quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Monólogo do Anjo

Estais aí. Desse lado da luz. Quis sempre descobrir-vos, sabeis? Surpreender-vos devagar nesta terra feroz e sumptuosa. Escutar as vossas preces. Comover-me com a doce fragilidade da vossa esperança. Adivinhar-vos os pensamentos. Beber-vos as emoções. Mesmo as mais secretas. Sobretudo as mais secretas. Para mim, cada dia é um caminho diferente. Uma palavra guardada que me espera. Sempre acompanhado do gracioso sussurro das aves, respondendo-vos quando o vosso campo se recusa encher-se de papoilas...
Às vezes, a luz esmorece. Porque as palavras que me procuram são palavras de crianças presas no tempo. Mas deixai-me sentar numa nuvem e dar pontapés na Lua, pois era como eu devia ter vivido a vida toda: dar pontapés até sentir um tal cansaço nas pernas que elas já não me deixassem voar.
Às vezes tenho tonturas. Quando olho para baixo, vejo sempre planícies muito brancas, intermináveis, povoadas por uma enorme quantidade de sombras. Sentado numa nuvem, na lua, ou em qualquer precipício, eu sei que as minhas asas voam para vós e as tonturas que a planície me dá são feitas por mim, de propósito, para irritar aqueles que não sabem subir e descer as montanhas geladas. Mas não quero que me ofereçam sombras. Não quero que me contem as vossas aventuras. Não quero que me escondam a vossa monstruosa inocência. Pois se fordes tocados por toda a beleza do mundo, conhecereis então a imensa crueldade que ele encerra.
Sou um desconhecido movendo-se constantemente no deserto, onde cada pegada deixa bem marcada na areia a imagem dessa outra existência em que a morte e a memória já nada significam. Mas as asas, as asas que sinto bem presas, seguras, essas, ficai a saber, podem ainda esmagar com cuidado, com extremo cuidado, dilacerar suavemente, pois nos olhos está o amor, o misterioso voo das aves que partem para o desconhecido.
Eu sei que para todos vós há um lugar por descobrir, um lugar tenebroso e cantante. Simples como é a claridade, torna-se a coisa mais difícil de encontrar. Talvez porque a distância que nos separa, longa, muito longa, seja a torre de chumbo do vosso próprio isolamento, talvez porque sentir o aparecimento da madrugada seja a origem da música onde a palavra se apaga. Criem-na. Sem medo. E agora, outros mais longe me chamam. Adeus, meus amigos. Estarei sempre, sempre convosco.

(Texto incluído no guião da peça teatral Guarda, Paixão e Utopia, apresentada no TMG nos dias 26 e 27 de Novembro)

Imagens de Portugal romântico - 12

Amarante
Portimão, foz do Arade
Lisboa, torre de Belém

terça-feira, 28 de novembro de 2006

O apito das aves

(clicar para ampliar)

Diálogos no Olimpo -2

B: assim ninguém chateia. podes desligar o canal…alô! A:-))) já desliguei! B: o tal canal? A: sim, esse. E então aí pela lancia oppidana? B: nem imaginas o perfume q por aqui vai...A: alguma nova ETAR? B: não, o perfume é outro: umas trocazinhas de favores entre as famílias do costume e amigalhaços…A: mas isso não acontece em todo o lado? B: aqui é + à descarada. perante o fenómeno os antropólogos dividir-se-iam entre considerá-lo um potlach invertido, em q todos põem mas só alguns tiram para si e para oferecer aos afilhados, ou uma variante mansa e benigna de compadrio à siciliana, naturalmente sem ofertas q ñ se podem recusar e senza il capo di tutti capo, enfim, uma coisa mole, discreta, acolitada por serranas pancadinhas nas costas, lol…A: mas é assim tão mau? B: impede que a região se desenvolva, sendo q o mérito e a excelência fogem daqui como o diabo da cruz…A: ñ estás a exagerar? B: antes fosse…A: o livro k vais escrever fala de k? B: já lá vamos...mas antes, o q causou o teu momento de felicidade? pode-se saber? A: ñ sei…B: talvez o vento...lolol…A: não havia vento…aliás havia pq eu estava a dançar, mas era só esse…B: então talvez as notícias de um país distante e q teimas em ignorar...A: por momentos deixei de ignorar talvez tenha sido por isso…mas foi mt bom! B: exactamente. eram os teus a chamar-te. os hobbits...ñ é que esteja a chamar-te baixinha...lol. A: pois. :)). k são hobbits?? B: ñ viste o senhor dos anéis? A: vi, mas ñ tou a ver os hobbits…B: eram aqueles habitantes da aldeia de onde saiu o herói: pequeninos, rechonchudos e sempre felizes...A: ahh, tipo duendes! adoro duendes…B: já falaste com algum? A: adorava! dizem k ainda existem e q era parecida com um. k achas? B: pela foto q mandaste, tens bastantes semelhanças...A: J)), tb acho. B: só q não andas aos saltinhos, excepto em ocasiões especiais, lol…A: só qd ponho tacões altos…B: já sei o q foi. é o Outono que está a chegar...A: ñ gosto do Outono, costumo ficar deprimida. B: errado. a época das depressões é a primavera...aquele verde, aquela positividade obrigatória, é como ter de recitar o hino na escola primária...A: isso é paranóia. B: ñ, é só nóia, lol. já topaste a quantidade de cores q agora há? A: por aki nota-se pouco, mas vai dos vermelhos aos castanhos, a variedade é pouca. B: aqui nota: as uvas a serem recolhidas, as folhas a descreverem o último voo antes de encontrarem o chão, os soitos a abarrotar de castanhas, um cheiro novo q paira...A: pois e as pessoas a recolherem toda a lenha k podem para depois se fecharem em casa. é triste. B: como a cigarra...A: pois, estás a ver!!! depois vem a tempestade e lá vai a cigarra e a formiga na maior. B: achas isso triste? É só mais uma página se quer virar! o Outono é esperança pura...A: o Outono é esperar pelo Inverno. :-) hoje estou no contra. B: ñ! é esperar simplesmente. A: escolhi uma boa ocasião para ter um ataque de felicidade, amanhã gostava de me sentir assim outra vez. B: como vês é fácil. e não há contra-indicações...A: a sério q sentiste o mesmo ontem? B: sim, pq vejo uma série de projectos a concretizar-se, mas só os meus olhos os vêem...A: ainda ñ posso dizer o mesmo mas vou no bom caminho. B: sim, a passo de caracol e a assobiar para o ar, mas tenho a certeza que vais...:)) A: as cigarras são assim…B: há um haikai japonês q diz: "Silêncio: as cigarras escutam o canto das rochas". então já vais? A: vou tomar banho. adorei este bocadinho aki ctg. B: eu tb. então esfrega bem as costas...lol…

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segunda-feira, 27 de novembro de 2006

The day after

Ontem foi a estreia do espectáculo Guarda, Paixão e Utopia, uma co-produção TMG/ACERT, integrada nas comemorações do 807º aniversário da cidade e já aqui anunciada. A peça foi muito bem recebida pelo público, como espero o venha a ser também hoje. Como tive oportunidade de escrever na folha de sala do espectáculo, a propósito da concepção do guião, a opção seguida foi a criação de uma ideia “da” Guarda “para” a Guarda: uma narrativa não documental, diacrónica, baseada no “real”, mas colocando-o ao serviço das finalidades próprias de um espectáculo teatral, com forte componente musical e coreográfica. Arquitectada segundo uma tensão dialéctica entre um discurso optimista e outro pessimista – o Anjo da Guarda e o Velho - resolvida num clímax final absolutamente surpreendente. Concluída a apresentação, algumas reflexões:
  • desde logo, o próprio processo de produção. Esta é uma obra colectiva por excelência, com cerca de 250 pessoas envolvidas, a grande maioria pertencente a colectividades locais. Mas nem por isso as dificuldades inerentes à reunião, num projecto artístico, de tanta gente, se pareceram sentir. É simplesmente espantoso observar o resultado produzido com os mais diversos contributos artísticos, técnicos e logísticos, como se de uma só voz se tratasse. Grande parte do mérito, há que reconhecê-lo, vai para a direcção artística do projecto. Mas nada disto seria possível sem um prévio e demorado trabalho de apoio e consolidação das colectividades envolvidas.
  • esta peça pode muito bem marcar uma nova etapa na consciência cívica da Guarda. Não é impunemente que se congregam vários grupos de teatro, ranchos, filarmónicas, coros, fanfarras, actores, etc., ao serviço de uma proposta teatral única, talvez a nível nacional. Como se a generosidade e o talento de tanta gente tivessem brilhado com uma magnitude imprevista. Mas sinaliza sobretudo a afirmação da cultura como agente primeiro de qualificação e desenvolvimento. Aqui como em qualquer outro local. Talvez aqueles que negavam esta evidência reconsiderem as suas posições. Há batalhas que se vencem aos pontos. Até todos perceberem que ninguém perde.
  • o meu contributo, para além da co-autoria do guião, passou também pela representação: o poeta que inaugura a luz. Foi, sem dúvida, das experiências mais gratificantes em que tomei parte neste cidade.

O regresso de Tom Waits

Acabou de sair o último trabalho de Tom Waits: Orphans. Trata-se de uma recompilação de material gravado para albuns anteriores e não utilizado, aqui alinhado em três partes distintas: Brawlers, Bawlers e Bastards. Ao longo de 56 canções e 3 discos, foram capturados os poderes "xamânicos" de Tom Waits como vocalista, poeta, melodista, arranjador e pioneiro de ambientes sonoros únicos.
Esta edição limitada, assinada e produzida por Waits e sua mulher, Kathleen Brennan, contém 30 novas gravações, nunca antes escutadas , e ainda temas raros retirados de colaborações com vários artistas em filmes, livros e música — completado com um booklet de 94 páginas manuscritas com as letras e fotos nunca vistas.
Cada um dos CD’s está arranjado separadamente, com os títulos referidos, de modo a assegurar uma perspectiva tão completa quanto possível da variedade de estilos musicais experimentados por Tom Waits.
Brawlers é apresentado como o roadhouse Waits... Que explode, assobia e grita. São os primitivos e surreais blues, convocados os Stones, Beefheart, Muddy Waters e T-Rex.
Bawlers – Baladas intimistas sobre a tristeza no final da estrada são emolduradas por delicadas canções sobre a inocência e uma esperança jovial.
Bastards – explora o lado estranho e pouco comum de Waits. Encontramos aqui os seus temas mais experimentais e estórias bizarras. Há diversões inclassificáveis neste lado sombrio. Que atravessa e cidade com longos discursos, spoken words, ritmos vocalizados, um cover dos Ramones e uma versão de Daniel Johnston, “King Kong,” uma perturbante história de embalar e um poema de Charles Bukowski.
Imprescindível.

domingo, 26 de novembro de 2006

Imagens de Marte - 3

Sandia
Fonte: Nasa

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sábado, 25 de novembro de 2006

Crimes exemplares - 12

A festa durava há horas e parecia ter atingido o seu auge. Os convivas iam abandonando aos poucos uma espécie de formalidade transportada do quotidiano e difícil de romper. Onde a polidez calculada dava lugar ao inesperado. Todavia, ele sentia-se perdido no meio de tudo aquilo. Não que negasse uma parte ínfima do mundo - no centro da qual se encontrava - um mundo cujo poder e forças experimentava. Não que lhe fossem estranhos os perfumes inconfundíveis trazidos pela noite. Tudo se devia à sensação de não ver senão o vazio, onde esperava encontrar o esquecimento. De repente, deixou de entender o que os outros diziam. Parecia que falavam uma língua misteriosa e exótica, a que lhe era vedado o entendimento. Parecia que tudo aquilo tinha deixado de fazer sentido. Parecia que havia sido escolhido para uma provação que até ali tinha sempre partido de si. O desconforto paralisava-o. Saiu. No hall de entrada, mal reparou no olhar da rapariga do bengaleiro. Pensou convidá-la para dançar, mas limitou-se a recolher o casaco. Ainda a ouviu dizer: "Só é nosso o que esquecemos". No exterior, o ar fino por momentos tranquilizou-o. Morava no mesmo quarteirão, duas ruas à frente. Mas a cidade parecia decidida a contar-lhe os seus segredos mais funestos. Logo à frente, deparou-se com um rasto de armaduras gigantescas, ensanguentadas, espalhadas pela rua. Um coro de gemidos acompanhava as proporções desumanas do cenário. Desembocou numa praça cheia de gente, como se fosse já de dia. Percebeu que estava perdido. Perguntou a alguém o caminho para casa. Que, afinal, era logo "ali", numa rua perpendicular. Só que as coisas não eram assim tão simples. Mal saiu da praça, deu conta do aspecto bizarro das casas. As cores tendiam para o escuro. As pessoas confluiam para uma espécie de túneis entre os edifícios. Entrou num deles. A passagem era estreita. Parecia destinada a contorcionistas e não a pessoas comuns. Por fim, a custo, conseguiu chegar ao outro lado. Percebeu que estava ainda na parte alta da cidade e que precisava de descer, para chegar ao destino. Viu então uma espécie de corrimão que serpenteava pelas casas da encosta, com assentos individuais, que faziam um barulho arrepiante ao serem accionados. Como um funâmbulo, tomou lugar num desses assentos, iniciando a descida. À medida que a velocidade aumentou, deu logo conta que não conseguiria deter o mecanismo. Ouvia os risos dos "companheiros " de viagem, os ruídos próprios da cidade, mas agora ampliados até atingirem uma cacofonia monstruosa. As imagens sucediam-se a uma velocidade vertiginosa. Já nem pensava "como" aquilo iria acabar, mas "quando". Foi então que acordou, dentro do sonho. E só acordou fora dele quando, olhando para o lado, na penumbra adivinhou a presença da rapariga do bengaleiro.

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sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Animações


Já havíamos descoberto, graças ao Peopleware, o Animator vs. Animation, uma sensacional animação em Flash, assinada por Alan Becker. Tudo se passa num desktop de um PC em que corre o flash. Uma figura, farta de ser manipulada, revolta-se e riposta. No seguimento, surgiu o Animator vs. Animation II, do mesmo autor. A história é semelhante, só que desta vez a figura torna-se um ninja que desestabiliza todo o PC que o hospeda. Bom para um fim de semana de temporal.

Graffitis - 4

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Dos livros - 1

"Quem me surpreender em flagrante delito de ignorância, não me fará nada de mal, pois não posso responder a outrem pelas minhas opiniões, eu que não o faço a mim mesmo e que não estou satisfeito com elas. Quem estiver em busca de saber, que o pesque onde ele se encontra: não há nada de que menos me gabe. (…) Se sou de alguma leitura, também o sou de nenhuma memória. (…)
Não conto os meus empréstimos, peso-os. Se os tivesse querido fazer valer pelo número, teria carregado o meu livro com o dobro deles. São todos tirados de nomes tão famosos e antigos que me parece que se nomeiam por si sós, sem precisar que eu o faça. Dos raciocínios e das ideias que transplanto para o meu solo, misturando-os com os meus, por vezes omiti o nome do autor, para pôr a brida na temeridade dos juízos precipitados que se emitem acerca de toda a sorte de escritos, nomeadamente dos recentes, de homens ainda vivos, o que permite a toda a gente falar deles e parece denunciar a sua concepção e o seu desígnio como igualmente vulgares. Quero que dêem um piparote no nariz de Plutarco tomando-o pelo meu, e que se escaldem a injuriar Séneca através de mim. Preciso é que eu esconda a minha fraqueza sob essas grandes autoridades. Muito gostaria de quem me soubesse desplumar, se o fizesse pela clarividência do seu juízo e pelo seu discernimento da força e da beleza dos ditos. Pois eu que, por falta de memória, não consigo todas as vezes destrinçá-los quanto à proveniência, sei muito bem que, tendo em conta a medida dos meus limites, o meu solo não é de todo capaz de produzir algumas preciosíssimas flores que por lá acho disseminadas, (…).
Só por duas coisas tenho de responder, caso ocorram: enredar-me; haver nos meus raciocínios vícios que eu não detecte, ou que não possa perceber quando mos mostram. Pois amiúde escapam-nos defeitos ao olhar, mas a doença do juízo consiste em não poder apercebê-los quando no-los revelam. A ciência e a verdade podem-se encontrar em nós sem o juízo, e este sem elas; e é, deveras, o reconhecimento da ignorância uma das mais belas e seguras provas de juízo que se me deparam.
Bem desejaria ter uma mais perfeita inteligência das coisas, porém não a quero adquirir ao caríssimo preço que ela custa. Nos livros busco só o dar-me prazer através de uma decente distracção ou então, se estudo, neles procuro apenas a ciência que trata do conhecimento de mim mesmo e me ensina a bem morrer e a bem viver."

Montaigne, Dos Livros, em Ensaios, Relógio d'Água, 1998

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

A resposta

aqui antecipei o que penso acerca do aborto, relativamente ao próximo referendo sobre a IVG. Todavia, se a minha resposta será inequívoca pelo sim, ela não dispensa algumas notas que a sustentem.
Antes de mais, acredito que o corpo é o ponto de partida de todas as revoluções, como bem dizia Pasolini. Todas as linhas de fractura começam aí. Veja-se o episódio (trágico) da "heresia" dos cátaros, por exemplo.
Comecemos pelo aparentemente mais inócuo: se eu quiser fazer-me tatuar de forma bizarra, ou meter piercings por todo o lado, ou se arranjar uma cabeleira roxa, ou se usar roupas que eu próprio desenho e construo, à base de materiais reciclados, ou se decidir participar num espectáculo em que me auto-mutilo, ou se quiser doar em vida alguns órgãos "dispensáveis", que legitimidade tem o Estado, a Moral, ou o que quer que seja, para me censurar? Para além de todas as outras diferenças, há duas coisas que nos distinguem do resto do reino animal: os supremos privilégios de podermos escolher a nossa morte e o de não procriar. Ora, o cristianismo diz-nos "crescei e multiplicai-vos" e que a nossa vida está nas mãos de Deus. Para quem segue pela vida como se o amor ou a arte fossem a única forma de traficar com o desconhecido - o meu caso - estes conceitos são estranhos e incompreensíveis. Alguns exemplos:
  • imagine-se que, de plena consciência, decidia não querer ter filhos. Nesta linha, escolhia viver com quem tivesse tomado essa opção. Agora imagine-se que acontecia um imprevisto, determinado por factores absolutamente acidentais. Quem teria o direito de nos obrigar a ter filhos que não seriam, de todo, desejados?
  • O mesmo se diga no caso de uma mulher a quem o marido, numa noite de violência e bebedeira, acaba por engravidar. Perspectivando-se mais um rebento a juntar a outros sete, dos quais dois já andam a fazer uns "trabalhos"por fora. Quem iria lá dizer-lhe: vá, agora aguenta? É essa a alternativa de quem acha que o útero da mulher deve estar ao serviço de comandos divinos e não da sua liberdade.
  • Por outro lado, sabe-se que os métodos contraceptivos, uns mais que outros, não são 100% eficazes. Mesmo utilizados correctamente, de forma esclarecida e responsável, pode suceder uma gravidez indesejada. Quem teria legitimidade para dizer a uma mulher a quem isso aconteça o que deve ou não fazer?
O Estado - e para isso terá que existir uma Lei que o determine - deve-se limitar a criar condições para que, se for essa a sua vontade, qualquer mulher, independentemente do seu poder económico, possa praticar uma IVG sem riscos para a sua saúde e sem medo da Justiça. É para viabilizar esse cenário que se vai fazer este referendo. Já nem sequer discuto o facto de ao embrião - e não ao feto - ser atribuído o atributo "vida", pois na verdade só mesmo uma interpretação muito extensiva, baseada em conceitos morais, pode responder afirmativamente.
A vida não pode ser referendada, é óbvio que não. O que se vai referendar é o apagamento de qualquer censura penal a um ACTO MÉDICO específico, realizado dentro do período que a lei vier a definir. Que deverá ter um acompanhamento prévio por técnicos especializados, como acontece noutros países,de que o melhor exemplo é a Alemanha. Vai haver mais abortos por causa da sua despenalização? É claro que não! Dizer o contrário é não perceber o que está em jogo para a mulher que o pratica.
Borges dizia que, ou se é platónico ou aristotélico. Para mim, o debate em curso prova isso mesmo.

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Espectáculo!



Co-produção TMG e Trigo Limpo Teatro ACERT para a Câmara Municipal da Guarda


DOM 26 e SEG 27 | 21h30 | Grande Auditório do TMG

texto António Godinho, Américo Rodrigues e Honorato Esteves
coordenação geral e dramaturgia
Américo Rodrigues
direcção artística
José Rui Martins
direcção musical
César Prata
direcção técnica
Alberto Lopes
figurinos
José Rosa
cenografia e adereços
Victor Sá Machado


Ver notícia completa no blogue do TMG.

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

A quermesse

É comum encontrar na revista Proteste (da DECO) resultados de testes a determinados produtos, bem como reclamações de consumidores, anunciando rotulagem defeituosa. Mas também pode suceder que a imaginação dos fabricantes, uma tradução medíocre, ou o fantasma do Senhor de La Palisse criem a impressão de que alguém se quer rir à nossa custa. Vejamos alguns exemplos:
  • Na embalagem de sabonete Dove: "INDICAÇÕES: UTILIZAR COMO SABONETE NORMAL" (Boa! Cabe a cada um imaginar para que serve um sabonete anormal. Bom, não se ponham a imaginar coisas!)
  • Em alguns pacotes de refeições congeladas Iglo: "SUGESTÃO DE APRESENTAÇÃO: DESCONGELAR PRIMEIRO" (É só sugestão! De repente o pessoal pode estar afim de lambê-la, como se fosse um gelado...)
  • Num hotel que oferecia touca para o duche: "VÁLIDO PARA UMA CABEÇA" (Alguém muito romântico poderia colocar a sua e a da amada na mesma touca...)
  • Na sobremesa Tiramisú da marca Tesco, impresso no lado debaixo da caixa: "NÃO INVERTER A EMBALAGEM" (Oops!!! leu o aviso...é porque já inverteu!)
  • No pudim do Mini Preço: "ATENÇÃO: O PUDIM ESTARÁ QUENTE DEPOIS DE AQUECIDO" (Brilhante!!!)
  • Na embalagem da tábua de passar Rowenta: "NÃO ENGOMAR A ROUPA SOBRE O CORPO" (Gostaria de conhecer a infeliz criatura que deu origem a este aviso)
  • Num medicamento (pediátrico) contra o catarro infantil, da Boots: "NÃO CONDUZA AUTOMÓVEIS NEM MANEJE MAQUINARIA PESADA DEPOIS DE TOMAR ESTE MEDICAMENTO" (Tantos acidentes na construção civil poderiam ser evitados se fosse possível ter esses Hooligans de 4 anos longe dos Catterpillars)
  • Nas pastilhas para dormir da Nytol: "ADVERTÊNCIA: PODE PRODUZIR SONOLÊNCIA" (Pode não, deve!!!! Foi para isso que eu comprei!!!)
  • Numa fileira de luzes de Natal: "USAR APENAS NO INTERIOR OU NO EXTERIOR" Alguém me pode dizer qual é a 3ª opção?)
  • Nos pacotes de amendoim da Matutano: "AVISO: CONTÉM AMENDOINS" (Mania de estragar as surpresas!)
  • Numa serra eléctrica da Husqvarna: "NÃO TENTE DETER A SERRA COM AS MÃOS OU OS GENITAIS" (Sem comentários)

Graffitis - 3


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Diálogos no Olimpo -1

A: as palavras estão gastas... B: q ideia, estão para durar A: n creio! nem a elas mesmas já se referem...B: nunca se referiram. pq agora? A: já tiveram + perto de se referir. A: já nem nos lembramos que elas existem e dizes tu q estão para durar... B: nasceram como metáforas, tudo fazemos para disso nos esquecermos... A: vou tentando n esquecer e já vi que também acreditas nelas. B: mas mesmo q o façamos n há perigo só é preciso saber porquê…A: já falamos n? :) B: acho que sim. A: deve ter sido há muito tempo. B: não foi há tanto tempo assim, o mirc só existe há 6 anos!!! A: ena! fiquei impressionada.. B: então vamos refrescar a memória. sou o Pedro e tu? A: Maria. B: qts braços tens? Lol. A: ena! são 2, chegam n? B: para mortais até chega, mas para tarefas + divinas, é capaz de ser pouco...A: n tenho pretensões míticas, n me inspiram, a ti sim? B: pensei q com esse nick, algum misticismo te inspiraria... mas adiante, és fã dos blogues? A: blogues? Lol n não sou, és um deles? B: ontem criei 1, o endereço é wwww.xisbicodabota.blogspot.com. A: alusivo a q? B: n há um tema mas um mote...sacudir as consciências, podia ser. B: existem alguns bloguistas muito perversos... B: o jargão de discoteca q por aqui prolifera é mais rasca, já ouviste falar nas flash mobs? é um misto de manifestação e performance, combinada por email. As pessoas aparecem e desaparecem e parece que nada aconteceu... A: não, nunca ouvi. mas sabes, existem alguns bloguistas bem intriguistas, n sacodem consciências, mas antes lançam montes de dúvidas e intrigas. B: referes-te ao afamado "muito mentiroso"? A: q achas? B: por enquanto, confio nas instituições q averiguam quem deve ser punido e como...A: tão crédulo, até mete dó! B: mas q há muita podridão escondida, n duvido...A: o pacheco pereira tinha um blog ao q parece desistiu…B: mentira. ainda hoje lá fui. chama-se "abrupto" e por sinal é bem interessante...A: ah, continua?! fui mal informada então. B: aliás, num país onde, ao q parece, só os mortos têm dúvidas, haver alguém q as lance é sinónimo de vitalidade. A: percebo; lançar dúvidas pode ser pertinente, qd n sejam baseadas na intriga. B: qd falo em dúvidas, refiro-me a questionar ideias e projectos, n a colocar em jogo alguém...A: e n achas q muitos bloguistas o fazem? lançam questões ao ar por mera e ingénua consciência? B: a net pode ter efeitos perversos, pela vastidão e anonimato do ciberespaço...mas se há alguém q lança calúnias para o ar, deve pagar, that's all... A: que assim seja, ámen! B: o modelo é sempre o mesmo: milícias de bons costumes, q em vez do linchamento preferem a cobardia na net...mas n tomes o todo pela parte, os blogues são uma excelente ferramenta num mundo onde, ao contrário do q parece, se comunica cada vez menos...:) A: comunica-se cada vez mais, n sei se pelos meios correctos, daqui vou comunicar com o livro de cabeceira. B: n confundas o frenesim comunicacional, a agitação hedonista dos media com a verdadeira comunicação, auto-determinada e livre. ainda estou para saber como me saiu esta, se calhar é por andar a tomar cápsulas de ginseng...lol. A: lolol, continua a tomá-las, nota-se o efeito:)...

domingo, 19 de novembro de 2006

Imagens de Marte - 2

Mare australe
Fonte: Nasa

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sexta-feira, 17 de novembro de 2006

O spam que veio do frio

Recebi hoje este email, anunciando preços fantásticos para o Prozac e Xanax, cujas virtudes terapêuticas - embora algo herméticas - são profusamente descritas:

Uspeh podobnoj ataki zakliuchalsia imenno v slazhennosti, odnovremennosti dejstvij. Slova licemera! Nezachem pritvoriatsia, chto tebe poniatny Chelovecheskie emocii, inorasovyj ty ubliudok! Potishe, potishe, Bigman, golos Nkota poterial muzykalnost, bolshe Chem obychno obnazhivshiesia klyki zloveshche blesnuli. Vot kak, otdacha doshla dazhe do nih. . Kukolniki pozhali drug drugu ruki i tozhe otpravilis vosvoiasi. Riadom s sheej dal-rokta po vozduhu probegaet korotkaia riab. Davlenie na menia eshche ne prekratilos, no Oslablo po krajnej mere na tri chetverti. I tak iasno, chto Otlichno vygliadit. Zamer. Ne tolko Nubesara, dobavil svetlovolosyj parenek, ne otryvaia vzgliada Ot ladoni.
Ia nachinaiu privykat k mysli, chto na etoj zlokliatoj planete ia Postoianno nahozhus na volosok ot smerti. Gilsveri ne smog Podobrat tochnyh slov dlia voznikshego nepriiatnogo oshchushcheniia. V sleduiushchuiu sekundu okonnaia rama, ne v silah vyderzhat obem predplechia Chudishcha, vystrelila von iz proema vorohom oblomkov. No lish na mgnovenie. chto tebia tak zaderzhalo, sily Zla?! Chto-to ty ne slishkom toropilsia Vypolnit dannoe nam obeshchanie o zashchite na etu noch, Nkot. Lichnyj energoshchit, zapozdalo soobrazil ia. On pytalsia menia ubit, medlenno i vniatno povtoril ia. Edva zaiavivshis na etu planetu, Ia uzhe uspel poznakomitsia s letunom, kukolnikami, a teper eshche i s Prygunom. Neskolko rabotnikov, uhaia Ogromnymi molotkami, remontirovali povrezhdennyj v utrennej shvatke dal-rokta s Nubesami nastil pod prismotrom starosty. Neskolko let nazad, postavlennyj pered vyborom Umeret ili stat izmenennym, ty vybral poslednee.

PS: ocorreu-me que esta prosa possa ser uma antevisão do que vai suceder com a implementação da Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário, de que aqui dei notícia. Nunca se sabe...

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Curtas

O programa Café Mondego continua a ir para o ar todos os sábados, a partir das 10.00 horas, na Rádio Altitude. Américo Rodrigues faz as honras da casa: um moderador nada moderado, como ele próprio disse. Ora ouçam então uma hora de tertúlia em que as conversas são mesmo como as cerejas. Já agora, recomendo também uma espreitadela ao blogue homónimo, assinado pelo mesmo autor. Aqui. Uma mais-valia na blogosfera guardense. No espaço do antigo café propriamente dito está agora uma óptica, depois de lá terem estado duas filiais bancárias e um esteticista. Para quando o reerguer da sala de visitas da cidade? Para já, contentemo-nos com a memória.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Os Óscares da blogosfera

O Geração Rasca está a promover um escrutínio para nomeação dos melhores blogues portugueses de 2006. Uma espécie de Óscares informais em que os bloguistas escolhem, de entre os seus pares, os que mais se distinguiram nas respectivas categorias. O regulamento poderá ser consultado aqui. Os resultados serão anunciados a 10 de Dezembro.
Já consultei várias votações publicadas pelos seus autores. Como exemplos, veja-se esta, esta, esta e esta. Ora, tenho por hábito observar a máxima de que gostos não se discutem. Mais importante ainda, por norma, não confundo o bom gosto - onde o reconheço - com o meu gosto. Veja-se o caso do Bomba Inteligente, uma referência consensual na blogosfera - traduzida nas votações exemplificadas - mas que, todavia, não faz parte das minhas afinidades electivas. Talvez porque a verdadeira beleza não se anuncia sem uma imperfeição. Algo dificilmente detectável naquele blogue. Que mantenho nos links enquanto padrão de inspiração apolínea, mas não, digamos, dionísica. Por outro lado, tenho descoberto blogues onde a sofisticação dá lugar à discrição, a um singular e despretensioso programa desenrolado pelo autor, onde a naturalidade pesa mais do que o artifício. Os exemplos podiam multiplicar-se... Todavia, para já, torna-se curial questionar a oportunidade e a relevância desta iniciativa.
  • Desde logo, o facto de qualquer cidadão registado num servidor de blogues poder votar, assegura, em tese, uma abrangência e democraticidade na blogosfera, capazes de alargar o interesse por blogues situados à margem da "aristocracia" dos 10% inventariada por JPP no Abrupto. No seguimento do "caso" Miguel Sousa Tavares, e a propósito dos que tendem a encarar a blogosfera como o quintal das traseiras do jornalismo "sério", o historiador estabelece uma ratio de 10% /90%, entre o "luxo" e o "lixo" da blogosfera. Sendo que esta realiza plenamente o acesso das "massas" ao espaço público, e uma espécie de igualitarismo nas margens dos discursos oficiais, mediante uma identidade construída no ciberespaço. Os bloguistas como pioneiros de um novo tempo.
  • No entanto, tenho algumas dúvidas de que esta votação, tal como é feita, avalize o mérito das escolhas realizadas. Mais sensato é encará-la como mero indicador, com o valor de uma sondagem, sujeita às flutuações e à precaridade do gosto. Mais credível se afigura a nomeação dos Bob Awards, de que já aqui dei notícia, uma iniciativa promovida por uma rádio independente alemã, onde vários blogues lusos já foram distinguidos.
  • Por outro lado, é bom não esquecer que a blogosfera é um universo descentralizado, inorgânico, horizontal, a concretização da Teia, da contra-rede, prevista por Hakim Bey no seu e-book Temporary Autonomous Zone. A ciberedição, por enquanto, escapa ao controle dos grupos editoriais, às instâncias homologadoras. Estabelece novas fronteiras para a liberdade de expressão e de informação. É natural pois que, neste depósito intersubjectivo, se estabeleçam determinados códigos, determinadas práticas. E que o anonimato proporcionado pelo meio não signifique impunidade, maledicência gratuita e calúnia. Haverá certamente mecanismos por desenvolver que previnam esse vírus. Mas dever-se-ia ficar aí. Será tentador ir mais além, fixar padrões ao nível dos conteúdos, sejam eles de que ordem forem. Contudo, não tenho dúvidas de que esse caminho não se fará sem prejuízo da liberdade e da fluidez da blogosfera. A este propósito, note-se que até há quem queira estabelecer um "comité informal" para atribuir uma "certificação de qualidade" aos blogues. Como se a qualidade de um blogue dependesse de um selo e não dos mesmo critérios com que julgamos qualquer objecto artístico, qualquer publicação, qualquer acto comunicacional! É claro que a intenção de João Ferreira Dias é compreensível. Mas, a concretizar-se, poderia ser o início de uma espiral regulamentadora com consequências devastadoras.
  • Por último, e na sequência do que atrás se disse, a maior ou menor popularidade de um blogue, o facto de se tornar uma referência, ou um fenómeno de culto, advém de determinadas predisposições, criadas graças à exposição à blogosfera e aos media em geral, que condicionam fortemente a consulta regular de um determinado blogue. Anteriores aquelas - conjunturais - existem outros factores - estes estruturais - que determinam a procura e a "eleição" de certos blogues. Como exemplos, a informação especializada, a polémica localizada, o registo intimista, a proximidade geográfica ou de outra ordem com o/a autor/a, a paixão clubista, a partilha de gostos, as curiosidades, etc. Por outro lado, há ainda critérios de ordem formal e que, só por si, poderão fazer cair nas boas graças de alguém determinado blogue: o ritmo das postagens, como assinala Carla Quevedo, a maior ou menor especialização do blogue, o grafismo, a existência ou não de comentários e o seu número, entre outros.
Publicado no jornal "O Interior"

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Imagens de Portugal romântico - 11

Costa de Lagos
Setúbal
Sintra, Palácio da Pena


Perlocutório? Vai tu...

Ficámos a saber como os burocratas do Ministério da Educação pretendem reconfigurar o ensino da língua portuguesa nas escolas e, quiçá, combater o insucesso escolar. O "plano" dá pelo nome de Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário. Sobre esta pomposa inutilidade, é imprescindível ler o artigo de Helena Matos saído no "Público" de sábado, de que transcrevo alguns excertos e que poderá aqui ser lido na íntegra:

"O monstro chama-se TLEBS. Para memória futura convém defini-lo desde já como o maior contributo dado por Portugal para a iliteracia das gerações futuras. (...)
Tendo em conta o que sei até agora sobre a TLEBS é natural que registe com agrado o facto de algumas escolas terem encerrado graças à greve dos trabalhadores da função pública. Pior do que uma aula não dada é uma aula onde se ensine isto. Há décadas que os portugueses assistem com um fatalismo inamovível à degradação do ensino em nome da pedagogia, do progresso, do sucesso... Tivemos de tudo e para todos os gostos. A mania dos trabalhos de grupo que todos sabiam ser feitos apenas pelas raparigas do dito grupo; a ideia do ensino lúdico que levou a que desde as contas de dividir até Platão tudo tivesse de ser divertido. No caso do Português de mania em mania fabricaram-se gerações de analfabetos. Adolescentes afogados em livros e jogos didácticos lêem a gaguejar e expressam-se com mais dificuldade do que os seus pais e avós que apenas fizeram a escola primária. Esta espécie de cidadãos semi-analfabetos que concluíram o 9º ano não sofre de insucesso escolar. Antes pelo contrário estes adolescentes são o resultado do sucesso das sucessivas modas pedagógicas que têm estado subjacentes à concepção dos programas e neste caso particular sobretudo dos programas de Português.A TLEBS arrisca-se a repetir no início século XXI o mesmo desastroso processo protagonizado pelas 'árvores' nos anos 80 e ambos os desastres partem do mesmo erro: o de confundir as aulas dos ensinos básico e secundário de português com um curso abreviado de linguística. Aliás um dos aspectos mais perturbantes de toda a concepção das aulas de Português subjacente à TLEBS é que ela sobrevaloriza a fala, a oralidade em detrimento do texto e da Literatura. Primeiro arreigou-se nos espíritos a convicção de que os alunos não se sentiam estimulados com textos literários antigos. Posteriormente já nem os escritores modernos serviam. Os textos literários foram dando lugar a prosas actuais de jornalistas. Por fim nem esses. Seguiram-se-lhes os regulamentos dos concursos televisivos... Com a TLEBS e este império da linguística os alunos vão acabar a analisar os actos de fala da conferência de imprensa da véspera ou da conversa do autocarro. Contudo ninguém perceberá a conferência de imprensa da véspera se não tiver lido autores como o Padre António Vieira. E qualquer conversa em português ganha outro brilho quando se leu Eça.Dentro de alguns anos os manuais escolares contendo as definições da TLEBS sobre as máximas conversacionais e os actos locutórios, perlocutórios e ilocutórios farão sorrir quem os abrir. Tal como hoje acontece com os manuais em que frases devidamente escolhidas eram esquartejadas com setinhas e rectângulos de modo a ilustrarem a florestal visão chomskyana da língua. Como sou empedernidamente optimista sou levada a crer que algo impedirá mais este desastre devidamente anunciado."

PS: alguns exemplos do catálogo: palavra lexicalizada; expressão sintática lexicalizada; composto morfo-sintático subordinado; composto morfo-sintático (estrutura de reanálise); composto morfológico coordenado; origem deôntica; alvo deôntico; sujeito nulo expletivo; complementos proposicionais e adverbiais; modificadores preposicionais e adverbiais do grupo verbal; modificadores adverbiais da frase.
Não, não é literatura dos fármacos. Nem esperanto. Querem que repita?

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Crimes exemplares - 11

Why didn't you call on me, why didn't you call?

É quando dizemos NÃO e ninguém aparece que tudo está certo. É quando não temos razão que temos razão. É quando um horizonte de facas nos paralisa, que aprendemos a não ser empurrados pelo medo. É quando os lugares onde gritamos pelos lugares onde podemos gritar são nossos e não esperamos que alguém venha para nos dizer que são nossos. É quando de repente estamos lá, quase lá, ansiamos pela chegada e só ainda partimos. É quando na partida não há ninguém de quem nos despedirmos, e o mundo nos espera. É quando as flores, todas as flores que um dia espalhámos pela cidade, como o estandarte de um novo tempo, como letras abertas pela neve dentro, acabaram nos nossos braços vazios. É quando de repente olhamos para o lado e a aprovação e os acenos dos outros já lá não estão, mas continuamos a avançar, nus, diante da noite. É quando percebemos que para esses outros só existimos enquanto durar a sua falta de imaginação. É quando à volta só descobrimos ruínas e sonhos perdidos onde tropeçar. É quando não queremos morrer antes da última canção. É exactamente aí. Estará lá uma corda estendida. Um sorriso para percorrermos demoradamente. O truque. E só nós saberemos.

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quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Imagens de Marte - 1

Arabia dunes (3D)
Fonte: NASA

Diário de um tolo - 12

A devastação, ao instalar-se, deixou de ter nome.

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quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Graffitis - 1

O teste 2

Esta postagem sobre opinião, onde referi as cautelas a ter no tratamento que lhe seja dado numa sondagem, mereceu um comentário interessante. Nele, às categorias referidas, verdadeiros sucedâneos "pobres" da opinião, foram adicionadas mais duas: a suposição e a premonição. Sobre a segunda não me deterei aqui, visto que assinala outro tipo de realidade. Como bem ilustra o comentador, a suposição nasce, na maioria dos casos, da seguinte forma: eu não vi/fui/li, etc., mas"...seguindo-se duas horas de alegações .
Ora, a grande subtileza está no "MAS". Essa partícula adversativa, no contexto, normalmente assinala o livre curso do BITAITE, contra tudo e contra todos. Evocado, de forma exemplar, naquele gag do Gato Fedorento em que, num telejornal, o pivot tenta contactar um suposto repórter na Guerra do Iraque. Mas de lá responde uma dona de casa da Venda Nova, que nunca pôs os pés fora do país e que, aproveitando para informar que naquela zona não há água, acaba por insistir com o pivot, para além de qualquer razoabilidade, que a deixasse ir tomar "um banhinho lá a casa". Acabando por o insultar e pondo em risco a emissão. Mas não deixa de mandar uns "comentários" sobre a Guerra, acabando por reconhecer que ainda lá iria um dia "passear" e apanhar sol. Pondo de parte este aspecto mais caricatural, o "mas" é o sinal de um ego imoderado e assertivo, em discurso directo. E repare-se que esta prática não é atributo exclusivo de nenhum sector social, académico, ou geográfico. Já li uma crónica de E. P. Coelho em que este faz uma apreciação de um livro de João Pedro George, dando a entender na introdução que não o tinha lido, "mas"... Acabando por tecer considerações sobre a personalidade do próprio autor.
Excluo desta análise o discurso determinado pela subjectividade, ou pela criatividade - literário ou não - uma vez que se assuma enquanto tal. O que está aqui em causa é todo e qualquer enunciado não sustentado por um referente e que, embora o reconhecendo, relativiza essa precaridade.
Todavia, e num registo meta-histórico, o uso e abuso deste tique pode ser também encarado positivamente, como um traço específico, embora não particular, do nosso devir enquanto nação: uma inquietação resolvida em esperança benigna. Senão veja-se: "estamos confinados a esta finisterra, sem grandes possibilidades de crescimento, mas"... e andámos por aí a explorar meio mundo; "de há quatrocentos anos para cá somos um país deficitário, falido, ingovernável, mas..." vá lá, as coisas estão "melhorzinhas"...
Não faltariam outros exemplos, mas...

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Curtas

O Corta-Fitas - uma presença insubstituível na blogosfera lusa, de pedra e cal nos meus favoritos - mudou de roupagem e, embora sendo redundante dizê-lo, aí vai: "os blogues não se medem aos palmos"
O Sesimbraeventos, com o qual o Pedro e outros agitaram as águas demasiado calmas de Sesimbra, está em standby. Espera-se pois que "Os Trabalhos e os Dias" da equipa estejam somente suspensos.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Notas hertzianas

Desde os tempos do "mocas" (a Rádio Altitude, para quem não sabe) que a rádio é um elemento essencial do meu quotidiano. É claro que a audição é, cada vez mais, selectiva. Para informação e debate, recorro à TSF. Para ouvir música nova e compactos temáticos, sintonizo a Antena 3, embora só à noite, pois no período diurno escasseia o serviço público. Compensado com a audição da excelente RNE 3, a "sucedânea" espanhola. Aqui, a qualidade musical é superlativa. A Antena 2 é igualmente uma referência crónica. No panteão da memória permanece a saudosa XFM, que depois, um degrau abaixo, se transformou na VOXX. O mesmo se diga de uma rádio localizada nos arredores de Lisboa, onde cheguei a fazer algumas emissões regulares, numa altura em que se aguardava a atribuição dos alvarás - a Rádio Horizonte Tejo. Informação local, já se sabe, é na Rádio Altitude. Nada de "estação das grandes músicas", ou Rádio Comercial, as quais, noblesse oblige, sou obrigado a ouvir nos balneários da piscina e nos expressos da Joalto. Por outro lado, é desesperante "levar" com espaços publicitários cada vez mais extensos, especialmente na TSF e na maioria das rádios locais. Para já não falar de um irritante expediente, utilizado pela maioria dos jornalistas que lêem os noticiários: o pivot repete exaustivamente o conteúdo da notícia que o repórter acabou de transmitir. Dá ideia que os ouvintes são crianças numa escola primária em que é preciso repetir a lição mais do que uma vez, ou que têm sérios problemas auditivos.
Recentemente, graças às possibilidades tecnológicas criadas através da web 2.0, tornei-me ouvinte assíduo das estações que emitem em streaming, ou aquelas em que posso configurar os conteúdos de acordo com gostos pessoais, de forma interactiva, nos chamados sistemas de recomendação musical. Das últimas já aqui dei notícia. O sistema Pandora, por exemplo, pode ser acedido através do plugin no sidebar deste blogue. Relativamente às primeiras, podem ser escutadas mediante software de leitura multimédia apropriado, associado a uma base de dados de estações de rádio: Winamp, Windows Media Player, Itunes e Online Radio Tuner. Este último é um programa muito simples de operar, no qual as emissões podem ser gravadas directamente e que recomendo. Como sugestões de audição, eis algumas das minhas estações favoritas:
And that's all folks!

PS: sugerida pelo Kubik, recomenda-se outra plataforma de selecção e leitura de estações online: o sensacional Screamer Radio. Efectua busca por géneros, geográfica, ou rede; possui várias opções de codificação das gravações e um osciloscópio.

domingo, 5 de novembro de 2006

O embuste

Há coisas que não param de me surpreender. Por muito que acredite no contrário. A história é esta: o Aquilo-Teatro - cujos primórdios acompanhei e do qual fui director durante três anos - aparece referenciado no site "A Infos" como Grupo teatral anti-autoritário e anti-capitalista, que hospedou em Março passado o primeiro Fórum ibérico da FESAL-E, na Guarda. A notícia completa pode ler-se aqui.
É claro que, antes de mais, li duas ou três vezes, para ter a certeza de que não estava a sonhar. Depois começaram as perguntas: quem permitiu que isto acontecesse? Quem se infiltrou no Aquilo, utilizando o conhecido expediente do "submarino controleiro" de certa esquerda? Seria só o Goulart? Anti-autoritário? Anti-capitalista? Ouvi bem? Será que a actual Direcção patrocina este delírio, ou condescende simplesmente com ele? Quem lhes fornece a munição ideológica? Onde é que já ouvi esta receita?

PS: contactado pela Direcção do Aquilo, o que agradeço, fui informado que esta é alheia à abusiva apropriação . E que o assunto iria ser devidamente esclarecido.

sábado, 4 de novembro de 2006

A lota continua

O download de músicas sem fins lucrativos não é crime. Foi esta a sentença da juíza Paz Aldecoa, em Santander, Espanha. A acusação pedia que o réu fosse multado e pagasse uma indemnização.
Por cá, já tínhamos assistido a um fenómeno semelhante, quando a Associação Fonográfica Portuguesa, em conluio com a IFPI, processou 28 incautos cidadãos, acusando-os de pirataria. Sobre o episódio, ver o que aqui já escrevi.
Neste caso, o acusado era um homem de 48 anos que retirava na Internet álbuns de música e os compartilhava com os amigos. A juíza defendeu que um crime contra a propriedade intelectual tem de estar determinado por fins lucrativos, o que não acontecia neste caso. Exemplar.


Fonte: Diário digital

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Passeando na blogosfera - 6

Retomando o périplo pela blogosfera guardense, dei de caras com uma aberração que dá pelo nome de CP Cromos de Portugal. É editado pelo ex-cabeça de lista pelo BE à Câmara da Guarda, Jorge Noutel.
Até hoje, tinha dois modelos do que NÃO PODE existir na blogosfera: o defunto "Muito Mentiroso" e o "Grande Loja do Queijo Limiano". Todavia, em matéria de calúnia, cobardia, demagogia e ausência de escrúpulos, este blogue bate-os em todas as frentes. Um autêntico caso de polícia. Imaginem um cocktail de maledicência gratuita, ressabiamentos vários de ordem pessoal, completa indigência intelectual, humor animalesco e maniqueísmo primário. Eu sei que é difícil, mas tentem. O resultado é este autêntico case study para investigadores, indecisos que ainda simpatizam com esta tropa, antropólogos e paleontólogos.
Ora, pensava eu que o adjectivo "caceteira" era exclusivo da direita. Puro engano. Esta "esquerda" é muito, muito pior. Exemplos destes envergonham quem habitualmente se situa nesse campo, ou nele busca inspiração. Desconfio que até o Daniel Oliveira ou o Miguel Portas se envergonhariam deste compagnon de route. O ex-PC chamou a si alguns dos mais detestáveis traços de carácter infelizmente comuns neste país: ressentimento de classe sublimado, mesquinhez provinciana, corporativismo rasteiro, total irresponsabilidade transformada em impunidade. É o melhor exemplo que encontrei até hoje do desespero e da ignomínia em que rasteja certa esquerda (?). Que, suspensa no abismo da história, ainda rosna e esbraceja, julgando que assusta alguém. Cujo ódio é indiscriminado e omnipresente. Que trocou a beleza pelo obscurantismo, o charme pela boçalidade. Que está morta sem o saber.
Noutras paragens e num registo completamente diferente, descobri outra curiosidade. Trata-se do "Esta Turma". Chamar a isto um blogue seria uma redundância para lá de qualquer ousadia. Para começar, são mais os colaboradores do que as postagens. Parecem ser todos colegas de um determinado curso e que, através do "blogue", vão comunicando e organizando encontros e jantaradas. Há postagens que, por lapso, aparecem colocadas quatro vezes seguidas. O que sugere que ninguém administra o espaço. Em conclusão, um blogue que é um newsgroup que é um chat privado. Uma categoria nova, que aqui fica registada.
Ver anterior

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

O teste

Pedro Magalhães publicou recentemente no "Público" um artigo onde, a propósito de uma sondagem realizada sobre a despenalização do aborto, chama a atenção para a motivação contraditória da resposta fornecida pelos inquiridos numa sondagem. O texto está disponível no "Outras Margens". Tendo como ponto de partida a obra "The nature and origins of mass opinion", de John Zaller, PM desenvolve uma ideia, a meu ver, deveras acertada: "a maior parte das pessoas não tem verdadeiras opiniões seja sobre o que fôr". Em vez disso, dispõem abundantemente de predisposições e considerações. Como é sabido, já os gregos desvalorizavam a opinião. Platão opõe a crença ou opinião ("doxa", em grego) ao conhecimento. A crença é um determinado ponto de vista subjectivo. O conhecimento é crença verdadeira e justificada. Não sei se foi com base neste postulado epistemológico que o autor chegou à conclusão referida. Certo é que, ao estabelecer-se uma dualidade - como fez Platão - a finalidade mais óbvia é a desvalorização de um dos termos da comparação. Neste caso, a "doxa". De qualquer modo, o preconceito subsistiu, assumindo uma relevância suplementar no caso dos estudos de ... opinião.
Centremo-nos nas duas categorias referidas. Segundo PM, predisposições são "crenças e valores muito genéricos, tais como o igualitarismo, o individualismo ou os sentimentos de identificação com os interesses de um grupo", que revelam sérias dificuldades de conversão linear numa tomada de posição face a uma questão concreta. As considerações, por sua vez, são "argumentos a favor ou contra uma determinada posição, que vão sendo recolhidos pelos indivíduos através da exposição aos meios de comunicação social." O autor chama a atenção para a existência de considerações "de sinal oposto" nos media, o que é natural em sociedades abertas. No entanto, no momento em que o inquirido emite a sua escolha, esta é determinada por factores conjunturais: a forma como a questão é colocada, o "animus" do inquirido, a forma mais ou menos impressiva como entrou em contacto com desenvolvimentos recentes respeitantes ao assunto em causa, etc.
Ora, o aborto é um tema em que as respostas não são, por regra, lineares. Está em causa a forma como o Estado irá regular a esfera pessoal dos cidadãos. Aqui, as opções de regulação, de que fala PM, "não se medem em quantidades e os interesses envolvidos são difusos." Trata-se, sobretudo, de valores fundamentais que "podem ser defendidos ao mesmo tempo pela mesma pessoa". Sendo que a ciência ainda não deu resposta a algumas questões que poderiam atenuar os diferendos ao nível da opinião pública. Eis pois um caso paradigmático, onde as considerações expostas no texto citado têm um vasto campo de aplicação.
Eis uma feliz e prometedora iniciativa do Centro de Estudos Ibéricos, Teatro Municipal da Guarda e Associação Agostinho da Silva. O programa poderá ser consultado no site do CEI. Onde poderá ser feita também a inscrição on-line.

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

O picareta das pampas

Anda por aí uma eminência parda na blogosfera que dá pelo nome de maradona. Hobbies preferidos: coleccionar fotografias de apolíneos futebolistas argentinos, mandar uns bitaites sobre tudo e sobre todos a uma velocidade estonteante, capaz de fazer corar o Prof. Marcelo, dizer uma coisa e o seu contrário num só parágrafo, fazer uso abundante do calão. Pelo que pude ler no seu blogue, não consegue disfarçar o seu alinhamento com aquilo a que chamo direita suburbana, pseudo-atlética e troglodita. A prova está num seu recente post, a propósito de declarações públicas do coreógrafo João Fiadeiro, onde este diz o que tenho vindo a defender desde sempre: «Será que é tão difícil de aceitar que a grande maioria dos agentes culturais que dependem de subsídios, só os pedem por acreditarem que os espectadores merecem ter acesso a um tipo de teatro, de dança ou de cinema que, sem esses subsídios, pura e simplesmente não existiriam? E sim, não existiriam porque não há público suficiente para este tipo de espectáculo. E qual é a surpresa? É claro que não há público! Ele tem de ser criado, estimulado, formado, e isso leva tempo e a responsabilidade está longe de ser só dos artistas.»
Ora, para maradona a cultura deveria funcionar segundo a lógica linear do mercado. Exemplifica: Um gajo faz um jornal, não tem leitores, fecha. Um gajo faz um par de sapatos, ninguém os compra, fecha. Um gajo abre um restaurante, ninguém almoça lá, fecha. Um gajo escreve um livro, nenhuma editora acha que pode fazer lucro com aquilo, o livro não se publica. Um gajo faz teatro, ou uma dança, ou uma música com violinos em vez de guitarra eléctrica, ninguém paga para assistir àquilo, então é preciso formar os públicos. Palavras para quê? Argumentar com esta gente já cansa. Remeto pois para o que aqui, aqui e aqui sobre o assunto já tive ocasião de expressar.
Mas o desportista de bancada confessa também que nunca tinha ouvido falar de João Fiadeiro. Para lhe poupar o trabalho de ir consultar o google, eis o seu currículo, senhor Maradona. Invejável, não é ? Todavia, imagino que para si le importa un rábano. Además, um rapazola qualquer das pampas que dá uns toques numa bola e ganha milhões é claramente mais importante. Por sinal, nunca o vi referir sequer os êxitos desportivos de Vanessa Fernandes. Se calhar, é porque a atleta não toca guitarra eléctrica.