sábado, 29 de dezembro de 2007

Stalker

O deserto

Percorrer a Rua do Comércio, na Guarda, é como fazer uma visita guiada a uma zona de guerra. Metade dos espaços comerciais estão devolutos. Não existe um único local cívico digno desse nome. Um local onde se entra, se circula, se faz uma prospecção, se encontram pessoas, se descobre algo inesperado: uma livraria, um alfarrabista, uma loja de discos, uma galeria de arte, uma loja de bom artesanato, ou um café em que algumas dessas valências coexistissem e com um serviço de qualidade, por exemplo. Por outro lado, o comércio não tem um horário diferenciado naquela área, zona histórica incluída, como deveria. Nem existe uma loja de conveniência, com um período de funcionamento que se prolongue pela noite. Evidentemente, a emoldurar estes progressos, o arranjo urbanístico deveria ser exemplar. Todavia, a realidade é dolorosa. De tal forma, que o aspecto actual da principal artéria comercial da cidade coloca-a no plano de um pesadelo balcânico.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Mnemónica

"We live, as we dream – alone."

Kurtz, em "Heart of Darkness", de Joseph Conrad (obra que inspirou o filme "Apocalipse Now")

Mosaicos - 2





Jaime Hernando Osorio Jaramillo, Animais

Falsos ídolos

Aqui não se teria dito melhor. Ontem, no "Combustões":
Porque era mulher e era livre; porque era civilizada e cosmopolita; porque pertencia àquele grupo social que pela educação e horizontes alargados não se submete ao reducionismo de uma religiosidade desesperada que se nutre do analfabetismo e do obscurantismo; porque acreditava na inevitabilidade da adesão do Islão à contemporaneidade; porque advogava tudo o que os inimigos da liberdade abominam; porque fazia frente à sharia, à lapidação, à justiça de sangue e à guerra santa, foi morta. Morta pelos barbas-de-açafrão, danada nas mesquitas e nas madrassas, Benazir não serve de desculpa aos amigos dos nossos inimigos. Não era serva nem factotum de Bush, não era ditadora nem violara os sacrossantos pergaminhos da democracia, não se lhe conheciam amizades sionistas nem jamais abdicou do véu. Eles odeiam tudo o que não entendem, pelo que hoje, mais que uma derrota da Liberdade, a morte de Benazir Bhutto é um claro demarcador entre a civilização e a barbárie. A escolha nunca foi tão clara. Ou se está por "eles" ou se está pela comunidade de valores que, no Ocidente como no Islão laico, defende a retirada do confessional para o mais estrito domínio das escolhas individuais. Como aqui por mais de uma vez se disse, o estertor de um certo Islão nutre-se da violência do desespero. O tempo demonstrará que, no limite, os maiores inimigos do Islão foram esses loucos de Deus que não compreenderam que o tempo de uma certa ideia de religiosidade impositiva, purificadora e totalitária desapareceu.

Stalker

A nata

No passado dia 21, o suplemento Ípsilon do jornal "Público" publicou o seu Best Of 2007, nas áreas da literatura, cinema, música, teatro, artes plásticas e televisão. Quanto à música, en passant, tive a felicidade de encontrar, no último raid à FNAC (passe a publicidade), três pérolas aí referenciadas: os discos dos Tinariwen, Beirut e Panda Bear. Em relação aos livros, ver aqui as edições escolhidas. Por sinal, algumas delas já recenseadas neste blogue. Boas leituras.

Leituras de Natal

A autora de Vamps & Tramps viu recentemente editada entre nós a sua última obra. Paglia não é, em meu entender, intempestiva. Antes pelo contrário: uma mulher furiosamente do seu tempo, que depois de estudar com Harold Bloom - a quem continua a chamar mestre - tomou do autor do Cânone Ocidental três exemplos: a voracidade da leitura, a logomaquia e o instinto do espectáculo. A catedrática de Humanidades de Filadélfia não tem a agudeza de Susan Sontag, nem o “mundo” de Beauvoir. Mas leu muito. Aproveitou os ensinamentos mais académicos de Bloom e possui uma lucidez devastadora, como quando descreve Foucault como o Cagliostro do nosso tempo. Sexual Personae tem um extenso dramatis personae. Que começa, antes da Nefertiti do subtítulo, com os nossos primeiros pais: Adão um pouco rebaixado, quase um castrati; Eva, comparecendo como a primeira e activíssima femme fatale da história. Mil páginas depois, o livro desemboca em Emily Dickinson, sobre a qual Paglia escreve um extenso capítulo final cheio de surpresas. No seu percurso ensaístico, Paglia passa do escolar ao fantástico. E essa mistura é um dos atractivos de Sexual Personae. O segundo capítulo, “O nascimento do olhar ocidental”, tem momentos de um brilho fulgurante, como o dedicado ao “olhar intenso” dos mais ilustres gatos literários, desde o Egipto a Baudelaire. Paglia é excitante e sabe fazer uso da sua capacidade expressiva, que alguns dirão provocadora. O seu trajecto desde o Éden perdido à Nova Inglaterra de Dickinson é realmente vertiginoso. E nem sempre o fôlego das suas reflexões está à mesma altura. Sobretudo quando o tema desenvolvido está lá apenas por necessidade narrativa e a figura ou a época referenciadas lhe interessam sobremaneira. Em “A beleza pagã” desenvolve um dos motivos centrais do livro – a androginia – e descreve graciosamente o imperador Heliogábalo no seu propósito de passar por mulher, ou até, fazer-se de puta da soldadesca. Paglia vai descrevendo todas as estratégias do augusto travesti, o qual, dissuadido pelos dignitários da corte da operação de mudança de sexo que planeava, ofereceu uma fortuna aos médicos para que lhe construíssem uma vagina artificial. Ao que acrescenta Paglia: “A ciência, que só recentemente conseguiu aperfeiçoar este tipo de operação, vai sempre à boleia da imaginação sexual. Na sua leitura andrógina e libertina de numerosas obras literárias, a autora mostra uma imaginação fogosa, de tal forma que se confunde com wishful tkinking. Por exemplo, não há dúvidas sobre o carácter regenerativo e abismal que a dor adquire nas obras do Marquês de Sade e Swinburne. Aliás, as páginas sobre este poeta inglês estão, com as dedicadas à pintura de Rossetti e Burne-Jones, entre o melhor do livro. No entanto, o acento lésbico é tão acentuado nas imprecações líricas de Emily Dickinson? Paglia analisa com sagacidade o imaginário lancinante da sua poesia (na minha opinião, penitencial, não sádica). Mas, em mais do que uma ocasião, deixa-se arrastar pelo parti-pris da sua tese inicial, favorável à identificação em mulheres reais ou imaginárias de uma virilidade simbólica. Sexual Personae tem um epílogo que mais parece um rol de intenções: “Voyerismo, vampirismo, necrofilia, lesbianismo, sadomasoquismo, surrealismo sexual: a Madame de Sade de Ahmerst (a terra natal de Dickinson) continua a esperar dos seus leitores que a conheçam”. Paglia é uma grande “intrometida” nos textos e autores que analisa. Pretende resgatar as linhas suprimidas da história da grande literatura e fá-lo com um desembaraço e uma qualidade que ela própria aponta à poetisa norte-americana. Às tantas, afirma que “Dickinson é uma pioneira entre as escritoras que renunciaram à boa educação”, querendo dizer com isso que a descortesia e o desafio às expectativas do leitor são o melhor património da liberdade criadora. Paglia segue essa via à sua maneira: assegurando o syllabus, mas aspirando a ser uma pin-up.

Momentos Zen - 30

Uma sala vazia e o som da chuva

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Castelos da Guarda - 6

Portas d'el Rei, Trancoso

Castelo Rodrigo, ruínas

Torre de Menagem, Pinhel

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Aviso

"Na busca da verdade, prepara-te para o inesperado, pois é difícil descobri-la e, quando a encontramos, encontramos a perplexidade."

Heraclito

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Notas de Natal

1. Até que nem fica mal agradecer aos 10 visitadores extraordinários deste blogue no dia de Natal. Não sei o que os terá trazido por aqui, mesmo sabendo que as auto-estradas da blogosfera são imprevisíveis. O tédio, a solidão, a irreverência, a curiosidade? Podia ser. Ou não. Quem sabe?
2. Li algures que uma cadeia de hotéis inglesa oferecia a estadia, incluindo ceia de consoada e almoço de Natal, ao casal que se apresentasse no dia 24 e cujos nomes fossem Maria e José. Nem imagino o que aconteceria se uma unidade hoteleira nacional tivesse a mesma ideia...
3. Daqui a pouco, irei finalmente ao CCB ver a colecção berárdica. Afinal, os impostos que pagamos deverão servir para alguma coisa...

sábado, 22 de dezembro de 2007

Preces atendidas - 19

Monica Bellucci

Leituras de Natal

A D. Quixote acaba de publicar a última obra de Jonathan Littel : As Benevolentes (Les Bienveillantes). Trata-se das memórias de Maximilien Aue, um ex-oficial nazi, alemão de origens francesas que participa em momentos sombrios da recente história mundial: a execução dos judeus, as batalhas na frente de Estalinegrado, a organização dos campos de concentração, até a derrocada final da Alemanha. Uma confissão sem arrependimento das desumanidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial, que provoca uma reflexão original e desafiadora das razões que levam o homem a cometer o mal. A tradução é de Miguel Serras Pereira. Um breve excerto:
"...continuei a ser dos que pensam que as únicas coisas indispensáveis à vida humana são o ar, o comer, o beber e a excreção, e a busca da verdade. O resto é facultativo (...). Se suspendermos o trabalho, as actividades banais, a agitação de todos os dias, para nos entregarmos seriamente a um pensamento, as coisas passam a ser completamente outras. Depressa as coisas começam a vir à tona, em vagas densas e negras. À noite, os sonhos desarticulam-se, desdobram-se, proliferam, e ao despertar deixam uma fina camada acre e húmida na cabeça, que leva muito tempo a dissolver-se. Nada de mal entendidos: não é de culpabilidade, de remorsos que aqui se trata. Isso existe também, sem dúvida, não quero negá-lo, mas penso que as coisas são muito mais complexas. Até mesmo um homem que não fez a guerra, que não teve de matar, sofrerá aquilo de que estou a falar. Regressam as pequenas maldades, a cobardia, a falsidade, os gestos mesquinhos que afligem todo e qualquer homem. Não é de admirar por isso que os homens tenham inventado o trabalho, o álcool, as conversas fiadas estéreis. Não é de admirar que a televisão tenha tanto sucesso. "

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Wild

A equipa que produziu o multi-premiado “O Mar é Azul” apresenta agora a série épica que celebra o planeta de uma forma nunca antes vista.Com recurso à alta definição e a um orçamento sem precedentes, a série O Planeta Terra é o projecto mais caro e mais ambicioso alguma vez produzido pela BBC – foram investidos 16 milhões de Euros numa produção que se estendeu por mais de cinco anos, com utilização de 40 câmaras durante mais de dois mil dias de filmagens e em mais de duzentos locais diferentes.
A série foi lançada em DVD num pack que inclui 11 episódios e uma magnífica sequência final de três episódios: "salvar espécies", "as regiões selvagens" e "coabitar". A série contém imagens de uma beleza estonteante e o debate final é de uma qualidade invulgar. Uma boa opção para o sapatinho neste Natal. Ou então, comprem e não digam nada a ninguém...

Da vida das marionetas

Tenho saudades dos verdadeiros cartões de boas festas. A maioria com grafismo kitsch, é certo. Não obstante, havia neles uma materialidade piedosa, sincera. Cheiravam a cola, tinham erros, um destinatário certo. Não eram simples impulsos virtuais, mas o sinal de um esforço, de um elo que se robustecia, de um potlach postal onde a generosidade não era palavra vã. Tudo isto desapareceu. Agora valem as "mensagens" de natal, que entopem as caixas de correio electrónico e a memória dos telemóveis. Ao spam das boas práticas comerciais, juntam-se as mensagens individuais de gente pouco recomendável, que assim alivia a sua má consciência. A verdadeira generosidade está ausente, é claro. É que as pessoas já não dialogam. Estamos cada vez mais despojados de tempo para os outros e para nós próprios. Comunicamos cada vez menos. As tecnologias, ao estimularem a preguiça, vieram potenciar o frenesi consumista nas nossas vidas. A realidade dá muito trabalho: visitar os outros, procurá-los nesta quadra propícia, escrever-lhes umas linhas num papel, metê-lo num envelope e depositá-lo numa caixa de correio é quase uma blasfémia. Com os sms e os e-mails vamos dando corda ao vazio, até à queda final.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Vai lá, vai! - 2

Nesta curta digressão, houve tempo ainda para algumas epifanias, como passear em Carnaby Street, por exemplo. Mas sobra ainda um breve episódio. Como já calculava, em Inglaterra lê-se muito. Seja nos jardins, nos autocarros, no comboio, em sítios públicos em geral, quase toda a gente lê um jornal, um livro ou uma revista. Certa vez, na carruagem do metro onde seguia - tentando abstrair dos desesperantes e repetidos avisos "mind the gap", durante as paragens - reparei que todos os passageiros iam a ler. Todos? Não, pois do outro da carruagem provinha um diálogo na língua de Camões. Era um casal jovem que trocava umas impressões acerca de títulos académicos e doutoramentos, na perspectiva dos "esquemas" e expedientes para lá chegar. O contraste desconcertante que a situação evidenciava era por demais sugestivo. Sinalizava o fosso entre a dedicação ao conhecimento, o cultivar da dúvida que se desfaz e refaz, próprio de outras latitudes, e o saber honorífico, a erudição saloia, a ignorância encartada... Bom, eis mais algumas imagens do périplo londrino:




Portobello Market

Vai lá, vai! - 1

Na semana passada andei por Londres durantes alguns dias. Claramente insuficientes para conhecer minimamente a grande metrópole. Mesmo assim, para uma impressão, chegou e bastou. Devo dizer que o tempo ajudou bastante: três dias seguidos de sol em Dezembro na pérfida albion não acontece muitas vezes. É impossível falar de tudo o que me impressionou: se a monumentalidade de certas zonas, se o ambiente de alguns pubs, se as pistas de gelo em Hyde Park e na Somerset House, se a magnífica Tate Modern, se a zona ribeirinha do Southbank, se o bem organizado sistema de transportes, se a estonteante zona em volta de Picadilly Circus à noite, se o excelente, embora pouco conhecido, Museum of London, junto à muralha romana nos limites da City, se a ponte pedonal do Millennium, sobre o Tamisa, entre a catedral de S. Paulo e a Tate, se o imperdível Mercado de Portobello Road. Eis algumas imagens:

St. James Park

Porta mais antiga de Inglaterra (séc. XI), na Adadia de Westminster

Millennium Bridge, com a Tate Modern ao fundo

O Tamisa e o London Eye

Noite azulada


A operação Noite Branca começa a dar alguns frutos. Melhor, deu à costa algum peixe miúdo. A parte imersa do iceberg. De fora ainda está, por enquanto, quem encorajou, beneficiou, ou garantiu a impunidade destes nichos de crime organizado. Já interrogaram o guarda Abel? A ligação de alguns arguidos às claques afectas ao FCP é por demais conhecida. É o reino do "meio", como JPP apelida esta teia de cumplicidades. Atente-se a lista de agressões a jornalistas cometidas por elementos afectos à conhecida agremiação regional. Resta saber qual a dimensão e o alcance da cumplicidade do clube com as redes privadas de segurança de estabelecimentos nocturnos. Ou estão à espera que o cappo di tutti cappi seja julgado primeiro? O mesmo de quem, aliás, Bruno Pidá já foi guarda-costas.

Visões - 4


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quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Coragem de quê?

Rui Ramos comenta hoje no "Público" um livro de Luís Filipe Menezes. Como já se notou, o actual líder do PSD é um dos bombos da festa predilectos neste blogue. Escreve o historiador e cronista:
«Não sei se fazemos um grande favor aos políticos quando lemos os seus livros. Experiências recentes fazem-me pensar que não. E Coragem de Mudar, que Luís Filipe Menezes fez sair durante a sua marcha para a liderança do PSD, confirmou a impressão. Li-o só agora. E, sem recomendar a leitura, sempre direi que talvez tivesse poupado alguns erros de previsão acerca da liderança do autor. O livro de Menezes inclui uma entrevista especialmente reveladora acerca da sua pessoa. Não me refiro à pessoa privada, que não nos deve interessar, mas à sua pessoa pública, ou mais exactamente: à imagem que ele gostaria de dar de si próprio. Eis o que descobrimos: “Sou capaz de fazer dois mil quilómetros num fim-de-semana para ver uma exposição.” Ou isto: “Cosmopolitismo, para mim, é navegar ao luar nas Marquesas, é entrar no Triângulo Dourado e acampar no Norte do Camboja”. Não temos aqui alguém a expor-se aos seus semelhantes, segundo o método radical de Rousseau, mas uma pessoa desesperada para ser aceite. Ou, nas suas palavras, “amado”. É uma carta de amor, e, como tal, ridícula. O destinatário somos todos nós. E parece que Menezes imaginou, como qualquer rapaz de 15 anos, que nós, como qualquer rapariga de 15 anos, nos deixaríamos comover por devaneios de Indiana Jones, fúrias cinéfilas e vestígios de leitura. (ler mais)

Graffitis - 26


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segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Quadro de honra?

Acabam de ser encontrados os melhores blogues nacionais de 2007, nas categorias respectivas. Esta iniciativa - MBP07 - desenrolou-se de acordo com as nomeações realizadas pelo público e posteriormente votadas pelo júri. Nota-se a afirmação do universo geek, embora a classificação contemple blogues referentes às temáticas mais variadas. Estas votações valem o que valem, como se sabe. Mas aqui fica a referência.

Stalker

domingo, 16 de dezembro de 2007

Menos que Natal

Algures na vida chega o lugar da gratidão. Por aqueles que nos amaram - poucos, após esticar o balanço com honestidade - por aqueles que não o souberam ou eu não soube, pelos erros que tão bem denunciaram o caminho, pelos outros que não passaram de hesitações, por aqueles que esperaram, divididos entre o orgulho e a queda, pelo consolo da ronda à volta do claustro, pelo fogo que triunfou, por vezes, no cume da insurreição e das sombras, pelas cinzas que foram ficando, pelos caminhos só ainda depois caminhos, pela assembleia de convidados que o vento trouxe e o vento dissipou, pelo orgulho que tudo rasgou, pelos céus de van gogh, pela poeira onde tudo se irá resumir. E brilhar.

sábado, 8 de dezembro de 2007

De partida

Um lugar. Onde nenhum. Um tempo para tentar ver. Tentar dizer. Quão pequeno. Quão vasto. Se não ilimitado com que limites. Donde o obscuro. Agora não. Agora que se sabe mais. Agora que não se sabe mais. Sabe-se somente que saída não há. Sem se saber porque se sabe somente que saída não há. Somente entrada. E daí um outro. Um outro lugar onde nenhum. Donde outrora dali regresso nenhum. Não. Lugar nenhum a não ser só um. Nenhum lugar a não ser só um onde lugar nenhum. Donde nunca outrora uma entrada. Dalgum modo uma entrada. Sem um só além. Dali donde não há ali. Por lá onde por lá não há. Ali sem de lá nem dali nem sequer por onde.

Samuel Beckett

Mosaicos - 1





Jaime Hernando Osorio Jaramillo, Cenas de Caça