segunda-feira, 31 de agosto de 2009

domingo, 30 de agosto de 2009

A levada (1)

Percurso da levada do Caldeirão Verde, costa norte da Madeira, concelho de Santana.
Extensão: 9 Km
Desnível: 300m
Fantástica caminhada, com grau de dificuldade médio, no meio do cenário luxuriante da floresta laurissilva madeirense. Uma experiência única...Eis algumas imagens obtidas:


A levada (2)




sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Caim

Perguntaste-me, Gil, de que lado me bateria na Guerra Civil de Espanha. Eu, a quem chamavam o «Guerra Civil» e que fui sempre uma Guerra Civil dentro de mim. Respondi-te que achava estranho fazeres-me essa pergunta ao fim de tantos anos. E disse que eles não esperariam por te perguntar. Disse-te que, se não tivesses fugido de madrugada, de manhã estarias encostado ao muro. E eu contigo. E hoje não sei dizer-te quem eram «eles». Por estes dias, há muitos anos, nasceu um cigano, El Pélé, que apostrofou os milicanos quando, em 1936, estes, perto de Lérida, espancavam um cura. Eles prenderam-no e obrigaram-no a que lhes entregasse o terço. Ele não o fez e foi fuzilado de manhã. O «El País» de hoje vem com um artigo relativo à descoberta dos ossos de dois professores primários fuzilados pelos falangistas. Uma delas, Maria de los Desamparados, morreu a rezar e não entregou o marido que era republicano. O chefe falangista, a pedido do filho, poupou a vida ao marido. O filho passou o resto da vida a procurar a cova onde enterraram a mãe.

Houve muitos assassínios, de parte a parte, em Espanha, e eu só desejo que não volte a acontecer. Espero que bascos, castelhanos, catalães e outros se entendam. E se esse entendimento significar o fim de Portugal, o sonho de Nun’álvares, que se batia contra os próprios irmãos e da Ala dos Namorados, os desgraçados sem um tusto para se casarem, que mais baixas sofreram em Aljubarrôta, continuarei a ser português, como um cigano. Ficou-me na cabeça Maria dos Desamparados, professora primária que, antes de saber ao que ia, disse ao filho para dormir em paz e que se não preocupasse. E do Santo Pelé. E lembrei-me que todo o homem é cigano, todo o homem é filho do vento e do fogo que sopram onde nunca se sabe, que nenhum homem tem morada. Não quero matar, se bem que este meu desejo não valha de nada, porque eu sou Caim. E Abel jaz morto e apodrece.

E, se todo o homem é cigano, nenhum homem tem terra, nem boa reputação. Nem sempre vende apenas camisas de contrabando, nem sempre prefere trabalhar a pedir esmola nos semáforos. Nem cigano sou, nem gosto de «Gipsy Kings» mas visto uma camisa Lacoste de contrabando de côr flamejante, e exibo-a com orgulho, porque sou uma tocha a arder na noite escura, pois não sei a que lado pertenço, não sei ao que vou nem ao que venho, só sei que não quero matar.

André

Stalker

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A desilusão

Agora que estão definidas as listas e os programas das duas principais candidaturas à Câmara da Guarda, interessa definir uma posição face às eleições que se avizinham. Não sem uma advertência prévia: não disponho de informação privilegiada. Estar dentro e fora não é saudável. Coloco-me, pois, no patamar do cidadão comum. Que viu a Guarda passar ao lado do desenvolvimento, graças à inépcia de um sinistro consulado socialista , que durou 20 anos. Ora, ainda antes da pré-campanha, tinha neste texto colocado o que penso sobre a disputa eleitoral que se avizinha. Em resumo, a única expectativa razoável seria saber qual o programa e a composição da lista encabeçada por Valente, o mais que provável vencedor antecipado. Tudo o resto, incluindo a candidatura de Crespo de Carvalho, seria uma sucessão de fait divers, ou um alinhamento de notáveis para a pole position do próximo acto eleitoral. Nessa linha, cingir-me-ei à candidatura de Joaquim Valente. Esperava que, desta vez, ela trouxesse um corte radical com o passado tenebroso da gestão socialista da autarquia guardense. Que atolou a cidade num limbo de subdesenvolvimento, mediocridade, sub-investimento, compadrio, clientelas para favores e empregos. Que, do ponto de vista urbanístico, tornou a cidade irreconhecível, incaracterística, suburbana de si própria. Que obrigou a que a criatividade emigrasse e a inteligência se escondesse. Ou vice-versa. Valente dispunha agora do timing certo para cortar com a tralha que tanto mal causou à cidade. Depois da "evolução na continuidade" do 1º mandato, tinha agora a oportunidade de propôr um novo ciclo para a Guarda. Porém, não o fez. Ou então, se assim o desejou, não foi convincente. Mesmo sabendo que, na Guarda, a política é a ilustração cabal da arte do possível. Algo que não isenta um político que se preze de forçar o impossível, por uma vez que seja. A minha pergunta de então foi assim agora respondida: mais "marcelismo" não, obrigado! Com prejuízo para o provável apoio expresso que o "Boca de Incêndio" iria conceder à candidatura. Abrindo uma excepção que, por agora, ficará para as calendas.

sábado, 22 de agosto de 2009

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Stalker

A choldra

Exemplo de alguns refastelados do regime: a chungaria proto-maçónica, os imberbes e imaginativos tecnocratas com cursinhos superiores à la carte, padecendo de iliteracia crónica, impetuosos caciquinhos de província, pastoreados pelas claques do picnic, gente infecta dos partidos políticos, filhos da puta avulso, frequentadores da sopa dos pobres da União Europeia, plebeus ignorantes, prepotentezinhos, eminências vociferantes, donas disto e daquilo, insignificancias jesuíticas, bovinos de esquerda, gente sem gratidão, sem um toque de Midas a compor a virtude e a paleta, gente sem rumo, sem coluna vertebral, sem coragem, sem audácia... É esta a choldra que nos governa e que vai amordaçando o que resta da qualidade da nossa democracia.
Tudo isto a propósito da notícia que segue. Note-se que isto acontece no mesmo país onde a grande criminalidade continua impune e onde os políticos corruptos continuam a sorrir como se nada fosse com eles. Um nojo.

Dois membros do Movimento 31 da Armada foram hoje à tarde levados por elementos da Polícia Judiciária quando se dirigiram à Câmara Municipal de Lisboa para devolverem a bandeira da autarquia, disse à Lusa fonte próxima do movimento.

Rodrigo Moita de Deus e Henrique Burnay foram os elementos do 31 da Armada levados pela PJ quando tentatavam entregar a bandeira da autarquia, "devidamente engomada", que substituíram pela bandeira monárquica na noite de segunda-feira, acrescentou a mesma fonte.

Na noite de segunda-feira, pouco depois da meia-noite, quatro elementos pró-monárquicos do Movimento 31 da Armada, autor de um blogue, retiraram o símbolo autárquico da varanda dos Paços do Concelho e hastearam a bandeira azul e branca com recurso a um escadote, uma iniciativa destinada a "restaurar a legitmidade monárquica".

in "31 da Armada"


domingo, 16 de agosto de 2009

Lido

«Manuela fala pouco, promete pouco e discute pouco, o que a separa da horrível jactância de Sócrates (que se julga infalível) e lhe permite ouvir o português normal, inseguro e já desesperado. O optimismo é hoje uma pura mistificação. O sarilho em que nos meteram (ou nos metemos) não se trata com retórica ou com "ideias". Só na sobriedade, no cálculo, na persistência e na discrição há uma pequena esperança. Como Sócrates vai rapidamente perceber.»
Vasco Pulido Valente, no "Público" de ontem

sábado, 15 de agosto de 2009

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A idade dos porquês

Porque é que as embalagens de metal para pomadas, concentrado de tomate e óleos para pintura estão a ser praticamente substituídas pelo plástico? Sim, porque é que já não poderemos usufruir daquela sensação maravilhosa de, à medida que o produto está a chegar ao fim, ir dobrando e espremendo o tubo cuidadosamente, até ao estertor final. Mas não sem que, após a dobragem, a concentração extra da pomadinha, do ketchup ou do´pastel funcionar como um elixir da juventude. Ganhando os ungentos no seu interior um fulgor extra, quase que parecendo acabadinhos de comprar! Eis uma ilusão barata, mas que a malvada da indústria nos quer agora retirar...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Leituras


Lucien Rebatet foi um brilhante e injustamente esquecido escritor, jornalista, ideólogo, crítico musical e de cinema. Para além dos inúmeros artigos que escreveu nos jornais, publicou o manifesto "Les Décombres" (onde não poupa a III República e as instituições que a suportavam pelo desastre de 1940, sendo um livro banido em França durante décadas), o romance "Les Deux Etendards", ignorado pela crítica, apesar da sua grande qualidade literária e ainda uma "História do Jazz", esgotadíssima, mesmo nos alfarrabistas mais selectos. Foi activista na "Action Française" e um dos mais influentes redactores do jornal colaboracionista “Je suis partout”, onde pontuou Robert Brasillach, entre outros. Notabilizou-se também como redactor da rádio Vichy e mentor no grupo de Doriot.
“Memórias de um Fascista” constitui um relato da vida do autor entre a ocupação, em 1940, e o seu perdão, depois de ter diso condenado à morte, em 1947. A obra é composta por duas partes: o corpo principal, até à sua estadia em Sigmaringen, e um apêndice, retirado de um texto dedicado a Céline. Onde pode ler-se, a certa altura: «Qu’était-il donc, au fait? Un anarchiste? Le mot est un truisme bien vulgaire pour ce conservateur, perpétuellement clochard dans sa propre vie, mais imbu d’ordre civique, de santé sociale. Non. Un poète, qui eut la bravoure de prêter sa voix d’Apocalypse à nos plus justes mais nos plus dangereuses colères. Et pour toutes les choses supérieures, un homme de bons sens, ce grand bon sens dont parle Baudelaire, “qui marche devant le sage comme une colonne lumineuse à travers le desert de l’histoire”.»
A obra enfrenta alguns tabus na história francesa do séc. XX e sintetiza o activismo e o ideário da direita totalitária na primeira metade do século. Um exemplo: «Porque nos dizíamos fascistas? Porque tínhamos criado horror à democracia parlamentar, à sua hipocrisia, à sua imperícia, às suas vilezas. Porque éramos novos, porque o fascismo representava o movimento, a revolução, o futuro sobre o qual reinava, desde antes da guerra sobre dois terços da Europa. Porque eram precisos regimes fortes para lutar contra o comunismo, esse fascismo vermelho, e que se aliassem contra a III Internacional. Nós queríamos o partido único, abolindo as seitas políticas, o controlo rigoroso ou a estatização dos bancos, a defesa dos trabalhadores e dos empregados contra a inumana rapacidade do capitalismo. Não via a necessidade das controvérsias doutorais, das apreciações dos moralistas, dos palpites históricos, económicos e sociológicos para expor em princípios simples, esse programa de acção. Não éramos movidos pelo oportunismo. Tínhamos escolhido as nossas cores dez anos antes.»
Embora não perfilhe a esmagadora maioria das suas teses, impressiona a coragem, a lucidez e a incorruptibilidade intelectual demonstradas por Rebatet. Para além do seu indiscutível mérito literário. No entanto, creio que ainda está por provar que a alternância pacífica entre projectos políticos diversos e uma discussão alargado do bem comum, onde a sociedade civil esteja realmente implicada, não possam ser substitídos, sem grave prejuízo, por outro modelo político.
Uma edição arrojada da "Livros do Brasil", traída por uma tradução deficiente. A obra pode ser encontrada em http://www.stock-out.pt/ .

sábado, 8 de agosto de 2009

O saco do gajo, algures no Funchal

Espanha

Vi um programa sobre como passam os espanhóis as férias de Verão, no país que tem a maior taxa de desemprego da União Europeia. O programa fala das pessoas simples, dos imigrantes, africanos, chineses e mouros que se passeiam pelas praias vendendo mercadoria de contrabando, a 20 Euros por dia, ou que consertam os carrinhos de choque, nas feiras, ou que vivem em caravanas de feira e tentam fazer delas um lar. Dos evangélicos que escolhem um riozito com pouca água, perto de Toledo e vão vestidos de branco, para ser baptizados, com as suas guitarras espanholas, cantando hinos a um Deus de Amor. Vejo a gente pobre galega que vai colher percebes proibidos às ravinas das rias e, depois de fugirem à Polícia, mudam rapidamente os fatos impermeáveis para irem vender este marisco raro, aos restaurantes. Ou dum grupo de jovens que compõe uma orquestra de feira e viaja de uma cidade para outra, divertindo multidões, com as dançarinas mudando os seus vestidos vaporosos de 10 Euros, num vão de escada, em quatro minutos antes da próxima canção. Vejo-os a sorrir, se bem que durmam na camioneta, há seis anos, todos os Verões, contando pelos dedos os dias que tiveram de férias. E ainda encontram tempo para cantarem uma canção uns aos outros, que fala de paixão e de amor. Não são as pessoas que aparecem na capa da revista «Hola», se bem que também esses tenham a sua pobreza, muitas vezes bem mais difícil de vencer. E vejo o cartaz perdido de um cantor cigano, Rafael de Alcalá, que ninguém conhece, que não deve mais ter que o calor da sua voz e da sua guitarra, numa noite perdida. Do seu rosto marcado, de queixo erguido, vejo que a riqueza não tem cotação.

Vejo então o filme «por quem os sinos dobram», com Cary Grant e Ingrid Bergman, em que a cena final é a do voluntário norte-americano, do lado republicano que, depois de ter dinamitado uma ponte aos nacionalistas, se sai mal e tem de se despedir da rapariga espanhola por quem se apaixonou. De perna partida encosta-se uns instantes à metralhadora com que vai vender cara a vida. Pensa na sua querida América, pensa em Madrid, colorida e, por fim pensa na rapariga que partiu, dizendo: estar contigo foi sempre presente e, na Eternidade, não existe mais que o presente.

Não odeio ninguém de Espanha, nem republicanos, nem falangistas, nem os Grandes dela que querem comprar o meu Povo, o qual se continua a endividar para não parecer pobre. Os sinos dobram por nós, por nós todos, na Eternidade, mesmo que ninguém os queira ouvir.

André