaço físico, cujos sentidos se convulsionam e se perdem em nostalgia. O retorno físico é inconcebível, porque a morte se intromete. Ao retorno físico do escritor à sua terra natal, Tarkovski interpõe o inevitável: Andrei Gorchacov morre ao mesmo tempo que o seu amigo Doménico se oferece em sacrifício, combustão da matéria e dos sentidos. O sol negro reconstituído no incêndio, no sacrifício humano, para quê? Para nada. O estigma da reconfiguração está na força da memória, reactivada pela arte. Assim, o artista dá a conhecer a sua missão prometaica: recordar ao ser humano aquilo que eternamente esquece. Tarkovski aumenta o índice de refracção, tornando o plano mais denso. E o sacrifício final enche-se de presságios: no campo escuro, eclipsadas, as mulheres russas estão aparentemente imóveis, mas recolhidas e apreensivas como os animais. Tanta quietude debaixo dessa estranha esfera estelar! À qual Andrei nunca mais regressará.

Preces atendidas - 12

Domiziana Giordano

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O Estilo

As crianças enlouquecem em coisas de poesia.
Escutai um instante como ficam presas
no alto desse grito, como a eternidade as acolhe
enquanto gritam e gritam.
(...)
- E nada mais somos do que o Poema onde as crianças
se distanciam loucamente.

Herberto Helder, "Elegia Múltipla", VI

Ontoeta


música: Artur Moura; letra: Herberto Helder, "Os Passos em Volta"

terça-feira, 17 de julho de 2007

Stalker



Marcos num trilho na área do Mondego Superior, perto da Castanheira

Ligação directa

Comentando esta minha postagem, acerca das eleições intercalares em Lisboa, escreveu um leitor: " Os observadores e as estruturas partidárias deviam era preocupar-se com os números da abstenção e com o fim do exclusivo da representação política pelos partidos. Pelo contrário, os cidadãos deviam era congratular-se com isso. Libertar a sociedade da tutela dos partidos será o maior conquista realmente democrática das últimas décadas no nosso país." Efectivamente, o monopólio da representação política pelos partidos vai acabar. É só uma questão de tempo. Assistimos actualmente ao início do processo. Neste sentido, com o tom redundante que lhe é peculiar, escreve Rui Ramos no "Público" de hoje o seguinte, numa crónica intitulada "O Lago de Shiva":
"Contaram-me em Katmandu que no Pashupatinath, o maio dos templos dedicados a Shiva na cidade, há um lago, vedado a toda a gente, cuja superfície mostra a quem para ela olhar o modo como vai morrer. Lembrei-me desse lago, a propósito das eleições intercalares em Lisboa. Porque elas foram o lago de Shiva do sistema político português: não o fim, mas a antevisão do fim. Não sabemos ainda quando o actual regime de partidos vai acabar. Mas ficámos a saber como vai acabar."

Momentos Zen - 13

Qual é a cor do vento?
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Uma Voz na Pedra



Não sei
se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.

António Ramos Rosa

Se o povo gosta...

Várias sombras ponteagudas espreitavam pelas janelas. Lá fora, nem um assomo de agitação. A não ser, a espaços, ruídos secos que pareciam guinchos e detonações. Não, não é o início de um conto de Edgar Allan Poe ou um relato da chegada dos marcianos. São as barracas da Beirartesanato, em construção desde domingo junto à minha casa. A iniciativa integra-se nas "Festas da Cidade" da Guarda. É claro que em qualquer outra localidade onde se realizam festejos desta dimensão, os stands são colocados numa zona delimitada e construída para o efeito. Preparada para nela coexistir o comércio tradicional, mostras promocionais, certames, zonas de restauração, estruturas de apoio, zonas de diversão e um palco devidamente equipado (Vd. Feira de S. Mateus, em Viseu). Aqui não. As zonas de diversão espalham-se pela cidade, de forma errática. Os stands são dispostos pelas vias radiais do centro, entravando a mobilidade, minguando o estacionamento e tornando a vida dos moradores num inferno. Em contrapartida, no centro histórico não acontece nada. Aí sim, faria sentido o recurso a estruturas portáteis, a um tipo de animação itinerante, a um verdadeiro comércio de rua. Quanto à programação, ela fala por si: é o que o povo gosta e está tudo dito. Aliás, esse é um debate que já me cansa em particular. Mas felizmente, durante os festejos estarei bem longe, numas praias alentejanas que poderiam ser a porta de acesso ao paraíso. Devidamente acolitado, por supuesto. Pelo meio, uma escapada ao Festival de Teatro Clássico de Mérida. E lamentando a sorte das centenas de intelectuais elitistas guardenses e educadores do povo, que, neste período, não poderão fazer o mesmo.

Deram-me uma bandeira mas nem sei para quê

É conhecida a história das romagens de idosos de várias proveniências até à capital, para recompor a "moldura humana" no Altis e bater palmas a António Costa, durante o discurso triunfal. Ao que parece, as viagens foram pagas por várias Câmaras socialistas. Ora, escreve a propósito Pedro Morgado, no "Avenida Central":
Reagindo ao facto de alguns dos idosos transportados até Lisboa terem dito que a viagem era paga pela Câmara, China Pereira, líder da concelhia socialista de Cabeceiras de Basto, considera que "é natural que as pessoas confundam devido à idade". Eu vou mais longe: é naturalíssimo. O que não é natural é que o PS tenha levado para o circo de Lisboa precisamente as pessoas que se confundem devido à idade, num inaceitável aproveitamento da confusão alheia.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Stalker



O Mondego no Covão da Ponte, ao fim da tarde

As 7 magníficas

O processo de escolha das 7 maravilhas de Portugal, que culminou na cerimónia de apresentação pública no dia 7, no Estádio da Luz, revela algumas particularidades interessantes. Fiquei a saber que a eleição decorreu em três fases. A primeira é, já por si, uma pré-escolha: uma lista de 793 monumentos nacionais, como tal classificados pelo IPPAR. Numa segunda fase, uma conselho de notáveis nomeou 77 monumentos elegíveis. Por último, essa lista foi posta à votação pública, de onde saíram os sete vencedores. Sobre os critérios seguidos na selecção, subscrevo na íntegra o que sobre o assunto escreveu JPP no "Abrupto". A minha curiosidade estava só em verificar quantos monumentos do distrito da Guarda tinham sido incluídos. Pois marcaram presença a Sé e o conjunto arqueológico do Vale do Côa. Neste ponto, acreditem que suspirei de alívio. É que receava que o célebre G da rotunda da VICEG e as obras do Polis em Rio Diz figurassem nas maravilhas. Mas não, o bom senso prevaleceu. Essas fantasias só constam do país da Alice.

O dia em que 37,8% votaram

Como se esperava, António Costa ganhou em Lisboa. Recolheu 57 907 votos - representando 29,5 por cento dos sufrágios expressos - o que lhe permitiu conquistar 6 mandatos, ficando a 3 da desejada maioria absoluta. Também no seguimento das expectativas dos analistas, a abstenção foi a mais alta de sempre em actos similares: 62,61. De registar igualmente alguns resultados relevantes:
1º a votação expressiva na candidatura de Helena Roseta - 10,2% - alcançando 2 mandatos e o quarto lugar, à frente de três forças políticas com representação na autarquia.
2º o desaparecimento no executivo camarário do PP, que, entre outras razões, terá lamentado a ausência de Nogueira Pinto.
3º a esperada eleição do "". Mesmo assim, o candidato apoiado pelo BE teve menos 9 000 votos do que nas eleições de 2005.
4º a votação conseguida por Carmona Rodrigues (16,7%). Foi a o reverso da moeda do resultado medíocre de Fernando Negrão, que ultrapassou em número de votos, mas empatando em mandatos.
Sobram alguns pontos de reflexão:
1º Como irá o executivo camarário articular-se com a Assembleia Municipal - cuja composição é substancialmente diferente - até 2009?
2º Que conclusões retirará o PSD desta eleição, perante o paradoxo de o partido ter sido mais penalizado do que o anterior presidente, que apoiou?
3º Como irá Costa gerir a previsível tentação do aparelho partidário em governamentalizar a autarquia?
4º Que tipo de coligações (e sobretudo com quem) fará o PS para garantir a maioria absoluta no executivo. É mais do que óbvio que as mais fáceis não são as mais desejadas e as mais desejadas não são as mais fáceis.

Por último, parece que o PS se especializou em turismo interno no segmento da 3ª idade. À míngua de apoiantes alfacinhas, foi o que se viu em todas as estações televisivas: toca de fretar os tradicionais autocarros e o Altis encheu-se, como por milagre, de anciãos de Cabeceiras de Basto, do Alandroal e do Teixoso, entre outras localidades. Alguns até pararam em Fátima, de permeio. Isto não lhes faz lembrar algo?

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Momentos Zen - 12

Quando nada podes fazer, que podes fazer?

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Incursões

Vale superior do Mondego, visto do Tintinolho

terça-feira, 10 de julho de 2007

Nascimento último



Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono,germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite,lentamente,sob uma chuva densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono,na última nudez,
respiraria ao ritmo do vento,na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que fui,o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser,os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.

António Ramos Rosa, in "No Calcanhar do Vento"(1987)

segunda-feira, 9 de julho de 2007

O sangue dos outros

"Ninguém dá lições de democracia ao PS", vociferava há dias na AR o chefe do grupo parlamentar daquela força política. Aconteceu durante o debate realizado a propósito de conhecidos casos de perseguição, por via disciplinar, de funcionários que alegadamente cometeram delito de opinião. A suprema arrogância desta frase diz-me praticamente tudo acerca de quem nos governa. Condensa duzentos anos de equívocos e de sombras jacobinas. Bem andou Kant, quando detectou na possibilidade de uma acção poder ser ou não universalizada o fundamento para o único padrão ético.
Como prova de que a invocação de uma paródica superioridade moral anda de mãos dadas com a leviandade, apetece citar um excerto de um sugestivo texto de José Gomes André, no "Bem pelo Contrário". Isto a propósito das vaias e assobios dirigidos à Estátua da Liberdade, durante a Gala das 7 Maravilhas do Mundo, realizada há dias:

O mundo ocidental está tão farto de si mesmo, tão cheio da sua felicidade e simplicidade e comodidade, que olvidou os seus pilares morais, o sangue que outros derramaram em seu nome e as suas referências históricas. E não percebe que essas conquistas exigem que as estimemos e as preservemos com todo o cuidado. No dia – e esse dia está demasiado próximo – em que as esquecermos por completo, poderemos ter uma triste surpresa, e descobrir que aquilo que sempre demos por adquirido não passava, afinal, de uma frágil realidade, e a partir desse dia, talvez demasiado distante para ser recuperada.

Graffitis - 15


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A censura está de volta - 2

Há poucos dias, divulguei aqui a notícia da negação do acesso público a blogues alojados no blogger, verificada na rede gerida pela Câmara Municipal da Guarda, disponível nos ciberespaços que administra. Ora, para além da natural indignação, o primeiro passo é saber se existe algum protocolo, ou algum regulamento de utilização desses espaços, a partir dos quais a Câmara possa ser responsabilizada. Mas passemos à questão de fundo. Uma entidade privada que disponibilize um serviço deste tipo tem legitimidade para, querendo, restringir o acesso a determinadas páginas, por razões de ordem concorrencial, moral, ou ideológica. Não se pode é aceitar que uma entidade pública faça o mesmo, para além das excepções referentes à exposição de menores a determinados conteúdos. E que o faça por motivos exclusivamente pessoais, confundíveis muitas vezes com a luta política. É aí que se pode encontrar o móbil para actos censórios desta gravidade: o pavor da pluralidade de opiniões, a obsessão pela verdade oficial, o emergir dos tiques autoritários, próprios de uma sociedade disciplinar, onde o contraditório e a coexistência das diferenças, ou a sua possibilidade, são convenientemente expurgadas. É o medo, o medo da transparência, da circulação das ideias, de um espaço público atento e dinâmico. É o culto do segredo, da aurea mediocritas enquanto diapasão da carreira política. Pouco interessa se o acto material que impede o acesso à blogosfera partiu de um gestor de rede, de um "jeitoso" danado para estas brincadeiras, encaixado na instituição só porque fez um "bom trabalho" na "jota", de um sibilino assessor político, da prima do "influente", quando entendeu que era boa altura para "dar uma lição a esses tipos, senão ainda descobrem como arranjei este emprego", etc. Há responsáveis políticos na Câmara. Estas gracinhas não seriam feitas, no mínimo, sem o seu conhecimento. Entre a negligência e o dolo há uma série de subtis variantes. É só escolher. A eles cabe pôr termo a esta situação e prevenir que outras semelhantes aconteçam. Não sem antes a memória lhes ser avivada, no sentido de que devem obediência à lei e à Constituição. A qual tem na defesa das liberdades - mormente de expressão e de informação - o seu eixo paradigmático. A blogosfera contém muito spam, é certo. Mas tornou-se um instrumento de conhecimento e de comunicação da web 2.0 que não se pode ignorar e muito menos silenciar. Se incomoda, então é caso para dizer: quem não deve, não teme.

O fantasma da ópera

«José Sócrates fez-se líder nos estúdios da RTP e não nos comícios ou nas campanhas de rua. A sua noção de povo é a dos figurantes dos estúdios televisivos. E por isso, perante as manifestações populares, Sócrates reagiu inicialmente com o constrangimento dum realizador que detecta uma falha no guião. Em seguida optou, como fez ontem na inauguração da Ponte da Lezíria, por eliminar a cena. Por agora acredita que, tal como nos estúdios de televisão, também na vida basta focar mais aqui e tirar a luz acolá para que outra realidade aconteça. O nosso primeiro-ministro nasceu politicamente no meio dos cenários e não quer sair de lá.»

Helena Matos, no "Público"

Momentos Zen - 11

Fundamentalmente, o atirador aponta para si próprio.

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domingo, 8 de julho de 2007

Preces atendidas - 11

Filippa Franzen (in "Sacrifício", de Andrei Tarkovski)

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Crimes exemplares - 16

- Vá, explique lá outra vez direitinho como é que tudo se passou.
- Então foi assim. Eu estava na cozinha a partir pão com a faca nova. Chega a minha mulher, escorregou no tapete de lona e veio disparada em direcção a mim.
- Mas julga que nós somos parvos ou quê? E como é que explica o resto? Não me diga que foi obra do Espírito Santo!
- Sabe, é que ela era de ideias fixas: veio contra mim sete vezes...

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sexta-feira, 6 de julho de 2007

Respiração, apenas

Mar de Sesimbra, em Abril

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Duelo à chuva

As eleições no Instituto Politécnico da Guarda tornaram-se assunto "de Estado" neste recanto de província de uma país cada vez mais provinciano. Toda a gente "importante" toma posição, com a adrenalina de quem quer apostar no cavalo certo. Há até quem faça apostas múltiplas. Os gladiadores vão tomando posição, num despique semelhante ao tradicional duelo crepuscular num qualquer Western que se preze. Acredite-se ou não, aqui a luta é mesmo pela sobrevivência. Em confronto, pois patuscos pistoleiros, do tipo sempre em pé. No activo de ambos - embora com antecedentes arrasadores - a descredibilização do IPG. Imaginemos então, por hipótese, dois personagens. O primeiro é pequeno e burguês. O eterno amanuense, às voltas com a ultrapassagem vertiginosa do princípio de Peter. Em matéria de apego ao poder, pertence à família das lapas. Só para dar uma ideia, focalizemos o Silva das Finanças, que corta as unhas à janela ao fim da tarde e vai olhando de soslaio para a janela da vizinha. O segundo pertence à sub-espécie dos self-made manos. No dia 15 de Fevereiro de 1999 foi alegadamente visto a ler um livro. Ficaria bem como polícia de giro em qualquer cidade guatemalteca. Ou como proprietário de um peep show. Et voilá, aqui têm o quadro completo. Pela minha parte, se tivesse que escolher, meteria atestado médico.

A noite chega com todos os seus rebanhos



Uma cidade amadurece nas vertentes do crepúsculo
Há um íman que nos atrai para o interior da montanha.
Os navios deslizam nos estuários do vento.
Alguma coisa ascende de uma região negra.
Alguém escreve sobre os espelhos da sombra.
A passageira da noite vacila como um ser silencioso.
O último pássaro calou-se.As estrelas acenderam-se.
As ondas adormeceram com as cores e as imagens.
As portas subterrâneas têm perfumes silvestres.
Que sedosa e fluida é a água desta noite!
Dir-se-ia que as pedras entendem os meus passos.
Alguém me habita como uma árvore ou um planeta.
Estou perto e estou longe no coração do mundo.

António Ramos Rosa, in A Rosa Esquerda (1991)

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Gato por lebre

A Feira de S. João em finais dos anos 30. Foto: António Correia

Inserido na tristemente célebre estratégia festiva inspirada no lema "dar ao povo o que o povo gosta", a Câmara da Guarda brindou-nos com uma "recriação" da Feira de S. João. A ideia é boa. Mas uma produção destas deveria ser pensada em moldes completamente diferentes: desde a concepção do espaço, ao tipo de animação, à consultoria histórica (o que inclui a recolha de tradições musicais, poéticas e lúdicas associadas) à divulgação, à capacidade de mobilização dos recursos locais, parece que tudo foi pensado em cima do joelho. É bom não esquecer o significado desta feira para a cidade. Trata-se do acontecimento deste tipo mais antigo da região. Criada em 1255, foi desde cedo fundamental para a afirmação e crescimento da Guarda, a ela acorrendo milhares de pessoas. Neste caso, a ambição demonstrada não foi além do que se faz (melhor, ainda por cima) um pouco por todo o lado, sobretudo em localidades da região, ao nível da recriação histórica. Sem qualquer marca distintiva e suficientemente apelativa para atrair visitantes a nível nacional.

Momentos Zen - 10

Só me interessa o que eu penso dos outros.

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terça-feira, 3 de julho de 2007

Antes do Céu



Fotos: Pedro Figueiredo

Imagens da instalação "Antes do Céu", do escultor Pedro Figueiredo, que pode ser vista no átrio superior do edifício principal do Teatro Municipal da Guarda. São utilizadas duas esculturas, criadas pelo autor para a cenografia da evocação da cerimónia de inauguração do Sanatório Sousa Martins, em 19 de Maio último. A acompanhá-las está o "Monólogo do Anjo", um texto deste vosso criado incluído no guião da peça Guarda, Paixão e Utopia, apresentada no TMG nos dias 26 e 27 de Novembro de 2006. Poderá ser lido aqui.

A censura está de volta

Durante estes dias de defeso blogueiro, fiquei a saber que nos espaços públicos com acesso à internet geridos pela Câmara Municipal da Guarda, foi barrado o acesso ao blogger. Quem quiser abrir um endereço alojado naquele servidor, que contem necessariamente os sufixos blogspot.com, verá aparecer uma mensagem assinalando a restrição, subscrita pelo administrador da rede. Vamos por partes: concordo que se vedem conteúdos pornográficos ou violentos nestes locais públicos, pensando nas crianças e adolescentes. Todavia, é inaceitável que se bloqueie o acesso ao maior servidor mundial de blogues num espaço desse tipo. Este procedimento tem um nome: CENSURA. Que não aparece sob a forma regimental do agente policial de olhar atento e indicador em riste, como na China, mas como um insípido e antipático anúncio. Que de resto se encaixa perfeitamente noutros sinais preocupantes de prepotência e atropelo das liberdades fundamentais coloridos de rosa. Neste caso, cabe perguntar: de que têm medo? Segundo parece, a insólita restrição é da lavra de um sociólogo ao serviço da Câmara. Desconhece-se a escola do pensamento perfilhada por esta sumidade, mas suspeito que será a escola de... Pequim.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Regresso ao futuro

Uma placa de rede queimada, uma resma de telefonemas para o fornecedor de ISP, cada um motivando um palpite diferente do outro lado - como é de calcular - e uma indesculpável falta de imaginação, só agora suprida com uma ligação do modem ao PC, via USB (EUREKA!)... Eis os motivos por que ficaram os caríssimos leitores deste blogue momentaneamente privados de mais um dos seus prazeres secretos. Vá lá, admitam! Não é seguramente caso para arrancar cabelos, ou outras medidas drásticas, em desespero de causa! Já agora, dou eu o exemplo e aqui me confesso: pois andava justamente com umas certas ganas em causar umas belas dores de cabeça a alguma boa gente, agora que soube que - aleluia - a minha está a funcionar na perfeição, por via de um TAC de que hoje soube o resultado. Evohé! Evohé!

*Uma curiosidade: durante este período, o número total de postagens estacionou em 666. Brrrr...