Neste número, de realçar o excelente artigo de Enrique Pinto Coelho intitulado Espanha-Portugal: de costas voltadas?, acompanhado de um pequeno glossário dos grandes equívocos entre os dois países. Como por exemplo, o fantástico artigo definido "lo" utilizado no "portunhol" ou "espanholês" corrente, o "Juanito Camiñante" e outros lugares-comuns, aqui desmistificados. Destaque também para os artigos Pacto para a Injustiça, de Nuno Garoupa - uma análise crítica do que falhou no recente pacto entre o PS e PSD - bem como O Aborto: um dilema Liberal, por Rui de Albuquerque - uma breve recensão bem enquadrada e plural do problema, numa perspectiva liberal.
terça-feira, 31 de outubro de 2006
Neste número, de realçar o excelente artigo de Enrique Pinto Coelho intitulado Espanha-Portugal: de costas voltadas?, acompanhado de um pequeno glossário dos grandes equívocos entre os dois países. Como por exemplo, o fantástico artigo definido "lo" utilizado no "portunhol" ou "espanholês" corrente, o "Juanito Camiñante" e outros lugares-comuns, aqui desmistificados. Destaque também para os artigos Pacto para a Injustiça, de Nuno Garoupa - uma análise crítica do que falhou no recente pacto entre o PS e PSD - bem como O Aborto: um dilema Liberal, por Rui de Albuquerque - uma breve recensão bem enquadrada e plural do problema, numa perspectiva liberal.
segunda-feira, 30 de outubro de 2006
domingo, 29 de outubro de 2006
Êxodus
Fui ver a última produção teatral do Aquilo. A peça chama-se "Êxodo Rural: Rural Industrial", com encenação de Bernhard Bub. Um espectáculo visualmente poderoso, graças a uma complexa estrutura cenográfica, em metal, onde foram acoplados vários maquinismos, instrumentos de percussão e adereços mecânicos. Decerto se pretendeu reproduzir um estaleiro de obra pós-industrial, onde as funcionalidades cénicas se multiplicassem. De realçar igualmente a banda sonora, que conseguiu evocar as ambiências pretendidas.
No entanto, notam-se aspectos menos conseguidos. Desde logo, ao nível da direcção de actores, sendo notório que estes, em alguns momentos, deambulassem de forma errática pelo espaço, numa completa descoordenação de movimentos. Dando a entender que não havia marcações específicas para esses períodos.
Por outro lado, o espectáculo enferma de um problema estrutural que já havia detectado nas últimas produções dos Fura del Baus: uma sucessão de efeitos - espectaculares, é certo - mas sem qualquer fio narrativo que os enquadre, como se o artifício valesse por si próprio. Ora, no teatro, o artifício só é entendível se ao serviço da naturalidade. De outra forma, o actor desaparece, substituído por uma série de automatismos de ordem técnica.
Mas há ainda um equívoco fundamental na arquitectura desta peça: uma ingenuidade tributária de Rousseau, que inquina definitivamente qualquer suposto propósito pedagógico associado. No texto que acompanha o espectáculo pode ler-se: Nós próprios, perante a onda industrial do progresso, temos a sensação que este desenvolvimento nos divide em duas partes e que nos poderá custar as nossas origens, a nossa cultura e até a nossa própria existência. (...) Por entre o barulho da "máquina" os humanos ainda procuram a sua sorte. Como se poderá depreender, este discurso sinaliza um retorno de 200 anos, transportando-nos aos luddites - um movimento nascido da Inglaterra, no início do séc. XIX, contra a mecanização da indústria têxtil e que promovia a destruição pura e simples das máquinas - e ao inefável bom selvagem. Ignora-se completamente a modernidade - com a sua apologia da máquina, a descentralização do objecto artístico, o nihilismo como condição moderna por excelência - propondo-se um retorno a uma naturalidade que a própria peça desmente, enquanto proposta artística.
Dois pormenores ainda.
Em primeiro lugar: a colocação da palavra Pátria, em letras gigantes, no topo da estrutura, como instância repressiva, é de um mau gosto inqualificável. Faria sentido há 30 anos atrás, no contexto da época. Hoje é um simples erro grosseiro de casting. Não é a "Pátria" que oprime, mas a avidez, a impunidade, a mediocridade sufragada, a desresponsabilização generalizada, os micro-medos que tomaram conta de nós, que infantilizam e armadilham o desempenho da cidadania.
Em segundo lugar, e como não podia deixar de ser, o "politicamente correcto" faz a sua aparição triunfal, neste excerto do texto atrás mencionado: Até que um muro de arame farpado cercou a Europa, fingindo a salvação do status quo e impedindo a entrada de outros povos, outras culturas mais pobres. Repare-se que não está só em causa a entrada de "outros povos" , mas também de "culturas mais pobres", assumindo-se um irresponsável e piedoso - embora camuflado - eurocentrismo assistencial, produto da mesma má-consciência que leva a relativizar o terrorismo, por exemplo, ou a desculpabilizar a hostilidade dos tais povos que não admitem a "diferença" da Europa.
Publicado no jornal "O Interior"
sexta-feira, 27 de outubro de 2006
Crimes exemplares - 10
Ver anterior
quinta-feira, 26 de outubro de 2006
Notícias da blogosfera
«Conheça as novidades, a facturação, as despesas, as dívidas, as histórias e os gamanços. Tudo ao pormenor. Saiba o que vende mais. Leia, comente e participe na gestão de seis metros quadrados. Aproveite, é inédito», escreve o autor do Diário de um Quisque como sendo o lema do blogue, que tem o objectivo de descrever o quotidiano de um ponto de venda de imprensa.
No Podcomer são apresentadas receitas de culinária em formato de podcast. Como diz o autor na apresentação, "Aqui, além de ver as imagens e ler as receitas, podem ouvi-las. Coloquem as receitas no vosso leitor de MP3 e vão para a cozinha! Podem parar a emissão à vontade ou repetir e não ficam com papel espalhado por todo lado." Sugestivo, não acham?
Em 2004, Portugal trouxe um BOB Awards, ganho pelo Ponto Media do jornalista António Granado. Os vencedores são escolhidos pelo público no site The Bobs, onde se pode votar até ao dia 11 de Novembro, de entre os 150 nomeados nas 15 categorias.
Sinais
segunda-feira, 23 de outubro de 2006
Minha cabeça estremece com todo o esquecimento
Eu procuro dizer como tudo é outra coisa.
Falo, penso.
Sonho sobre os tremendos ossos dos pés.
É sempre outra coisa,
uma só coisa coberta de nomes.
E a morte passa de boca em boca com a leve saliva,
com o terror que há sempre
no fundo informulado de uma vida.
Sei que os campos imaginam as suas próprias rosas.
As pessoas imaginam os seus próprios campos de rosas.
E às vezes estou na frente dos campos
como se morresse;
outras, como se agora somente eu pudesse acordar.
Por vezes tudo se ilumina.
Por vezes sangra e canta.
Eu digo que ninguém se perdoa no tempo.
Que a loucura tem espinhos como uma garganta.
Eu digo: roda ao longe o outono,
e o que é o outono?
As pálpebras batem contra o grande dia masculino do pensamento.
Deito coisas vivas e mortas no espírito da obra.
Minha vida extasia-se como uma câmara de tochas.
- Era uma casa - como direi? - absoluta.
Eu jogo, eu juro.
Era uma casinfância.
Sei como era uma casa louca.
Eu metia as mãos na água: adormecia,
relembrava.
Os espelhos rachavam-se contra a nossa mocidade.
Apalpo agora o girar das brutais,
líricas rodas da vida.
Há no esquecimento, ou na lembrança total das coisas,
uma rosa como uma alta cabeça,
um peixe como um movimento rápido e severo.
Uma rosapeixe dentro da minha ideia desvairada.
Há copos, garfos inebriados dentro de mim.
- Porque o amor das coisas no seu tempo futuro
é terrivelmente profundo, é suave,
devastador.
As cadeiras ardiam nos lugares.
Minhas irmãs habitavam ao cimo do movimento
como seres pasmados.
Às vezes riam alto. Teciam-se
em seu escuro terrífico.
A menstruação sonhava podre dentro delas,
à boca da noite.
Cantava muito baixo.
Parecia fluir.
Rodear as mesas, as penumbras fulminadas.
Chovia nas noites terrestres.
Eu quero gritar paralém da loucura terrestre.
--- Era húmido, destilado, inspirado.
Havia rigor. Oh, exemplo extremo.
Havia uma essência de oficina.
Uma matéria sensacional no segredo das fruteiras,
com as suas maçãs centrípetas
e as uvas pendidas sobre a maturidade.
Havia a magnólia quente de um gato.
Gato que entrava pelas mãos, ou magnólia
que saía da mão para o rosto da mãe sombriamente pura.
Ah, mãe louca à volta, sentadamente completa.
As mãos tocavam por cima do ardor
a carne como um pedaço extasiado.
Era uma casabsoluta - como direi? -
um sentimento onde algumas pessoas morreriam.
Demência para sorrir elevadamente.
Ter amoras, folhas verdes, espinhos
com pequena treva por todos os cantos.
Nome no espírito como uma rosapeixe.
- Prefiro enlouquecer nos corredores arqueados
agora nas palavras.
Prefiro cantar nas varandas interiores.
Porque havia escadas e mulheres que paravam
minadas de inteligência.
O corpo sem rosáceas, a linguagem para amar e ruminar.
O leite cantante.
Eu agora mergulho e ascendo como um copo.
Trago para cima essa imagem de água interna.
- Caneta do poema dissolvida no sentido primacial do poema.
Ou o poema subindo pela caneta,
atravessando seu próprio impulso,
poema regressando.
Tudo se levanta como um cravo,
uma faca levantada.
Tudo morre o seu nome noutro nome.
Poema não saindo do poder da loucura.
Poema como base inconcreta de criação.
Ah, pensar com delicadeza,
imaginar com ferocidade.
Porque eu sou uma vida com furibunda melancolia,
com furibunda concepção.
Com alguma ironia furibunda.
Sou uma devastação inteligente.
Com malmequeres fabulosos.
Ouro por cima.
A madrugada ou a noite triste tocadas
em trompete.
Sou alguma coisa audível, sensível.
Um movimento.
Cadeira congeminando-se na bacia,
feita o sentar-se.
Ou flores bebendo a jarra.
O silêncio estrutural das flores.
E a mesa por baixo.
A sonhar.
Herberto Helder, Poemacto II
A pergunta
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
Resolução da Assembleia da República n.o 54-A/2006
Aprovada em 19 de Outubro de 2006.
Notas:
1. Não acham que isto tem vírgulas a mais?
2. Sobre o assunto, já aqui tomei posição.
domingo, 22 de outubro de 2006
Dogville
A medida da importância do blogue pôde ser medida pelo tipo e intensidade das reacções adversas que desencadeou e que acompanhei: de casta, corporativas, de feudos, etc. Comum a todas elas, o ódio à existência de um verdadeiro espaço público, um fórum transparente, um denominador mínimo comum e tendencialmente neutro onde as questões respeitantes à urbe se discutam com clareza e com coragem. No fundo, o ódio à tal inscrição de que falava José Gil, em "Portugal, o medo de existir".
Por ele passaram em revista questões incómodas como a mediocridade generalizada e a falta de qualidade do ensino no IPG, as tentações populistas da "classe" política local, a ineficiência e amadorismo do NAC, o completo desnorte e incompetência da actual direcção camarária em matérias como o investimento público, a captação do investimento privado, de modo a fazer frente aos baixíssimos níveis de ocupação da economia local, a ausência de uma estratégia turística e de imagem para a cidade, a debilidade política do actual presidente, subalternizado às agendas políticas dos seus congéneres de Viseu e da Covilhã, o patético site da CMG, a inacreditável exposição das T shirts de Alves Ambrósio, a fulminante elevação de Luís Filipe Reis a símbolo da cidade, a insólita endogamia ao nível dos funcionários da Câmara, etc.
Pela minha parte, embora pontualmente em desacordo com algumas análises, e admitindo a existência de uma hidden agenda por detrás, insisto que foi com todo o mérito que o blogue se tornou uma referência no débil espaço público da cidade. Cuja efemeridade se lamenta, embora se compreenda.
All that sheet
No caso concreto da ocupação do Rivoli, é claro que o timing escolhido pelos ocupantes foi desastroso. Acabaram por dar um tiro no pé e, como efeito secundário, mobilizaram os sectores mais atávicos contra a "subsidiodependência". Parece-me óbvio, depois de analisar os números em causa, que o Teatro Plástico beneficiava de uma situação de privilégio, num equipamento público de uma grande cidade, e cuja reabilitação custou muito caro. Uma média de 30 espectadores por sessão, na sua última apresentação, é avassalador. Para além de que os resultados artísticos apresentados deixavam muito a desejar. Mesmo assim, deveria ser o MC a corrigir estas situações, penalizando os grupos subsidiados que não atingissem determinados objectivos, qualitativos e quantitativos. E intervir directamente no modelo de gestão que vier a ser escolhido para este, como outros equipamentos culturais, em consonância com a autarquia portuense. Mas é claro que JM e afins esfregaram as mãos de contentamento, perante este episódio. Fazendo dele o que não decididamente não é: uma bandeira.
PS: leiam-se as caixas de comentários dos posts mencionados. O pior da sociedade lusa está lá: a inveja, o provincianismo, o ressentimento ou a arrogância de classe ou de casta, as "tias" desocupadas e intriguistas, os grunhos do costume, com títulos académicos ou não. Enfim, uma mostra exemplar e edificante, um caldo que deveria merecer a atenção de politólogos e sociólogos.
sexta-feira, 20 de outubro de 2006
Crimes exemplares - 9
Ao acordar, foi imediatamente tomado por uma nostalgia impossível de reconhecer. Aos poucos, numa manobra de diversão, concentrou-se no dia que tinha pela frente. Para ele, a esperança começava a ser um bem escasso, intermitente. Um adiamento de si própria. Foi então que a névoa se começou a dissipar, lentamente. Ao primeiro raio de sol, o quadro apresentou-se aos seus olhos de tal forma que quase vacilou: o mar. Era o apelo do mar, o apelo de um local sem memória. O epílogo luminoso do desconhecimento de si mesmo. O cume onde tudo haveria de arder, numa festa pagã. As nuvens dissolveram-se completamente. Era o mar à sua espera, a memória fora da carne, a memória que nada sabe de si própria. Afinal, era tão simples: agora ele era o rio que iria percorrer o seu caminho natural. Nada mais. Mas agora não havia tempo a perder. Deixou alguns recados. Vendeu a colecção de miniaturas. Doou a biblioteca à escola local. Fez alguns telefonemas. Um deles para o local de trabalho, dizendo que ia de licença de parto. Pensaram que tinha enlouquecido. Por fim, compôs uma improvisada bagagem e fez-se ao caminho. Era o início da grande viagem. Sem partidas falsas. Aquela cuja conclusão é incerta, aquela cujo olhar inventa e nos inventa.
Ver anteriorProust segundo Botton
Alain de Botton tem-se distinguido como o mais sofisticado dos autores naquele sector do mercado editorial que é normalmente apelidado de auto-ajuda. Neste caso, e como se perceberá, a singularidade reside em a literatura ser usada como instrumento saneador. Num claro desvio à regra neste tipo de edições, cujo cardápio inclui invariavelmente, em alternativa, ou combinados: psicologia comportamental rudimentar, microeconomia aplicada, uma vaga metafísica de cariz holístico, histórias edificantes, algum darwinismo social à mistura, ciências aplicadas q.b., etc.
quinta-feira, 19 de outubro de 2006
A Torre de Babel
Sobretudo para aqueles que ainda não encontraram o seu lugar ao sol no mercado editorial, mantem-se o sonho de publicar os seus textos sem depender da decisão do publisher. E é um sonho razoável, pois não parece justo que o filtro do que é editável dependa de uma figura pautada por critérios económicos, ainda que lhe seja reconhecida alguma idoneidade artística. No entanto, não tenhamos dúvidas: nos dias que correm, por muito que os nostálgicos insistam em encarar o livro como um simples diálogo entre o autor e o leitor, essa comunicação nunca é directa. Entre ambos existe um espaço onde é o publisher que fala mais alto. Sendo a sua voz cantante e sonante. O sonho de pôr de lado o publisher já vem de há muito. Contudo, recentemente levou um empurrão considerável. É que a Internet propiciou um espaço ao alcance de todos os orçamentos: o ciberespaço.
Há quem delimite à partida este novo espaço de publicação, afirmando que acabará por não passar de um depósito intersubjectivo, onde a ilusão de publicar não passa de uma ilusão plurinarcisista. Não obstante, é evidente que a edição digital tornou-se um sério suporte de publicação de conteúdos. Ainda que, não é difícil imaginar, seja o capital - por via dos grandes portais ou domínios - o que acabará por regular e hierarquizar o tal sistema de homologações. Deste modo, a ciberedição concentrar-se-ia nas mãos dos novos publishers digitais, naturalmente coadjuvados pelos editores para as tradicionais tarefas editoriais. No entanto, a afirmação desse sistema de edição ciberespacial talvez clarificasse alguns mal-entendidos que têm vindo a ensombrar a tradicional e aparentemente inquestionável identidade dos escritores. Ora, do ponto de vista económico, na verdade não é o publisher quem paga ao autor, mas sim este quem paga ao primeiro, pelos serviços prestados ( impressão, promoção, distribuição, gestão), mediante contratos nos quais o autor cede à editora até 90% do que produziu, conformando-se em reter somente 10%, ou menos, sob a forma de direitos, com ou sem o correspondente adiantamento. A referida confusão é provocada pelo tempo económico em que o intercâmbio se produz: o autor, que não dispõe de capital, paga antes e cobra depois. No cenário aqui traçado para o futuro, não antevejo que venha a acontecer qualquer alteração significativa a este esquema de homologação editorial. No qual, aparentemente, é o capital que cria trabalho, quando, na realidade, sucede precisamente o contrário.
quarta-feira, 18 de outubro de 2006
O que um gajo descobre
terça-feira, 17 de outubro de 2006
Basta!
Estas derivas funambulescas de quem não tem mais nada que dizer já saturam. Há tempos foi a ideia peregrina do Governo em agravar a taxa contributiva para quem não tivesse filhos. Agora o mesmo Governo vai penalizar cidadãos por via do fisco, exclusivamente devido ao seu estado civil. Vão bardamerda! Em sociedades democráticas e abertas, o Estado dever-se-ia abster, definitiva e absolutamente, de interferir na esfera privada dos cidadãos: o que consomem ou deixam de consumir, onde investem ou deixam de investir, com quem e onde vivem ou deixam de viver, etc. Quaisquer que sejam as decisões lícitas que os indivíduos tomem no que se refere à condução da sua vida pessoal, o seu estatuto perante a lei é rigorosamente igual. Este moralismo de cariz socializante que estes arautos papagueiam é tão perigoso quanto delirante.
segunda-feira, 16 de outubro de 2006
A cena do queijo
sábado, 14 de outubro de 2006
Passeando na blogosfera - 5
O poder não está nesta rua
Este ano, no exercício da minha actividade profissional, já intervi em cerca de quarenta nomeações no ambito do apoio judiciário. Os honorários por este serviço não são pagos desde Dezembro do ano passado. Isto é, quer eu quer os meus colegas estamos a financiar antecipadamente um serviço que incumbe ao Estado assegurar. Que retribui desta forma. Portanto, se os cidadãos se manifestassem pelas SUAS razões e não por colagem às conveniências partidárias ou corporativas, talvez a história fosse seguramente outra.
Pró ano há mais
PS. Bastante mais estimulante foi a atribuição do Nobel da Paz a Muhammad Yunus, fundador do Grameen Bank e criador do famoso micro-crédito, que já contemplou 2,4 milhões de clientes em todo o mundo.
quinta-feira, 12 de outubro de 2006
Spam
Exemplo 1.
How are you bro ? Why don't you tell your girl you're not among all these short-lasting losers? Choose Extra-Time for a reliable comprehensive method that really cures you. Want to make your intercourse lasting and rewarding than ever before? Check up: http://ranterti.com/gall/get/ She won't want to get out of your bedroom, hoping other girls don't find out about you.
Portanto, garanhões do hemisfério ocidental, tomem nota: vão ao site do Extra-Time e a vossa namorada já não vos deixará sair da cama, com medo que as outras dêm conta do vosso excelso desembargo.
Exemplo 2.
Hello my friend, Lots of men deal with this daily not knowing there's a comprehensive solution to the problem. Extra-Time - the name says it. It gives you extra time of pleasure and extra confidence. Many of us know the bitter feeling of not being able to deliver longer acts of mutual pleasure. See our shop: http://ranterti.com/gall/get/ You will envy yourself as you see her eyes burning with adoration.
Como se poderá imaginar, graças ao misterioso artefacto, qualquer Zéquinha da Buraca se transformará num John Holmes. De tal forma, que a felizarda manteúda do contemplado não possa perder d'elle vista e desejo, como dizia Fernão Lopes.
Exemplo 3.
Good day my friend! Go and tell her you're not among those who try to combat this for years. Not just stopping it, but curing - Extra-Time conquers all reasons for the premature finish. Want to make your intercourse lasting and rewarding than ever before? Check up: http://ranterti.com/gall/get/ You will envy yourself as you see her eyes burning with adoration.
O meu palpite para esta 8ª maravilha é que se trata de um esconjuro sacado a um druida, cuja utilização, com efeitos deliciosamente contra natura, vai retardando o mais possível a inevitável petite morte. As maravilhas do sexo tântrico ao alcance da mão. Gostaram do trocadilho? Basta pois clicar no site. A inefável recompensa vem então: ela olhará o atleta, de repente príncipe desejado em toda a paróquia, através de duas tochas acesas. Eis finalmente o romance, cuja história poderia acabar assim, usando as palavras do cronista: de guisa que por aso de tal achegamento, com longa affeiçao e falas ameude, se gerou entre elles tal fructo, que veiu elle a acabamento de seus prolongados desejos. Não é emocionante? Vendo bem, deve ser aqui que o Pedro Abrunhosa se vai inspirar para as letras das suas baladas...
O admirável mundo novo
quarta-feira, 11 de outubro de 2006
A importância da Leitura
As Comunidades de Leitores, com esse nome ou com outro, mas com fins idênticos, têm-se multiplicado em Portugal de há uns anos para cá. Inicialmente, constituíram-se em livrarias – na Barata, na Ler Devagar, na Almedina (a do Atrium Saldanha tornou-se referência), p.ex. – depois em Associações e Sociedades Literárias, sobretudo em Lisboa e Porto. Posteriormente o modelo tem vindo a ser adoptado por instituições culturais como a Culturgest (outra referência incontornável), bibliotecas públicas e escolas. Há também comunidades de leitores orientadas para domínios específicos, de que é exemplo a relativa a textos filosóficos, na Universidade do Minho.
Conforme se pode ler na apresentação da comunidade organizada na livraria Almedina, a razão fundamental para a existência destes eventos pode resumir-se ao seguinte: Porque ler é uma forma de resistência...Porque ler é uma forma de partilha...Porque cada leitor tem direito à comunhão com outros leitores e com os autores... Acrescentaria que essa partilha aberta é necessariamente igualitária na forma e desigual no conteúdo. Onde o objectivo não é assegurar uma mera troca de preferências literárias, ou de subjectividades, mas a criação de uma imperceptível narrativa, partindo daí. Não obstante, ainda que o cenário sejam as preferências dos leitores, o motivo é uma leitura transfigurada, filtrada pela paleta de um impressionista e revelada como uma epifania. Não se trata de uma descrição narcísica, mas de uma inscrição onde a linguagem é um pano cheio de buracos. Uma comunidade de leitores pode ser a prova de que não se lê unicamente "para", mas também "por causa", como um corsário sem bandeira, numa bárbara demonstração de um apetite de abordagem ou do abandono de uma condição demasiado humana, que não revela "boas pessoas", mas pessoas que querem pensar noutro lugar, na língua crepuscular de Sherazade. Neste ponto, seria interessante encarar uma comunidade de leitores como um retorno a um tempo onde a leitura era efectuada em voz alta – até ao séc. XVIII – adivinhando-se a sua fruição colectiva, sem perder a sua qualidade intrinsecamente íntima, bem como a presença regular dos autores.
Tenho participado regularmente na Comunidade de Leitores organizada pelo TMG desde praticamente o seu início. Uma iniciativa estimulante e inspiradora, assim creio, para quem nela participou. No entanto, à semelhança do que acontece noutras realizações similares, seria interessante convidar um autor para algumas das sessões, bem como suscitar a discussão colectiva de uma obra previamente determinada na sessão anterior.
terça-feira, 10 de outubro de 2006
Chegou a rádio interactiva
O funcionamento destes sistemas é simples. Em primeiro lugar, haverá que proceder à subscrição no serviço escolhido. Na respectiva página, dispomos de uma aplicação ou plug-in, que permite que tudo o que ouvimos com frequência a partir do disco duro fique registado. Essa informação é enviada ao servidor do projecto, que a junta ao ao restante feedback que é recolhido dos restantes utilizadores. Com esses dados são iniciados uma série de processos, nos quais a inteligência artificial (mas também a humana) intervêm para estabelecer relações lógicas e intuitivas. Por último, a partir destas, o sistema oferece uma série de recomendações que podemos escutar em directo (a partir de uma radio online integrada), ou podemos aceder ao serviço de venda associado. Os métodos são vários: os filtros colaborativos e a social recommendation, através das redes sociais; a análise musical a partir da experiência de profissionais especializados, que obtém as características de um tema para a relacionar com outras sismilares; finalmente, os resultados aparecem segundo a lógica de um motor de busca, sem outra intervenção.
Os sistemas recomendados são três. O Last.fm, talvez o melhor, integra uma emissão de rádio personalizada. O que já não acontece com o MyStrands, embora o sistema esteja organizado de forma mais criteriosa e intuitiva. Por último, temos o Pandora, o primeiro a aparecer. A resposta é imediata, pois os primeiros minutos deste sistema são preenchidos com os temas das emissoras que personalizamos, muito idênticas às que pedimos na origem.
segunda-feira, 9 de outubro de 2006
O novo czar
domingo, 8 de outubro de 2006
Passeando na blogosfera - 4
Parede de Betão ao fundo do Túnel, um blogue irresistível, pelo humor arrazador e qualidade dos textos, embora inactivo deste o final do ano passado. É editado por Lhasa Loretto, uma enigmática bloguista que agora integra a equipa do Puta que Pariu. Destaca-se uma fabulosa entrada, sob o título "Descoberta Cidade Lendária no deserto do Pamir", uma blague bem ao jeito de Borges.
Estação Central, de JSA, um espaço generalista, organizado de forma original, escrito sem displicência, ironia q.b. e bem informado. Recomenda-se. É claro que não cumpro, escrupulosamente, um dos mandamento do blogger, aí consagrado: "Não blogarás aos fins de semana. Estes devem ser reservados para obter material para a semana".
Ver anterior
Notícias do interior - 2
Esta narcísica introdução serve para falar de uma outra realidade, esta mais premente, que me chegou recentemente ao conhecimento: a absoluta necessidade da conclusão da Plataforma Logística na Guarda. Pensava eu, como aliás muita gente mal informada sobre esta matéria, que a Plataforma seria uma coisa semelhante a um terminal TIR e pouco mais. Recentemente, alguém me alertou para a sua verdadeira dimensão e operacionalidade. Trata-se, grosso modo, de uma estrutura apta a assegurar a fluidez e a racionalidade ao nível da distribuição de bens e serviços. Com inegáveis vantagens para as empresas - independentemente da sua dimensão - para o mercado e, claro, para o desenvolvimento da Guarda e região envolvente. Ao que parece, graças à inércia da Administração central e insuficiente vontade política, o processo está parado e os investimentos - públicos e privados - ainda não estão assegurados. Até quando? Terão pois que ser os responsáveis políticos locais a aumentar a pressão sobre o Governo e CCDRCentro. Para que, de uma vez por todas, a Guarda não fique condenada à asfixia, hipotecando definitivamente o seu crescimento.
Notícias do interior - 1
E pronto, de caminho enchi o depósito de combustível, como já é hábito. Só para fazerem uma ideia do nível comparativo de preços, em Espanha a gasolina sem chumbo 95 custa menos 30 cêntimos do que cá. Ainda pensei em dar um salto a Ciudad Rodrigo e rever com calma a exposição de arte sacra Las Edades del Hombre, em exibição na magnífica catedral. Todavia, optei por lá ir durante a próxima semana, num horário menos congestionado.
quinta-feira, 5 de outubro de 2006
Liturgias - 2
Desci até à barragem do Caldeirão, continuei até Videmonte e aí apanhei a estrada para Linhares. Em plena serra, virei por um caminho florestal cujo terminus é a Penha de Prados, a 1250 metros. Trata-se de uma formação rochosa granítica disposta como uma fortificação natural, uma escarpa de onde se disfruta uma vista estonteante. À direita a Guarda voltada a poente, e o início do vale de Famalicão. Depois, com dimensões ciclópicas, o Vale do Mondego, cavado a seguir aos Trinta, distinguindo-se a Faia e Cavadoude e, no cimo, o Tintinolho. Lá ao fundo o cume da Marofa e, mais longe ainda, a serra da Peña de Francia, já em Espanha. A norte espreita a linha ténue do Penedo Durão, em terras durienses. O anfiteatro do planalto beirão estende-se a perder de vista, no sopé da serra: as terras de Trancoso e de Pinhel, a Velosa, Vila Franca das Naves, a Lageosa, uma infindade de aldeias distribuídas até Celorico, que consegue distinguir-se no ponto mais à esquerda, com Fornos de Algodres a espreitar. Cá em cima, chegava o som dos badalos dos rebanhos, as vozes dos que trabalham lá em baixo nas tapadas, o silvo peculiar das pás a girar nas torres de captação de energia eólica...
A seguir desci até Prados e continuei por um troço não asfaltado - rodeado de castanheiros pejados de ouriços, nogueiras e lameiros - que vai desembocar na Rapa. Transposta a serra, eis-me com o Vale do Mondego aos pés, até Aldeia Viçosa. Um quilómetro depois, a cereja no cimo do bolo: paragem na Quinta da Ponte - um solar barroco onde agora se faz turismo de habitação, mas que foi bastante maltratado pelas tropas de Junot durante as Invasões Francesas - precisamente nas margens do Mondego. No local, passada a ponte medieval que dá o nome ao local, do lado direito, para o lado da Faia, fiz um pequeno percurso a pé até chegar ao melhor local para se disfrutar o rio, a mon avis. Trata-se de uma série de lajes dispostas sobre a água, que ali é represada graças a um pequeno dique a jusante, adquirindo assim profundidade suficiente para uns bons mergulhos e umas boas braçadas. Parte do percurso é feito por uma via em pedra que julgo ser um antigo caminho dos almocreves. Que desemboca numa magnífica cosntrução em pedra que já foi azenha. O cheiro da humidade, destilada pela terra e pelo coberto vegetal, é omnipresente nesta altura. Ali fiquei por um bocado, sentado numa laje, a ouvir a água correr, o vento a atravessar a copa das árvores, observando o rasto dos aviões cruzando-se no céu. Não é preciso mais para um pôr-do-sol de luxo, garanto-vos.
No caminho de volta, meti pelo verdejante vale acima, até à ponte romana da Mizarela. Mas antes, à beira do caminho, dei conta de uma macieira Bravo de Esmolfe, a rainha das maças. Bingo! A travagem foi de tal ordem que até uns cães que iam a passar se assustaram. Acontece que grande parte dos frutos estava tombado. Peguei num saco de plástico e, respigador improvisado, meti mãos à obra. Passados cinco minutos já estava o saco cheio. O perfume inebriante dos frutos não demorou a invadir o carro, que uma paragem na nascente do Caldeirão para encher o cantil só veio intensificar. E que tão cedo não se vai dissipar.
O perfume foi como um recado, uma marca indelével, um sinal de doçura que lentamente abriu um feixe de luz nos corredores sombrios das ruínas e da devastação. Pouca coisa, poderão dizer. Talvez não, talvez não...
- PS: devido a um anormal esquecimento, não levei a câmara fotográfica. Por isso, snif, não há imagens a acompanhar este mini-périplo. Mas há males que vêm por bem: obrigou-me a trabalhar a linguagem de outra forma.
quarta-feira, 4 de outubro de 2006
Diário de um tolo - 10
Ver anterior
É obra!
Não cominto nem desfirmo, mas é capaz de ser.
Houve algum prémio para o quinquilhanésimo incauto?
Sim, um convite para ir ver a exposição das T shirts museológicas do Alves Ambrósio no Paço da Cultura, válido para três pessoas.
Três pessoas?
Sim. Um é para o representante da Taschen em Portugal e o outro para a Margarida Rebelo Pinto.
Porquê?
O primeiro irá entregar uma menção ao A.A. de melhor cliente do hemisfério ocidental. A escritora ir-me-á explicar em detalhe de onde vem a suposta apetência das mulheres modernas por "carninha fresca", segundo a sua última crónica no "SOL". Até pode ser que a "mostra" a inspire para o seu próximo folheto.
Tu és mesmo complicado. Adiante. Que dificuldades tens sentido, agora que já és um bloguista encartado?
Muntas, a bem dezer. Mas nunca hei-se superar o desgosto por a Letícia não me ter comunicado pessoalmente que o nascituro infante burbónico vem a caminho, por supuesto.
E projectos para o futuro?
Olha, tens lume?
terça-feira, 3 de outubro de 2006
Vida e opiniões de um liberal
segunda-feira, 2 de outubro de 2006
Uma aventura no país do Simplex
Recentemente, chegou-me ao conhecimento mais um caso insólito, demonstrativo de como a Administração Pública lida com os cidadãos. Um amigo meu, desempregado, após consulta das acções de formação disponíveis no IEFP, inscreveu-se num curso intitulado Gestão de Instituições Sociais, destinado a ACTIVOS qualificados, note-se. Passados uns meses, recebeu uma convocatória para se deslocar ao Centro de Emprego da Guarda, referente ao mencionado curso. Pois bem, à hora marcada apresentou-se e, após uma breve apresentação, fez uns testes psicotécnicos. Passados uns dias, foi lá novamente, para uma entrevista que concluía o processo de selecção e entregar uma declaração em falta. Foi-lhe dito que reunia todas as condições para frequentar o curso, que começaria em Outubro. Três dias depois, é informado por telefone que, afinal, já não podia ser admitido, uma vez que, embora dado como desempregado, tinha actividade aberta nas finanças. É claro que o meu amigo ficou estupefacto, pois a sua actividade profissional habitual é residual. Por outro lado, após ter questionado os serviços, foi informado que o curso, embora estivesse previsto na modalidade pós-laboral, tal não fora contemplado para este Centro. Parece mentira, não parece? Gostava então de saber para que é que existe o IEFP? Pelos vistos, em vez de dar conta das condições reais dos utentes que a ele acorrem, faz uso de práticas e de regras absurdas, privando as pessoas que REALMENTE precisam, de se valorizarem para o mercado de trabalho. Que graças a umas habilidades estatísticas, se vai tornando num mero agente de propaganda dos Governos, manipulando os números para parecerem mais pequeninos e cada vez mais próximos da ficção.
A biblioteca de Tamegroute
Fazendo parte do mesmo edifício onde funciona uma confraria religiosa e um centro de estudos teológicos, a biblioteca encerra tesouros imemoriais. Foi fundada por Mohamed Abu Nasr no séc. XVII, a partir de obras adquiridas ao longo das suas várias peregrinações a Meca. Cada uma das suas viagens transformou-se num périplo de vários anos: Egipto, Etiópia, Arábia, Iraque, Síria, Pérsia…
O acervo contempla desde manuscritos com nove séculos, tratados científicos, obras religiosas da idade do ouro do Al Andaluz, exemplares do Corão gravados a ouro, sendo o mais antigo do séc. XIII, iluminuras em pele de gazela e, sobretudo, uma tradução de Pitágoras para árabe, com 600 anos, numa época em que esta ainda era a língua das ciências. Em Tamegroute, os autores persas e gregos repousam em paz. E foi graças às traduções árabes que o seu saber foi transferido para o Ocidente, via Andaluzia, como se sabe. Filosofia, mística, direito e história do mundo muçulmano estão igualmente presentes em abundantes compilações.