domingo, 30 de setembro de 2007

Termo incerto

O Manuel acaba de suspender o seu excelente blogue, "Meia Noite todo o Dia". "Por tempo indeterminado", vai adiantando. Na passada, pus-me a cogitar se "por tempo indeterminado" não daria um belo título para um outro blogue. Seja como for, faço figas para que o autor volte ao activo. Até prova em contrário, estar na blogosfera é uma condição intermitente.

A Pergunta



Deus move o jogador e este move a peça.
Que Deus por trás de Deus o jogo começa?

Jorge Luís Borges

Stalker

Lagoa da Vela, Quiaios

Lagoa da Vela

Praia de Palheiros de Tocha

sábado, 29 de setembro de 2007

Desligar automaticamente

Neste blogue, só em momentos excepcionais se fala de futebol. Até porque, dentro de portas, este desporto tornou-se uma sub-espécie da criminologia. Mas a coisa vai rendendo. O clube regional do norte (sendo que o seu dirigente máximo, acusado de vários crimes, continua a expelir dejectos pela cloaca cada vez que a abre, impunemente) vai na frente, os árbitros continuam a engordar, os estádios a esvaziar, na Sporttv os comentadores-empregados do Oliveira não cessam de denegrir a concorrência durante as transmissões, o Inverno vai seguindo os passos ao Outono, a Terra gira à volta do sol, as moscas gravitam à volta da mesma merda e... assim dendo, quero que essa corja vá para a primeira sílaba daquela coisa preta que se põe nas lareiras e nos fornos, seguida daquele tubérculo que, segundo uns, dá azo à longevidade, mas crú deixa sempre um hálito dos diabos.

O abismo

Confirmando-se a vitória de Luís Filipe Menezes nas directas do PSD, o partido acaba de dar um tiro no pé. Em vez de introduzir no debate público propostas claras e arrojadas, blindou-se em torno do habitual clientelismo do aparelho, que foi atrás das promessas de emprego anunciadas pela entourage de Menezes. Que se revelou um Berlusconi à portuguesa, um portento em populismo e demagogia. Os sectores mais progressivos e dinâmicos da sociedade vão ficar naturalmente à margem deste PSD. Tomado de assalto por um exército de desempregados em luta pelos lugares do mando. Portas vai ter um sério concorrente. Sócrates agradece.

Até quando?

A Capela do Mileu é um monumento Românico (séc.XII / XIII), situado nos arredores da Guarda. Com a Estação Arqueológica do Mileu (ruínas romanas do séc III d.c.), forma um conjunto em que ambas estão classificadas como Imóvel de Interesse Público desde os anos 50. Já em finais dos anos 80 beneficiou de uma intervenção de restauro, a cargo do IPPAR. A Capela é propriedade da Fábrica da Igreja de São Vicente. Em Setembro passado, após vistoria, os serviços da Câmara afirmaram que ainda não havia risco imediato. Entretanto, passou mais um ano. O IPPAR diz que não tem dinheiro para as obras de recuperação. Qualquer dia é tarde demais. Estas imagens, recolhidas no local, explicam porquê.

Consolidação da parede contígua à capela-mor, do lado do cemitério

Estado da fachada principal

Aspecto do telhado

Momentos Zen - 22

A negação da realidade é a sua afirmação


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Graffitis - 20


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terça-feira, 25 de setembro de 2007

Lido

O problema dos moralistas é sempre o de nos fazerem achar que não vivem plenamente.

No "A Vida Breve"

O pêndulo

A evolução do anti-semitismo na Europa ao longo do séc. XX é deveras curiosa. Até à década de 30, esta corrente entrou em franco declínio. A partir dessa data e até final, como reacção à doutrina nacional-socialista, o anti-fascismo e o internacionalismo foram o terreno do anti anti-semitismo. O ódio aos judeus estava monopolizado, em grande parte, pelos nacionalistas étnicos, antagonistas do Outro. Nas últimas duas décadas, não obstante, o anti-semitismo foi corporizado pelas correntes "humanitárias", cujo auto proclamado papel é precisamente defender o Outro. Os judeus já não são denunciados pela sua vocação cosmopolita, mas porque a traíram. O que assinala o regresso do anti- sionismo. No mundo árabe, estes termos são sinónimos inter comunicáveis. Nomes possíveis para o ódio. A negação do Holocausto é um dos seus corolários lógicos. É bom não esquecer que a obra Mein Kampf, de Hitler, está há anos no topo de vendas nos países árabes. Mas há um facto sistematicamente ignorado pela historiografia politicamente correcta: o Grande Mufti de Jerusalém, Haj Amin al-Husseini, refugiou-se em Berlim durante a Segunda Guerra. Onde pressionou Hitler a matar o maior número possível de judeus. Como se Hitler precisasse de um mentor para o efeito! Esse dirigente palestiniano, tio de Yasser Arafat, ajudou inclusivamente no recrutamento de muçulmanos bósnios que serviram nas Waffen SS. E esta, ó Rosas!

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Sobre Aquilino

Retrato a carvão de Diogo de Macedo (1918)

Lê-se no "Combustões", a propósito da trasladação dos restos mortais de Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional:
Este homem foi cúmplice de um crime de sangue. Fabricou bombas, traficou revólveres, participou ou teve conhecimento da matança da Família Real. A República leva-o para o Panteão. Só lá faltam o Costa e o Buiça. Bom exemplo para o Estado, a Lei, a cultura cívica e demais valores que se ensinam na escola às crianças deste país. Se não estás de acordo com a forma de governo; se o teu partido não vence pelos argumentos e pelos comícios, mata, dinamita e elimina. Que excelente escola, esta, das virtudes republicanas!
Do outro lado da barricada, temos reacções histéricas como esta. Ou insultuosas, como esta. Mais perto da opinião aqui perfilhada andou Carlos Botelho e Eduardo Pitta. Sobre os factos históricos, pouco mais haverá a dizer. Sobra a questão do mérito literário. Segundo VPV, Aquilino era um escritor medíocre. Não creio que o fosse. Li o mainstream da sua obra e não me parece que o autor de "Quando os Lobos Uivam" fosse um mero coleccionador de regionalismos. É certo que teria mais cabimento que Eça ou Camilo estivessem no Panteão. Mas Aquilino não deixa de ser um grande escritor. Talvez demasiado preso a uma imagem de conspirador ultramontano. Por culpa dos neo-realistas que o idolatraram e da habitual esquerda jacobina. Aquela que nunca o leu verdadeiramente, mas não deixou de o agitar como bandeira de conveniência. Viu-se agora neste episódio como.

domingo, 23 de setembro de 2007

Trilho da Água- 2

Cruz da Faia. Com silvas. Muitas.

Alminha. Animula vagula, blandula.

Ilha da Páscoa na Beira?

Vista do monte encimado pelo castro do Tintinolho.

sábado, 22 de setembro de 2007

Trilho da Água - 1

Tomei à letra o Dia Sem Carros. O tempo estava a pedi-las. Fui experimentar um troço pedestre já velho conhecido, que vai até ao antigo castro do Tintinolho e segue até ao Mondego, pela Ramalhosa. A diferença é que agora está sinalizado, fazendo parte das rotas Natura, em boa hora criadas pela CMG. Aqui vão algumas imagens do passeio.

Chafariz da Dorna. Uma miragem ignorada pela cidade

Via Romana da Dorna. Caelum, non animum, mutat qui trans mare currit. (Asno que a Roma vá, asno de lá voltará).

A chave do reino
Vuuuu, zzzzz, vuuu, zzzzzzz, vuuuuuu, zzzzzz, vuuuu. Ufa!

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O cair do pano


Ao contrário dos anos anteriores, a passagem das FARC pela "Festa do Avante" primou pela discrição. Na banca do PC colombiano, vendiam-se uns saquitos de café local, as habituais folhas de propaganda e pouco mais. É claro que a dimensão da campanha que denunciou a presença da organização terrorista intimidou os comunistas, estragando-lhes a sua festa. Mas esse recuo foi logo compensado com um artigo de Albano Nunes, membro do Secretariado e da Comissão Política do PCP, para além de responsável pelas relações internacionais, publicado no "Avante". Às tantas, pode ler-se: "... apesar da violência terrorista da repressão as forças democráticas resistem com grandes acções de massa, obtêm os melhores resultados de sempre nas ultimas eleições, derrotam nas montanhas as sucessivas investidas militares que há 40 anos visam destruir as forças guerrilheiras. E é por isso que, contra a vontade de Uribe e do seu patrão norte-americano, se abre hoje a possibilidade de concretização do «acordo humanitário» proposto pelas FARC de troca de prisioneiros por combatentes presos nos cárceres governamentais." Será que o "acordo humanitário" contempla os deputados assassinados e Ingrid Betancourt, sequestrada há cinco anos? Haverá limites para o discurso esquizofrénico dos comunistas? Pois este texto, meus caros, é um autêntico case study demonstrativo do beco sem saída em que se embrenhou o PCP. A prova definitiva da existência de extra-terrestres, embora não necessariamente de vida inteligente vinda do espaço. Vale a pena lê-lo. Para mim, foi como ir ao dentista, ou à catequese. O melhor é quando se sai.

Momentos Zen - 21

Um samurai, tu? Pareces um mendigo!


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quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O 11 de Setembro e as virgens

O Mito de Outubro

"Outubro faz noventa anos, mas está menos agonizante do que por vezes aparenta. Na superação do seu legado – e dos grandes equívocos que produziu – encontra-se, provavelmente, a única forma de interromper a deriva autoritária e intolerante que a esquerda antineoliberal contemporânea tem sido incapaz de apagar das suas agendas." Lê-se na introdução ao primeiro de uma série de textos que Rui Bebiano está a dedicar ao tema, no "A Terceira Noite". Leitura recomendada, por supuesto.

Preces atendidas - 17

Michelle Williams

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quarta-feira, 19 de setembro de 2007

A censura continua

Na sequência do que foi aqui anunciado, a Câmara Municipal da Guarda mantem a restrição ao blogger, na rede que disponibiliza nos espaços internet de que é gestora. Pude verificar isso mesmo pessoalmente. Ora, se há pessoas que, naquela instituição, convivem mal com a crítica e a apreciação da opinião pública, o problema é exclusivamente delas. Não deviam era estar onde estão. A questão está em que, objectivamente, por mera retaliação e espírito de capelinha, estão a impedir o acesso do público a um meio de comunicação e informação imprescindível no mundo de hoje: os blogues. Promovendo estes espaços, a CMG presta um serviço público universal. Todo o tipo de restrições praticadas, com excepção das que dizem respeito à protecção dos menores em relação a determinados conteúdos, caem na alçada da ilegalidade.

Graffitis - 19


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terça-feira, 18 de setembro de 2007

Tudo à molhada e fé em Deus

Ninguém sabe aplicar o novo Código de Processo Penal. É a conclusão a que se chegou ontem e hoje, os primeiros dias desde a sua entrada em vigor. Será a tradicional resistência à mudança dos operadores judiciários que veio mais uma vez ao de cima? Sem dúvida. Se o patusco Dr. Cluny e as corporações do costume estão contra, então é porque a reforma tem decerto aspectos positivos. O mais evidente é o do encurtamento dos prazos de prisão preventiva. De qualquer forma, não me parece de todo sensato que profundas alterações à legislação penal (adjectiva e substantiva) tenham uma tão curta vacatio legis (período entre a publicação e a entrada em vigor). A data certa para o efeito seria 1 de Janeiro do próximo ano, à semelhança do que irá acontecer com as alterações ao Código de Processo Civil e à Lei que define o regime do Acesso ao Direito e aos Tribunais. Durante este período, a nova lei seria devidamente digerida pelos respectivos agentes. De modo a que, chegado o dia D, pudesse ser aplicada uniformemente pelo aparelho judiciário e estivessem resolvidos os problemas interpretativos e de adaptação a novas rotinas. Não obstante, será a máquina que tem que se adaptar à nova lei e não o contrário. Pela minha parte, já mandei encadernar as folhas que imprimi a partir do D.R., antes de adquirir as versões anotadas dos códigos, que deverão estar a aparecer. Logo que analise devidamente as alterações introduzidas, aqui darei a minha opinião.

Castelos da Guarda - 1

Alfaiates

Linhares

Marialva

Fonte: Governo Civil

A náusea

Esta manhã, estava tranquilamente na sala a tomar o pequeno almoço. O rádio estava ligado, como sempre. A meio do sumo de laranja, oiço uma fulana à conversa com um emplastro, cujo matraquear não me era estranho. Pelo desenrolar da conversa, vi logo que devia ser um psicólogo, psiquiatra, ou assim. Fui por exclusão de partes: pelo registo vocal não era o Eduardo Sá; também não era o Amaral Dias, pois estava longe da acutilância deste. Então quem seria o gajo? O tema era... sim, já adivinharam, pois, o sexo. Então cheguei lá: era o Júlio Machado Vaz, o sexólogo e tal! Ou como diria um alemão: Das mädchen für alles, isto é, a rapariga para todo o serviço, quando se trata de perorações avulsas nessa matéria. A páginas tantas, por entre banalidades a granel sobre "excitação" e "complexidade da sexualidade feminina" (neste ponto, a tosta mista já começava a a emperrar na garganta) vem o momento alto da converseta: as fantasias sexuais. Aqui, o preclaro Vaz, representante da pedagógica geração de 60, foi im-pla-cá-vel, de tal forma que a outra nem troco dava: "nem de mais nem de menos", "partilhadas com o/a parceiro/a", "vividas a dois", "deviam ser assim e assado", "desta maneira ou daquela", "cuidado com não sei o quê...", etc. Fiquei sem fala! Nem a "rádio escolar" que era obrigado a ouvir na primária, no antigo regime, me deixou este sabor a autoridade. A sensação de que há sempre uns senhores que sabem tudo a nosso respeito, tudo o que é melhor para nós, que já adivinharam os nossos pensamentos mais secretos, que desconfiam dos nossos segredos, para depois nos servirem outros, já embalados, normalizados, híbridos inofensivos, de acordo com as modas e a correcção política. Os mesmos que fixam modelos para os nossos sonhos, na extensão, na viabilidade, no alcance. Repare-se, sempre a dois, com o "parceiro" - mas que raio de termo este, faz logo lembrar uma figura do direito civil chamada parceria pecuária, em que existe um parceiro proprietário e um parceiro pensador - como se essa fosse a norma, com quem se "partilha tudo", é claro, mesmo os sonhos, as fantasias, sob a supervisão dos psis de serviço. Exactamente os mesmo que fixam moldes para a educação, para a aprendizagem. Que sabem sempre qualquer coisa que nós não sabemos. Mas que têm um pavor enorme e inconfessado da fantasia, a verdadeira. Porque intuem o seu enorme poder transgressor, visto que assegura a ligação ao centro, à vitalidade, à verdadeira humanidade. Encaram-na como qualquer coisa instrumental, que é preciso praticar, sem exageros, como quem se solta de um espinho incómodo, de preferência "a dois" e com o manual de instruções à frente. Na sua ausência estará lá o Vaz, pois claro. Que então explicará melhor as questões omissas. Sem deixar de prescrever o que cada um de nós poderá fantasiar. Não vá o diabo tecê-las...
Sabem que mais? Às vezes apetece-me desaparecer pura e simplesmente desta merda. Com o melhor Céline na bagagem.

Stalker

Lido

"Parece que, da China, só nos vêm problemas e constrangimentos. Parece que querer correr com as 'lojas chinesas' da Baixa e acantoná-las numa "Chinatown" a criar, como defendeu Maria José Nogueira Pinto, é uma proposta racista, xenófoba e discriminatória. Parece, pois, que o que é politicamente correcto é investir uns milhões largos numa operação de revitalização da zona histórica e central de Lisboa, mas sem ferir os interesses dos comerciantes chineses ali instalados, em sã convivência multicultural com a arquitectura pombalina. É fácil, aliás, imaginar como os chineses receberiam de braços abertos uma invasão de tasquinhas e casas de fado portuguesas na Praça Tiananmen..." (ver mais)

Miguel Sousa Tavares, no Expresso de 25 de Setembro

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Excesso de zelo pode ser fatal

Adriano Ferreira era transportado numa ambulância, a caminho do Hospital de Ponte Lima, proveniente do Centro de Saúde de Arcos de Valdevez, onde fora assistido, por suspeita de enfarte. A meio do trajecto, o veículo é mandado parar por uma Brigada de Trânsito da GNR. Ao que parece, a ambulância não podia circular com as luzes de emergência ligadas e o condutor teve que soprar o balão duas vezes. Entretanto, passaram vinte minutos. Os suficientes para que o doente chegasse ao destino já sem vida. A GNR vai abrir um "processo de averiguações". Isto é, os responsáveis vão estar uns meses noutro zona, enquanto se fala no caso, e depois fica tudo na mesma. Mas atenção: o caso envolve responsabilidade penal e é aí que ele deve ser analisado. A família de Adriano deveria desde já apresentar queixa criminal contra os agentes envolvidos. Provando-se que existe um nexo causal entre a demora e a morte, os responsáveis deveriam ser punidos por homicídio, considerando ter havido dolo eventual. Mesmo que, objectivamente, não lhes possa ser imputada a morte do doente, não deixariam, em meu entender, de ser responsabilizados por terem aumentado o risco para a vítima. Pois poderiam e deveriam ter exercido a sua acção fiscalizadora a posteriori. Ver aqui a notícia.

domingo, 16 de setembro de 2007

O querido líder


Nos idos de 75, a iconografia de inspiração maoísta produzia estas relíquias. Entretanto, no Império do Meio, a Revolução Cultural lá ia reeducando os futuros educadores do povo. Com o povo himself. Há quem lhe chame um círculo vicioso, mas tratava-se mais de um quadrado. Alguns milhões de reeducandos não aguentaram a emoção de tão salutar convívio, é claro. E acabaram no Além ou no cárcere. "Detalhes", como diria outro grande líder, mais para Oeste. Pois nós tivemos o privilégio de dispor de um grande educador. Assim, à mão de semear. E ninguém quis aproveitar! Somos realmente um país de ingratos...
Não obstante, fixemo-nos no exemplo e façamos de Barthes. Olhemos para o mito e esqueçamos o pathos ideológico. Decifremos a mensagem e ignoremos o mensageiro. O que temos? Por um lado, publicidade pura e dura:
um conteúdo promocional, necessariamente subjectivo, que por persuasão ou simples sugestão, apela à sua adesão. Se lá constasse "empresa líder do mercado, aconselhada pelas principais marcas, vai fazer uma revolução nos preços", a diferença seria assim tanta? Mas há também a marca inefável de uma inocência quase escandalosa, pueril. Que afasta qualquer suspeita de filiação num programa povoado de sombras e de monstros.

sábado, 15 de setembro de 2007

Tendências


Neste gráfico do Blogpulse poderá ver-se o efeito que um directo da direita teve na Blogosfera.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Banco é galinha o põe

Circula por aí uma anedota deliciosa, com Scolari como protagonista. No anúncio que o seleccionador faz para a Caixa Geral de Depósitos, vai desenrolando as discrepâncias semânticas do português que se fala dos dois lados do Atlântico: "Eu tive que aprender que aeromoça é hospedeira, que açougue é talho, trem é comboio e torcida uma claque, que pingolim é matraquilhos e que banco, banco é fácil, banco é... box".

A indignidade - 2

Como se sabe, o Primeiro Ministro não quis saber da visita do Dalai Lama. O MNE Luís Amado, de cócoras e já com as calcinhas em baixo para chinês ver, disse as esperadas palavras, que caíram como mel em Pequim: "Oficialmente, o Dalai Lama não é recebido por responsáveis do governo português, como é óbvio". Como é óbvio, será que o estadista (?) quis fazer esprit com o "obviamente demito-o", de Delgado"? No entanto, prepara-se a recepção oficial a Robert Mugabe, o tristemente célebre torcionário do Zimbábue. Que é tudo menos adepto da não violência. Em suma, o PM devia era pôr os olhos no desempenho diplomático dos seus colegas europeus. Só teria a ganhar. Como? A notícia vem no Diário Digital e fala por si: "A chanceler alemã, Angela Merkel, recebe o Dalai Lama, a 23 de Setembro, em Berlim, anunciou hoje o seu porta-voz, em mais um sinal do seu empenho em levantar questões de direitos humanos com a China." Veja-se também esta lista, realmente impressionante, dos governantes e figuras públicas com quem o Dalai Lama manteve conversações, de 1959 para cá. Como é óbvio, não é, senhor MNE?

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Stalker

Praia do Alvolião, Zambujeira

Um astro



Ouve a longa incoerência da palavra e a memória
do sangue que se apaga.Ouve a terra taciturna.
Tudo é furtivo e as sombras não acolhem.Nenhum jardim
de segredos.Nenhuma pátria entre as ervas e a areia.
Onde é que nasce a sombra e a claridade?
Eis as vertentes da terra árida e negra.Quem
reconhece o equilíbrio das evidências serenas?
Estas palavras têm o odor de portas enterradas.
Como dominar a desmesura da ausência e a vertigem?
Como reunir o obscuro em palavras evidentes?
Escuta,escuta a longa incoerência da terra
e da palavra.Ao longo da distância
murmura a perfeição monótona de um mar.
Num pudor de esquecimento um astro se aveluda
em denso azul na corola do silêncio.

António Ramos Rosa, de Volante Verde(1986)

A Indignidade

O seráfico Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, veio anunciar o "justo impedimento" que levou o Governo a não receber o Dalai Lama: "a secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, esteve na China, onde promoveu os portos nacionais como porta de entrada na Europa". A "realpolitik" no seu esplendor! Recorde-se que o líder espiritual budista e representante do povo tibetano, vítima da ignomínia dos comunistas chineses, está de visita a Portugal e só foi recebido na Assembleia da República. O país ficou elucidado acerca da posição preferida deste governo, quando se trata de negócios da China: no chão, de cócoras. Rastejar um bocadinho também vale.

NOTAS:
1.Sobre a história recente do Tibete, ler esta postagem, no "Combustões".
2. Mesmo assim, Sócrates teve tempo para receber Bob Geldof.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

A questão

Esta obra, polémica q.b., ainda não está traduzida em Portugal. No entanto, já foi abundantemente comentada e citada. Pacheco Pereira acaba de dedicar-lhe uma recensão, por via de um artigo publicado no "Público" de 8 de Setembro. Chama-se "Está a Internet a matar a nossa cultura?". Pode ser encontrada aqui. Recomendo a sua leitura.

O Dragão e o Elefante

Lê-se na introdução: "São três mil e quinhentos milhões: São mais jovens, trabalham e estudam mais do que nós. Têm mais poupanças e mais capital para investir. Inúmeros Prémios Nobel. Os seus salários são muitíssimo mais baixos. Têm arsenais nucleares e exércitos de pobres. A China e a Índia não são apenas as duas nações mais populosas do planeta: são o novo centro do mundo." Palavras que revelam o programa da obra. O autor, Federico Rampini, é correspondente do "La Repubblica" em Pequim. Publicou anteriormente "O Século Chinês", um êxito editorial. Conhece pois muito bem o terreno de que nos fala, combinando o método do jornalista e o entusiasmo do narrador. Aqui, o leitor é conduzido numa visita guiada através dos dois países, sendo analisadas as perspectivas de competição e colaboração das duas economias num futuro próximo e os motivos pelos quais a China e a Índia serão responsáveis por 42% do PIB mundial em 2030, deixando para trás os Estados Unidos com 23% e a Europa com apenas 16%. E por detrás dos números, equaciona a complexa realidade que os suporta, socorrendo-se de uma bem documentada análise política e cultural dos dois países, numa perspectiva dinâmica e aberta. Em suma, Rampini revela por que é que a China e a Índia serão no futuro próximo os pesos-pesados da economia global. Sem deixar, porém, de destacar as contradições do regime ditatorial chinês: uma cleptocracia paternalista, em que uma economia de mercado predatória, sem limites, embora sob a tutela do Partido Comunista (cuja nomenclatura se transformou numa ávida classe de empresários), coexiste com a ausência de regras democráticas, de direitos fundamentais e de qualquer modelo de solidariedade social. Onde os custos da perfomance económica passam pelo números do trabalho infantil, pela deslocalização forçada de populações inteiras, pelo pesadelo ambiental - Xangai, Cantão e Pequim, cada uma com cerca de 20 milhões de habitantes, estão envoltas num permanente fumo tóxico, os principais rios são pouco mais que esgotos a céu aberto, com níveis de poluentes químicos assustadores, as condições sanitárias nas áreas populosas são propícias ao desenvolvimento de novas epidemias, etc -, pelas circunstâncias infra-humanas, de quase escravatura, em que vivem e trabalham grande parte dos trabalhadores fabris. Os quais chegam aos milhões todos os anos às grandes metrópoles, vindos das zonas rurais. A exploração é comum tanto às unidades mais pequenas (trabalho ao domicílio no ramo das confecções e sapatos) como àquelas de grande dimensão que as multinacionais subcontratam, da Nike à Timberland, da Walt Disney à Puma. Do outro lado, o enorme teste por que passa a maior democracia do planeta, sobretudo depois do episódio do estado de sítio declarado por Indira Gandhi nos anos 70. Ás voltas com níveis de corrupção altíssimos e uma burocracia paralisante.
Algumas curiosidades são relatadas, escolhidas de entre centenas: as autoridades de Nova Deli conseguiram remover as vacas da cidade através de um microchip desenvolvido localmente e implantado nos animais; os números do Instituto Indiano da Ciência, em Bangalore (a Silicon Valey indiana), a mais selectiva das Universidades, de onde saem os investigadores mais procurados pelas multinacionais da informática e da electrónica; porque é que a prevista cotação do iuane - a moeda chinesa, recentemente revalorizada, o que tornou o made in China um pouco mais caro, para alívio da Europa e EUA - pode constituir uma autêntica revolução nos mercados financeiros; as contrapartidas que o Governo chinês impôs à Airbus para firmar o recente contrato de fornecimento de 150 aviões A320; as notas de euro poderão ser impressas na Malásia, porque a empresa holandesa qua ganhou o respectivo concurso aí montou a sua principal unidade de produção. Imprescindível para a compreensão do mundo actual.


Ficha: China e Índia, Federico Rampini, Editorial Presença, Março 2007

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Legenda

"O homem não foi feito para a derrota. Um homem pode ser destruído, mas não derrotado."

Hemingway, O Velho e o Mar

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Preces atendidas - 16

Marlene Dietrich (2)


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domingo, 9 de setembro de 2007

Maddie

Os Mc Cann foram constituídos arguidos no caso do desaparecimento de Maddie, por suspeita de homicídio negligente e ocultação de cadáver. Os últimos desenvolvimentos apontam claramente para a hipótese de os pais estarem envolvidos na morte da filha. Tese que, ao longo da investigação, nunca foi posta de parte e para a qual convergem agora todas as pistas. Suspeita-se pois que, na noite de 3 de Maio, os Mc Cann terão sedado Maddie em dose excessiva, o que provocou a morte da criança. Deixa igualmente muitas dúvidas aos investigadores a sanidade mental da mãe, o que também poderá estar na origem do sucedido. Sobre o objecto do inquérito, pouco mais haverá a acrescentar. Já a decisão que mandou aplicar como medida de coacção o termo de identidade e residência (que, em rigor, nem deverá ser considerado como tal) merece alguns reparos. Até porque foi fixado na sua residência em Inglaterra. Qual a medida a aplicar, então? Para responder, necessário se torna apurar qual a moldura penal e a intensidade da culpa: o crime de ocultação de cadáver é punível com pena até dois anos. Por outro lado, as suspeitas da prática de homicídio recaem na negligência. Tal cenário só permite a imposição, em abstracto, de prestação de caução ou de apresentação periódica. Qualquer destas medidas se adequaria aos pressupostos previstos na lei processual penal: a proporcionalidade em relação ao crime e a satisfação das particulares exigências cautelares. Pelo que seriam as mais recomendáveis.
Por outro lado, a partida antecipada do casal para Inglaterra, sem disso informar a PJ, levanta algumas dúvidas legítimas quanto à existência de interferências do Executivo no processo. À precipitação da "fuga" não será também estranho, no mínimo, o medo da reacção daqueles que acompanharam de perto e apoiaram o casal, na suposição do sequestro da criança. Acompanharemos o desenrolar dos acontecimentos.

Medicina preventiva


É mesmo verdade. Eis um anúncio de 1949, onde se jura a pés juntos que a maioria dos médicos fuma Camel.

Momentos Zen - 21


Na última noite, uma brisa pura baixou do grande vazio


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sábado, 8 de setembro de 2007

O PCP no fundo do poço

Tomás Vasques dá-nos vários exemplos ilustrativos daquilo a que chama "Geografia ideológica do substantivo abstracto democracia." São eles:

1. «Tenho dúvidas que [a Coreia do Norte] não seja uma democracia» - Bernardino Soares, deputado do PCP.

2. «…não tenho conhecimento da existência de presos políticos [em Cuba]». - Bernardino Soares, deputado do PCP.

3. «Os traços da deriva antidemocrática e fascizante” [em Portugal]» - Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP.

A coisa

O CyberCentro existe há três anos, sediado no Solar dos Póvoas, em plena Praça Velha. O seu modo de funcionamento é uma incógnita. Uma vez fui lá, afim de consultar a net. Deparei logo com uma senhora, tipo contínua, com ar de poucos amigos. Perguntou-me ao que vinha, com o propósito de quem está ali para enxotar as "moscas" que venham perturbar o sossego às iluminárias que, em gabinetes à prova de som, planeiam a estratégia para o próximo milénio. Já arrependido da minha iniciativa, respondi-lhe que vinha à consulta de ortopedia, mas afinal era engano. Deixei-a mais aliviada, "Estava a ver que vinha consultar a internet!", deve ter pensado. "É melhor ir falar com o senhor doutor". Há sempre um "senhor doutor", ou um "senhor engenheiro", nestes gavetos de saber enigmáticos, nichos ideais para sinecuras e nomeações políticas à la carte. Pois bem, existe uma Associação, que supostamente gere o espaço. Mas qual é o seu estatuto? Público ou privado? Então não foi a Câmara que reabilitou o espaço? E o equipamento, quem o pagou? Mas a suprema ironia é esta: o site respectivo está em construção há, pelo menos, dois anos. Se por acaso acederem, é como se entrassem num estaleiro de uma obra sem fim à vista, onde o provisório se vai eternizando. Em conclusão, esta coisa é a aproximação mais fidedigna ao que chamo punheta tecnológica, tão ao gosto dos tempos que correm. CyberQuê?

Ainda a propósito da "Festa"

1. Em entrevista ao "Público" de ontem, Jerónimo de Sousa prossegue na senda do autismo e do delírio. Confrontado com a presença das FARC na "Festa", recusa-se a admitir que estas sejam uma organização terrorista. E vai mais longe: afirma que a queda da URSS abriu caminho ao neoliberalismo, entre outras enormidades. Lembro que esta organização está no index dos grupos terroristas, como tal classificados pela União Europeia e terá um stand próprio na Festa. Supondo-se que, tal como no ano passado, aí irá distribuir a sua publicação oficial "Resistência".
2. Sérgio Godinho e Vitorino vão apresentar os seus espectáculos nesta edição da "Festa". Dir-se-á que os compromissos artísticos são alheios à polémica e passam à frente. Mas é estranho que estas figuras estejam caladinhas que nem ratos, na perspectiva de integrar um acontecimento onde desfilam os partidos que sustêm alguns dos regimes mais opressivos e despóticos do planeta. Em relação ao Vitorino, já pouco há a esperar do personagem: um "crooner" provinciano, decadente e artisticamente desinteressante. Do SG esperava um pouco mais. Ou talvez não...
3. O PCP alerta para sinais de cariz fascizante na política de Sócrates, na revista distribuída na "Festa". Será que se esqueceu dos esqueletos que tem no armário! Digam lá se isto não parece mais uma história dos "X Files"? Uma coisa é certa: os comunistas tomaram de assalto a ala geriátrica da história e não vão de lá sair nunca mais...
4. Por iniciativa do Tiago Barbosa Ribeiro, do "Kontratempos", existe uma listagem em permanente actualização das postagens onde o caso é comentado.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Eu sei das vezes que procuras aquele lugar - 6

Ensinei-te a andar.

Eu sei das vezes que procuras aquele lugar - 5

Ainda posso dormir ao teu lado?

Eu sei das vezes que procuras aquele lugar - 4

Põe uma música. Danço, rodopio contigo.



Os 10 magníficos

A história conta-se em poucas palavras. O Manuel resolveu anunciar urbi et orbi quais os 10 livros que não mudaram a sua vida. Aí, desafiou alguns autores a fazerem o mesmo, iniciando uma cadeia que, sendo habitual na web, não o é pelo tema. A ideia pegou, tendo-se registado reacções curiosas. Aqui, aqui e aqui por exemplo. Pois bem, não quero deixar de me associar a este insólito exercício. Aqui vai a lista:
  1. "Os Cantos de Maldoror, de Lautréamont;
  2. "Kim", de Rudyard Kipling;
  3. "O Juiz e seu Carrasco" de Friedrich Dürrenmatt;
  4. "A Desobediência", de Alberto Moravia;
  5. "A Náusea", de Jean-Paul Sartre;
  6. "O Grande Gatsby", de Scott Fitzgerald;
  7. "A Torre de Barbela", de Ruben A.
  8. "O Deus das Paquenas Coisas", de Arundhati Roy;
  9. "A Paixão do Conde de Fróis", de Mário de Carvalho;
  10. "Berlim Alexanderplatz", de Alfred Döblin.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Percorrendo a blogosfera

Calcorrear a blogosfera é uma fonte de surpresas. Algumas delas têm vindo a ser aqui divulgadas regularmente. Acontece quando o desejo de partilhá-las com os leitores voa mais alto. O que nem sempre coincide com a oportunidade. Nesse lote, incluo tendências, sinais, padrões. Vejam-se então dois casos:
1. Sucede com alguma frequência abrir um blogue e apanhar imediatamente com o som ambiente com que o autor ou autores decidiram brindar o visitante. Não me parece ser essa uma boa prática. É como inundar a casa de decibeis sempre que se recebem visitas, sem passar pela cabeça que estas podem preferir o silêncio. Se a partilha de escolhas musicais fizer parte do perfil do blogue, tal como desejado pelo seu autor, existem soluções alternativas: colocar um ou vários plug in, seja do You Tube ou em formato Quick Time, iniciados por exclusiva opção do visitante; colocar ícones a apontar para rádios em streaming; colocar simples links direccionados para os conteúdos propostos, etc.
2. No "segmento" da blogosfera a que chamo intimista, noto amiúde uma enorme confusão entre intimidade e memorialismo (este mais confessional). No primeiro caso, pespega-se com uma prosa poética semi-melada, normalmente com destinatário certo. Coloca-se umas pitadas de onirismo de estufa, à mistura com uns avanços "sexy hot" e fotos "de partir o coco". No vocabulário, abunda o "tu", "azul", "corpo", "beijo", "esta noite", "muro", "escaldante", "verão", "sonhos", "ao teu lado", etc. Aqui vai um exemplo : quero conseguir ouvir-te murmurar o meu nome. e tu, consegues ouvir-me? não me deixes partir. sempre te segurei na tristeza de não conseguires ver-me. e...se me trouxesses aquele mar de outrora e eu encontrasse o teu joelho como que por acaso...renasceriam braços e olhos de encantamento para apertar fraquezas, sentir-te tremer e ver-te dormir. depois dum dedo num canto da minha boca. Que tal? Devo dizer que a menção ao joelho me transportou ao célebre conto "Alma Grande", de Torga. Espero que não haja nenhum "abafador" metido na história... Ora, a marca que separa as águas, meus amigos, é muito simples: mandar postais com feromonas ou viajar em voz alta. Desenrolar a língua pelas palavras, estendê-las à mercê de uma vaidade viscosa, embuçada, ou então soltar a serpente pelas palavras, outras, ser mordido, morder, espantar, ilusionar, ir atrás, com a cobra na mão, sobreviver às estações fatais, enquanto alastra a silenciosa desordem das células, snake snake, aí vai ela...

Momentos Zen - 20

O canto das cigarras através do bosque.

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quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Eu sei das vezes que procuras aquele lugar - 3


Nas quedas agarra-me. Eu serei o forro do teu chão.

Eu sei das vezes que procuras aquele lugar - 2


Vais amachucar as tuas raivas no meu corpo. Mas eu fico contigo.

Eu sei das vezes que procuras aquele lugar - 1


Sou ainda uma cara estranha para ti. Mas nunca mais serás a mesma pessoa.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Ainda a propósito da "Festa"

1º Como bem lembrou um leitor, falta ainda referir um dos convivas de luxo na festa dos comunistas, este fim de semana: o Partido Comunista da Federação Russa. Pela mão do sinistro Zyuganov, já conseguiu não só reabilitar Estaline como aliar-se estrategicamente à extrema-direita e ao nacionalismo mais retrógrado (a Rússia como a nova Atlântida Vermelha, etc.). Fazendo pois um grande jeito a Putin, que assim aparece como "moderado". Toda a história contada aqui e lembrada aqui e aqui.

2º O Marxismo faliu em toda a linha como programa de acção. Nem mesmo os "comunistas" ainda falam em seu nome. Bem pelo contrário. Marx sobreviverá na galeria dos pensadores como o melhor intérprete das consequências da revolução industrial no séc. XIX. Em contrapartida, temos o maior dos seus contraditores, embora não declarado: Max Stirner. Marx dedicou-lhe postumamente a única obra intuitu personae que escreveu - "São Max" - um volume enorme onde refutava as suas teses. Stirner foi homem de um só livro: "O Único e a sua propriedade". A obra maldita do pensamento filosófico contemporâneo, que aqui e aqui tive ocasião de analisar. Marx perdeu. Stirner teve razão antes de tempo. É que não é a luta de classes que faz mover a história, mas o(s) indivíduo(s).

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Stalker

A cegueira

Li há pouco o livro de memórias de Maria Filomena Mónica, intitulado "Bilhete de Identidade". Aparte o comentário à obra, que ficará para outra altura, detive-me num episódio relatado na página 325. No início do "Verão quente", em Maio de 1975, Jean-Paul Sartre foi fotografado a empunhar uma G-3 à entrada do Ralis, o celebrizado quartel general dos SUV (Soldados Unidos Vencerão) e onde teve lugar o famoso juramento de bandeira com o punho erguido. O chamado turismo revolucionário estava no auge. Todos os dias desembarcavam em Portugal resmas de artistas e intelectuais franceses com a ressaca do Maio de 68, deslumbrados com uma revolução doce e portátil. Touraine, Cohn-Bendit, Althusser e outros andaram por aí, tentando perceber porque é que um sopro mais forte fez ruir um regime ditatorial. E também comprovar, no convívio com o povo "genuíno" e os seus ainda mais "genuínos" intérpretes, a validade do seu pensamento engagé. Nesta altura, o marxismo era tema obrigatório, mesmo nas Universidade mais conceituadas. Poucos eram os intelectuais "de esquerda" que ousavam criticar o "socialismo real" praticado a Leste, apesar da Hungria e da Primavera checa. A simpatia de alguns iconoclastas ia para... a revolução cultural chinesa. A linhagem de Sartre provem de Breton, Aragon, Éluard, Malraux. Todos eles fascinados com Estaline e as delícias dos planos quinquenais. Nunca se ouviu das suas bocas a mais leve alusão aos kulaks. Que descansem em paz.

domingo, 2 de setembro de 2007

Os amigos são para as ocasiões

Este ano repete-se o escândalo: entre as várias organizações "amigas" do PCP presentes na Festa do Avante, no próximo fim de semana, pontuam as FARC (um grupo narco-terrorista colombiano que sequestrou Ingrid Betancourt, candidata à presidência naquele país, e matou 11 deputados também raptados). Já no ano passado a situação foi amplamente denunciada na blogosfera, tal como alertei nesta postagem. Confirmadas estão igualmente as presenças do Partido Comunista de Cuba, Partido Comunista da China, Partido Comunista da Bielorússia e PT da Coreia do Norte. Estruturas que, como se sabe, velam pelo estabelecimento dos direitos fundamentais e das regras democráticas nos respectivos países. E que, correspondendo ao apelo do partido irmão, se vêm reunir em volta do fogo da solidariedade internacionalista. Nunca como aqui foi tão verdadeiro o ditado popular "diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és". Todavia, a escassez de reacções condenatórias é aviltante: grande parte da comunicação social e da opinião pública "de esquerda" continua a ignorar a afronta. Como se a máquina comunicacional do PCP, que não cessa de enaltecer as virtudes monstruosas do "socialismo real", criasse um muro de silêncio, capturasse uma autoridade moral tão anacrónica como insuficientemente desmontada. Criando um inconfessado escrúpulo em encarar os factos: à medida que iam chegando os sinais da derrocada do movimento comunista internacional, o PCP foi-se acantonando à volta de fantasmas, de ícones de uma meta-história desmentida pela História, de monstros nascidos do ressentimento e da ausência da razão. Tal como na célebre gravura de Goya.

Consultar aqui a lista das reacções havidas na blogosfera sobre o assunto.

Publicado no jornal "O Interior"

Momentos Zen - 19

O pescoço do cisne, acima e abaixo no lago sonolento.

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Graffitis - 18


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sábado, 1 de setembro de 2007

Lido

"Agora como há dez anos, de Diana Spencer não adianta lamentar a morte. Mas sim a vida triste que – noblesse oblige, dirão uns tantos – teve de viver. E a de tanta gente que dentro de tanta tristeza consegue descobrir glamour e sinais de felicidade."

Rui Bebiano, no "Terceira Noite"