quinta-feira, 30 de abril de 2009
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Democracia
Sobre a Dra. Laura Santos, psicóloga-filósofa da Eutanásia
A verdadeira voz da Democracia aí está. Os artigos de jornais, os dichotes, as manobras velozes, o aparente brilho da palavra quando a memória é curta e ela é curta sobretudo quando a submetem sempre a novidades, de difícil comprovação. Umas riscas regulares no fundo do Oceano e o título do jornal fala na descoberta da Atlântida. A presença das componentes da água em Marte e há oceanos subterrâneos no planeta vermelho. O sorriso de um homem só, na direcção de uma criança, na rua, e temos um pedófilo. O jornal assenta a sua verdade no direito à liberdade de expressão, mas também nas tiragens.
A voz da Democracia é como um ronco do Inferno que chove sob a forma de artigos de jornal, de posts, de vídeos, desenhados a preto e branco, ou a cores sumárias, sempre e sempre encadeando-nos com uma força hipnótica. E o fluxo desta avalancha, de novo é defendido de modo ameaçador pelos guardas da Democracia. Ai de quem a desafie!
Uma rapariga bonita e adulta declara-se virgem e o seu nome é arrastado pela ribalta como um marciano. Mas um guerreiro é considerado santo e o que discutem dele é quem é seu descendente, ou da sua armadura, não o seu hábito esfarrapado de monge.
A voz da Democracia é medonha, como o monstrengo que está no fim do mar. A ameaça paira no ar, as lâminas dos guardas da Democracia cortam como guilhotinas e a multidão, mais medonha que a própria Democracia, guarda as costas a estes guardas.
A democracia inaugura e paga o debate sobre os que defendem a Eutanásia, ou o Aborto. Em ambos os casos, não estão os de piedade e excepção que são todos atendíveis. O que passa a estar em causa é a provisão e a programação da limpeza dos fetos de dentro da barriga da mãe ou a antecipação, por via duma assinatura ou duma gravação, se não mesmo duma impressão digital, daquilo que acontece inevitavelmente a toda a forma de vida mais ou menos íntegra. E, da provisão, passa-se para fazê-la uma função do Estado.
Ora se há esta possibilidade de a fazer uma função do Estado, por meio da publicação e de um lugar na opinião que se publica, constitui-se uma posição que passa a ser mais respeitada e guardada pelos esbirros da Democracia que o próprio direito a respirar. Nasce o adversário e nasce o «debate». Obriga-se a debater o judeu com o nazi, o negro com um membro da Ku Klux Klan, um violado com o violador, um minoritário com o bolchevique. E ai de quem não respeite o «debate» entre o mártir lançado às feras e os leões esfomeados da arena! A Lei, como dizia Victor Hugo, proíbe igualmente aos miseráveis e aos milionários de dormirem debaixo das pontes. Respeitinho!
A vida pode debater-se por existir em condições sempre adversas, nem que seja só pela inevitabilidade da morte e da dor. Uma vezes mais adversas e outras menos adversas. Mas ela tem que respeitar o adversário, diz-se, como não podia deixar de ser, porque, na realidade, o discurso mais popular, e constantemente popular, entre a Ditadura e a Democracia, foi sempre o do futebol. Atenção ao «adversário»... respeitinho, que sem ele não tínhamos a bola, a nossa querida bola, de tontos surdo-mudos em que nos tornámos!
Que tenhamos a coragem de não encarar um cão que nos salta ferozmente num caminho ermo, ou uma praga que invade a nossa horta, como um adversário mas sim como inimigo. Inimigo, sim!Nem tenhamos medo de ser chamados anarquistas, terroristas, fascistas, nacional-socialistas, comunistas, protestantes, católicos ou ateus se fizermos frente sem hesitações a este inimigo. O que nos chamam pouco interessa, pois quem usa a voz, não está a combater. E se a Morte vier, metamos de uma vez na cabeça, que ela virá sempre e nunca como adversário, nem como inimigo, mas apenas como fim.
André
And now...
segunda-feira, 27 de abril de 2009
domingo, 26 de abril de 2009
sábado, 25 de abril de 2009
E também...
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errónea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
3 histórias no 25
1. Temos a tal definição de Sophia de Mello Breyner sobre o socialismo: uma aristocracia para todos. Claro que me agrada. E de que maneira! Até parece que o Nietszche anda por ali a espreitar. Percebe-se onde a poetisa queria chegar. Neste ponto, parece que as grandes proclamações revolucionárias e a grande poesia vão no mesmo sentido. Até a célebre "Conspiração dos iguais", com Babeuf à frente, - um dos episódios mais obscuros, embora mais empolgantes, da revolução Francesa -, não desdenharia transportar este estandarte. Mesmo que misturado com as cabeças dos aristocratas propriamente ditos espetadas em paus. No entanto, se na definição do bem comum é imprescindível abrir um espaço para a igualdade, a superação do paradoxo do slogan em causa requer alguns cuidados de interpretação. Sobretudo tratando-se de um céptico cada vez mais distópico, como é o caso do escriba. Ou seja, aristocracia acessível a todos, sim senhor! Mas que uma preocupação de igualdade não crie, ela própria, desigualdades, distorções, injustiças. E aí é necessário introduzir um peso fundamental na balança: o mérito. Talvez o aforismo de Sophia traduza a libertação do ter, para se poder ser plenamente. Talvez. E também acredito que ela não desconhecia que esse é só o início. O início de uma história onde nada está garantido. A não ser o futuro.
2. Hoje tive a suprema felicidade de assistir, no Grande Auditório do TMG, ao espectáculo com os grupos "Cramol" e "Angelite". Dois coros femininos, sendo o último de vozes búlgaras. A sessão assinalou o 4º aniversário do Teatro Municipal da Guarda e constituiu, em meu entender, o grande momento musical desta temporada. A palavra inesquecível é pouco, nestas alturas.
3. Há três meses atrás, perdi um dispositivo de memória flash, mais conhecido por pen. Na altura, bem me cansei de procurar. Até telefonemas para locais prováveis de esquecimento fiz! O caso não era para menos, pois estavam lá documentos bastante importantes e, ainda por cima, únicos. Resolvi esquecer o assunto. Hoje à tarde, quando atravessava uma rua central da cidade onde vivo, notei um objecto vagamente familiar, entalado numa ranhura entre duas pedras de calçada. No entanto, prossegui o meu trajecto. Já do outro lado da rua, com uns trocos na mão para comprar o jornal, um assomo de curiosidade insatisfeita fez-me vacilar. Voltei atrás. E pus-me a rondar. Após várias tentativas, por aproximação, e já com alguns basbaques à perna, dei novamente com a "coisa". Desta vez, observei melhor. Percebi logo o que era. Retirei então o objecto da ranhura e qual não foi o meu espanto quando percebi que, para além de ser uma pen, era de um modelo igual à que tinha perdido! Faltava o teste final: limpá-la e instalá-la numa porta USB. No trajecto até casa, ainda coloquei a hipótese de tudo aquilo ter sido fruto do acaso. Ou mesmo de existir uma espécie de "Bookcrossing" com mensagens deixadas em canetas de memória "esquecidas" na rua. Uma modalidade que eu ainda desconhecia... Mas não... Afinal era MESMO a tal pen, desaparecida em combate há três meses! E que tinha decerto deixado cair do casaco antes de entrar no quiosque dos jornais. E que graças a um Inverno sem chuva se conservou! Em suma, que bela história!
Lido
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Ainda os livros
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Hoje à noite!
O morcão ataca de novo!
quarta-feira, 22 de abril de 2009
As velhíssimas fronteiras
Os malefícios do Curling
terça-feira, 21 de abril de 2009
A Europa por um canudo
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Esclarecimento
- Os blogues locais são muitas vezes os únicos espaços onde é possível assumir posições criticas e denunciar situações "no terreno", preencher a lacuna do pluralismo onde ele é tímido ou inexistente, reunir propostas convergntes para a defesa de determinada causa, suscitar a dúvida onde tudo parece transparente, exercitar a cidadania de proximidade, assumir identidades "não conformes"; em suma, são a garantia do espaço público possível.
- Essa rarefacção do espaço público está relacionada, como se sabe, com o caciquismo, a ausência de checks and balances eficazes nas autarquias, o afunilamento da vida pública local em torno de interesses e empreendimentos muitas vezes duvidosos e, sobretudo, uma imprensa regional na maioria dos casos domesticada pelo compromisso político e pela sobrevivência.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Projecto Citius, dia 100
Alegria breve
Pesadelo com o acordo ortográfico
Somos um grossista eletr?nica internacional com a China, os nossos produtos s?o totalmente nova e original. Estamos principalmente vendem todos os tipos de produtos digitais, como iPod, computador portátil, televis?o LCD, camera, GPS, PS3, celulares, motos e assim por diante. Se você estiver interessado, por favor venha para o nosso site para dar uma olhada. Se você gostaria de solicitar alguns deles, entre em contato conosco.
Se não queres assistir a isto, assina aqui. Depois não digam que não avisei.
A rambóia
Le cool é uma editora transnacional que, à semelhança da Time Out, publica guias temáticos de várias cidades. Para tal, recorre e editores locais e ainda designers, escritores, fotógrafos e ilustradores, criando um guia absolutamente alternativo e fervilhante. O ritmo é frenético e reflecte o que realmente se passa nas cidades respectivas. No catálogo consta igualmente o guia de Lisboa. Para além deste, existe ainda um outro formato, a "Le cool magazine". Trata-se de "uma revista semanal grátis, que apresenta uma selecção de concertos, d.j. sets, exposições, exibições de filmes antigos, peças de teatro e uma série de outros eventos culturais e de entretenimento. A le cool é também um guia de lojas, restaurantes, bares e outros locais de ócio, sem serem necessariamente trendy, apenas com qualidade e que valham realmente a pena. Em vez de impressa, esta magazine é enviada todas as quintas por e-mail aos seus subscritores." Ou seja, aos interessados basta inscreverem-se no serviço de newsletter e já está! A publicação desta semana anuncia-se como "Repertório Útil a Toda a Gente Cool! 'Tão certo como após o dia vir a noite.' Contendo os dados astronómicos, culturais e ramboieiros, assim como muita indicações do interesse geral e pessoal." Bom proveito, cambada!
quarta-feira, 15 de abril de 2009
A vergonha
NOTA (18.04): afinal, soube-se ontem, as custas representam "somente" 55 ooo euros e só três dos familiares intervenientes no processo se constituíram realmente como assistentes. Uma correcção que não altera em nada o que se disse quanto a esta ignomínia.
terça-feira, 14 de abril de 2009
Lido
Que serão da matéria da noite
Promete-me palavras de ar, de saliva ou de sangue
Inteiras e nuas como a alma
Derramadas na pele como luz ou música
Palavras que possa guardar em mim
Como uma memória ou um filho
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Contra o acordo, marchar, marchar...
domingo, 12 de abril de 2009
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Tábua de marés (40)
Argumento, realização, produção e montagem: Zigud
Ante-estreia, com duração de 20’
Pequeno Auditório do TMG, 24 de Março
Como já li algures, a propósito deste registo, estamos na presença de uma curta-metragem poética. A designação é absolutamente acertada, uma vez que a poesia é a matriz deste filme. Por detrás de cada frame, em cada plano, em cada sequência, existe um propósito poético. Para o qual, os textos de Américo Rodrigues, aqui ditos pelo próprio, dão o mote. A história que deu origem ao filme é conhecida: um pastor da Quinta da Taberna, em pleno Parque Natural da Serra da Estrela, concelho da Guarda, registou, ao longo do tempo, uma série de inscrições nas paredes da sua casa. Fazendo-o de forma aleatória, embora com um propósito cronológico, diarístico. Onde cabem acontecimentos, impressões, listas de tarefas ou simples estados de espírito. Sinais “riscados” na parede e únicos testemunhos de um tempo. Ora, esse memorando grafitado foi recolhido e recriado por Américo Rodrigues. Dando origem a um caderno da colecção “O Fio da Memória” (edição NAC, 2004), em co-autoria com Ana Leonor Silva, intitulado “As pedras escritas – O pastor escrevinhador da quinta da taberna”. Creio ser neste registo que os textos que integram o filme têm a sua origem.
A obra tem assim uma marca espácio-temporal precisa. Todavia, desenganem-se os curiosos que esperariam ver nesta curta-metragem uma simples digressão documental. Ou uma surtida voyerista, do tipo televisivo, como já se viu em aclamados equívocos do tipo bucólico-pastoril. Como já se disse, este filme encerra uma evocação poética. Uma evocação onde o enredo está ausente, embora já não a narrativa. E que tipo de narrativa? A do tempo, seria a resposta mais óbvia. Um tempo encravado num espaço físico, cujos sentidos se convulsionam e se perdem em nostalgia. Onde cabem as memórias cruzadas dos intervenientes, a sua desenvoltura na paisagem, da qual são únicos actores possíveis. Uma paisagem aqui tornada cenário. Sem manipulações forçadas, mas como espaço intemporal cuja respiração se ausculta. E cuja força, neste caso, não chega nunca a esmagar, mas antes a encher de presságios, de refracções. Uma paisagem cuja quietude não inspira estados de alma, nem digressões românticas. Ou muito menos ilustra as inscrições do pastor, ou os poemas “sonoros” de A.R., mas instala-os, simplesmente. Por sua vez, as figuras tão depressa surgem, animadas pelas memórias que relatam, como se dissolvem no som de uma flauta, numa ramagem mais espessa, ou na curva do caminho, como numa sequência espantosa na parte final. Parecendo que carregam consigo uma missão prometaica, cujas elipses a câmara se encarrega de acentuar e iluminar, mas nunca forçando uma proximidade indesejada. As aparições do pastor-escrevinhador, na primeira pessoa, são igualmente comedidas quanto baste. O desenho do personagem é feito sobretudo pelas memórias dos outros, pelos seus relatos dispersos. No entanto, percebe-se que o pastor é a figura central da obra. Todavia, aparece, digamos, nas vestes de um demiurgo, de uma imagem fotográfica soprada pelo vento, logo no início. Mas nunca o vemos, volto a frisar, como um objecto de curiosidade etnológica. E é precisamente esta elegância, o jogo permanente entre a ocultação e a luminosidade, o rigor da montagem, aquilo que torna este filme uma obra singular e enternecedora. A qual, tanto quanto sei, é a obra de estreia do autor. Duas notas finais. Gostaria de, para além dos textos, de que já falei, fazer uma menção para as eficazes paisagens sonoras criadas por César Prata. Por último, a inclusão de separadores de texto no meio do filme, se bem que graficamente interessantes, torna-os elementos perturbadores que podem induzir o espectador em erro.
Tábua de marés (39)
Percussão: Terje Isungset (http://home.online.no/~isungz/)
Voz: Lena Nymark
Pequeno Auditório do TMG, 27 de Março
No início da carreira deste músico norueguês vamos encontra-lo como percussionista dos Groupa, uma banda que cultivava uma sonoridade folk, com muita flauta e violino de permeio. Com a gravação de “Reise”, o seu primeiro álbum a solo, Terje inicia uma nova etapa do seu percurso, utilizando instrumentos feitos de gelo. Em 1999 surgiu “Floating Rythms”, uma gravação ao vivo. Em 2002, o registo “Iceman Is” é a obra inaugural da série Icemusic, uma sequência de discos onde as sonoridades obtidas a partir de instrumentos de gelo dominam , mas que também poderia ser encarado como um tipo de música inovador. Seguiram-se mais quatro discos: “Ice Concerts”, “Two moons”, “Hibernation” e “Middle of mist”. Nesse período fundou a editora independente All-Ice Records, em 2005, dedicada a este tipo de música. Mas Terje não faz a coisa por menos. As gravações de originais são efectuadas em iglos transformados em estúdios, obrigatoriamente mantidos a temperaturas inferiores a zero. O jazz glaciar deste músico não deixa ninguém indiferente. O concerto dividiu-se em duas partes distintas. A primeira, o “Ice Concert” propriamente dito, onde o músico pode experimentar de variadas maneiras os diferentes instrumentos, criados exclusivamente para este espectáculo, não é de mais salientar: desde o Tambor de gelo até à trompa, passando pelo “Gelofone”. Uma sonoridade introvertida e que acompanha em pleno a efemeridade da matéria-prima usada, originando um momento elegíaco. Um apelo do inicio dos tempos. Onde a água sólida é como que um bloco criativo, enquanto o som é esculpido e pulverizado, percutido de infinitas maneiras e transportando consigo um murmúrio cristalino, da ordem do êxtase. Ou seja, a intervenção hipnótica do gelo, entre comedidos jogos rítmicos e tons que parecem ficar suspensos num fluxo que ameaça libertar-se, numa estranha irrisão de pureza. As vocalizações de Lena Nymark, por outro lado, asseguram o degelo no meio da litania glaciar. Seguiu-se uma segunda parte, “O Tributo à Natureza”, onde Terje executou vários temas, recorrendo à bateria e um sem número de instrumentos de percussão criados por si. Utilizando também, no último tema, novamente à trompete de gelo. Devido à variedade instrumental, foi visível o virtuosismo do músico e a sua mestria na âmbito daquilo que se convencionou chamar de criação de “paisagens musicais”. Aparecendo como um “Yeti” com propriedades xamânicas no meio das fontes, das folhas das árvores, do crepitar das fogueiras, dos animais em corrida, dos cristais de neve que se descobrem apenas quando observados ao microscópio. Pegadas jurássicas que ficaram, tenho a certeza, marcadas de forma indelével em quem assistiu a este espectáculo memorável.
Publicado no jornal "O Interior", em 2 de Abril
A caixa de música.
terça-feira, 7 de abril de 2009
A luta continua!
Por isso ... por não aceitar este pato ... também não vou aceitar ir a esse almoço para comer um arroz de pato ...
A esta ora está úmido lá fora ... por isso, de fato lá terei de vestir um fato ...
Se não concordares, clica na imagem que se segue e assina:
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Fezada!
Parágrafo 7 da Resolução da Assembleia da República n.º 21/2009, que aprova o regime de presenças e faltas ao Plenário.
sábado, 4 de abril de 2009
Já agora...
Há-de haver em ti restos de um abrigo,
A sombra do lume,
Uma melodia em ruínas.
E uma palavra inteira,
Nascida agora,
Ainda suja de sangue.
Aqui há livros!
sexta-feira, 3 de abril de 2009
A nova ANP
quinta-feira, 2 de abril de 2009
O fim da poesia?
Stendhal, Pound, e sobretudo T.S. Eliot, já tinham intuído que, a partir do século XIX, seria a linguagem da prosa, e não a da poesia, aquilo que assinalaria o caminho da nova visão. Isto é, a visão "em prosa" da realidade haveria de deixar para trás,porque pertencente a outro tempo, a sagrada "visão poética". Pound chegou mesmo a fixar uma data para essa conversão: o nascimento de Stendhal. Dante, poeta, e Shakespeare, dramaturgo em verso e poeta, "vêem" o que nunca poderá ver Cervantes, narrador e mau poeta (segundo alguns)? Acaso Faulkner, como narrador, "vê" menos que Dylan Thomas como poeta? Nesta arrumação, onde cabe Blake? Em suma, de onde provem essa alegada superioridade da “visão poética” sobre a “visão” narrada em prosa? Já agora, recordemos também as “visões em prosa” dos “videntes clássicos”, sempre modernos: Baudelaire, Rimbaud e Lautréamont, três criadores que também “viram” em prosa, sobretudo os dois últimos.
A “visão poética” morreu, devido à inanidade da própria poesia, dos seus poetas, incapazes já de enfrentar a complexa realidade do século XXI, que requer quiçá uma linguagem cuja construção seja mais universal, mais aberta, mais disposta a assumir todas e cada uma das novas técnicas, das novas tecnologias, que são também instrumentos de linguagem? Acabou a “visão poética”, em beneficio da "visão em prosa"? Mas quais as causas? Por esgotamento do discurso poético, mais cerrado, carregado de "códigos" antigos, de metáforas gastas, vazías, que já nada significam, uma vez que o seu significado natural, puro, a sua essência, pertence a um mundo antigo, caduco, a uma cultura cujos referentes místico-poético-literários são próprios de outro tempo e de outra linguagem, que já não correspondem às necessidades espirituais e verbais do século XXI?
Eis o dilema aqui proposto: será que a presumível vitalidade da "visão" literária em prosa, diante de uma provavelmente esgotada "visão poética", acabará por a relegar para o limbo do tempo.