terça-feira, 31 de janeiro de 2012

domingo, 29 de janeiro de 2012

Breves (3)

1.Por causa de uma crónica a propósito da emissão do programa "Prós e Contras" a partir de Angola, o jornalista Pedro Rosa Mendes foi "dispensado" pela direcção de informação da RDP 1, onde colaborava na rubrica "Este Tempo" com as suas crónicas. O acto de censura resulta de uma crítica contundente ao espectáculo propagandístico oferecido à cleptocracia angolana e ao "nauseante e grosseiro exercício de propaganda e mistificação" (sic) do referido programa. Aqui poderão aceder à nota publicada no "Público", a propósito do tema. 
2. As virgens ofendidas do costume andam indignadas por causa de um desabafo do Presidente da República acerca da sua reforma. É claro que Cavaco Silva pode ser criticado por vários motivos. Do meu ponto de vista, como homem educado no regime anterior, está demasiado marcado por uma prudência imobilista e incapaz de retirar peso ao Estado. É bom não esquecer que a deriva despesista que nos tem em apertos começou com ele. Seja como for, circulam pela net panegíricos inflamados condenando Cavaco à execração. Esquecendo talvez que o seu trunfo maior é a identificação com o português comum, que sobe a pulso, com sacrifício, avesso a rupturas. Nas redes sociais, o fait-divers com Cavaco atinge proporções pantagruélicas. Desde peditórios a músicas, há para todos os gostos. Mas vê-se também a arruaça de tasca, do tipo "segurem-me senão vou-me a ele". E com isto andamos a perder um tempo precioso. Que deveria servir para aproveitar a crise da única maneira possível: desfazermo-nos de hábitos consumistas e de um individualismo sem futuro. Novas formas de convivialidade, de participação cívica, de solidariedade. O caminho é esse. Não é continuar a dar importância aos mesmos actores de sempre.

A sombra do gajo

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Breves (2)

1. O Ministério Público prevê para este ano um aumento da criminalidade violenta. Jurem! Pensem bem! O que levou à crise não foi também uma forma de criminalidade? Suave, asséptica, pautada pelo rito oficial da democracia, ou seja, o sorriso regulamentar dos políticos. Dotada de um perfume hedonístico como álibi perfeito. Com carta branca para actuar, depois de anos e anos em que o bom povo, comovido com o anúncio da boa nova, deu o voto a quem pagaria os cheques e uma ilusão de prosperidade. Só espero que esta nova criminalidade, ao contrário da outra, não fique impune.
2. A polémica nomeação de Celeste Cardona para o C.G. da EDP já motivou uma reacção da visada. Ora, em jeito de balanço existencial, a criatura diz que “não foi ministra”, simplesmente desempenhou “um cargo ministerial”, não foi banqueira, “trabalhou na sua área de especialidade na CGD” e “não será conselheira da energia”, mas irá tão só "exercer as competências previstas no Regulamento do Conselho Geral da EDP". A jeremiada impressiona, mas não comove uma pedra, nem faria nascer no regaço de Isabel de Aragão uma única rosa. “En passant”, é bom lembrar que, no desempenho das supracitadas funções ministeriais na pasta da Justiça, esta senhora, autêntico gremlin da política nacional, cometeu o maior crime de lesa majestade na área, desde os memoráveis tempos do prof. Varela opinando sobre a dissolução dos costumes devida ao surgimento do divórcio em 1977. Refiro-me à reforma da acção executiva, hoje transformada num pantanal povoado por crocodilos vorazes (os agentes de execução) e de onde é muito difícil sair. A nova conselheira é pois um caso de sucesso. Provando que a estupidez, para além de atrevida, também é multidisciplinar no seu "desempenho".

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Stalker

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Breves (1)

1. Talvez graças a algum desígnio celeste, as edições dos jornais "A Bola" e "Record" do dia 16 deste mês tinham exactamente o mesmo título em destaque na capa: "O título por um canudo". A notícia referia-se ao jogo do dia anterior entre Braga e Sporting. O propósito, como já adivinharam, foi óbvio: criar um trocadilho de circunstância. Coincidência? É pouco crível. Ou seja, tão provável como acertar no euromilhões à 1ª. Concorrência desleal? Conhecerem ambos os directores as capas do concorrente e lançaram-se numa corrida frontal para ver quem se desviava 1º do choque? Será que os respectivos corpos redactoriais têm poderes telepáticos? Simples incompetência? Falta de imaginação? Aceitam-se mais sugestões...
2. A sigla SOPA designa uma proposta que recentemente foi rejeitada no Congresso americano, onde seria permitido às autoridades federais encerrarem sites, imporem regras apertadas ás redes sociais e devassarem o tráfego na Web, sob o pretexto da luta contra a “pirataria”. Um vídeo ilustrativo pode ser acedido no Youtube, em . A proposta em discussão revela todo um programa. No limite, um angélico clip de um bébé editado no Youtube pode ser censurado só porque se ouve uma música de fundo protegida por "direitos" de "autor". É a permissão para actuar dada a um novo Santo Ofício cibernético, que vela pelos interesses pouco santos da indústria de conteúdos. É o terror, a delação, a auto-censura, a vigilância dos novos zelotas que irão pôr em causa a própria internet. A fome de lucros da indústria encontrou um aliado precioso na agenda oculta do Poder. Nunca como neste caso ficou tão nítida a divergência entre a partilha livre de ideias, acções e objectos de cultura e os interesses das multinacionais e seus capatazes encarregues do lobbing. Depois desta tentativa abortada, o Megaupload (o maior sítio de descargas da web) foi encerrado por ordem do Estado da Virgínia, a pedido da holding Universal. As corporações não desmobilizam, como se vê. Todavia, no final, ver-se-á quem ganha a guerra.


sábado, 21 de janeiro de 2012

Pluvioso


de 20 Janeiro a 18 Fevereiro

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Música

O Universo é um ruído a converter-se em harmonia, um corpo a mostrar a alma.

Aforismos, Teixeira de Pascoaes, selecção e organização de Mário Cesariny

A casa (21)

 Não há ninguém acima, nem abaixo; não há ninguém atrás da porta, nem  no quarto vizinho, nem fora da casa.

 Não há eu. E o outro, o que me pensa, não me pensa esta noite. Pensa outro, se pensa.

Para quê gravar com um punhal ferrugento sinais e nomes sobre a pele reluzente da noite?

sábado, 7 de janeiro de 2012

Sempre a Amante Ultrapassa o Amado

O destino gosta de inventar desenhos e figuras. A sua dificuldade reside no que é complicado. A própria vida, porém, tem a dificuldade da simplicidade. Só tem algumas coisas de uma dimensão que nos excede. O santo, declinando o destino, escolhe estas coisas por amor a Deus. Mas que a mulher, segundo a sua natureza, tenha de fazer a mesma escolha em relação ao homem, isso evoca a fatalidade de todos os laços de amor: decidida e sem destino, como um ser eterno, fica ao lado dele, que se transformará. Sempre a amante ultrapassa o amado, porque a vida é maior do que o destino. A sua entrega quer ser sem medida: esta é a sua felicidade. A dor inominada do seu amor, porém, foi sempre esta: exigirem-lhe que limitasse essa entrega.

Rilke, "As Anotações de Malte Laurids Brigge"

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A casa (20)

Damos voltas e voltas no ventre animal, no ventre mineral, no ventre temporal. Encontrar a saída: o poema.

 Pelas ameias da tua fronte o canto alvorece. A justiça poética incendeia de opróbio: não há sítio para a nostalgia, o eu, o nome próprio.

Falar por falar, arrancar sons à desesperada, escrever o que diz o vôo da mosca, enegrecer. O tempo abre-se em dois: hora do salto mortal.