NOTA: já quanto à acídia, o caso é outro. Este atípico pecado capital foi "substituído", durante a Contra-reforma, pela preguiça. Bosch ainda o incluía, nos seus quadros, no cardápio das sete licenciosidades interditas. O termo significa, segundo tradução canónica, tristeza pelo bem espiritual, acidez, queimadura interior do homem que recusa os bens do espírito. Como se vê, trocou-se uma coisa séria por um pecadilho menor. Porquê? Quis-se adequar a moral à ordem capitalista do trabalho? A tristeza, enquanto afronta terrena à bem-aventurança eterna, é uma categoria demasiado subtil para ser sancionada liminarmente? Seja como fôr, com mais ou menos variantes, a acídia é a venialidade mais praticada na Guarda. Aqui sim, um pecado mortal.
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Guarda Digital
NOTA: já quanto à acídia, o caso é outro. Este atípico pecado capital foi "substituído", durante a Contra-reforma, pela preguiça. Bosch ainda o incluía, nos seus quadros, no cardápio das sete licenciosidades interditas. O termo significa, segundo tradução canónica, tristeza pelo bem espiritual, acidez, queimadura interior do homem que recusa os bens do espírito. Como se vê, trocou-se uma coisa séria por um pecadilho menor. Porquê? Quis-se adequar a moral à ordem capitalista do trabalho? A tristeza, enquanto afronta terrena à bem-aventurança eterna, é uma categoria demasiado subtil para ser sancionada liminarmente? Seja como fôr, com mais ou menos variantes, a acídia é a venialidade mais praticada na Guarda. Aqui sim, um pecado mortal.
Ganda taxa!
O grande negócio
O problema das leis é, parece-me a mim, deverem ser suficientemente abrangentes. Claro que a maternidade e os cuidados com os filhos (ou com outros familiares doentes, idosos ou de qualquer modo dependentes) não tem preço. Assim, por exemplo, o que é que compensa uma mulher que abdicou da sua carreira, no todo ou em parte, devido à maternidade? Mas também, como se pode contabilizar isso? Para mim é perfeitamente claro que o casamento com filhos é uma situação que deve ser contemplada em particular e analisada segundo todas as vertentes.
Vejamos agora um casamento sem filhos, em que um dos cônjuges, oportunista, apenas se quer apropriar dos bens materiais do outro. Isto acontece! Todos sabemos!
Em caso de divórcio, parece-me que o ambos os cônjuges se poderão defender e definir o que pretendem, assim a lei o permita…
E nos casos de morte? Pelo que vejo, apenas para dar um exemplo, um casamento tardio e sem filhos continua a ser uma excelente maneira de enriquecer. Ainda hoje existem umas fadas do lar que sabem muito bem definir os seus objectivos a longo prazo.
A lei obriga a que, se pelo menos um dos cônjuges tem mais de 60 anos, o regime de casamento seja o da separação imperativa de bens,não permitindo sequer doações entre cônjuges. Aparentemente , pretende-se proteger o/a noivo/a incauto/a em relação aos seus bens e também os seus filhos, herdeiros mais que naturais. Mas na prática pode um dos cônjuges (o que tem os bens) vender o seu património e adquirir novos bens em nome dos dois. Ou fazer escrituras de venda (fictícia) a favor do cônjuge oportunista, que em geral o pressiona, invocando a sua absoluta dedicação. A mim parecem-me doações disfarçadas.
E, no caso de morte, é concedido ao cônjuge sobrevivo, apesar da separação imperativa de bens, o cargo de cabeça de casal, que fica assim com acesso a todas as informações, à casa de família (que era do outro), a tempos dilatados para apresentar contas aos herdeiros, a contratar a advogados e contabilistas (para o ajudar a ficar ainda com mais), com o pretexto de gerir a herança (e depois são todos os herdeiros a pagar…claro). O cônjuge sobrevivo pode ainda fechar as portas da casa aos filhos do outro, impedindo-os até de recolher simples recordações de família como fotos ou correspondência! Como se não bastasse, esse cônjuge, o oportunista, ainda é herdeiro privilegiado (nunca pode herdar menos da quarta parte da herança legítima) !!!
O que sobra para os filhos do falecido? A herança de conhecer a maldade humana, a possibilidade de gastar rios de dinheiro (se o tiverem) em advogados e custas de (in)justiça, a perda de tempo, o desgaste emocional de se aperceberem como ou seu pai (ou mãe) foi enganado , ludibriado e roubado por uma deliciosa fada do lar (ou por um gentil cavalheiro). Há muitas histórias destas, ainda hoje. A lei tem portanto de ser muito bem pensada e reflectida, do modo mais abrangente possível. Mas sobretudo, a máquina judicial tem de funcionar em tempo útil.
A acrescentar ao problema do divórcio, temos então a questão da morte/herança, que não deixa de ser relevante e perturba muitas pessoas, que nem o luto podem fazer em paz.
quinta-feira, 29 de maio de 2008
A vida minimal e repetitiva - 5
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quarta-feira, 28 de maio de 2008
End games
terça-feira, 27 de maio de 2008
Eu queria encontrar aqui ainda a terra
O espectáculo estreia hoje no TMG, pelas 21 30h. Mais informações, ver aqui e aqui.
Boa onda
O terceiro mundo
domingo, 25 de maio de 2008
Lido
Rui Ramos, artigo do Público de 14 de Maio
Ler na íntegra no blogue Atlântico
Eu queria encontrar aqui ainda a terra
sexta-feira, 23 de maio de 2008
O turista acidental
terça-feira, 20 de maio de 2008
A vil tristeza
E não se pode exterminá-los?
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Acordo Ortográfico? A luta continua!
Notas: Já depois da aprovação do acordo, tenho ouvido opiniões de gente séria, apelando à resignação. Como sou um "gajo de convicções" e sei de ciência certa que este acordo é uma asneira monumental, desculpem lá, mas não me resigno. Curiosamente, aprendi no budismo que, quanto maiores as resistências, mais a sério se deve tomar o desafio lançado.
Imagens do Maio de 68 (4)
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domingo, 18 de maio de 2008
Lembrete
Pinto da Costa recebido na A. R.
Se já tinha várias razões para relegar para o mais profundo desprezo a grande maioria dos deputados da Nação, a fortuna deu-me mais uma ajudinha. Vi outro dia na TV um conhecido dirigente desportivo, ligado ao ramo da fruta e souvenirs para árbitros, ser recebido por um grupo de deputados, fazendo as honras da casa. O tal senhor, que na altura vinha do Tribunal, foi condenado pela justiça desportiva, como é sabido, aguardando ainda o resultado das acusações que sobre ele pendem na justiça criminal. À porta, um batalhão de jornalistas. Como é possível um episódio destes? Será que os representantes do principal órgão de soberania nacional não poderão ser sancionados disciplinarmente por este escândalo? É que, expressando apoio público a uma figura que acaba de ser condenada e aguarda possíveis condenações, estão a desautorizar quem já o julgou e quem vai julgá-lo. Depois admirem-se que as pessoas - mormente os jovens - se afastem cada vez mais do lodaçal da política.
A paisagem do escritor
sexta-feira, 16 de maio de 2008
Acordo ortográfico? A luta continua!
Pela parte que me toca, NUNCA irei escrever uma palavra que seja de acordo com a novilíngua sub-brasileira. Irei invocar - e já estou a trabalhar nisso do ponto de vista jurídico - o estatuto de objector de consciência. A desobediência civil estará na segunda linha. Uma coisa é certa: enquanto estiverem em funções ou forem candidatos os deputados que votaram a favor, nunca mais irei votar em eleições legislativas. É claro que vou apurar o nome de toda essa colecção de coliformes fecais nas actas da A.R.
Nota: Manuel Alegre, mais uma vez, e Zita Seabra, com alguma surpresa, destoaram da apagada e vil traição.
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Acordo Ortográfico? Não, obrigado! (6)
2º Por outro lado, é verdade que a reforma de 1911 eliminou muitos arcaísmos. Mas fê-lo numa perspectiva de aperfeiçoamento linguístico e não como um trunfo político e diplomático, ou mera cedência a interesses comerciais.
3º No mundo da informática, já se instalou a norma da existência de duas variantes do português, pois a maioria dos programas e dos sistemas operativos dispõe dessa opção.
4º A convergência dos CPLP é desejável, mas não acredito que seja uma prioridade para a comunidade, a não ser para o Brasil, por razões geo-estratégicas.
5º Por outro lado, existe um exemplo paradigmático - o inglês - que desaconselha a unificação por via administrativa. Os EUA, pelas razões que se conhecem, cimentaram a posição dominante do inglês como língua global. O léxico e a ortografia dos dois lados do Atlântico apresenta diferenças assinaláveis. No entanto, num feliz exemplo de pragmatismo anglo-saxónico, encarou-se tacitamente o facto como uma oportunidade de enriquecimento e expansão, da língua, sem a desvirtuar. Até porque, a norma culta continuará a ser sempre a britânica. Algo que o as editoras sabem muito bem.
Diamantes de sangue
Vai um niquitin?
Adenda: O seu a seu dono. Sócrates tem toda a razão em acusar certa oposição de o ter criticado por ter fumado durante o voo Lisboa-Caracas. O termo empregue é "calvinismo moral radical", embora as três palavras juntas me pareça formarem uma redundância desnecessária. Podia ficar pelo simples "calvinismo", quando muito juntar-lhe o "moral", ou então, "moral radical" também não ficaria mal. De evitar, absolutamente o "calvinismo radical", pois estaríamos face a um pleonasmo grosseiro. É bom não esquecer que o primeiro-ministro viajou num voo fretado. Não me parece que as preocupações de saúde pública, as mesmas que justificaram a proibição, se apliquem neste caso com a mesma acuidade. Além disso, convem avivar a memória: Sócrates foi-se encontrar com Hugo Chavez. O que significa que um cigarrinho antes para acalmar seria perdoado até no Julgamento Final.
quarta-feira, 14 de maio de 2008
Menos que zero
Auto do Juiz de fora
Acordo Ortográfico? Não, obrigado! (5)
Diário de um tolo
terça-feira, 13 de maio de 2008
segunda-feira, 12 de maio de 2008
O adeus de um campeão
Outro assunto, nos antípodas do anterior, mesmo correndo o risco da redundância: refiro-me à enorme classe de um jogador. Que dispõe de um toque de bola reconhecível à distância. Embora sem o poder atlético de Cristiano Ronaldo ou a técnica de Figo no um para um. Mas com um poder de explosão, uma precisão nos passes de ruptura e um domínio de bola que compuseram um virtuosismo que vai deixar saudades no futebol. Fez ontem o seu último jogo oficial. O seu nome é Rui Costa. Só lamento não ter lá estado para o aplaudir de pé.
domingo, 11 de maio de 2008
A Fábrica
Aqua criativa
Duas visões de maio de 68
(conversas com Stéphane Paoli et Jean Viard)
trad. Rui Santana Brito, ed.Guerra & Paz, Maio de 2008
Toma lá dá cá
O novo arquipélago gulag
Depois da revolta dos professores, faltava algo na "agenda de luta" dessa choldra. Pois bem, eureka, a reforma do Código de Trabalho veio resolver a aflição. Acolitados pela esquerda-caviar do BE, criaram uma moção de censura, destinada exclusivamente ao show off. Forças que representam 12% do eleitorado pretendem subverter a vontade da esmagadora maioria dos portugueses, em nome de ícones e fanfasmas. Talvez seja por isso que tanto abominam a "democracia burguesa". A vontade do povo só atrapalha.
O que nos traz este projecto de reforma do C.T.? Muita sensatez, mexendo nalguns tabus para aqueles que só defendem o emprego dos apaniguados e não a criação de emprego efectivo. Por outro lado, combate-se a precaridade dos vínculos laborais, mediante uma penalização da taxa contributiva para quem recorre aos (falsos) recibos verdes e incentivos fiscais à contratação efectiva. Não vou aqui analisar ponto por ponto a proposta do Governo. Quero no entanto acrescentar mais uma razão que acentua a risibilidade desta onda de contestação promovida pelo PCP. Quando estive um ano no sector informativo de uma delegação da Inspecção Geral do Trabalho, a atitude recorrente dos trabalhadores que acorriam aos serviços era simplesmente "fazer contas". Qualquer esclarecimento suplementar sobre outras possibilidades de actuação ou de consciencialização da sua cidadania, qualquer resultado não expresso numa máquina de calcular, caíam em saco roto. Será que são estes trabalhadores que o PCP e o BE dizem defender? Por outro lado, assisti a situações caricatas em que os próprios sindicatos induzem em erro os seus próprios associados, informando-os, em caso de litígio, dos níveis salariais do CCT para o sector onde eles fossem mais elevados e não, como seria normal, daquele que era efectivamente aplicável no caso concreto.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Começar e acabar (2)
1. "A way a lone a last a loved a long the"
quinta-feira, 8 de maio de 2008
A longa marcha
Nota
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Começar e acabar (1)
1- "Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras, cada família infeliz é infeliz à sua maneira."
Acordo Ortográfico? Não, obrigado! (4)
A este propósito, mais uma vez, convém lembrar o óbvio:
1º Esta reforma foi feita ao arrepio da etimologia do português, do seu padrão europeu.
2º Ao contrário das reformas anteriores, nomeadamente a de 1911, feitas a pensar na eliminação de arcaísmos, esta destina-se exclusivamente a adaptar a grafia do português padrão à grafia brasileira.
3º A esmagadora maioria dos especialistas, mesmo que por razões não coincidentes, tem vindo a a recusar este acordo.
4º As alterações propostas têm um impacto real e dramático na vida de toda a gente, uma realidade ignorada pelos promotores do acordo.
4º A míngua de argumentos dos defensores do protocolo degenerou na patética acusação de neo-colonialismo e outras pérolas do politicamente correcto, dirigidas aos que tomaram posição contra o acordo.
5º Esta luta envolve realidades mais profundas do que à partida se julga: é a realpolitik dos que usam a língua como instrumento diplomático e a ligeireza que sempre impuseram na discussão pública do problema. A língua não é propriedade de ninguém, mas uma marca indissociável da nossa história e da nossa cultura.
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terça-feira, 6 de maio de 2008
Estudos para um ódio de estimação perfeito
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Contraponto (5)
O Luiz Pacheco criou uma personagem, contribuiu voluntariamente para levantar uma lenda à sua volta, ou fomos nós que a criámos? As duas coisas. Luiz Pacheco sempre foi um crítico arrojado e um tipo singularmente divertido, um trocista desbragado, com um desplante e uma sem-cerimónia invulgares. Um homem que não levava a sério as regras consuetudinárias nem os convencionalismos da moral. Em suma, alguém que não fazia parte da normalidade social, aquilo que as sociedades consideram um indivíduo «extravagante» ou «excêntrico». Ora bem, por via de regra, todos os grupos humanos têm, sempre tiveram, o seu quinhão de excêntricos, necessitam mesmo deles. O excêntrico é algo que se deve ter, um adorno que fica bem, mais a mais no mundo das artes e das letras, que necessita mostrar a sua diferença relativamente aos outros meios sociais (mais «vulgares»), e cujo prestígio assenta, em grande medida, numa retórica da originalidade e da transgressão. O excêntrico, como no passado os bufões ou os bobos — aqueles que diziam «cousas loucas e cousas acertadas» (Manuel Laranjeira) — é alguém que tem por função divertir, provocar, surpreender, ou seja, aliviar a tensão que nos provocam as exigências dos compromissos sociais.
sexta-feira, 2 de maio de 2008
Clamor
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Tudo bem ao chamamento
Noite após noite o que dissemos e
O que nunca diremos - a viagem
Com uma giesta de algodão presa nos cabelos e
A sensação fresca de um sulco de aves na pele
Tudo vem ao chamamento- os lobos
Os anões as fadas as putas as bichas e
A redenção dos maus momentos - enquanto te barbeias
Vês no espelho o homem
Cuja solidão atravessou quase cinco décadas e
Está agora ali a olhar-te - queixando-se da tosse
Da dor de dentes e do golpe que a lâmina fez
Num deslize perto da asa do nariz
Não sei quem é - sei porém que vai afogar-se
Naquela superfície clara quando dela se afastar e
Abrir a porta para sair de casa murmurando: tudo
Vem ao chamamento
Por dentro do clamor da noite.