terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Ano Novo
A batalha do Atlântico
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
domingo, 28 de dezembro de 2008
sábado, 27 de dezembro de 2008
Camellia sinensis (3)
2º Um chá verde chinês aromatizado com jasmim, em boa hora recomendado no estabelecimento "Leão Real", na Guarda. Cujo atendimento personalizado e inexcedível faz a diferença na cidade.
3º Uma surpreendente mistura aromatizada de chás pretos, da "Kusmi", de origem russa. Chama-se "Prince Vladimir". A presença da bergamota, do limão, da baunilha, da canela e do cravinho dão-lhe um paladar único e inesquecível.
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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Da vida das marionetas
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Leituras
«Como habitualmente, às 5 da manhã ouviu-se o toque de alvorada, dado pelos golpes de um martelo sobre um bocado de barra suspenso junto da barraca de comando. (...)
Já o ruído cessara, embora por todo o campo parecesse ainda estar-se a meio da noite, quando Ivan Denisovich Shukhov se ergueu para ir à latrina. Estava escuro como breu, vendo-se apenas a luz amarela lançada por três holofotes – dois no perímetro e um dentro do próprio campo. [...]
*
Shukhov adormeceu completamente satisfeito. Feliz. Fora bafejado pela sorte aquele dia: não o haviam posto no xadrez; não tinham enviado a brigada para o Centro; surripiara uma tigela de kasha ao almoço; o chefe de brigada fixara bem as rações; construíra uma parede e tirara prazer do seu trabalho; arranjara aquele pedaço de metal e conseguira passá-lo; recebera qualquer coisa de Tsezar, à noite; comprara o tabaco. E não caíra doente.
Um dia sem uma nuvem carregada, sombria. Quase um dia feliz. Contava já no seu activo três mil seiscentos e cinquenta e três dias como este. Desde o primeiro até ao último toque na barra de carril. Os três dias suplementares pertenciam a anos bissextos.»
Publicações Europa-América, Livros de Bolso nº 33, Lisboa, 1972 – reed. 2008
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
O beco
Tábua de marés (20)
Realização: Volker Schlondorff, a partir do romance homónimo de Günter Grass, 1959 Duração: 1:41
Pequeno Auditório do TMG, 9 de Dezembro.
Em boa hora este filme de culto da cinematografia alemã, que recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes, foi exibido entre nós. Danzig/Gdansk, Alemanha, durante os anos 20/30 do século passado. A história é narrada a posteriori pelo protagonista, Oskar Matzerath, que no livro é nessa altura interno num hospício. Logo após o seu rocambolesco nascimento, a mãe promete-lhe que, ao completar três anos, ganharia um tambor de latão. No dia da comemoração de seu aniversário, após presenciar os jogos eróticos entre sua mãe e seu primo com quem mantinha um caso (uma sequência que faz lembrar uma outra em “O charme discreto da burguesia”, de Buñuel), Oskar decide que não iria crescer mais e força um acidente. Provocando assim um anacronismo fisiológico: deixa realmente de crescer. Quando o seu padrasto e outros tentam tirar-lhe o seu adorado tambor de latão, Oskar demonstra o seu talento bizarro: com um grito super agudo, faz estalar os vidros em redor. Entretanto, o movimento nazi afirmou-se na Alemanha e o padrasto adere ao movimento, entre outras figuras próximas. A história do jovem Oskar, em tom de comédia, começa muito antes, quando os seus avós se conheceram no campo (uma cena divertidíssima debaixo da saia da avó). Na cidade de Danzig existia uma minoria étnica de onde provinha Oskar: os cassúbios, que não se consideravam nem alemães nem polacos. Tendo pago por isso um elevado preço, ao perder-se entre os conflitos que marcaram a primeira metade do século na Europa. O que tem de divertido, “O Tambor” tem de crítico e sagaz também. Um miúdo apresenta-se como um incorrigível observador. É através do que ele vê que acompanhamos o rumo da história. Sempre acompanhado do seu inseparável tambor vermelho e branco e da sua voz incomum. É o olhar descomprometido de uma criança analisando o mundo adulto e resolvendo não pertencer a esse mundo: as eternas convenções sociais, casamentos arranjados, amores impossíveis, as aparências, o espectáculo da política. A propósito, a sequência mais caricata da obra acontece durante a recepção do Partido local a um dirigente nazi, na praça principal. Durante a cerimónia, o pequeno Oskar, escondido, toca o seu tambor. É quanto basta para o desconcerto da banda se instalar, transmitindo-se, de forma contagiante, para a assistência, que começa a dançar uma valsa. A chuva encarrega-se de dispersar o que resta da ocasião. Um filme que continua a surpreender pela subtileza bem-humorada e pela contundência com que interpreta uma época conturbada.
Publicado no jornal "O Interior", em 19 de Dezembro
Tábua de marés (19)
Associação Mau Artista (http://www.mauartista.blogspot.com/ Encenação: Paulo Calatré
Interpretação: Nuno Preto e Pedro Damião
Café Concerto do TMG, 11 de Dezembro, pelas 22h00
Para quê colocar dois actores desmultiplicando-se nos vários personagens que povoam a maior alegoria moral escrita por Gil Vicente? A este desafio respondeu a Associação Mau Artista, uma estrutura dinâmica que, embora formada há três anos, já produziu 10 espectáculos numa perspectiva iconoclasta. Apresentando agora ao público guardense esta sua mais recente produção. Ora, há quem aponte ao “Auto da Barca do Inferno” o mesmo propósito moral da “Divina Comédia”. Há alguns ingredientes comuns, é certo: a expressividade pictórica, a alusão aos sete pecados capitais, a morte como destituição das hierarquias e marca do efémero, a (in)justiça terrena analisada como suporte narrativo. E talvez, em certa medida, o cenário. Mas as semelhanças acabam aqui. Vicente apresenta-nos uma tragédia com sabor a comédia. Uma alegoria, é certo, mas atravessada pelo picaresco especificamente peninsular. Onde os personagens tentam iludir o Anjo e o Diabo acerca das suas virtudes. A viagem que os espera será feita através de um “braço de mar” no qual estão ancoradas duas barcas: uma que conduz Paraíso e outra ao Inferno; aquela tripulada por um Anjo, esta pelo Diabo e seu companheiro. O cenário é, cósmico, já que trata do destino das almas. Toda a dramaturgia é organizada em função de dois mundos em comunicação: o terreno e o sobrenatural. Todos os personagens conservam na memória a sua autenticidade terrena e ainda estão comprometidos com o seu estilo de vida, social ou profissional, envergando objectos “emblemáticos” a eles associados. A barca é, assim, símbolo de travessia, de viagem, e constitui, ela própria, uma alegoria do destino. Por outro lado, os vários candidatos á justiça divina, mesmo individualizados, de que o onzeneiro, o parvo, o corregedor, o fidalgo, o frade ou a Brígida. valem sobretudo como tipos sociais ou psicológicos. Aqui, nada de novo. E os dois barqueiros estão longe de ser imparciais. “Gil e Vicente, Uma Viagem de Barca ao Inferno”, é um espectáculo que tanto funciona para um público escolar, como em ambientes e espaços não convencionais, onde garante o interesse do público em geral. Onde se inclui o esforçado trabalho físico desenvolvido pelos actores, a óbvia intencionalidade clownesca e a adaptação à linguagem da companhia. Por sua vez, o cenário, simplificado, mas eficaz, é um ponto de partida para a improvisação. Uma bicicleta, um escadote de madeira e malas de viagens a abarrotar de adereços / memórias serão, aos olhos dos actores e dos personagens, o cais, as barcas e ajudarão na identificação dos personagens. Assim como o escadote será a barca do inferno, para logo de seguida ser a barca do paraíso, um funil poderá ser o chapéu do parvo. Um texto clássico, a que este grupo acrescentou significados novos e estimulantes.
Publicado no jornal "O Interior", em 19 de Dezembro
domingo, 21 de dezembro de 2008
Soltas
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Saatchi
A questão coimbrã
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Lido
E desviei os olhos do sangue e do silêncio,
É porque vivo, como sabes, entre estes dois gritos,
É porque vivo, como sabes, perto de mim.
sábado, 13 de dezembro de 2008
Abalada
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Incursões
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Auto de notícia
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Omo lava mais branco
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Viagens
Tábua de marés (18)
“Ar da Guarda”
Exposição colectiva de artistas do concelho da Guarda
Organização: CMG - NAC
Galeria do Paço da Cultura
Entre 17 de Novembro e 3 de Janeiro de 2009
Em Dezembro de 2004, era editado, pelos mesmos organizadores deste evento, um caderno colectivo intitulado "Ar Livro", contendo textos e imagens, e no qual também colaborei. Nessa publicação, num texto a propósito intitulado "Ares da Guarda", escreveu Eduardo Lourenço o seguinte: vendê-los, em casa, imitar como podíamos os eternos Davos-Platz dos outros, oferecê-los aos que sofriam do "mal" de um século em vias de urbanização acelerada, lavar-lhes os pulmões nesse ar ainda não poluído da nossa provincial "montanha mágica". (...) A Guarda não se converteu na cidade onde se vinha a ares. Mas tomou consciência, e a tradição dura até hoje, que os seus "ares" eram, para quem os procurava, uma aposta de vida. Precisamente: encarar, em grande medida, a Guarda como um destino espiritual, uma finisterra purificadora. Sendo o bem mais precioso - o ar – o elemento central deste conceito. E onde os objectivos imediatos, associados às virtudes desse elemento – terapêuticos, turísticos, desportivos, científicos, a ausência de ácaros, segundo me disseram - mais não seriam do que meios para esse objectivo último e que atrás mencionei.
A tentação de classificar o “Ar da Guarda” como marca registada já passou pela cabeça de muita gente. A representação é apelativa, diga-se de passagem. É claro que estamos em presença de um bem que não é escasso, até ver. O que significa que só metaforicamente se chegará à consciência, não tanto dos seus benefícios, pois esses conhecidos sobejamente, mas das suas aplicações, numa visão ampla de longo prazo. Aquilo a que chamaria “Ar da Guarda 2.0”. A imagem de marca para uma verdadeira aposta de vida. Acontece que, nesse sentido, a primeira acção pública e as subsequentes deveriam ter como suporte mais idóneo a arte, ou, mais propriamente, o manifesto artístico. E seria a sua força expressiva que teria que ser usada na linha da frente. E foi exactamente isso que foi feito. A propósito das excelsas virtudes terapêuticas da atmosfera guardense, lembro-me de uma acção conduzida há uns anos pelo NAC, numa das exposições da série "A Memória das coisas", e que consistia basicamente na criação e exibição de pequenos boiões contendo ar da Guarda. Com rotulagem criada para o efeito. Eis um feliz exemplo de arte pop, ao serviço de uma ideia com todas as condições para vingar. E que constitui o antecedente directo da exposição agora patente.
A primeira constatação é de que esta reúne artistas de várias gerações, sensibilidades e dimensão curricular. O que, desde já, me parece a aposta certa, em função dos resultados artísticos desejados. Começando pelo catálogo, tornou-se evidente que cumpriu o que lhe competia. De realçar a qualidade superlativa das fotografias de algumas das obras expostas, as quais francamente favorecem. Relativamente aos critérios seguidos na instalação das obras e sua interacção com o espaço, notei algumas falhas. A mais grave tem a ver com a arrumação das três esculturas na mesma sala. Acontece que qualquer uma delas pressupõe que sejam exibidas de forma personalizada, sem elementos externos que possas perturbar o seu desfrute. Neste caso, a notável instalação de Rui Miragaia obedece a uma lógica diversa das outras obras presentes. E, sobretudo, a iluminação intermitente diminui a percepção destas. Justificava-se, portanto, a sua mostra num espaço individualizado. Por outro lado, notei uma qualidade desigual nos trabalhos expostos. E uma fidelidade também desigual de cada artista àquilo a que habituou o público. Havendo, nalguns casos, uma linha de continuidade e noutros uma ruptura. Por outro lado, se na maioria das obras (incluindo algumas criadas especialmente para a mostra) se nota a dedicação exclusiva ao tema proposto, noutras já isso não é tão claro. O que empobrece, de alguma forma, o resultado final. Por último, e como nota informal, cabe ainda destacar, pela positiva, os trabalhos de alguns dos artistas representados: Carlos Adaixo, Teresa Oliveira, Kim Prisu e, noutro registo, José Vieira, Pedro Renca e Rui Miragaia.
Tábua de marés (17)
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Tábua de marés (16)
Coordenação geral e dramaturgia: Américo Rodrigues
Encenação e dramaturgia: José Rui Martins
Direcção musical: César Prata
Cenografia e adereços: Marta Fernandes da Silva e Pedro Santos
Co-produção do Teatro Municipal da Guarda e Trigo Limpo Teatro ACERT
Dias 21, 22 e 23, no Grande Auditório do TMG.
O nome pode induzir em erro. Não se trata de um espectáculo de teatro radiofónico, como seria de supor. E porquê? Desde logo, porque a rádio é claramente o motivo, o suporte dramatúrgico da peça. O seu papel é muito mais significativo do que o do coro grego, por exemplo. Uma vez que, nesse caso, ele é ora o impulsionador, ora o comentador distanciado da acção dramática. Pois aqui a acção passa-se no interior da própria rádio. Que transmite aquilo que é recriado cenicamente. Portanto, a rádio é, nesta peça, o narrador que comanda a acção e a reproduz. Servindo o palco como uma extensão, uma projecção daquilo que se passa no estúdio. Em suma, convidando-nos a olhar para ela como se se tratasse daqueles personagens que Rembrandt incluía em alguns dos seus quadros, olhando para o espectador e tornando-se cúmplice do que ele próprio assiste. Portanto, a rádio funciona aqui de duas formas: como meio de projecção e circulação da mensagem proposta e como instrumento agregador e simplificador no processo dramatúrgico desenvolvido. No segundo caso, resolveu um problema sentido no anterior espectáculo, “Guarda, paixão e utopia”, quanto às transições entre as diversas cenas. O tal fio condutor. No primeiro, abriu possibilidades infinitas no que toca à escolha dos temas. Por outro lado, a dimensão impressionante da ficha técnica pode induzir noutro erro: encarar este espectáculo enquanto produção megalómana. O que aconteceria se o passo pretendido fosse superior às pernas. Ou se o TMG se tivesse transformado num estúdio da Paramount Pictures durante a rodagem de um épico de Cecil B. de Mille. Ironia à parte, o que impediu a passagem da ténue linha para um gigantismo descontrolado não foi a contenção nem a limitação dos meios envolvidos. Mas sobretudo a fidelidade ao conceito original: contar histórias da Guarda, por gente de Guarda e para a Guarda. Celebrar a casa comum. Orquestrar um conjunto polifónico de vozes, ao serviço de um projecto artístico de qualidade e com projecção universal. Instrumentar a memória, sem deixar de questionar o presente. E tudo isto através do teatro e da linguagem teatral. No fundo, o mesmo desenho criado para o espectáculo de há dois anos, já referido, e para o qual vale muito do que aqui se diz. E em relação ao qual posso, no entanto, estabelecer algumas diferenças: o agora apresentado foi menos poético e simbólico; por outro lado, foi notório o acento dado à direcção de cena, em lugar da encenação propriamente dita. No primeiro caso, pese embora o impacto poético da cena 6 (“Pedras Escritas”) e da cena 9, com o diálogo entre Alberto Diniz da Fonseca e D. Quixote, a poesia foi a grande ausente. No segundo caso, privilegiando-se a sucessão de efeitos visuais e os movimentos colectivos, em lugar da representação propriamente dita. O que, se inculcou ritmo televisivo ao espectáculo, fê-lo perder tensão dramática. Compreende-se que o tempo e o espaço eram escassos para “encaixar” tantos recursos humanos. Mas não deixa de ser verdade que a História tem actores. E o teatro não pode prescindir deles. Devo dizer ainda que me desagradou o maniqueísmo redutor de algumas sequências, nomeadamente das cenas 7 e 8, a propósito da fábrica Renault e do 25 de Abril. A roçar o comício puro e simples. O que evidencia uma opção ideológica que, tal como outra qualquer aplicada directamente à arte, faz dela desaparecer o essencial: a pluralidade de sentidos. E tudo reduz a uma mescla de propaganda com correcção política. Em quase tudo o resto, as soluções encontradas revelaram-se perfeitamente ajustadas e equilibradas. Com alguns rasgos verdadeiramente brilhantes. Quanto aos temas elegidos para formar esta epopeia, tal como das obras que hipoteticamente fossem escolhidas e reunidas numa antologia, pouco haverá a dizer. Procurou-se e conseguiu-se que esses temas não repetissem os “clássicos” utilizados na peça anterior. Decerto outros poderiam ter sido considerados, mas essa avaliação pouco interessa agora. Em suma, um grande espectáculo que dignifica a Guarda, a sua memória, a sua criatividade e a sua dinâmica cultural.
Tábua de marés (15)
Galeria de Arte do Teatro Municipal da Guarda
De 15 de Novembro a 14 de Janeiro de 2009
Para quem tenha visitado recentemente a exposição “Desenhos de Escritores”, que decorreu no CCB e tenha saído um tanto defraudado, como é o meu caso, esta foi uma ocasião soberana para reconsiderar as más impressões aí recolhidas, no que toca à polivalência criativa dos escritores. Com notáveis excepções, claro. Claro que aquela exposição tinha um propósito documental que esta não tem. Sendo apresentada, sem ambiguidades, como parte do acervo artístico de um artista, “por acaso” notabilizado como escritor. O conjunto espanta pela diversidade de meios, materiais e linguagens. Compreende gravuras, desenhos, aguarelas e esculturas em bronze. Num texto notável inserido no catálogo, o autor explica, na primeira pessoa, a convergência entre o desenho e a escrita. Onde afirma, a certa altura: “não é só porque a escrita e a linha figurativa são igualmente gráficas, mas também por razões de plasticização que o desenhar e o escrever existem em recíproca inter-relação”. Antes de se tornar romancista, Grass foi escultor. Aprendiz de entalhador de pedras, dedicou-se também ao estudo das artes gráficas. Mas quiseram as musas que a pena fosse sua principal arma de combate intelectual. Segundo ele, as figuras desenhadas ou esculpidas tomaram forma "em silêncio, à sombra da literatura". Porém, que cada uma é também uma "obra independente", sendo a coexistência de literatura, escultura e pintura “completamente natural”. Há ocasiões inclusive em que passou de um campo para outro a meio de uma obra. Ora, percorrendo a exposição, não só pelos motivos, mas pela intensidade, pelos temas escolhidos e pela sua repetição, nota-se a influência do expressionismo alemão na obra de Grass. Sobretudo nos desenhos e em duas aguarelas. Do conjunto, destaco algumas águas-fortes, logo á entrada, as sanguíneas, a litografia retratando a máquina de escrever de (Heinrich) Böll e toda a obra escultórica.
Publicado no jornal "O Interior", de 27 de Novembro
Ainda o "Magalhães"
Segundo a OCDE, o abandono escolar na União Europeia foi, em 2007, de cerca de 15 por cento. Portugal, com 36,3 por cento, tem a taxa mais alta. Mais de um terço da população entre 18 e 24 anos não completou a escola e não frequenta cursos de formação profissional. Só 13 por cento da população activa adulta completou o ensino secundário e perto de 57 por cento apenas terminaram o primeiro ciclo do básico.
Ainda segundo a OCDE e um estudo de Susana Jesus Santos (do banco BPI), a distribuição dos tempos de aulas nas escolas, para alunos de 9 a 11 anos, mostra como a juventude portuguesa está orientada. Em Portugal, a leitura (e o português) ocupa 11 por cento do tempo de aulas. Na União Europeia, 25. Em Portugal, a Matemática ocupa 12 por cento. Na União Europeia, 17. Que é que o Magalhães tem a ver com isto? Nada. Absolutamente nada!