sábado, 31 de janeiro de 2009

Momentos Zen - 55

As partes existem por causa do todo, mas não te apegues sequer a ele

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quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Sarebbe bello vivere una favola - 6


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As obras de Santa Engrácia

Chamo a atenção para esta carta aberta dirigida ao Primeiro Ministro, a propósito do escandaloso atraso das obras de remodelação do Hospital Sousa Martins, na Guarda. Que em boa hora o Américo publicou no "Café Mondego". É assinada por vários médicos que ali prestam serviço e relata as peripécias e as trapalhadas da administração e dos responsáveis políticos neste caso. As obras foram anunciadas por diversas vezes, com pompa e circunstância. Todavia, o seu início ainda não tem, perdoem o trocadilho, um fim à vista. Até quando?

Stalker

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Momentos Zen - 54

O movimento detém-se e não há movimento; o repouso move-se e não há repouso

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Morte na hora

Na sua ânsia desburocratizante, o Governo esqueceu-se de um serviço básico, esse sim, incompatível com delongas e papelada: morrer. Devo dizer, antes de mais, que hoje é incomparavelmente mais fácil, por exemplo, criar ou alterar uma empresa ou associação, registar transmissões de determinados bens, comprar casa, fazer um divórcio, pagar impostos (custa sempre, mas basta fazer um clique ou dois), consultar esses dados e corrigi-los, etc. Tudo o que facilite a vida aos cidadãos e empresas é de louvar. Então e a morte? Não é um direito básico poder escolhê-la? Quando todo os outros são negados ou impossíveis de realizar, não é esse o último reduto da dignidade? Proponho então que seja criada a "Morte na Hora". Um serviço integrado, universal, onde qualquer cidadão poderia planificar o seu decesso. Uma espécie de eutanásia à la carte. E como funcionaria? Muito simples. Caso o utente optasse por uma das modalidades pré-definidas (ser mordida/o por uma serpente venenosa, enquanto chamava todos os nomes possíveis e imaginários ao chefe onde trabalhou toda a sua vida, por exemplo) o serviço prestado seria grátis. Caso quisesse uma coisa mais elaborada (não querer de todo que a sogra fosse ao funeral, ou pretender ser infiltrada/o numa zona controlada pelos mujahedine e declarar bem alto que o Profeta tinha mau hálito, por exemplo), teria que desembolsar os euros respectivos. Como diz a canção "o sonho comanda a vida", o que cabe aqui inteiramente. Em qualquer caso, para desencadear o processo, bastaria a vontade correctamente expressa do cidadão, manifestada de forma livre, esclarecida e sem dependência de terceiros. Tudo o mais seria planeado e executado de forma expedita e sigilosa. Não fosse o diabo tecê-las...

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A ressaca

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

É já no dia 2

P: Então sempre é verdade que o "Boca de Incêndio" está quase quase a chegar aos três anos de vida?
R: Verdade verdadinha! Dois no buraco e um na pinha!
P: Há quem diga que este blogue é uma ilha. Concordas?
R: A ilha da Utopia? Quem é que não queria? Lá dizia o bom Tomás: uma mão à frente e outra atrás!
P: E como é possível não teres ainda comentado o caso Freeport?
R: Ora!!! Então o José não é engenheiro? Que mal lhe queria um simples sobreiro? Mais 15 mil no desemprego, isso é que me faz desassossego!
P: Achas que os blogues estão em declínio?
R: De tempos em tempos, em dolorosa espera arrumam a blogosfera, porém, mais certo seria espetá-la na estratosfera!
P: Quais os grandes momentos deste último ano no "Boca de Incêndio"?
R: Ora deixa cá ver!: algumas polémicas, muitas sugestões, mais crónicas, 5 ataques beras, 10 rubricas no activo: "stalker", "preces atendidas", "playlist da casa", "momentos zen", "série gajo", "u qui diz mulelo", "graffittis", "tábua de marés", "crimes exemplares" e "paperbacks", mais uma a iniciar em breve: "aqui há livro", mais amigos, mais seguidores, mais leitores, mais nomeações, menos pachorra para o Daniel Oliveira e outros comentadores da praça, como para certos políticos locais e nacionais, mais poesia mais poesia mais poesia, menos tosse, mais fogo e menos fumo.
P: E vai ser este ano que começas a pôr gajas nuas para aumentar as audiências?
R: Sabes que mais, ó reles provocador, um fino latinório te vou contrapôr: Grandia cum minimis mors ferit ense pari (Tanto morre o papa, como quem não tem capa)...

Playlist da casa (17)

Recensão de Michael Hubbard, no "MusicOMH"

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O gajo a tomar vistas

domingo, 25 de janeiro de 2009

Tábua de marés (24)

António Carmo (http://www.antoniocarmo.com.pt)

Exposição de pintura

Galeria do Paço da Cultura da Guarda

de 13 de Janeiro a 28 de Fevereiro

António Carmo (n. 1949), é um nome consagrado no panorama artístico nacional. Não tanto pela inovação artística, mas por uma originalidade estética mantida ao longo de 40 anos de carreira. A propósito, foi recentemente editada uma retrospectiva da sua obra, sob a chancela da Caminho, que inclui grande parte dos seus quadros, com fotos e alguns textos. Nesta mostra são expostos cerca de 40 trabalhos seus, incluindo dois desenhos. Como informação complementar, existem quatro expositores com recortes de jornais e dois com exemplares de catálogos de exposições do autor. Percebe-se, à primeira vista que a sua pintura tem um pendor decorativo. E a homogeneidade das suas propostas, se por um lado acentua a singularidade do seu universo poético poética recorrente, onde abundam as citações e as referências, pode também indiciar uma espécie de “produção em série”. Por outro lado, conhecendo-se os desenhos a tinta-da-china com que iniciou a sua obra, não é difícil desvendar um propósito ilustrativo que o veio a acompanhar até aos trabalhos mais recentes. Todavia, se esse objectivo faz todo o sentido nos desenhos, já não faz assim tanto nas pinturas a óleo que constituem o grosso da sua obra. Percorrendo-se a exposição, ganha consistência a ideia de que, pese embora o equilíbrio cromático e a semi-transparência das texturas assegurarem o tom inefável pretendido, o artista acabou por se tornar um repetidor de processos. Para o efeito recorrendo a técnicas pictóricas que, tendo dado frutos a partir de certa altura, acabam por se tornar automatismos que o artista tem sabido gerir com sucesso. Das obras exibidas, gostaria de destacar, na pintura, o díptico “Leitura” e Movimento”, “Movimento”, o tríptico “Destinos do Fado” I, II e III, “Memória”, bem como os dois únicos desenhos expostos. Nota negativa para alguns títulos que, à força de querer ser poéticos, se tornaram rebuscados e ainda por algumas citações pictóricas um pouco descontextualizadas, como a inclusão de um cão “de Velásquez” num dos quadros.

Publicado no jornal "O Interior", em 22 de Janeiro

Tábua de marés (23)

“Fay Grim” (2006)

Argumento e realização: Hal Hartley

Duração: 118 m

Apresentação: Cineclube da Guarda

Pequeno Auditório do TMG, 14 de Janeiro

Desde que assisti a “Uma Questão de Confiança” (1990), a segunda longa-metragem de Hartley, percebi que estava na presença de um dos realizadores mais interessantes do cinema independente americano. O filme em análise é basicamente uma comédia de acasos, no tom desconcertante a que o autor habituou o seu público. Desta vez alcança um pendor político, satirizando os filmes de espionagem. Neste sentido, observa uma regra de ouro do género, isto é, deve-se dar importância a tudo, porque tudo pode e deve ser decifrado. A obra constitui a continuação de uma comédia anterior, “As Confissões de Henry Fool” (1997), que consagrou o autor no panorama do cinema alternativo. Porém, inicia uma história independente que apenas faz alusão ao passado das personagens no anterior filme. Em Fay Grim, Hartley é também autor do argumento e da banda sonora – omnipresente ao longo do filme, de tal forma que parece ser mais um personagem. Em relação à linguagem, permanece como uma espécie de neo-godardiano, sobretudo nos diálogos. E utiliza, de forma quase exclusiva, as tomadas pelo chamado ângulo oblíquo, que dá uma maior amplitude à fotografia. Observem-se, por exemplo, as cenas de aeroporto e a da saída das personagens do Ministério do Interior, em Paris. Mas é também aqui que o estilo de Hartley se revela inconfundível: uma história entrelaçada com várias outras, personagens nervosas e que falam muito rapidamente, muita coisa a acontecer em simultâneo. Com a utilização de um humor muito inteligente e um constante tom irónico, o filme troça dos filmes de espionagem e conspiração internacional a que estamos habituados no cinema americano, num ritmo da realização estonteante. Peca pela sua duração (quase 2 horas), porque muito do que foi dito e feito podia ter sido tratado em menos tempo. A história é a de Fay Grim (Parker Posey), mãe solteira, de Queens, Nova York. Preocupada com a educação do filho, Ned Grim (Liam Aiken), de 14 anos, Fay acredita que o desaparecimento do pai, Henry Fool (Thomas Jay Ryan), após ter cometido um assassínio, pode influenciar o filho no sentido da marginalidade. No seu lugar quer ver o seu irmão, Simon Grim (James Urbanak), poeta prestigiado. Só que este encontra-se a cumprir pena, por haver auxiliado a fuga de Fool. Ned, por sua vez, acaba de ser expulso da escola, por ter mostrado aos colegas um brinquedo (do tipo caleidoscópio), com imagens pornográficas. Ao voltar a casa, Fay é interpelada por dois agentes da CIA, que a aguardavam. Um deles, Fulbright, diz que os cadernos manuscritos deixados por Fool, em poder do governo francês, continham segredos de Estado codificados, que lhe pedem para resgatar. Fay concorda, desde que a CIA liberte o seu irmão, para cuidar do filho. Ao ser solto, porém, Simon verifica que, por trás das figuras mostradas no brinquedo de Ned, havia uma inscrição, num idioma desconhecido. E começa aqui a saga, com encontros e enigmas apropriados ao género. À medida que a trama se desenrola, Fay avança em busca dos tais cadernos, mas compreende que jamais soubera nada sobre a vida que levava Henry Fool. Por sua vez o espectador percebe aos poucos que o perfil que se vai desenhando deste, pelos extraordinários comentários que se ouvem dele, cada vez mais o aproximam, em semelhança de atitude, de Robert Baert, ex-agente da CIA, protagonista de “Syriana”, de Stephen Gaghen, um dos melhores filmes políticos americanos mais recentes. Os actores são quase todos “reincidentes” de outras películas de Hartley. E apresentam, no conjunto, um trabalho primoroso de interpretação, com destaque, naturalmente, para Parker Posey.

Publicado no jornal "O Interior", em 22 de Janeiro

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Momentos Zen - 53

No instante em que nos iluminamos por dentro, atravessamos o vazio de um mundo que nos enfrenta

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Violência doméstica

O caso passou-se em Ponta Delgada. Um "valentino" rejeitado pela namorada resolveu ir a casa dela. "A arrastar a asa?", perguntarão vocês. Desiludam-se. O inconsolável foi ter com ela, isso é certo. Mas para lhe ministrar umas valentes marteladas. Após o que a deixou em estado tal que senhora veio a falecer. Entretanto, o nosso herói dirigiu-se a casa da ex, munido de um garrafão com gasolina e, como é natural, umas acendalhas. Depois, tá-se mesmo a ver. Pega fogo à casa e pira-se para bem longe. É de supor que o pirómano de ocasião estivesse sob a influência de uma conhecida sequência de "A Lei do Desejo", do 1º Almodovar. Adiante. O julgamento decorreu na passada semana. E soube-se agora a pena decretada na sentença: 4 anos e meio de prisão efectiva! Pois bem, o Tribunal de Ponta delgada considerou, no acordão, que o valentão demonstrou um "sério arrependimento". Leram bem? E perante tal contrição de circunstância, o colectivo de juízes deve ter sido possuído por um assomo lacrimejante. Esquecendo-se que não são pagos para ser magnânimos, mas para fazer Justiça. Perante isto, o Oliveira caladinho que nem um rato. Claro, andar a lamber o rabo aos radicais palestinianos é mais reconfortante...

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O cluster


Este novíssimo velho, nascido para a vida política por via de um longo e extenuante tirocínio da carne assada, num desses aviários de mediocridade que dão pelo nome de juventudes partidárias, tem funcionado recentemente, no PSD, como a reserva moral que busca a respeitabilidade, a réplica "xóven" de um acácio queiroziano que abrilhanta os salões e emudece os basbaques. Para Sócrates, este personagem que é oposição (dentro do PSD) mas afinal não é, que pisca o olho aos liberais, mas afinal gosta de grandes investimentos públicos, que está mas não está, que vai passeando a sua irrelevância intelectual pelos lustres e pelas ribaltas oferecidas pelo jornalismo "oficial", veio a revelar-se de uma enorme utilidade. No fundo, tiveram ambos o mesmo percurso: os anos de "formação" nas respectivas juventudes partidárias, a existência televisiva, umas golpadas aparelhísticas aqui e acolá, umas sinecuras nos entretantos. Com uma diferença: mesmo tendo frequentado a mesma escola e participado nas mesmas brincadeiras, Sócrates vem da pequena-burguesia da província; por sua vez, Coelho vem da burguesia da linha. Uma diferença considerável. Mas que não deixa de incentivar os cruzamentos, as confluências, as afinidades comuns, o gosto por soundbites vazios. O último, veio agora a saber-se, é apologista do TGV, mas defende a criação de um "cluster". Um "cluster"? A coisa aconteceu num jantar promovido pelo "Economist". Ver aqui a notícia. Embora diga que não, Coelho assume-se pois como contraditor qualificado da líder do PSD. Mesmo defendendo uma insanidade como a construção de um TGV num momento de recessão como o que vivemos.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A mochila e o chapéu do gajo

O dia 0


Gostei de ouvir o discurso de Obama, na sua tomada de posse. É curioso que, em relação ao seu projecto político, passei das muitas reticências para um entusiasmo moderado. O que me agradou no seu discurso foi a densidade, a divisão clara entre o que é ou não negociável, a visão clara das responsabilidades da América no xadrez mundial, o enfoque na crise financeira, a firmeza em relação aos inimigos da liberdade, a retoma dos princípios que fundaram o sistema político americano, mas pondo-os ao serviço da visão estratégica do novo presidente. Que soube hoje ser o intérprete, o visionário, o construtor e o garante do accountability do seu mandato.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O malhor do mundo em descurço direto

Intrevista do Crestiano Reinaldo à RTP:

1. sabia de entre mão
2. é legitimidade pensarem
3. as drogas não é bom
4. eu até considero um condutor bom, na minha opinião
5. não é só eu
6. admiro muito eles
7. para quem saba bem do que estou a falar.

...and soi on and soi on (incluindo a sovaqueira húmida)

Eu vi um sapo

No Portal Sapo existe uma secção chamada "sapo zen". Fui ver do que se tratava. Deparo então com uma série de "temas" em destaque, com os links multimédia respectivos: horóscopo, espiritualidade, auto-ajuda, terapias e astrologia. Os visitantes têm igualmente a possibilidade de ficar a conhecer as previsões da taróloga Vera Xavier acerca do Tarot para os signos do Zodíaco. Mas o créme de la créme consta de uma converseta em vídeo com Heloísa Miranda sobre, adivinhem, os signos! Isso mesmo! Tudo isto debaixo de uma sonoridade new age, ao gosto do freguês e a da freguesa. Ok. E o que tem tudo isto a ver com o zen? Talvez a nessidade de uma santa paciência para assistir a este consumismo frenético que se dá ares de espiritual, mas que, no fundo, se resume ao fundo de maneio do chá das tias.

A mula

O senhor da imagem notabilizou-se, entre outras razões (vulgo, ter apoiado o "Zé" na CML, lançar umas postas de pescada na blogosfera), por participar num programa tipo "noites da má língua" e tal, na SIC N. Nessa rubrica, o títere da Praça das Flores debita uns soundbites esquerdalhos, de um reaccionarismo escandaloso. No estúdio, encontra-se devidamente acolitado pela estrela decadente "ferreira alves", "clarinha" para os happy few, mas que também assina simplesmente "clara", romancista frustrada e ex-santanete, a quem Vasco Pulido Valente dá deu uma coça monumental na blogosfera; o namorado da clarinha, apresentador; um "gajo das empresas", que debita algumas enormidades na área da economia e um outro, o único com quem simpatizo, a quem chamam "Paulo" e que escrevia, salvo erro, no blogue "Atlântico". Pois ontem o Oliveira, num arremedo de incontinência verbal, ultrapassou as marcas da simples razoabilidade e da mais elementar honestidade intelectual. Perorava o "tribuno" acerca das sensatas declarações do cardeal-patriarca, a propósito das cautelas do casamento com um muçulmano. Pois bem, a luminária afirmou então que, se em Portugal morrem anualmente 40 e tal mulheres vítimas de violência doméstica, o cardeal devia questionar o facto de alguém casar com um português. Pensei que estava a ouvir mal, mas era mesmo verdade! Para já, estas estatístivas são falsas, uma vez que só houve, no ano passado, 12 casos comprovados de morte devido a agressões no âmbito da violência doméstica. O ideal era não ter havido nenhuma, mas os números são estes. Depois o argumento é demagógico, ao estilo da velha esquerda, dona da verdade e da moral. É que, em Portugal, à semelhança dos países ocidentais que o Oliveira tanto odeia, a violência, seja ela de que tipo for, é criminalizada. E onde as mulheres não são agredidas publicamente porque não usam véu. E onde é reconhecida aos cidadãos a liberdade de terem ou não religião e a obrigação de não a imporem aos outros. E onde os prevaricadores, nos casos que referiu, foram devidamente julgados e condenados. Pelo contrário, nos países muçulmanos, as mulheres são maltratadas, sujeitas a um vexame constante, impedidas de exercer os mais elementares direitos de cidadania. Empurradas para uma sujeição feudal e patriarcal, que a religião impõe e o poder político encoraja. Todavia, nenhuma censura é dirigida a quem fomenta e beneficia deste estado de coisas. Por exemplo, para quem não sabe, nesses "paraísos de tolerância", segundo Oliveira, se uma mulher foi violada, corre o risco de ainda ser apedrejada pelos tais defensores da moral. Por outro lado, como disse e bem o "Paulo", os dirigentes religiosos podem diariamente dirigir "fatwas" a intelectuais, a dissidentes, a mulheres que tiveram a coragem de denunciar a opressão, a jornalistas, a países, a civilizações. Podem declarar à vontade o seu ódio, as suas ameaças, os seus incitamentos à violência. Mesmo assim, o imperturbável Oliveira e seus comparsas nem sequer pestanejam. Permanecem no seu limbo de ressentimento, de inveja social, de arrogância, de irresponsabilidade. Não esboçam qualquer indignação. Pois toda ela está concentrada na excomunhão do cardeal-patriarca, graças a um desabafo inóquo, que a esmagadora maioria das pessoas decerto subscreve. Acontece que, neste caso, sou insuspeito, pois várias vezes tenho aqui defendido posições em favor da laicidade e de não intromissão da Igreja na esfera das liberdades civis. Vem-me à memória, a certa altura, o delicioso final do conto "Civilização", de Eça. O narrador tem um sonho, onde, no Eden, Platão discute com o caseiro, autor das divinas favas. Entretanto, o atarantado Jacinto encontra-se às voltas no céu, montado numa mula escoiceante, à procura do seu paraíso perdido. Ocorre-me então imaginar o Oliveira no lugar perfeito para si: a mula. Em resumo, o senhor da imagem, à semelhança dos comparsas da "esquerda" gourmet, é cada vez mais um erro de casting: um "agitador" boçal, desonesto, primário, que ainda julga possível "épater les bourgeois". Uma crosta purulenta resultante de implantes cirúrgicos mal sucedidos. E que agora acedeu, de pleno direito, à galeria dos sacos de boxe predilectos deste blogue. Ao lado de Júdice, Menezes, Nogueira, Santana e Clara. Bem vindo!

domingo, 18 de janeiro de 2009

A tenda do gajo

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Stalker

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Tábua de marés (22)

Dead Combo
Músicos: Pedro Gonçalves, Tó Trips
Pequeno Auditório do TMG, 19 de Dezembro

Assisti a um concerto desta banda há uns dez anos, na Feira de S. Mateus, em Viseu, cuja sonoridade me impressionou. Estava pois deveras curioso deste reencontro, cujo mote foi a apresentação do seu mais recente álbum, “Lusitânia Playboys”. Segundo Tó Trips, "Talvez seja o disco mais barroco e ao mesmo tempo o mais experimental, no sentido de termos posto cordas, trompetes, e os convidados influenciaram mais no resultado final”. Nesta gravação, participaram como músicos convidados Nuno Rafael, Carlos Bica, Alexandre Frazão, Ana Quintans, Kid Congo Powers e Howie Gelb, o mentor da banda. "Lusitânia Playboys" é o terceiro longa-duração do grupo. A dupla criadora voltam a liderar este ramo singular do turismo imaginário. Possuem para oferta, nas 15 faixas que compõem o álbum, convidados de luxo que funcionam como hotéis e spas de luxo, aumentando a qualidade da estadia em cada música/ país/ local. Todo este mundo das viagens pode e deve ser revisitado constantemente. Deve, porque são destinos em constante mutação. Diferentes a cada viagem, diferentes a cada disposição do ouvinte. Variam conforme o sentimento que nos assola, não depende de climas e épocas altas ou baixas. Está entregue ao momento egoísta que cada escolhe para o usufruir. É ele que vai determinar a sensação como vivemos cada deslocação para outro mundo. Os Dead Combo são um projecto que se assume, cada vez mais, com maior potencial no actual panorama da música portuguesa. Plasmado em mais um notável espectáculo no TMG.
Publicado no jornal "O Interior" em 8 de Janeiro

Tábua de marés (21)

Natureza Morta
Realização: Jia Zhang-Ke
China/Hong Kong, 2006
Pequeno Auditório do TMG, 3 de dezembro

Testemunhas de um ambiente pré-Tiananmen, grande parte dos novos realizadores chineses só começaram a filmar depois de 1989. Ao contrário do que se chama a 5ª Geração de cinema chinês que, como Zhang Yimou, viveram a Revolução Cultural, o novo grupo, a que já se chamou 6ª Geração, nasceu num país com outros horizontes.
Nos últimos anos, depois da presença em vários festivais, Jia Zhangke começou a poder ver os filmes exibidos no seu país, embora o maior mercado seja o da pirataria, algo que o realizador inclusive usa com ironia num dos seus filmes – “Prazeres Desconhecidos” – onde um personagem pergunta a outro que filmes tem para vender e refere várias das obras de Jia Zhangke. Mas se o filme sobre a Barragem das Três Gargantas – “Natureza Morta” – e outro sobre os trabalhadores de um parque temático de Pequim – “O Mundo” – já entraram no que oficialmente se chama a produção chinesa, Jia Zhangke continua a ter filmes banidos no seu país. “Prazeres Desconhecidos” (2002) é apenas um deles, a que se junta “Pickpocket” (1998) e “Plataforma” (2000). Embora o seu nome seja mais conhecido na China, e o facto de já ter sido premiado duas vezes na Festival de Veneza – primeiro com “Natureza Morta” que recebeu o Leão de Ouro em 2006 e este ano com “Useless”- entre muitas outras distinções, como por exemplo no Indie Lisboa/2004, sejam factores a ajudar à sua divulgação nos meios de comunicação chineses, o realizador não colhe a unanimidade no seu país.. Uma parte do público considera os seus filmes aborrecidos e a falta de marketing leva a que a questão de deslocar milhões de pessoas das Três Gargantas não seja um tema fácil de comercializar no país. Como nos anteriores filmes de Zhang Ke Jia, é mais uma vez a força da brisa sobre a realidade que serve de mote aos eventos. Assistimos a duas histórias diferentes de estranhos que chegam a uma terra desoladora, desconhecedores de que a construção de uma barragem submergiu a cidade e por conseguinte as moradas que vinham visitar. Um mineiro procura a mulher e a filha que não vê há dezasseis anos, e uma jovem esposa vem em busca do marido que não regressa há dois anos. Estas duas histórias fundem-se com o cenário de miséria reinante, cheio de pequenos vigaristas, corrupções, os realojamentos sumários e as diárias demolições dos prédios que serão submersos na fase seguinte da barragem, demolições essas que se fazem à custa de braços e picaretas, sem a ajuda de qualquer maquinaria pesada, a qual é inexistente. As dificuldades são apresentadas com uma poesia desarmante, numa simplicidade igual à da água e uma brutalidade como a do cimento. Há quem consiga o que quer e quem volte de mãos a abanar, mas o cinéfilo sai do cinema com uma visão mais abrangente, de uma China que continua a funcionar a um ritmo diferente, com uma cultura que resiste ao tempo e a inovações. A esperança é abalada, mas pelo menos há uma barragem em construção, sinal de um progresso que tem de começar por algum lado. Sendo o preço a perda de identidade. Aqui o símbolo do confronto é a antiga cidade de Fengjie, prestes a ser erradicada do mapa e submersa pela imensa barragem no vale das Três Gargantas. Esta povoação torna-se então o ponto de encontro de estranhos que vão para lá procurar um lugar nos trabalhos de demolição. Mas os protagonistas do filme, um homem que vai em busca da sua mulher e da filha e uma mulher do seu marido, ambos provenientes de uma província rural da China. Apesar da similitude das suas peregrinações, eles nunca se cruzam. Mas ambos representam o elemento familiar, espelhado no carácter doméstico dos capítulos, de uma cidade quase alienígena, onde até existe lugar para discos voadores. A paisagem desoladora do cimento e vigas expostas contrasta com a honestidade emocional das personagens, que acabam por ser destituídas pelos fantasmas dos edifícios, atrozes transfiguradores da viagem de purificação em que inconscientemente enveredaram. Existe um sentimento próximo de um romantismo auto-destrutivo na maneira como Jia Zhang-Ke filma os cenários devastados da cidade em ruínas, como um prelúdio obrigatório para o que virá a seguir. Em Shijie (O Mundo), o realizador falhou em transmitir no final a mensagem a que se propôs, a de uma China que tenta forçosamente agarrar um lugar no mundo do séc. XXI, mas ignorando a riqueza da sua própria cultura. Aqui fá-lo com a contenção arrebatada de um lamento e de um derradeiro sussurro de socorro.
Publicado no jornal "O Interior", em 8 de Janeiro

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Playlist da casa (16)


Sting, "Songs from the Labirynth" (Deutsche Grammophon, 2006)

Sting explora o universo musical de John Dowland, compositor inglês que viveu entre 1563 e 1626. Edin Karamozov, músico bósnio, acompanha ao alaúde. O cantor intercala as composições musicais com a leitura de cartas de Dowland. O que transporta o ouvinte até à epoca renascentista em que este viveu. A edição especial inclui também material extra, com versões alternativas e guias de audição para algumas faixas. Sir Robert Cecil, o destinatário das cartas, foi 1º Conde de Salisbúria e membro das cortes de Isabel I e Jaime I. A minha grande descoberta musical do ano que passou.

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Balanxo 2008

À semelhança do ano passado, o Américo Rodrigues pediu-me para escrever um "balanxo", no "Café Mondego", do que melhor e pior aconteceu na Guarda no ano que passou. Desta vez, resolvi não fazer uma recolha descritiva, mas ir um pouco mais além. Ou seja, estabelecer outras qualidades e outras limitações. Experimentadas mediante uma vagabundagem poética. Portanto, grandezas fora do baralho, porque precisamente no meio dele. Está aqui desde a semana passada. Abalancem-se.

domingo, 11 de janeiro de 2009

A resposta

Sobre a questão palestiniana em geral e sobre os bombardeamentos israelitas na faixa de Gaza, passou ontem à noite na SIC N um extenso debate. Onde pontuou a inefável Clara Ferreira Alves, "especialista" na área. À semelhança de grande parte da esquerda, apontou o dedo a Israel, sempre os maus da fita, é claro. Até Rui Bebiano, habitualmente tão lúcido, escreveu uma pastoral que, habilmente, desculpabiliza o Hammas e demoniza Israel. A única democracia no meio de cleptocracias permeáveis ao terror fundamentalista. O Daniel Oliveira, claro está, não poderia faltar aos seus amiguinhos terroristas. Ora vamos cá ver: o Hammas é pois, para os nanas de serviço, um grupo de escuteiros que ajudam as velhinhas a atravessar a rua. Boa acção essa à qual acrescento o "pormenor" de, durante a travessia, obrigarem a velhinha a esconder dois mísseis debaixo da saia. São os tais que usam ambulâncias para transportar armas, que fanatizam crianças com vista a torná-las mais um número na extensa hagiografia de mártires às portas do paraíso, que usam as populações civis como escudos humanos, que negam a existência ao estado judaico, que transformaram aquele território num arsenal rodeado por inocentes e futuros mártires, que desprezam a vida, a dignidade humana. Israel tem pois todo o direito de se defender, se a sua existência estiver ameaçada, como é o caso. É a vida.

Recordes polares

1. 0.8 º numa das alas da minha casa
2. 15 pingentes estalactites no chassis do carro
3. 3 peões seguidos por cima do gelo, ontem à noite, oferecidos por um amigo após o lançamento do livro, com paragem a cerca de um metro do muro.
4. 1 congelação de água nas canalizações dentro de casa, durante a noite.
5. 29 escorregadelas entre o restaurante e o TMG, ontem à noite.
Posfácio: a neve está tal e qual como caiu na sexta-feira: cada vez mais cristalina, cada vez mais etérea.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Preces atendidas - 31


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"Sou da Guarda"

Este episódio, relatado pelo Américo Rodrigues no "Café Mondego", despertou em mim o propósito de escrever algumas linhas sobre o que significa "ser" deste ou daquele sítio. Ou melhor, o que significa anunciar urbi et orbi que se é daqui ou de acolá. Antes de mais, convém isolar o enunciado "sou da Guarda" do contexto onde aparece. O qual só ao autor diz respeito. Pois é nessa declaração, e só nela, que vou pegar. Ora, o sentimento de pertença a um grupo, a um território, a uma cultura, a um corpo de representações colectivas comuns é, sem dúvida alguma, um elemento definidor da identidade do sujeito. Onde participam elementos subjectivos e objectivos, é claro. Mas nos quais não me vou agora deter. A existência social dos indivíduos é determinada, segundo Pascoaes, em primeiro lugar pela família a que pertencem, vindo depois a comunidade, associada a um território e, depois, a nação. Abstraindo do fundo de maneio ideológico que subjaz a esta construção, diria que, embora cada um se possa descartar de algumas destas filiações, dificilmente o poderia fazer em relação a todas elas. Centro-me agora na segunda, pois é dela que aqui cuido. O sentimento de pertença a um lugar é um laço identitário tão forte quanto relativo. Uma vez que pode não ser determinado pela naturalidade, mas pelas circunstâncias da existência, pela afinidade, por ser aí que se adquiriu a notoriedade, o conhecimento, a felicidade. Em suma, é um local adoptado que também nos adoptou, o que sinaliza uma verdade que uma ficção administrativa não pode fazer subsistir. Significativamente, na Idade Média e durante o Renascimento, era comum as pessoas serem conhecidas simplesmente por dois nomes: o próprio e o da cidade onde viviam, ou onde se notabilizaram. Erasmo de Roterdão e João de Ruão são só dois exemplos. Tudo isto para chegar onde? É menos importante o local de onde se é do que aquele onde se está. Claro está que, se ambos coincidirem e se para o sujeito essa ligação for importante, nada mais haverá a crescentar. Mas há mesmo. Porque existe uma relação inversamente proporcional entre o local de pertença formal que se invoca e a substância do seu conhecimento. Ou seja, quanto maior a veemência da afirmação do local de onde "somos", menos lá estamos, ou estivemos, efectivamente. Claro que, para muitos, esta questão nem se põe, uma vez que a sua identidade cultural passa por outras representações. Para esses, "ser" e "estar" são realidades simultâneas, nómadas e, porventura, risíveis, quando vistas em conjunto. No meu caso, posso adiantar que, estando fora de Portugal sou português, se isso vier à tona, e estando dentro sou prioritariamente "do mundo". Quando se trata de referir qualidades próprias, ou exemplos particulares, da Guarda. Na cidade, simplesmente "estou". Ou melhor, "vou estando". O que permite ficar dispensado de declarações redundantes e de querer ser dono de coisa alguma. Tásse? Ora bem!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A antiga bicicleta holandesa do gajo

O país por dentro

Chama-se "a vida neste país aqui agora". Trata-se de um projecto em forma de blogue, pensado para um país em forma de projecto. Reúne colaborações variadas e plurais (duas palavras que os mais distraídos julgam significar o mesmo) de vários autores, onde pontuam manuel a. domingos, Henrique Fialho e Luís Filipe Cristóvão. Ora, reflectir sobre a imagem que de nós fazemos é um desafio sempre actual, aberto sobretudo a partir da geração de 70, continuado por Pessoa, assombrado por Teixeira de Pascoaes e iluminado por Eduardo Lourenço. Os autores assumem-se como um grupo. Haverá, provavelmente, uma marca geracional neste propósito. Mas que, ao nos aproximarmos do projecto, se percebe inserida numa matriz de outro tipo. Até ao momento, só alguns dos nomes constantes da "ficha técnica" publicaram as suas propostas. Naquilo que será a base para outros desafios, segundo anunciam numa espécie de declaração programática que inaugura o blogue, intitulada "ponto da situação". Diz-se aí, logo no primeiro parágrafo: "Ideia: juntar os contributos de alguns portugueses sobre a situação de viver num país como o nosso neste determinado momento histórico pelo qual estamos a passar. A proposta não podia ser mais abstracta: cada um terá um país diferente (geográfica e culturalmente, cada um fez os caminhos que fez), e o seu momento histórico será deveras influenciado pelos seus interesses pessoais. Estará aí mesmo o interesse deste exercício: gerar algum debate em volta da forma como sentimos e vivemos o nosso país e os nossos tempos." Uma ironia descontraída e uma radicalidade firmada em situações caricatas, mas significativas, são algumas das notas que pude reunir a partir do que li. Em suma, um desafio auspicioso e a seguir com atenção.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

"Eu queria encontrar aqui ainda a terra": o livro


A peça estreou em Maio do ano passado, apresentada no âmbito do Projéc~. Produziu-a o TMG para a Câmara Municipal da Guarda e Centro de Estudos Ibéricos. Segue-se agora o livro. Ou melhor, o décimo caderno da colecção TMG, assim é que é. Os autores, ou seja, manuel a. domingos e este que vos escreve, agradecem a todos aqueles que tornaram possível esta edição, em especial ao director do TMG. E mais declaram aos costumes estar mortinhos (ia a dizer "em pulgas", mas assim fica mais... mais... quitoso, pronto) por manusear um exemplar. “Eu queria encontrar aqui ainda a terra” procura situar vários encontros, intensos, irónicos e por vezes desconcertantes: da memória recente da cidade com dois passageiros ilustres: Eduardo Lourenço e Vergílio Ferreira; de duas gárgulas de granito que são o mesmo e o diferente, a matéria e o espírito; de duas personagens em trânsito num ambiente exótico, cujas perguntas são maiores do que as respostas e estas provêm do inesperado.
A apresentação será no Sábado, dia 10 de Janeiro, no Café Concerto, pelas 21h30. A entrada é livre. Estão convidados.

Mnemónica

1. Terceiro dia da operação Citius por terras da Beira Alta. Como uma espécie de embaixador itinerante junto dos operadores judiciais, anunciando os poderes redentores do novo sistema. Engraçado é pressentir o pavor insano de alguns em ver desaparecer o papel, o querido papelinho. Aos poucos substituído por uma virtualidade onde não reconhecem a materialidade incontornável. E talvez uma subtil ambiguidade para fazer valer no momento certo, esse sim, inexorável, embora ainda humano. Pensam eles.
2. Junto a Oliveira do Hospital passei por uma localidade com uma toponímia que decerto não receberia o imprimatur caso passasse pela comissão inquisitorial. Chamava-se: Fonte dos Coitos. Olé! Dá-le!
3. Temperatura mínima recorde deste Inverno, dentro de casa: 2,5º Celsius. Bolas! Se fossem Farenheit sempre era melhorzinho. Mas cá se vai sobrevivendo. Farquê?

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O prémio

O Generación Y , da cubana Yoani Sánchez, que já atrás referi, consolidou a sua posição de verdadeiro ícone da blogosfera. Se já antes era citado e reconhecido como um modelo a seguir, agora viu serem-lhe atribuídos dois galardões, de uma assentada: os prémios BOBS (Best of Blogs) (Alemanha) e Ortega y Gasset de jornalismo digital (Espanha). Mas a lista não acaba: Yoani foi incluída no rol das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2008, segundo a revista "Time". Ao receber o segundo prémio, Yoani escreveu no seu "balsa-blogue" um belíssimo texto de agradecimento, aqui em versão integral e que não resisto a transcrever um pedaço:
"Não faltaram os que me chamaram à paz do silencio, à tranquila mansidão da apatia. Alertaram-me sobre esta teia legal e policial que maneja conceitos como “propaganda inimiga”, “quintacolunismo”, “assalariados do Império” ou - nos casos mais leves - mero “diversionismo ideológico”. Recomendaram-me que fugisse, indicaram-me a emigração como o caminho mais curto para a catarse; todavia, ao invés de comprar um motor de chevrolet para cruzar o estreito da Flórida, tornei-me uma balseira virtual. Escapei, porém não de meu país, senão do medo, da paranóia e do conformismo."

A batalha do Atlântico (2)

Ainda sobre o recém aprovado estatuto político dos Açores, recomendo a leitura do último "Retrato da Semana", de António Barreto, crónica publicada no jornal "Público" de 2 de Janeiro. Chama-se "A luta e os problemas" e constitui o mais lúcido comentário que até agora li sobre o assunto. A versão integral poderá ser encontrada aqui. Eis um excerto:

"É DE LAMENTAR o comportamento do Governo. Não se sabe por que razão Sócrates e o PS quiseram alterar o estatuto naqueles pontos controversos. As razões óbvias parecem evidentes. Por um lado, os socialistas pretendem delimitar os seus territórios pré-eleitorais e acham que lhes convém um confronto com o Presidente. Por outro, nada mais fizeram do que manter a tradição: são reféns das regiões autónomas e dos seus dirigentes, no que, aliás, são acompanhados por todos os restantes partidos. Mas estas razões, por demasiado óbvias e mesquinhas, não chegam para perceber os seus pontos de vista. O Primeiro-ministro e o Parlamento devem aos cidadãos uma explicação. Não basta dizer que têm pontos de vista diferentes do Presidente, como afirmam os seus porta-vozes subalternos, têm de explicar os fundamentos da sua decisão e as vantagens de tão tosco estatuto."

Stalker

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

U qui diz mulelo (4)

O ano bloguístico começa da melhor maneira. Um apaniguado socrático (o "licenciado", não o filósofo) acaba de me mandar um comentário deveras ouriçado (como diria um amigo meu de Ponte de Lima), a propósito desta postagem. Mister nobody, quiçá um boy agraciado com uma sinecura cor de rosa, indigna-se com a evidência de Sócrates ter querido testar a vontade presidencial e a maioria dos constitucionalistas acerca do recém-aprovado Estatuto para os Açores. O senhor César precisava de um tónico e o primeiro-ministro precisa de ir assegurando as espingardas para a sua maioriazinha. Tão simples quanto isso. É preciso fazer um desenho? De caminho, o tal nobody aconselha-me a "pentear macacos" e acusa-me de "só dizer disparates". Quais disparates? Bom, talvez a luminária tenha feito um doutoramemnto em Direito Constitucional. Tudo é possível. Até mesmo que a douta ciência da aventesma reduza à insignificância as minhas lições com o Prof. Jorge Miranda e uma Constituição anotada dos professores Canotilho e Vital Moreira, com o humilde suprimento de umas anotações manuscritas por este vosso criado. Como dizia, tudo é possível. Portanto, gente que nada quer discutir ou inovar, mas simplesmente dar azo ao seu nanismo intelectual e cívico, não tem nem nunca terá tempo de antena neste blogue. E só teve hoje porque me apetece recordar a regra, neste ano que agora começa.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009