terça-feira, 26 de junho de 2007

Vida de artista


Há dez minutos, no Karamelo Club, em Ibiza, ganhando 100 linden à hora por estar a dançar. Nada mau.

Post it

"Lo prometido es deuda" é um site espanhol deveras curioso. Como se explica na entrada, trata-se de um Wiki (i.e. os dados são organizados de forma participada, como na Wikipédia) para recordar a todos os políticos que tudo o que prometam pode ser utilizado contra si. O objectivo é, basicamente, recompilar tudo o que aqueles incluem nos seus programas eleitorais, e depois reunir quais as promessas que realmente foram cumpridas. Fica assim comprovado o grau de fidelidade dos políticos àquilo que anunciam. A iniciativa nasceu a partir das recentes eleições autonómicas e municipais. Todos os dados podem ser consultados por ordem alfabética, escolhida a região ou localidade, força política e tema respectivos. Gostava de ver uma web destas por cá. A contabilidade seria desastrosa.

O prémio

domingo, 24 de junho de 2007

O vento

Quase nunca a solidão dá a conhecer o seu verdadeiro rosto. Na maioria dos casos, evocamo-la como uma fábula, ora mais doce ora mais assustadora, consoante o efeito pretendido. Adornamo-la como um falso pressentimento, um anticlimax de Carnaval, um temor descartável. Muitas vezes é a mentira de recurso para chegarmos à verdade. À sombra da qual nos encostamos, sem nunca inverter o paradoxo. Em determinadas circunstâncias, aparecem tímidos sinais, sons longínquos e quase sempre desconcertantes, que poderiam iluminar toda uma vida. Aí, o processo é o inverso: os acenos da verdade transformam-se na mais prolixa das mentiras. E, assim, a opus magnum da aceitação de uma condição fundamental dá lugar à ilusória familiaridade com a vertigem. Perante a qual, curiosamente, mudamos de passeio mal nos cruzemos com ela. Todavia, há momentos em que o encontro é inevitável. Então descobrimos que o que nos assusta não é o que esperaríamos encontrar, mas precisamente o que lá não está. E que uma manobra de diversão não se destina a encobrir o medo, mas o desacerto. A solidão é, talvez, uma impossibilidade que transformamos numa probabilidade, num risco, numa assombração. Outra coisa é o rosto neutro do desamparo absoluto, quando por vezes mostra a sua face brutal. Capaz de derrubar as mais robustas compleições, as mais sólidas certezas. Ocasionar uma irreversível contagem decrescente. Ou então, simplesmente, atiçar o fogo.

Momentos Zen - 9

Gosto da realidade. Sabe a pão.

Ver anterior
Quando a suprema dor muito me aperta,
Se digo que desejo esquecimento,
É força que se faz ao pensamento,
De que a vontade livre desconcerta.

Assim, de erro tão grave me desperta
A luz do bem regido entendimento,
Que mostra ser engano ou fingimento
Dizer que em tal descanso mais se acerta.

Porque essa própria imagem, que na mente
Me representa o bem de que careço,
Faz-mo de um certo modo ser presente.

Ditosa é, logo, a pena que padeço,
Pois que da causa dela em mim se sente
Um bem que, inda sem ver-vos, reconheço.

Luis de Camões

sábado, 23 de junho de 2007

Album de família

Veja-se com atenção esta foto de "família" obtida no último Conselho Europeu, às voltas com o imbróglio do tratado constitucional. Em parte causado pelos irritantes e empatas gémeos polacos. Nada nesta imagem nos diz o que cada um pensa. Pois com a ajuda do meu anjo da Guarda, consegui descortinar os pensamentos íntimos destes senhores. Assim, de cima para baixo e da esquerda para a direita:
1. Acabem lá com esta seca, pois estou mortinho por ir dar uma mija.
2. Eh pá, depois disto vou mas é ganhar a vidinha como duplo do Tabucchi. Ou, com uma peruca à maneira, do Sala. Sem nada, passarei pelo fantasma do Pessoa. Farei tudo só para não ouvir dizer que sempre quis ser uma drag queen. Estou farto!
3. Pronto, tinha que ser! Quelcuno se peidou! Se calhar foram os malditos gemelli que mandaram uma bombinha de carnaval, solo per chateare la testa.
4. Hummm, vous êtes dans la suite 42! Seule ou acompagné?
5. Oh! You're a nutty boy!
6. Eu bebia mas era uma guiness e punha-me a cantar "I wish my love was a red red rose" em gaélico. Espera lá, quem é este cromo aqui à frente a compôr a gravata?
7. Esto me recuerda cuando yo era un joven escuteiro en los acampamientos en Astúrias y al final cantavamos todos al redor del fuego. Me dicen que parezco un idiota. Todavia mi mujer no lo cree.
8. Ainda me lembro quando era chavalo. Aquilo era só smarties e sugos. E aquelas praxes malucas que fazíamos aos novatos!? Quando estive internado ainda levei alguns choques eléctricos. Ainda bem, pois assim "abracei a carreira política", como diz o pessoal lá do bairro, dando cotoveladas (eu bem noto!). Eh, eh,eh!
9. Eu fui ó jardim celeste, giroflé, giroflá... Caramba, já não falta muito para receber esta malta amiga lá em "baixo". Quem diria, hemmm! Certo é que já vou na página 74 de "O Perfeito Cavalheiro", que em boa hora a Fernanda me ofereceu. É aquela parte de como estar à mesa. Foi mesmo a tempo. Entretanto deixa-me cá compor o nó à gravata. Eu devia era andar de capacete, como os meus "colegas" quando vão às obras.
10. É hoje, é hoje! Esperei trinta anos por isto! Querem ver, querem? "Hello, my name is Bond. James Bond." Que tal?

Graffitis - 14


Ver anterior

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Formar para quê?

A publicidade agressiva veiculada pelos centros de formação e estabelecimentos de ensino privados (e alguns públicos) não tem limites. É o vale tudo para captar alunos. Nalguns casos aproveitando medidas positivas do Governo no âmbito da qualificação e do programa "Novas Oportunidades". O meu pasmo atingiu o limite ao ver um anúncio da Escola Profissional da Guarda (sociedade promovida pela Ensiguarda) num jornal local. De entre alguns cursos profissionalizantes, que conferem equivalência ao 12º ano e acesso ao ensino superior, figura o de "Serviços Jurídicos". Que é apresentado como habilitante para o "desempenho de tarefas administrativas e processuais, de apoio a actividades desenvolvidas nos Tribunais, nos Cartórios Notariais, nos Escritórios de Advogados, nos Gabinetes Jurídicos das Empresas / Instituições". Nos objectivos definidos na página respectiva, refere-se mesmo a "aplicação de conhecimentos adquiridos sobre o processo penal, processo do trabalho e processo civil". Devo dizer, desde logo, que me congratulo com a iniciativa e não ponho em causa o seu contributo para o desenvolvimento da região. Mas não é difícil perceber que, na situação descrita, estamos perante um caso de publicidade enganosa. Que porventura frustrará amargamente as expectativas de muitos jovens que se deixem ir no engodo. Porquê?
Em primeiro lugar, porque as funções descritas caem (não necessariamente mas com muita probabilidade) no domínio da procuradoria ilícita. Que constitui crime, nos termos do art. 7º da Lei nº 49/04, de 24.8. É que, segundo o art. 61º, nº 1 do Estatuto da OA, aprovado pela Lei nº 15/05, de 26.1, "só os licenciados em Direito com inscrição em vigor na Ordem dos Advogados podem exercer actos próprios da advocacia". E que actos são esses? Responde o nº 4 e seguintes do art. 1º da Lei 49/04, para os quais remeto. Refira-se ainda que é vedado o funcionamento de escritórios de procuradoria ou consulta jurídica que não sejam constituídos exclusivamente por advogados ou solicitadores, nos termos do art. 6º do mesmo diploma.
Em segundo lugar, não vejo onde nos outros locais mencionados no anúncio possa haver lugar ao "apoio". A não ser como futuros empregados forenses, ou tarefeiros nas repartições notariais. Quando se refere a aptidão para exercer as funções de Oficial de Justiça, esquece-se que existe um centro de formação específico do sector. Seja como fôr, os conhecimentos obtidos poderão revelar a sua utilidade. Mas que será sempre marginal em relação aos objectivos anunciados. Então para quê dar a entender outra coisa?

O Poder e a Glória

Lembram-se de Júlio Santos, o ex-presidente da Câmara Municipal de Celorico da Beira, que renunciou ao mandato em 2002, em virtude de estar a ser investigado pelo MP, suspeito da prática de vários ilícitos? Pois foi agora condenado, em primeira instância, na pena de cinco anos e dez meses de prisão, pelos crimes de corrupção activa para acto ilícito, branqueamento de capitais, abuso de poder e peculato de uso. Como pena acessória, foi-lhe ainda imposta a proibição de exercer cargos públicos durante cinco anos. O colectivo considerou provado, para além da exigência de "luvas" a empreiteiros diversos, que o ex-autarca "manifestou desde cedo apetência pelo poder, colocando-o, muitas vezes, ao serviço dos seus interesses pessoais, mormente de conteúdo patrimonial". Que incluiu a compra de um apartamento em Lisboa que colocou em nome de familiares. Segue-se uma listagem de pagamentos do "Fundo Permanente" da Câmara ao autarca, para despesas pessoais, que me abstenho de comentar, pois fala por si. O acordão refere que, só em ajudas de custo, estadias em hotéis e artigos de uso pessoal pagos a J.S., a autarquia foi lesada em cerca de 21 500 Euros. A que se juntam cerca de 220 000 Euros só em restaurantes, entre 1998 e 2001...
Depois da glória de ter destronado o "dinossauro" que o antecedeu na câmara celoricense, J.S. tinha todas as condições para exercer um mandato brilhante e produtivo. Mas não. Preferiu a confrontação permanente, a divisão e a autocracia. Encarou as suas funções não como um fim, mas como um meio para as suas guerras pessoais. Para o terceiro mandato, acabou por se candidatar pelo "Partido da Terra". Era o princípio do descalabro. As condenações judiciais começavam a chegar.. A Câmara estava à beira da falência técnica. J.S. acabou por ser o seu próprio coveiro, sendo apenas lembrado por aquilo que realmente representava politicamente: nada ou muito pouco. A subserviência dos que o rodeavam, a ausência de pluralismo e de cultura democrática, foram o manto que durante tanto tempo encobriu o carácter absolutista, unipessoal, do seu magistério autárquico. Que interpretou como uma derivação enriquecida e revista de um paternalismo sinistro, de carácter feudal. Acredito que a grande maioria dos autarcas sejam sérios e capazes. É deles que Celorico e o país precisam.

A compressão

Vale a pena ler este relato de António Balbino Caldeira, com contornos kafkianos. Lembro só que este professor é o autor do blogue "Do Portugal Profundo", onde questionou, em primeira mão, a forma como José Sócrates obteve a sua licenciatura e o título profissional que usa. Razão pela qual foi constituído arguido, em virtude de queixa apresentada pelo alegado engenheiro. E que não é demais recordar a realidade de um país onde exercer os mais elementares direitos de cidadania é um tiro no escuro. E que a delação e a prepotência continuam a ser premiadas, 33 anos depois do fim do Estado Novo. Em definitivo, José Sócrates envergonha o cargo que ocupa e o país que governa.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Hélices solares


no "Philadelphia Folk Festival", Agosto de 1999

Os Huun-Huur-Tu são um grupo de música tradicional da República de Tuva, a terra dos 8 000 rios, no extremo sul da Sibéria, na fronteira com a Mongólia. Estiveram hoje no TMG, onde apresentaram um espectáculo no âmbito do ciclo VOZES DE OUTRO MUNDO. São os representantes mundialmente reconhecidos da sofisticada arte do “throat singing” - uma técnica de origem xamânica, redescoberta no Ocidente nos anos 80 - e com uma vasta discografia editada. Esperava-se um concerto memorável. E assim foi. Uma experiência sonora que nos transportou ao centro, ao que é, aos confins do que todos os dias esquecemos mais um pedaço.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Apenas as palavras

Apenas as palavras quebram o silêncio, todos os outros sons cessaram. Se eu estivesse silencioso, não ouviria nada. Mas se eu me mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras me tornaram surdo, ou que realmente cessaram. Mas estou silencioso, por vezes acontece, não, nunca, nem um segundo. Também choro sem interrupção. É um fluxo incessante de palavras e lágrimas. Sem pausa para reflexão. Mas falo mais baixo, cada ano um pouco mais baixo. Talvez. Também mais lentamente, cada ano um pouco mais lentamente. Talvez. É-me difícil avaliar. Se assim fosse, as pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos a minha boca. E eu deveria ouvir, em cada pequena pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o quebram. Mas nada disso, não é assim que acontece, é sempre o mesmo murmúrio, fluindo ininterruptamente, como uma única palavra infindável e, por isso, sem significado, porque é o fim que confere o significado às palavras.

Samuel Beckett, in 'Textos para Nada'

segunda-feira, 18 de junho de 2007

O Circo Costa na senda do porguesso

Foto: Kaos

O circo Costa assentou arraiais na capital. Até agora, os números de prestidigitação, acrobacia e animais ferozes da trupe de Júdice, Salgado y Sanches tem atraído a atenção do respeitaaaaável público, devidamente pastoreado pela comunicação social indígena. Só falta o palhaço rico, Costa himself, ser entronizado no cargo. É o que os números das sondagens indicam e as movimentações para as sinecuras dos sempre em pé "eu posso ser qualquer coisa" deixam adivinhar. Lisboa vai ser pois o "Ministério ao lado" para o ex-ministro. Mas a caixinha das surpresas ainda não se esgotou. Agora veio anunciar a número três da lista, uma Sara qualquer coisa, que a Câmara irá escancarar as suas portas para casamentos gay no respectivo Salão Nobre. Li a notícia duas vezes e fui tomar um café bem forte, para ter a certeza que não era uma alucinação. Já estou a ver o João Baião e a Dina a animar os festejos. É que, se há tema compósito que merece a minha total e inequívoca desaprovação, é o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Acho piada às ruidosas associações "do sector", com o seu triunfalismo serôdio e arrogante, sem perceberem que, se lhes é dada importância, será por razões economicistas - são bons consumidores. Por outro lado, não acredito que a grande maioria dos homossexuais queira que o Estado se intrometa na sua vida privada, sob a forma da extensão contra natura dos efeitos contratuais típicos do casamento. Enfim, como diz o Dragão, "tudo se coordena e inclina para que Portugal se converta, a breve trecho, num país de galfarros hiperactivos e de paneleiros felizes".

domingo, 17 de junho de 2007

Mobbing

O "Combustões" não pára de me surpreender no melhor sentido. Desta vez, o assunto é o mobbing. Sabem o que é? Primeiro fui ver aqui: qualquer comportamento abusivo (assédio moral, violência emocional, bullying) traduzido em palavras, actos - ou sob qualquer outra forma de comunicação individual - que poderão afectar negativamente a dignidade física / mental ou a integridade de uma pessoa, a realização de actividades no contexto de uma função ou um determinado ambiente de trabalho. Como se nota, o conceito é, por si, demasiado impressivo para se circunscrever à esfera das relações laborais. E é nessa abrangência que o texto do blogue se situa:
É uma prática bem portuguesa, ao contrário do que muitos poderão pensar. Aqui não se mata ninguém no Forum; as pessoas são "desaparecidas" por processos mágicos. Deixam de ser convidadas; depois, deixam de ser referidas, não aparecem nas reuniões, corta-se-lhes uma fatia do salário, depois outra e, finalmente, desaparecem. Um dos mais praticados processos de destruição de identidade pública leva, sintomaticamente, um designativo que poucos conseguirão identificar: mobbing. (...) é uma prática complexa, tão complexa que raramente se conseguem reunir provas que confirmem a sua existência; daí que seja um dos expedientes mais usados num país onde a cobardia prevalece. Meias-palavras, uns pós de intriga, uma pitada de difamação, muita invejazinha, medíocres e tolos à mistura e, pronto, uma vítima isolada, denegrida, intimidada e "desaparecida". Este processo campeia nos ministérios, nas universidades, nas câmaras, nas empresas públicas e privadas. Praticam-na, sobretudo, os desclassificados trabalhando em rede, os tolos ciosos das suas quintas e campanários, os descerebrados e incapazes aterrados pela perspectiva de se baterem contra homens (e mulheres) dotados de coluna vertebral, princípios e capacidade de realização.
O termo designa pois o repositório de toda uma série de vícios culturais - a inveja, a "cunha", o compadrio, o favoritismo, a mediocridade como bitola normalizadora - e não só os seus efeitos devastadores para a dignidade pessoal dos lesados, para o bom funcionamento das instituições, a competitividade das empresas e a qualificação do país.

Os cavalos também se abatem

Eis o meu holograma hoje à tarde, no "Second Life", tentando ganhar umas massas a dançar numa discoteca em Samos, na Grécia.

Vale mais tarde do que nunca

Antes gostávamos de dizer que a direita era estúpida, mas hoje em dia não conheço nada mais estúpido que a esquerda

José Saramago, numa conferência em Santilhana del Mar, norte de Espanha.

Todavia, o autor de "Levantado do Chão" não deixa de sucumbir perante o milenarismo neo-realista: "Estamos a chegar ao fim de uma civilização e aproximam-se tempos de obscuridade, o fascismo pode regressar; já não há muito tempo para mudar o mundo". Pelos vistos, o fim da modernidade (isto é, do entendimento da história como uma unidade) e da guerra fria ainda não foram digeridos pelo nobelizado. Mas é com gosto que se registam os seus apelos à insubmissão. Mesmo que tenham o sabor requentado de um soundbyte apropriadado para a plateia. Ou sabendo-se que, para um comunista, a liberdade auto-determinada é pouco menos do que uma heresia. Por outro lado, o fascismo não regressa, pois já aí está. Convenientemente diluído no quotidiano, até se tornar quase indetectável. Dizia ontem o Pedro Mexia na sua crónica do "Público", a propósito de um novo absolutismo - a idealização do mundo infantil - que se hoje fizesse uma simples e inocente festa numa criança na via pública, seria logo olhado de viés pelos transeuntes. Possivelmente, um polícia iria tomando notas, acrescento.

Preces atendidas - 10

Ingrid Bergman

Ver anterior

sábado, 16 de junho de 2007

Alerta

ATENÇÃO. António Balbino Caldeira já é arguido. O Procurador Geral da República já veio dizer que se trata de um procedimento normal. Resta saber se não seria bem mais "normal" o cidadão José Sócrates ter sido acusado do crime de usurpação de funções. Irei acompanhando novos desenvolvimentos.

Momentos Zen - 8

Quando o caminho chegar a um termo, muda. Depois de mudares, continuas em frente.
Ver anterior

sexta-feira, 15 de junho de 2007

O index


O dedo porcino em riste não engana ninguém. Margarida Moreira, a conhecida saneadora, perdão, directora da DREN, esteve no seu melhor, em entrevista ao DN. Às tantas, avisa, com a subtileza de um Panzer avançando na frente Leste : "nós temos tudo o que tem saído na comunicação social, nos blogues, ofícios, em tomadas de posição, em artigos de opinião..." Perceberam? A senhora directora não dorme em serviço. Uns dedicam-se a coleccionar selos, outros autocolantes, outros ainda bilhetes de espectáculos... Esta senhora vai mais longe: investiga, compila, recolhe, contabiliza, está atenta, junta lenha para o auto de fé final. Não lhe bastou a recondução no cargo. Quer mais. Gosta de sangue. Tem que agradar aos chefes partidários a todo o custo. Todos os regimes em todas as épocas foram servidos por zelotas deste jaez. Quando um se destaca, tal facto tem uma inegável utilidade marginal: afinal têm rosto, não são figuras abstractas que entram pela manhã dentro em nossa casa quando formos Joseph K. Ficámos pois a saber que o saneamento do professor Charrua foi um aviso, o sinal dos tempos que hão-de vir. E que esta senhora é a sua lídima mensageira.

Sobre esta nova Torquemada de saias, carne pra canhão de uma ofensiva generalizada conduzida pelo poder socialista para manietar as liberdades, é imprescindível dar uma vista de olhos neste comentário, no "Combustões".

Imagens do Centenário Sanatório - 2

Entrada no HSM

Guarda de honra

Trono Real no palco

Oradores no palco

Ver anterior

quinta-feira, 14 de junho de 2007

O FCP a arder

Pinto da Costa foi agora acusado de corrupção activa desportiva. O caso remonta ao jogo FCP - Estrela da Amadora. O cheiro da merda tornou-se insuportável. Uma limpeza siciliana e o caso ficava resolvido. Mas ainda temos que esperar pelo veredicto judicial. "Ligaram-me para pedir fruta para logo à noite. Posso levar à vontade?". Pergunta o cappo Araújo e Pinto, pensando na saúde sexual do árbitro. Responde Pinto Corleone da Costa que "tudo bem" pois "que servia para dormir". Não descansarei até ver esta gente em Custóias.

A vida alternativa


O "Second Life" é muito mais do que um jogo. Basicamente, trata-se de um número potencialmente infinito de ambientes virtuais em 3D, onde os vários personagens se deslocam e recriam permanentemente. A comunicação é feita em tempo real e o nosso "boneco" pode teletransportar-se em qualquer momento para os vários cenários que desejar. Tudo tem um preço, é claro. Até a roupa que se usa. E há mil e uma formas de se ganhar dinheiro. Desde ganhar um rodeo até à prostituição, passando pela troca directa de objectos e conseguir dançar nú durante x tempo numa pista em Ibiza virtual. De resto, pode-se consumir qualquer substância e aceder a qualquer lugar, desde que não faltem os "trocos". Por falar nisso, a unidade monetária é o "Linden". Ontem, por exemplo, "puseram-me" um charro nas mãos. Passado um bocado, já andava o boneco aos tombos, vendo tudo turvado. Nada é deixado ao acaso: se se está numa pista de dança, ouve-se o som que lá passa; se em vôo, é a doçura da brisa que nos envolve; se numa rua movimentada, todos os sons vêm ter connosco. Tudo é possível, menos morrer. Para uma melhor compreensão do fenómeno, basta dizer que o número de residentes já vai em 7. 224. 845 e diariamente se gastam 1.321.285 linden. Para entrar, basta um registo e a criação de um personagem. Pelo que vi até agora, nada do que se lá passa difere grandemente da vida real: uma deriva narcisista onde cabe a busca alucinada por dinheiro, sexo, imagem, reconhecimento. Mas também se nota uma disponibilidade e uma generosidade que escasseiam no mundo "real". Para além de tudo o resto, o jogo tem uma particularidade: é a concretização inequívoca da máxima iluminista " todos nascem livres e iguais". Tanto assim é, que todo o "estreante" é lançado como veio ao mundo numa paragem inóspita. Depois é só questão de lançar mão dos expedientes necessários para o "desenrascanço". Até aqui, para o tuga, a "coisa" ainda está naturalmente de feição. O problema é que o jogo é uma criação americana. Como tal, existe nele uma ingrediente-base que nos é ainda estranho: a meritocracia. Um imperativo de justiça social, mas que facilmente se pode tornar na falácia de bolso dos poderosos.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

A cartola

A poesia, como a música, não é inocente. Também a poesia cantou feitos militares e a morte. Alguma considerada da melhor. Ao som da música marcharam soldados; Wagner e Beethoven foram banda sonora da infâmia nazi. E contudo... O ritmo de um verso desconcerta o ritmo do poder: para tanto, só é preciso que bata no tempo fraco deste com o seu tempo forte. O poder acaba por vencer o poeta, mas não o efeito do poema.

A Nostalgia da Europa

Na Idade Média, a unidade europeia repousava na religião comum. Nos Tempos Modernos, ela cedeu o lugar à cultura (à criação cultural) que se tornou na realização dos valores supremos pelos quais os Europeus se reconhecem, se definem, se identificam. Ora, hoje, a cultura cede, por sua vez, o lugar. Mas, a quê e a quem? Qual é o domínio onde se realizaram valores supremos susceptíveis de unir a Europa? As conquistas técnicas? O mercado? A política com o ideal de democracia, com o princípio da tolerância? Mas, essa tolerância, que já não protege nenhuma criação rica nem nenhum pensamento forte, não se tornará oca e inútil? Ou então, será que podemos entender a demissão da cultura como uma espécie de libertação à qual nos devemos abandonar com euforia? Não sei. A única coisa que julgo saber é que a cultura já cedeu o seu lugar. Assim, a imagem da identidade europeia afasta-se do passado. Europeu: aquele que tem a nostalgia da Europa.

Milan Kundera, in "A Arte do Romance"

terça-feira, 12 de junho de 2007

Imagens do Centenário Sanatório - 1

Chegada à Estação da CP

Recepção à saída da Gare

O Arcebispo - Bispo

No Largo da Misericórdia

Conforme foi aqui anunciado, decorreu no passado dia 19 de Maio e evocação da inauguração do Sanatório Sousa Martins, na Guarda, integrada nas comemorações do respectivo centenário, que contou com a presença de Suas Magestades o rei D. Carlos e a Rainha D. Amélia. Eis algumas imagens registadas durante o acontecimento.

Leituras


Porto, 1964, tradução de A. Augusto dos Santos

Foi em Os Irmãos Karamazov que Dostoievski se implicou por inteiro, sendo considerada a sua obra de maior fôlego. Escrita na fase final da sua vida, estava previsto que incluísse três capítulos, cada um deles dedicado a um dos irmãos (Aliocha, Dmitri e Ivan). A morte do romancista veio impossibilitar a criação do 3º volume, referente ao primeiro. Nesse período, o autor já havia abandonado o jogo e tentava restabelecer-se da morte de um filho. Nesta obra está presente um vasto painel da Rússia de então, como uma síntese grandiosa e inquestionável dos seus livros anteriores. Se a concepção religiosa de Dostoievski e a sua prosa dramática pudessem ser separadas, essa habilidade de mergulhar em vozes interiores e traçar um amplo e complexo painel social não existiria. E Dostoievski não seria tão caro ao leitor sensível, muitas vezes na adolescência, que é tão tocado pela sua intensidade moral, embora podendo dispensar o seu moralismo.
Já neste blogue se editaram diversos textos com referência à vida do romancista e aspectos particulares da sua obra. Ver aqui, aqui e aqui.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

A Zona


De entre todos os filmes que não caíram no imerecido inferno do esquecimento, destaco com nitidez Stalker, de Andrei Tarkovski. Realizador que permanecerá na história do cinema pelo poder sugestivo das suas imagens e alegorias filosóficas, que ilustram preocupações colectivas do seu tempo. De entre as obras do realizador que pude ver, Stalker interessou-me de forma particular, entre outras razões, pela verosimilhança da duração do tempo da acção: os minutos sucedem-se em planos que apenas mudam para expressar a lentidão do que não pode ser fugaz. Porque este filme não é, creio, senão a construção em imagens de uma ideia de Tarkovski sobre o cepticismo e a incapacidade actual de ter fé e esperança em algo. Mediante uma travessia numa paisagem desolada e onde se revelam as hesitações e sofrimentos da atribulada consciência de três personagens. Como? Em resumo, numa região inóspita ocorreu um acontecimento que não se sabe ao certo o que foi — caiu uma nave espacial, um meteorito... e as autoridades isolaram o perímetro, proibindo o acesso. Não obstante, um homem (stalker, em inglês aquele que vigia a caça) guia os que desejam descobrir esse segredo. Um deles é um escritor, outro um cientista. Os três, dificilmente, atravessam a barreira vigiada desse território e nele progridem. O stalker arrisca-se muito na tarefa, mas anseia cumprir os seus objectivos: quer que eles saibam o que há ali, que tenham fé em algo e creiam nesse lugar, no qual, aparentemente, há um recinto onde os desejos se tornam realidade e se alcança a felicidade. Desde as primeiras sequências, está totalmente conseguido o ambiente de expectativa inquietante nessa zona que atravessam. O caminho é perigoso, avançam com precauções, já que existem riscos mortais. Atravessam edifícios em ruínas com a constante presença da água (como mais tarde em Nostalgia), que flui sobre estranhos objectos submersos, visíveis através da irreal barreira líquida, numa sequência vertiginosa. Um uivo distante sugere a vida animal, a natureza enigmática. As autoridades que proibiram a entrada na zona fazem o que sempre faz o poder, quando teme que o conhecimento possa ameaçar os seus privilégios. Face ao interdito, o stalker incita à transgressão, como um rebelde ou um iluminado. Trata com rudeza o cientista e o escritor, que por vezes se rebelam contra as suas ordens. Graças às quais praticam uma espécie de marcha forçada neste lento percurso, cruzando paragens onde o temor lhes vai dando lucidez. Quando chegam ao umbral do recinto definitivo, o stalker convida-os a entrar, para que formulem os seus desejos. Todavia, ambos presentem, num assomo de clarividência, que não têm nenhum no qual possam depositar as suas esperanças. Discorrendo, ao invés, sobre o fundo decepcionante das suas vidas.
Em Stalker, a acção é irrealidade ou alegoria, o trabalhoso progresso da experiência. O realizador —segundo o próprio afirmou— nada propôs ao espectador, pois os elementos da obra faziam parte do seu mundo mais reservado, crendo assim que não poderiam ser interpretados. O que não impede que o espectador os relacione com as suas próprias vivências e delas extraia dados novos, que o habilitem a questionar-se no seu domínio íntimo, cumprindo o que Tarkovski considerou uma purificação.

A brisa em volta

Poucos momentos se conhecem da vida de Qu Yuán, o primeiro poeta chinês. Terá nascido no seio de uma família aristocrata, cerca do ano 340 a. C. Ocupado alto cargo como oficial no Reino de Chu. Sido expulso devido a calúnia. Escrito o Li Sao (Elegia da Separação). Escrito o Jiu Ge (Nove canções). Escrito uma parte da colecção de textos do Reino de Chu que dá pelo nome de Chu Ci (Versos de Chu). Aquando da notícia da queda do Reino de Chu às mãos do Reino de Qín, ter-se-á lançado ao rio Mì Luó, suicidando-se, de desgosto. Contava 63 anos e corria o ano de uma era anterior à de Cristo em 277 anos. Em resumo: nasceu, conheceu a glória, a desgraça, a escrita e a morte por asfixia. Ao todo, conto sete dias assinaláveis. Os dois dos extremos biológicos do mortal, os dois dos limites da sua vida pública, os três em que a sua mão se curvou para dar a ver através de tinta.
Desconhecemos por completo que tempo fez durante estes dias que se destacaram das seis dezenas de anos (mais mil dias) que durou a sua vida. (Choveu? Fez sol? Nevou? As nuvens iam altas?) E como seria diferente a sua biografia aos nossos olhos se nos tivesse chegado a singela frase: Quando Qu Yuán iniciava a redacção de Jiu Ge, um pouco acima, a brisa contornava as laranjas que ainda se conservavam suspensas no azul.

domingo, 10 de junho de 2007

Momentos Zen - 7

Sabemos qual é o som de duas mãos a aplaudir. E qual o de uma mão a apaludir?
Ver anterior

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Elogio da digressão

Quase nunca sabemos o que realmente nos interessa mais. Precisamente até ao momento em que começarmos a falar de uma coisa que não é, de todo, o que nos interessa mais.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

O limite

Penso que é sempre necessário colocar em algum lugar um poder social superior a todos os outros, mas acredito que a liberdade corre perigo quando esse poder não encontra diante de si nenhum obstáculo que possa conter a sua marcha e dar-lhe tempo de se moderar a si mesmo. A omnipotência parece-me em si uma coisa ruim e perigosa.
(...) Todas as vezes que um poder qualquer for capaz de fazer todo um povo contribuir para um único empreendimento, com pouca ciência e muito tempo conseguirá extrair do concurso de tão grandes esforços algo de imenso, sem que com isso seja necessário concluir que o povo é muito feliz, muito esclarecido ou mesmo muito forte.

Alexis de Tocqueville, in 'A Democracia na América'

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Pára, escuta e olha

Afinal, mesmo antes de ter mandado instaurar um processo disciplinar ao professor Fernando Charrua, por alegadamente ter insultado José Sócrates*, a comissária política Margarida Moreira já havia sido reconduzida no lugar de directora da DREN. Será que estava à espera da nomeação para "actuar", ou foi o prémio por se saber que o ia fazer? Ou as duas coisas? Basta percorrer o Diário da República para o cidadão comum se aperceber da quantidade de nomeações de pessoal afecto ao Partido Socialista, normalmente gente medíocre mas com as quotas em dia, em detrimento de candidatos mais qualificados, mais competentes, mais exigentes e mais empreendedores.
Por outro lado, em declarações ao Portugal Diário, o controleiro do PS Porto, Renato Sampaio, disse esta coisa espantosa: o professor Fernando Charrua insultou o primeiro-ministro «diversas vezes, em diferentes locais da DREN». Garantiu ainda que, «segundo informações» que lhe foram transmitidas, este caso «não foi, como se quer fazer crer, um comentário jocoso dentro de um gabinete de quatro paredes». O que permite concluir o seguinte: 1º que RS teve acesso a um processo interno que, na altura, não estava concluído; 2º que, ao pronunciar-se desta forma em relação a factos ainda não provados, incorre em crime de difamação; 3º que a bufaria do PS utiliza o aparelho do Estado a seu bel prazer para "recolher" e divulgar dados. Como explicar de outro modo as "informações" que lhe foram transmitidas? Por quem? Em que circunstâncias?
Mas fiquemos descansados. Segundo R.S., "
ninguém dá lições ao PS sobre liberdade de expressão". Pois bem, ainda se lembram dos episódios caricatos produzidos pelo aparelho socialista durante a campanha presidencial de Manuel Alegre? E o que dizer do "jornalismo de sarjeta"? Duvido é que alguém peça a este partido lições sobre seja o que for.

*«Se precisares de doutoramentozito, que dá seis anos na carreira, mando-mo cá, ainda que seja falso. Manda-me por fax, porque se não for por fax, não vale», terá dito Fernando Charrua, segundo o seu próprio testemunho. Em declarações à TSF, Charrua afirma que «fez um comentário dentro de um gabinete, em privado». Que deixou de o ser logo que o colega prontamente "avisou" a chefe.

A Ira Nunca é Súbita

A ira nunca é súbita. Nasce de um longo roer precedente, que ulcerou o espírito e nele acumulou a força reactiva necessária para a explosão. Daqui resulta que um belo acesso de cólera não é, de forma alguma, sinal de uma índole franca e directa. É, pelo contrário, revelação involuntária de uma tendência para nutrir dentro de si o rancor - isto é, de um temperamento fechado, invejoso, e de um complexo de inferioridade.
O conselho de «estar em guarda contra quem nunca se irrita», significa, portanto, que - todos os homens, acumulando inevitavelmente ódio - convém ter especial cuidado com os que nunca se traem por acessos de ira. Quanto a ti, não fazes mal em ser insicero no teu remoer interior, mas em te traíres na explosão.

Cesare Pavese, in 'O Ofício de Viver'

terça-feira, 5 de junho de 2007

Lido

"Sócrates visitava Moscovo (29-5-2007) e recriminou como "lições irresponsáveis"(!...) a insistência ocidental na defesa dos direitos humanos das minorias. Nesse preciso dia, o ministro da Defesa russo informava que a Rússia tinha realizado com sucesso um novo teste de um míssel intercontinental com múltiplas ogivas capazes de romper o escudo de defesa da OTAN... Irresponsável talvez seja antes o desconhecimento das lições da história: agachar-se demasiado descobre a retaguarda.
O senhor primeiro-ministro José Sócrates não está à altura do cargo de presidente do Conselho Europeu que vai ocupar por um semestre a partir do próximo mês. Tal como José Pacheco Pereira nota a inconsistência da arrogância e pobreza discursiva do primeiro-ministro nas relações internacionais. Quer brincar com o fogo, mas acaba chamuscado na feira da sua vaidade pessoal vazia. Montado nessa arrogância e sem sentido do Estado que representa, numa declaração paternalista, em Viena no dia 3-6-2007, àcerca da poderosa França que fundou a União Europeia, o primeiro-ministro de Portugal ousou proclamar "France is back!", para nossa vergonha, ironia de governantes e risota do público saudoso da prosápia de Mohammed Saeed al-Sahaf. Sócrates vai passar um mau bocado como presidente da União - talvez lhe valha a companhia do primeiro-ministro irlandês, Bertie Ahern..."


segunda-feira, 4 de junho de 2007

Imagens de Portugal romântico - 20

Lisboa, Largo do Pelourinho

Porto

Lisboa, Estrela

Ver anterior

Spin doctor

Um contínuo upgrade vocabular no mercado dos anglicismos é um exercício fascinante. Não porque evoque hábitos recolectores ou uma indisfarçada vaidade em estar... up to date. Antes fosse. A questão é esta: expressões novas que são postas a circular na teia global referem-se, quase sempre, a realidades cuja apresentação verbal dispensa grandes análises semióticas. Mas cujo apelo ao sincretismo e ao poder sugestivo de uma imagem forte faz milagres. Veja-se o caso do termo "spin doctor". Alude, basicamente, ao profissional da área do marketing político. A expressão tem-se difundido em velocidade de cruzeiro. Até hoje, ignorava o seu significado. Entretanto, encontrei-a nos mais diversos suportes. O número suficiente de vezes para que a placeba ignorância se sentisse finalmente diminuída perante a curiosidade. E compreender como nas democracias modernas os políticos mais facilmente dispensam os votos do que o retoque da sua imagem.
Para quem quiser saber mais acerca do termo e da actividade em alta que designa, recomendo a leitura
deste texto.

domingo, 3 de junho de 2007

sábado, 2 de junho de 2007

O eduquês

"Os critérios de avaliação do nosso 9º ano não passam de um sintoma de uma realidade maior e mais triste: o lento "regresso" do Ocidente a uma nova espécie de barbárie. Nunca se gastou tanto dinheiro em "cultura" e nunca a cultura foi tão universalmente desprezada.(...) A linguagem pública (religiosa, política, jornalística, musical, literária, cinematográfica, universitária) empobrece dia a dia. A conversa, como arte, morreu, porque as pessoas não têm interesse em dizer e muito menos interesse em ouvir. O Estado anda a educar as nossas queridas criancinhas para este mundo. Que outra coisa seria de esperar?"

Vasco Pulido Valente, no "Público" de ontem

NOTA: Na coluna dos leitores do mesmo jornal, vociferava outro dia uma professora contra a intolerável "ingerência" da sociedade e da opinião pública em relação aos critérios de avaliação da prova de Português do 9º ano. "A Educação aos professores"! Bramia ruidosamente, em tom de slogan de manifestação, na linha de "A Terra a quem a trabalha" e sucedâneos. Ficamos a saber que a docente teve um elevado índice de participação em RGA s e manifs, quem sabe se na altura do PREC; que provavelmente utiliza o eduquês hermético para analfabetizar os jovens, as vítimas dos infindáveis sistemas pedagógicos - onde proliferam maravilhas como "competências", "capacidade crítica", "valências", "aprender é fácil", etc. Aquilo que
iluminados pedagogos do ME gostam de "implementar" sazonalmente. Vamos pagar muito muito caro este delírio.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

A miragem

Ontem estive na celebérrima Margem Sul, mais concretamente em Al Mahd. Claro que me preparei devidamente para a proeza: uma túnica, aluguei dois camelos, água com fartura, um antídoto para escorpiões, óculos especiais, um dicionário de Árabe e protector solar. Foi uma desilusão total: em vez da areia, asfalto; o vernáculo era ainda o português; os automóveis abundavam; pessoas, aos magotes. E pensava eu que os nossos governantes eram pessoas sérias! Não há direito!