sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Bom Ano de 2011

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O braço estendido (2)


Que é feito desta senhora? De seu nome, Michela Vittoria Bambrilla, ministra italiana do Turismo? Quando tomou posse, em Junho de 2009, a opinião pública mais orientada para a correcção política acusou-a prontamente de fazer a saudação fascista depois do hino nacional. Pois pois. Nunca se soube se seria verdade. Seja como for, há quem diga que a beleza nunca é inocente. Mas antes isso do que as militantes folcloricamente esquerdalhas com óculos (ou bigode), chatíssimas, acham que o Fellini é um misógino da pior espécie, tiraram o curso de Psicologia à noite, ou então, mostrando um belo naco, não deixam de comunicar por onomatopeias segredadas pelo chefe e fazer boquinhas, como é o caso da novíssima eurodeputada do BE. As outras, as que interessam, pendem para outra coisa. Ou, melhor ainda, não pendem, só dançam. São a marca do tempo sem o tempo.

Pecado capital

Um anónimo comentador ambientalista fez o obséquio de deixar por aqui um recado caricatural, a propósito do meu mais recente e precioso gadget, na gama dos electrodomésticos. Já adivinharam do que se trata? Isso, precisamente, a maquinazinha Nespresso! Pois! What else é a hamletiana questão do Clooney e não sem alguma razão. O caso é que o texto se fez anunciar no tom admonitório, próprio, digamos, de uma bula papal. Convidando-me à expiação, por viscosa cumplicidade com os pecados monstruosos praticados pela multinacional em tropicais paragens. Apontando-me a autoria moral da "imperialista" agressão infligida aos indígenas nas colmeias industriais em terras confucianas. Associando-me à excruciante pegada ecológica e social deixada pela corporação helvética no planeta! Alertando-me, enfim, para a evidência de que, nesta matéria, não existe nem sombra de homenagem que o vício possa prestar à virtude. Ah, que fui fazer? Ah, "erros meus, má fortuna, amor ardente". Como foi possível? Para trás, "Vollutos"! Vade retro,"Arpeggios"! Em guarda, "Ristrettos"! Sumam, "Indriyas"! Vão para donde vieram, "Capriccios"! E sem olhar para trás! Vá, desapareçam, mafarricos! Eu vos esconjuro, criaturas das trevas! Em boa hora alguém zelou pelo meu bem-estar! No momento certo, voz atenta apelou à contrição e ao jejum! E se ainda não chegar, venham os cilicios e os chicotes! Para a frente com as penitências e as excomunhões!

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Correio expresso (2)

Lido

O movimento triunfa do frio.
O repouso triunfa do calor.


Lao Tse, "Tao Te King"

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

As vinhas da ira (1)

No passado dia 17, foi discutida, votada e aprovada na Assembleia Municipal da Guarda uma "Moção de Repúdio", proposta por Baltazar Lopes, membro daquele órgão por inerência, já que presidente da Junta de Freguesia de Aldeia Viçosa. Essa moção havia sido apresentada em 24 de Setembro, pretendendo o seu autor que fosse posta imediatamente à votação. Tal não sucedeu e, por proposta subscrita pelo PS e PSD, a sua discussão foi adiada para a sessão seguinte. O ponto da ordem da trabalhos intitulava-se "Discussão e votação das declarações públicas do Director do TMG, Dr. Américo Rodrigues". Os resultados foram: votos a favor: 57; votos contra: 20; brancos: 20; nulos: 1. 25 deputados optaram por não votar. Os votos favoráveis vieram do PSD e grande parte do PS. E contra da CDU e parte do PS. O BE não participou.
O visado pela moção foi o cidadão Américo Rodrigues, autor do blogue "Café Mondego", homem de cultura e de muita luta. Em causa, oficialmente, opiniões que o próprio terá publicado no citado blogue. Ou seja, "afirmações insultuosas que o senhor Director do TMG, Dr. Américo Rodrigues, tem vindo a proferir em relação à Assembleia e aos seus membros", segundo pode ler-se na moção.
As verdadeiras razões podem subdividir-se em dois sectores: as imediatas e as mediatas. Ambas são claramente pessoais e ressalvam do défice de cultura democrática dos alegadamente visados. As primeiras traduzem-se numa perseguição que o deputado Baltazar resolveu mover, desde Julho, a AR. E que teve como palco privilegiado a AM. O caso remonta a um concerto de música erudita ocorrido na sede da Fundação Trepadeira Azul, boicotado por vuvuzelas, a mando do presidente da Junta de Aldeia Viçosa e agora proponente. Cujos pormenores podem ser encontrados aqui. As mediatas podem encontrar-se na cumplicidade evidenciada pelo presidente da AMG e na maioria da classe política local em todo este processo.
Sobre o perfil do Sr. Baltazar Lopes, já se disse praticamente tudo. Basicamente, é um caso de polícia. Ou seja, impõe-se uma acção de investigação criminal e de fiscalização, pelos órgãos competentes, à gestão e à acção individual de Baltazar Lopes. Que só é mantido no seu cargo graças à cumplicidade de outros iguais a ele e que pastam noutros lugares. Todavia unidos pelo mesmo analfabetismo funcional, pela mesma impunidade, métodos e avidez  pelo poder. Apesar de este afirmar à imprensa que o assunto não é pessoal, ressalta claramente o contrário. Não hesitando o gestor da praia fluvial da sua freguesia em utilizar um órgão autárquico como um cenário de política rasteira, para fins estritamente pessoais. E fazendo-o, é importante salientar, para minar a credibilidade do director artístico do TMG. Que, não por acaso, é o mesmo cidadão visado pela moção. E, sobretudo, para inviabilizar a confiança política necessária à sua manutenção no cargo. Só assim se compreendem as declarações do proponente, logo a seguir, à imprensa, exigindo a demissão de AR.
Por outro lado, a sanha de Baltazar foi bem acolhida pela maioria dos presidentes de junta, parte dos políticos locais e "notáveis" de vária ordem e ilustração. Toda essa gente prima pela iliteracia,  pela vaidade, pelo atavismo, pelo magno despotismo no exercício dos seus minúsculos poderes. A modernidade assusta-os. O sucesso dos seus concidadãos é para si uma afronta. A inovação e o verdadeiro desenvolvimento só interessam como motivo de marketing. O pensamento e a criação artística são sinais de uma pandemia que urge afastar da vizinhança. O modelo de existência desta gente é o de uma ruralidade degradada, suburbanizada, incaracterística, bisonha, reactiva, arrogante e autista. Estão na política como poderiam estar noutro "ramo". São os descendentes directos do miguelismo, do subdesenvolvimento e da morna corrupção moral. Ao ser-lhes oferecido um prato de lentilhas, sob a forma do aumento da dotação das freguesias, com prejuízo da Culturguarda, não hesitaram.

PS: sobre o caso, ver notícias aqui, aqui, aqui e aqui, ou um acertado comentário, na A23.

(continua)

A nespresso do gajo

As vinhas da ira (2)


Poderia a Assembleia Municipal da Guarda ter sequer aceite à votação esta moção? Em meu entender, a resposta é negativa. Por duas razões. Em primeiro lugar, o conteúdo desta moção extravasa claramente as  competências deste órgão. Que são elencadas no art. 53º da Lei n.º 169/99, de 18 de Setembro, alterada pela Lei n.º 5-A/2002, de 11 de Janeiro, que aprova o regime jurídico das Autarquias Locais. Em nenhuma das alíneas se prevê a possibilidade de uma assembleia emitir juízos sobre cidadãos individualmente considerados, nessa qualidade, sob qualquer pretexto. Em segundo lugar, a sua atribuição externa fundamental é "acompanhar e fiscalizar a actividade da câmara municipal". Por outras palavras, a definição sumária do seu princípio de funcionamento. O qual não inclui, obviamente, substituir-se a um tribunal, sempre que esteja em causa matéria onde a autarquia respectiva se considere lesada. Se foi esse o caso, deveria a AM ter endereçado uma queixa ao órgão jurisdicional competente. Fora de causa está a possibilidade de ela própria funcionar como um tribunal sumário. Onde está em discussão o exercício de um direito fundamental por um cidadão. Onde nem sequer o próprio pode exercer o contraditório. Onde as "provas" fornecidas não são analisadas nem valoradas por uma entidade independente. E a postura sedenta de sangue do actual presidente da AM está longe de corresponder à isenção requerida. Ficando assim os deputados votantes à mercê da demagogia, da chantagem e da capacidade persuasiva do tribuno proponente. Que subtilmente confundiu o uso da liberdade de expressão do cidadão Américo Rodrigues com a sua qualidade de Director do TMG. Ideia essa que acabou por passar para a votação, para a opinião pública e para alguma imprensa. É claro que, além dos meios normais, o próprio poderá reagir também pela via judicial, contra os titulares da AM intervenientes no caso, se para isso vir razões. Tal é o que permite o art. 97º da citada lei.
Se em relação ao acolhimento pelos membros da AM já se falou, sobra uma nota para a distribuição dos votos. Em relação ao PSD, confirmou-se o que já pensava acerca da estrutura local deste partido: dominada pelo atavismo, o conservadorismo, o anti-liberalismo, pela teia de interesses paroquiais que Pacheco Pereira tão bem tem vindo a denunciar. O PS anda pelas mesmas águas. Com a diferença assinalável dos doadores fantasma. As vozes divergentes só confirmam a regra. Notável é a posição do Bloco de Esquerda. Ou seja, não participar na votação e remeter o assunto para uma "questão de comadres". Ora, num partido habituado a opinar sobre tudo e todos, cujo líder mais parece uma picareta falante, e notabilizado pela promoção e defesa das questões fracturantes e/ou onde estejam em causa direitos fundamentais, o silêncio, neste caso, é ensurdecedor. Porém, numa estrutura local dominada pelo estalinismo, outra coisa não seria de esperar.
Por outro lado, neste episódio, há que referir a intenção manifestada por Baltazar Lopes em prosseguir a sua sanha persecutória. Agora tendo por objecto a Fundação Trepadeira Azul, na pessoa do seu presidente Mário Martins. Conheço este pessoalmente, bem como a sua notável acção em defesa do património ambiental local e da cultura, enquadrada institucionalmente pela Fundação. À qual só posso tecer os maiores elogios. Sabendo que, nesta área mais do que noutras, a acção em prol de causas não é possível sem pôr em causas interesses e poderes. 
Last but not the least, sobre o visado, Américo Rodrigues, três linhas. Após este episódio, AR posicionou-se definitivamente na Guarda como o elemento catalisador da dualidade modernidade/desenvolvimento/liberdade versus atavismo/subdesenvolvimento/carneirismo. Não que eu seja apologista das esquematizações a P&B, mas há situações onde elas têm todo o cabimento. Demonstrado ficou também que a sua intransigência e o seu destemor, em defesa de valores comuns aos defendidos pelo escriba, não só incomoda muitos, como o seu número se tem vindo a reproduzir desde que a luta começou, há trinta anos.
Para ambos, quero expressar a minha inteira solidariedade.

PS: sobre o caso, ver notícias aqui, aqui, aqui e aqui, ou um acertado comentário, na A23.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal


Feliz Natal,
Schoene Weihnachten,
Merry Christmas,
Joyeux Noël,
Buon Natale,
Feliz Navidad,

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Nuvem

pensar com delicadeza, imaginar com ferocidade...
Sintra: vendedor de bifanas em greve de fome há dez dias junto à câmara municipal
  1. encapsular paisagens para
  2. tentar perceber as pegadas do quotidiano
pensar com delicadeza, imaginar com ferocidade...
  • Ozono mata, confirma estudo
pensar com delicadeza, imaginar com ferocidade...
Frente Comum pondera manutenção de greve
Parlamento discute a 23 de Maio redução do IVA de 21 para 20 por cento
p e n s a r c o m d e l i c a d e z a, i m a g i n a r c o m f e r o cidade...

Nivoso


(de 21 de Dezembro a 19 de Janeiro)

domingo, 19 de dezembro de 2010

Lido

O chorão Sampaio foi, de viva voz, apoiar Alegre. Andou para ali a jogar com os termos "solidário" e "solitário" para concluir, dirigindo-se ao segundo na segunda pessoa do singular ("tu"), que o dito cujo é "solidário". A comissão de honra é uma lástima mas, sobre isso, não sou eu quem vai atirar a primeira pedra. Sampaio vem de um "mundo" político e de uma geração - que já incluia Alegre pelo lado "externo" - que sempre olhou para a solidariedade como um valor retórico, componente indispensável do "manual" do bom burguês esquerdista, nada e criado na classe média alta desafecta (ou mesmo afecta) ao regime. E que acha que aqueles que não tiveram o privilégio de classe a amparar-lhes os delíquios "solidários" são, por definição, reaccionários e "poderosos". O raio que os parta.

João Gonçalves, no "Portugal dos Pequeninos"

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Momentos Zen - 60

Não me vejo a mim próprio como exterior. Para quê entrar?

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Correio expresso (1)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Nobre versus novilíngua

Começaram anteontem os debates a dois, nas várias televisões, entre os  candidatos às eleições presidenciais. Para abrir a sequência, o país pode assistir ao round que opôs Fernando Nobre e Francisco Lopes. Percebeu~se claramente que Nobre não teve dificuldade em encostar o comunista às boxes. O último vinha bem preparado, com a habitual cábula minimal repetitiva. Para além dos soundbites habituais do discurso dos comunistas portugueses (e dos admiradores de Enver Hoxa), onde 1+1 é sempre igual a 1, avançou com uma naipe de acusações a Nobre. Assim tentando "demonstrar" a sua incoerência, a volubilidade da sua candidatura, confrontando-o ad nausem com a sua alegada posição contraditória face ao OGE. Ao mesmo tempo, tentava-o associar à real politik, por via de alguns comprometimentos no passado, apontados a dedo e retirados dos arquivos bolorentos da Soeiro Pereira Gomes. Nobre não precisou de muito para "desmontar o boneco". Afinal, quem aceita ser candidato a Chefe do Estado devido a uma decisão de um sinistro Comité Central, conseguida, imagino, pelo sistema de sorteio, bola branca bola preta, não merece grande consideração. E demonstra estar tão mergulhado no sistema como as forças do mal que os seus acólitos tanto diabolizam. E certamente Lopes nunca conseguiu criar um único emprego, como lhe apontou Nobre. Todavia, aposto que já conseguiu destruir muitos, devido à conhecida intransigência negocial dos sindicatos controlados pelos comunistas. Em suma, limitou-se, ao longo do debate, a blindar o seu eleitorado e pouco mais. Nobre fez o que lhe competia e o que sabe sem esforço: ser compassivo, inclusivo, transversal, universalista. Por outro lado, percebi com clareza, se dúvidas houvessem, a natureza do discurso estereotipado e autista dos comunistas. E de como constitui uma afronta à inteligência. Viu-se perfeitamente que o funcionário do PCP, a quem entregaram a "gloriosa" tarefa de se candidatar, não está habituado a este tipo de interlocutores. O PCP vive no mundo da fantasia, onde as palavras substituem as coisas, as profecias valem como objectivos, os conceitos ocultam a realidade e a esquizofrenia anula o mais ténue vestígio de honestidade intelectual. Ter pela frente um verdadeiro lutador, como Fernando Nobre, um homem cujo palco privilegiado tem sido afrontar uma realidade de que as estatísticas não falam, onde há que decidir depressa e sem esperar recompensas, é pedir demasiado a gente tão limitada. E o que é pior, rebater um discurso que, por não ser politizado, é terrivelmente político, que escapa à lógica comezinha e totalitária da novilíngua orweliana dos comunistas, deve ter sido aterrador para o zelota Lopes.

Playlist da casa (23)

"Hippjokk" (Silence Records, 1997), Herdningarna


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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Mais fugas

Só conto isto por uma questão de curiosidade. Rigorosamente mais nada. Medalhas, só de latão! Sim, já que os brindes do bolo-rei foram proibidos. Para desgosto das crianças e dos pobres de espírito de todas as categorias. Mas a fava, ao que parece, ainda continua. E sai a cada vez mais portugueses. Porém, a sua existência é para mim um dado puramente empírico, uma vez que não sou grande apreciador daquela especialidade de confeitaria, própria desta época. O caso é que, aposto que ainda ninguém falava no assunto, mas já neste blogue se badalava acerca deste novo paradigma da globalização chamado Wikileaks. Foi aqui e estávamos no distante ano da graça de 2008!...

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Delfos

Não há que ser demasiado ambicioso com a dor. Não esperar cânticos de redenção. Deixemo-la simplesmente entrar. Como uma visita persistente e incómoda. Que forçou a porta e pôs os cães das redondezas a ladrar. Nada a fazer. Deixá-la entrar. É ela que nos faz levar a sério. É ela que nos reenvia para dentro de uma lucidez circunspecta, exacta. É através dela que nos chegam os sinais de uma natureza que simplesmente nos reflecte. A que diz: "eu sou e tu estás", "podes usar-me como quiseres, mas tudo o que fizeres terá consequências".

Stalker

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Lido

Jornais, rádios e televisões estão cheios de reportagem, relatos e notícias sobre a pobreza que  parece estar por todo o lado. Parece exagerado que, de repente, haja uma epidemia de efeitos, muitas vezes antes sequer das medidas que os provocam começarem a ser implementadas. É verdade que o desemprego já cá está há mais de dois anos (começou antes do início “oficial” da crise pelo nosso preclaro governo…), mas a gravidade do fenómeno acontecerá só quando se esgotarem as almofadas sociais, familiares e públicas, que ainda lhe minimizam os efeitos. E só durante o ano de 2011 é que a quebra abrupta do nível de vida começará em toda a sua gravidade. Por isso, convinha haver alguma contenção, porque a pobreza não é substituir as férias em Cancún por uma semana no Algarve, nem comer menos um bife por semana. É outra coisa muito mais grave, muito mais perigosa e muito menos visível.

Pacheco Pereira, no "Abrupto"

Stalker

Acorrentados

No seguimento do post anterior, foi igualmente anunciada, pelo Governador Civil da Guarda,  a obrigatoriedade do uso de correntes de neve nas viaturas que circulem na via pública da cidade, sempre que as condições climatéricas o aconselharem. Tenho muitas dúvidas acerca da justeza e viabilidade desta medida. Mas antes de explicar porquê, saliente-se que, não estando tal estipulação prevista no Código da Estrada, recorreu-se à postura municipal para lhe emprestar força jurídica. Ora, as minhas dúvidas prendem-se com a previsível arbitrariedade com que as  autoridades policiais a irão interpretar. Ou seja, quem avalia com rigor os pressupostos para a sua aplicação? Quem fiscaliza? E quais as sanções previstas? Por outro lado, como será dada a conhecer tal determinação? Afixando painéis pela cidade e estradas do concelho? Outra questão tem a ver com o universo dos destinatários. O mesmo é dizer, será que os visitantes que vêm ver a neve e desconhecem a obrigação, terão tratamento diferenciado em relação aos munícipes? Obviamente, no único local onde esta medida já existe há alguns anos - o percurso entre a Covilhã e a Torre - estas perguntas não teriam cabimento. Uma vez que, nesse caso, bastou colocar barreiras nos acessos respectivos, acompanhadas de painéis informativos. Será possível fazer o mesmo na Guarda? Tenho as minhas dúvidas, devido ao número de acessos, à extensão do território e à limitação dos recursos. Por último, prevendo-se um aumento exponencial da procura, como e onde adquirir as correntes? Para evitar a especulação, não seria aconselhável colocá-las à venda no futuro Centro, a um preço simbólico, "social"?

Limpeza

Uma boa notícia. Segundo tudo indica, o famigerado Centro de Limpeza de Neve da Guarda vai mesmo ser uma realidade, ainda este Inverno. É o que tem vindo a garantir o Governador Civil do Distrito, ao longo da última semana, após reunião com o Ministro da Administração Interna. A Unidade será constituída, segundo o próprio, "por uma viatura limpa neves pesada, um veículo ligeiro para actuar no centro da cidade e também uma pá carregadora para carregamento de sal". O custo do equipamento está orçado em 300 000 Euros, sendo dois terços financiados por verbas comunitárias e o restante por entidades locais.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O gajo a caminhar para os lados de La Alberca

Petição (2)

O segundo abaixo-assinado tem como lema a "Restituição da Nacionalidade Portuguesa aos Judeus Sefarditas Portugueses". Uma medida justíssima, que reporia a verdade num dos mais dramáticos episódios da nossa História. Sobre o assunto e razões desta petição, recomendo a leitura deste excelente comentário no "Rua da Judiaria".

Para assinar, clicar aqui.

Petição (1)

De uma assentada, duas petições. Esta primeira destina-se à criação de uma unidade específica de combate a intempéries invernais da Guarda. Tem como causa imediata a ineficiência e alarmismo evidenciados pelo Serviço de Protecção Civil, no decurso do nevão da semana passada. Que não cuidou do que é básico nestas circunstâncias: manter a cidade a funcionar e potenciar a neve como seu principal cartaz turístico. O tema já aqui havia sido comentado. Ver também este texto, no "Café Mondego". Impõe-se assim a constituição de uma unidade profissionalizada e dotada dos meios adequados, vocacionada especificamente para estas ocorrências.  

Assinar neste local.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Palimpsesto (1)




Palimpsesto (2)





O milagre

O Poeta e o Herói são dois milagres; contradizem a Natureza, como duas pedras que voassem.

Aforismos, Teixeira de Pascoaes, selecção e organização de Mário Cesariny

Sarebbe bello vivere una favola - 16


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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A igualdade segundo César

Como se sabe, o eterno Presidente do Governo Regional doa Açores acaba de isentar os funcionários regionais dos cortes impostos na função pública pelo PEC 2. 
Sobre o assunto, escreve João Gonçalves no "Portugal dos Pequeninos": "o pequeno Kim dos Açores veio dizer que a sua "medida regional" - compensar três mil funcionários públicos tão portugueses como os de Faro, da Guarda ou do Funchal, por exemplo, dos cortes gerais que entram em vigor daqui a umas semanas - é dele e que nem o Querido Líder tem nada a ver com isso. Acresce, diz, que tal coisa não custa nem um cêntimo a ninguém. Ai não? Então o dinheiro brotará das fumarolas? Ainda estou para saber o que é que Medeiros Ferreira "viu" nesta criaturinha politicamente abjecta, saída directamente de um livro de Orwell para contribuir para o esterco em que tudo isto se tornou."

Sá Carneiro por Pulido Valente

«Trabalhei dia a dia desde o princípio de 1979 até Dezembro de 1980 com Sá Carneiro; primeiro como adjunto no partido e membro do Governo-sombra, a seguir como secretário adjunto no Governo propriamente dito. Até há pouco tempo, julguei que sabia o que ele pensava da política portuguesa e que tinha uma ideia aproximada do que ele se propunha fazer. Erro meu. Hoje, trinta anos depois do desastre que o matou, apareceram dúzias de íntimos, que nunca vi na altura perto dele e filósofos que explicam numa prosa arrevesada e solene o verdadeiro pensamento do homem. Compreendo que a ocasião é boa para ganhar uns cêntimos ou para ajudar carreiras tremelicantes. Mas não consigo deixar de me espantar com revelações que não revelam nada e com a transposição anacrónica para a cabeça de Sá Carneiro de coisas que manifestamente não o preocuparam ou que nem sequer imaginava. Assim se escreve a história e o jornalismo que se diz de “referência”. No meio dessa mistura de alhos com bugalhos, convém perceber que os fins de Sá Carneiro eram dois. Primeiro, levar a direita (o PPD e o CDS) ao poder e, segundo, acabar com a tutela militar a que Portugal estava submetido. Talvez seja inútil explicar que se o poder ficasse indeterminadamente nas mãos da esquerda que se opusera à ditadura, e só nas dela, não tardaria que se criasse a ideia de que não assistia ao PSD e ao CDS qualquer legitimidade para governar e o regime democrático ficava à partida liquidado. As maiorias de 1979 e de 1980 e a genérica moderação da AD (que se absteve de perseguir fosse quem fosse e respeitou meticulosamente a lei) legitimaram a direita em definitivo. O que simplificou a vida a Diogo Freitas do Amaral, ao PS e a Mário Soares, quando, pouco a pouco, resolveram reduzir os “revolucionários” de 1974 e 1975 ao pequeno papel que, num país civilizado, lhes cabia. Sá Carneiro queria apressar este processo, que, na prática, durou até ao colapso do PRD. O plano (se merece o nome) era eleger Presidente da República um general conservador e provocar, com o apoio dele, um referendo sobre a Constituição. Infelizmente, esta estratégia não passava de uma fantasia. Em 1980, o eleitorado da direita andava pelos 47 por cento e não bastava para submeter a esquerda. Pior ainda, a AD proclamara na campanha para as legislativas que “governara bem”, com Eanes, e ninguém aceitaria, como não aceitou, a súbita necessidade de correr com Eanes para garantir que dali em diante não governaria mal. Sá Carneiro morreu e o candidato da AD, como se previa, perdeu. Muita gente não se consolou deste desastre. Acontece que um desgosto, que do coração partilho, não substitui a evidência histórica.»

Vasco Pulido Valente, no "Público"

Stalker

A tempestade

Caiu mais um nevão na Guarda. And so what? Uma ocorrência perfeitamente banal, que nada tem de extraordinário, como é sabido. Aliás, a neve é um elemento crucial na iconografia da cidade. No entanto, sempre que aparece, dá ideia de que caiu o Carmo e a Trindade. A cidade pára. As escolas, sem excepção, fecham. As repartições estão a meio gás. Os compromissos cedem. Os eventos agendados são adiados sine die. Um manto de displicência, irresponsabilidade e catastrofismo parece ter-se abatido sobre a cidade, em vez de cristais de água. Repare-se que, preferencialmente, encerra tudo o que é público. As entidades privadas, no geral, estão a funcionar. E o que fazem as autoridades? Sobretudo comunicados. O Serviço de Protecção Civil, em vez de actuar como uma central de operações, resume-se a aparecer como uma central de comunicações redundante. Onde a inspiração parece vir inteirinha de Monsieur de La Palisse (o tal que 5 minutos antes de morrer ainda estava vivo). Podem ouvir-se coisas como: "saiam à rua bem agasalhados", "cuidado a circular nos passeios", "se andarem de carro, levem o todo o terreno", "não se prevê que a a circulação se altere nas próximas horas", "prevêem-se melhorias para amanhã", etc. Por outro lado, não se vêem viaturas próprias para remover a neve e o gelo das vias. Não se vêem equipas a trabalhar, mas tão só os jeeps da Protecção Civil a fazerem a ronda e nada mais. Afinal, esta gente é paga para quê? E ainda por cima, ao serem criticados pela opinião pública, reagem como se estivessem isentos de avaliação. Para quando a Estação de Limpeza de Neve, prometida há anos? Conheço países onde a neve faz parte do quotidiano, sendo portanto encarada não como um elemento perturbador, mas eventualmente poético. Na minha cidade, é todos os anos mais do mesmo. Salvem-se as fotografias, o divertimento, a poesia. E o silêncio.