sábado, 31 de outubro de 2009

A minha primeira cache


Parece coisa de escuteiros, mas não é. Acreditem que é mesmo divertido. Vão até á página do geocaching, ou aqui, em português, e percebam como o jogo funciona. Na Guarda e redondezas já há, pelo menos, oito "tesouros" à espera de serem "descobertos".

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A mochila do gajo, algures na Galiza

O crime do padre armado

Eis um dos melhores títulos que tenho lido para uma notícia. Ajustado que nem uma luva ao mediático pároco de Boticas. Um verdadeiro personagem camiliano perdido no Norte profundo, como convém. O mesmo que, conta-se, agrediu o sacristão com uma coronhada, durante um funeral, só porque aquele tocou o sino mais cedo. Não se sabe se a vítima ofereceu a outra face nem o que aconteceria se os sinos soassem mais tarde. Entretanto, apesar das evidências criminais contra o prelado e da hostilidade dos paroquianos, o Bispo de Vila Real pretende mantê-lo no cargo. Esperando talvez que descubram mais esqueletos no armário. Ou que uma intervenção divina o absolva...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Como era aquela frase do G. B. Shaw?

O respeito pelos eleitores também se mede por coisas destas. Marcos Perestrello, o aparelhista chique do partido do governo, era há um ano vice-presidente da C.M.L, o primeiro depois de Costa. Há pouco mais de quinze dias protagonizou a candidatura do dito partido à câmara de Oeiras e foi eleito vereador. Agora é secretário de Estado da tropa ao lado do ministro S. Silva. A D. Dalila Araújo (quem?) era há um ano a governadora civil de Lisboa. Largou para ser candidata a vereadora de Costa e, como tal, foi eleita também há menos de quinze dias. É secretária de Estado de qualquer coisa. O sr. Vasco Franco, quase eterno vereador da habitação da C.M.L nos tempos de Sampaio e do Joãozinho, foi retirado ao jazigo de família para ser secretário de Estado de outra coisa qualquer. Regresso, pois, à frase inicial. Se calhar os eleitores - aqueles que votaram nisto - não merecem mais respeito do que este. Isto é, nenhum.

João Gonçalves, no "Portugal dos Pequeninos"

Cinema ambulatório


O principal objectivo ciclo “Curtas em Flagrante" é tornar possível a troca de experiências e dar oportunidades de divulgação dos trabalhos de tantos jovens, que estão agora a iniciar a sua carreira no mundo do audiovisual.
O Elemento Indesejado é uma associação cultural recente, cujos principais objectivos são a divulgação e formação cultural e artística. Até ao momento tem sido a área do audiovisual a que mais tem explorado. Com um workshop de vídeo, a decorrer no âmbito do F.A.T.A.L. - Festival Anual de Teatro Académico de Lisboa - e responsável por toda a cobertura audiovisual do mesmo. Está também a organizar um conjunto de workshops na área das artes digitais, e funciona como um grupo de criação audiovisual com produção própria. Com este evento, pretende actuar como uma rampa de lançamento de novos artistas e divulgar a criação audiovisual que é feita no nosso país.

- Café Concerto do TMG, sexta-feira, pelas 23 00h

O Google wave está quase a chegar. Entretanto...

sábado, 24 de outubro de 2009

Stalker

O que virá a seguir?

Com o recém formado Governo, vai certamente acontecer o que muitos já avisaram. Vamos ter um gabinete remodelado, de contenção, mãos largas e marcadamente à esquerda. Que vai privilegiar os grande temas mediáticos, que seguramente mobilizam a opinião pública, mas cujo impacto real só se observa em pequenos sectores. Negligenciando as grandes reformas e as medidas cujo âmbito se mede em grandes sectores da economia, da administração, em grandes franjas populacionais, ou áreas profissionais. Como exemplo, veja-se só o que está para vir. Uma medida a "custo zero", que em nada vai contribuir para o combate à crise. E que, ao insuflar o Governo de um charme modernaço, vai retirar as "boas causas" ao Bloco. A meu ver, o assunto é delicado e justificava um referendo. Pois uma maioria política raramente coincide com uma maioria sociológica e cultural. Por outro lado, se o casamento entre homossexuais for consagrado na lei, valerá sobretudo como um sinal de dissuasão social. Seja como for, o sinal político foi dado.

Mas ainda dão corda à criatura?

Saramago, o antigo aparatchik, distinguido no capítulo dos saneamentos políticos no DN durante o Verão Quente de 75, anda a fazer pela vida. Desta vez, lançou uns mind games promocionais, assim mais teosóficos, acerca do Antigo Testamento. Logo transformados no centro do debate na esquálida "praça pública" da Nação. Afinal, o homem não disse mais do que outros já disseram sobre o tema. Só que se trata de um nobelizado, um intelectual "progressista", apreciado por muita gente com a escolaridade obrigatória. No entanto, Saramago é talvez o maior equívoco da literatura nacional do séc. XX. Escreve bem, o que é discutível, mas nunca foi um bom escritor. Vale mais uma só obra de José Cardoso Pires do que toda a sua litania prosélita, que alguns confundem com literatura. Como cidadão, a arrogância e o ressentimento social precedem-no à légua. Porém, a sua prestação mediática é-me absolutamente indiferente. Entretanto, a criatura lá vai parindo uns volumes, tentando imitar os sul americanos. Desta vez, para aumentar as vendas de "Caim", nada como uns bons soundbites, em registo agitprop. Um tique que lhe ficou dos tempos leninistas. Mas cuja eficácia, em termos de marketing, tem chegado e sobrado. Portanto, temos um escritor medíocre, esganiçando-se na tasca a dizer "mal da padralhada". Ou seja, um pregão tonitruante que anuncia os seus serviços... Esquecendo-se que barafustar "contra a padralhada" é uma espécie de socialismo para idiotas.

Publicado no jornal "O Interior"

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Os 16 magníficos

Aí está o XVIII Governo. Ao que dizem, para durar dois anos. Os destaques vão naturalmente para a nova posição estratégica do veterano Vieira de Silva, a mais recente vocação do polivalente Santos Silva, factotum especializado na "malha" e agora com a pasta da Defesa, a equipa com o maior número de ministras desde sempre (5), o que é de saudar, sendo que uma delas, de apelido convenientemente ornitológico, está no Ambiente, Serrano na Agricultura, ao que parece entendido em subsídios, é claro, por sua vez Isabel Alçada vai tentar acalmar os professores, António Mendonça, um adepto do investimento público com o pelouro das obras respectivas, o eterno Gago, pois claro, e por último - surprise!!! - a novel e desconhecida ministra da Cultura, investigadora e também pianista, de quem se espera muito mais (o que significa quase nada) do que o anterior ministro.

Toma lá mais cinco


They had started nervously, their every touch booed by Benfica’s ardent support, the stream of noise endless from the moment Vitoria, Benfica’s eagle, was released around the ground before kick-off for her traditional, ceremonial fly-past.- Europe’s most fearsome attack were not finished, though.- BENFICA AT LEAST HAD THE DECENCY TO TURN OFF THE TURBO.

Hoje, no "Daily Telegraph", a propósito do jogo

O showbizz

O périplo desses prosélitos irlandeses que dão pelo nome de U2 está a originar fenómenos de devoção dignos de um estudioso das religiões. Concertos esgotados, fieis que se deslocam a pé quilómetros e quilómetros para adquirir os bilhetes, que esperam dias e dias por que as box office abram as portas, de modo a obterem o passaporte para o céu, num desafio anónimo digno de figurar no Guiness, embora mais genuíno, mais místico do que esperar à porta do centro de saúde pela senha da consulta, nem a propósito, a sanha musical, precisamente, fiéis que dão hossanas quando têm garantido o seu rectangoluzinho que dá acesso ao céu, devotos que espalham a boa nova pelos microfones solícitos dos jornalistas, quando lhes são estendidos, oficiantes que homiliam o gosto megafónico, que pastam na mediania, que são fenómeno só porque seguem as pisadas do espectáculo, o verdadeiro deus, a máquina trituradora, que são conversos antes da conversão, apóstatas antes e depois da apostasia, peregrinos em busca da santidade decibélica, vítimas sacrificiais de uma imolação sem vítimas e sem carrascos...

Publicado no jornal "O Interior"

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Stalker

Um frasquinho de memória

O livro chama-se "Os Bons Velhos Tempos da Prostituição em Portugal", (Antígona, 2006) de Alfredo Amorim Pessoa. Uma obra curiosa de que aqui dei notícia. No final (pág. 219), à laia de índice onomástico, vem elencado o léxico recolhido pelo autor e que no luso vernáculo designa o créme de la créme do tema. Deste modo, usando só os termos mais incomuns, para fornicar temos: afagar a palhinha, embutir, entamelar, chapar, dar uma espetadela, dar uma mocada, molhar o carocho, nicar, fazer tac-tac, penachar, pinar, lixar. Sinónimos de ir às putas: andar ao fanico, andar em manobras, andar às gatas, ir ao fado, ir a manos, ir para leste. Sinónimos de prostituta: cegonha, chantra, coirão, estardalho, fadista, faneca, franjosca, horizontal, lúmia, machorra, menesa, novata, ostra, pangaio, pataqueira, pépia, torga, tronga, vasvulho, vequeira, zoina. Outros termos: alcocheta, onze letras (alcoviteira), casa da tia, ilha dos amores, mangalaça, a da Joana (o mesmo que bordel), estar com avental de pau (expor-se à janela), sair a cavalo (contrair sífilis), frasco de memória (velha), iscada (puta com sífilis), marmita, mina, minestra (moça que é chulada), andarilho, pato (clente que paga bem), queijada (mesada que a puta dá ao chulo), gimbar (chular).

Publicado no jornal "O Interior"

terça-feira, 20 de outubro de 2009

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Louçã, o eterno jovem que nasceu velho

O Bloco de Esquerda pode ter perdido as autárquicas mas Louçã ganhou no fim deste ciclo eleitoral. Ganhou porque ele, o trotsquista, enviou para Bruxelas Miguel Portas, ou seja o representante da linha estalinista-revisionista. Em Lisboa, o maoísta Luís Fazenda saiu derrotadíssimo. E Louçã é para todos os efeitos o homem que nas últimas legislativas levou o BE quase a terceira força política nacional. Louçã é uma das mais interessantes figuras do universo político português. Alguém que aqui aterrasse vindo doutro planeta e tendo em conta os estereótipos vigentes imediatamente ao vê-lo e ouvi-lo acreditaria que ele era um representante da direita ultramontana. Na verdade não se enganava a não ser no rótulo pois Louçã é um homem muito antigo. Aliás Louçã não só é o mais antigo líder em funções em Portugal como ainda usa uma linguagem que remete para outras eras: pluraliza o nome dos que diz ricos num tique desses tempos em que os empresários não eram propriamente indivíduos mas sim os Mellos e os Champallimauds, eternamente representados de cartola e atolados de vícios. O que é notável, e isso é claramente mérito de Louçã, é que apesar da sua longevidade política e do seu estilo ele aparece associado a uma alternativa tida como jovem. E ainda mais notável é que consegue que a vida interna do BE seja retratada na comunicação social com a bonomia de quem recorda os acampamento de juventude: ali não há crises nem tensões, muito menos lutas pelo poder. O PCP tem linhas, o PSD é todo ele um conflito, o PS apesar de estar no poder ainda vai tendo uns críticos e o PP vive daquela luta entre grupos. O BE pelo menos mediaticamente é uma união sagrada.
Louçã, o líder que nunca envelhece, deu estrutura política ao sonho de uma geração nascida no pós 25 de Abril que gostaria de viver o folclore de um PREC sem ter de pagar no seu conforto e garantismos as consequências disso. Mas o que cabe perguntar é se Louçã pode envelhecer pois por ironia esse imaginário dos votantes do BE, imaginário muito mais de colecção lúdico-juvenil do que marxista, só se mantém enquanto o BE não for poder. Para essa geração ver Louçã ministro era o mais triste sinal de que afinal quer eles quer o próprio Louçã tinham crescido. De que acabara aquele tempo-espaço onde continuam sempre todos eternamente jovens, aquele BE liderado pelo Louçã.

Helena Matos, no "Público" de 19 de Outubro

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

doclisboa


Começa hoje mais uma edição do "doclisboa". Este ano o destaque vai para uma homenagem a Jonas Mekas, uma retrospectiva sobre o documentário (pós) jugoslavo e uma mostra intitulada Love Stories. Como é da praxe, não faltarei...
O programa poderá ser aqui descarregado, em formato PDF.

O paraquedismo como uma das belas artes

Francisco Assis será o novo líder parlamentar do PS

O deputado Francisco Assis vai substituir Alberto Martins na liderança da bancada do PS. Regressado de cinco anos no Parlamento Europeu, Assis repete assim as funções que já desempenhou durante os governos de António Guterres. O nome será anunciado pelo secretário-geral socialista, José Sócrates, numa reunião com os deputados agendada para as 12.30. Francisco Assis irá depois a votos no grupo parlamentar.
Fonte: DN online

Vou tentar reconstituir a trajectória estonteante do deputado: Assis veio da gamela de Estrasburgo. Fez escala no Porto, para reabastecimento. Passou de rompante pela Guarda, lançado a grande altitude, onde convenceu algumas almas enternecidas a votarem nele. E chegou finalmente ao seu destino, como se comprova na notícia. A nomeação é a merecida "ajuda de custo" pelas duas ou três deslocações à Guarda (que maçada!). Entretanto, jurou a pés juntos que o centro da sua vida política seria no Porto. Então, nesse caso, porque não aproveitar a oportunidade para testar as virtualidades do "choque tecnológico"! Muito simples: comunicando o novo líder parlamentar com os seus pares em S. Bento, a partir da Invicta, através do "Skype", ou em sistema de videoconferência!... Agora pergunto: no meio desta dança de sinecuras, o que ganhou a Guarda? O que vai ganhar? Vale aqui o supremo acerto do adágio de Bernard Shaw (injustamente ofuscado pelo outro, mais célebre, de Churchill): a democracia é o sistema pelo qual garantimos ser governados como merecemos.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Céline (4)

Não se atravessa a "Viagem ao fim da noite" sem passar a pente fino as gralhas da nossa existência. Dito de outro modo, sem tirar a limpo as rasuras no caderno da nossa contabilidade secreta. Um mês e pouco depois de largar amarras para este périplo, cá estou de novo. Bem quis escolher um pedaço da obra para vos presentear. Mas experimentar fazê-lo, foi como tentar retirar uma brasa de uma fogueira crepitante com as mãos. Mesmo assim, à socapa, aqui vai:
"Não somos mais do que um velho cintilar de recordações à esquina de uma rua onde quase ninguém passa". (pág. 432)

NOTA: um amigo descobriu-me há pouco um exemplar do elo perdido na bibliografia de Céline. Há coisas que não têm preço...

Outubro


Se repararem melhor (vale a pena o esforço), estas simpáticas fräulein bávaras estão munidas de duas girafas, já um pouco chocas, enquanto discutem animadamente o tipo de armação que os respectivos maridos/namorados/whatever vão ganhar nesse dia... Ou talvez lançando umas achegas sobre a "Fenomenologia do Espírito", de Hegel... Quem sabe? Na mais famosa festa da cerveja do mundo, tudo é possível. Bem a propósito, entra em cena Jacques Brel, no tema que imortalizou na poesia a vil beberagem de origem germânica: Ça sent la bière de Londres à Berlin / Ça sent la bière, Dieu qu'on est bien /Ça sent la bière de Londres à Berlin / Ça sent la bière donne-moi la main / C'est plein de "Godferdomme" / C'est plein d'Amsterdam / C'est plein de mains d'homme / Aux croupes des femmes / C'est plein de mémères / Qui ont depuis toujours / Un sein pour la bière / Un sein pour l'amour. Tudo isto, a bem dizer, para comunicar aos leitores que a 176ª edição da Oktoberfest encerrou no dia 4. Eu sei, é duro, mas para o ano há mais. Para quem estiver interessado, lembro que, normalmente, o "arraial" começa por volta de 20 de Setembro.

Vida nova

Falta então uma leitura política das eleições na Guarda. Tão breve quanto a inconveniência de pisar o mesmo chão que já foi pisado e repisado. E menos estrondosa do que um motoqueiro a jogar Metal Gear Solid num open space.
Quanto às sondagens, houve de tudo. Desde o simples disparate estatístico, até ao delírio de quem se julga com dons proféticos. No entanto, todas acertaram numa coisa: Valente iria ganhar. Previsão que nada, mas mesmo nada, tem de original. Era clarinho como água. Ou então, como é habitual dizer-se, "até um ceguinho... aetecetera e tal..." Para quem tivesse dúvidas, havia ainda o recurso aos serviços do Prof. Karamba. Ou, então, pedir um conselho à Maitê Proença. Os mais exigentes poderiam mesmo ir à Grécia ouvir os deuses. Diante dos consulentes, a Pitonisa de Delfos nem sequer se daria ao trabalho de iniciar os trabalhos de adivinhação. "Vão de volta para a Oppidana, pois o Valentix vai ganhar os Jogos deste ano. Crespvs não tem hipótese. Vá, tomem umas "coisinhas" para a viagem, umas sementinhas p'ra rir." E assim foi.
Deixemos agora o tom humorístico e passemos aos resultados. Em relação a 2005, a lista de Valente obteve mais 3% e a de Crespo menos 5% dos votos. O que chegou para o PS roubar um vereador ao PSD e assim reforçar a maioria (5/2). Como curiosidade, o PCTP/MRPP teve mais 20 votos. Obra do divino espírito santo, sem dúvida. Para a Assembleia Municipal, o PS teve mais um mandato e o PSD menos dois, indo o outro para o BE, que ficou com dois. Nas Juntas de Freguesia, o PS conseguiu mais 8 mandatos e o PSD menos 36. Destaque para o reforço das candidaturas independentes, que obtiveram mais 12 lugares.
Estes são os números. Antes da sua leitura, convém reafirmar o meu único propósito neste acto eleitoral: encontrar o projecto que melhor servisse e Guarda e com capacidade para iniciar um novo ciclo político. Destarte acabando com os bonzos e respectivas redes de influência e emprego. Elementos que ainda pervertem a vida pública na cidade e a transparência nas nomeações e nos procedimentos administrativos. Percebi que a candidatura de Valente reunia essas condições. E percebi também que a de Crespo de Carvalho estava condenada ao fracasso. As razões são várias. Lembro a não inclusão de temas fulcrais no debate político: o endividamento, o financiamento das autarquias, como captar investimentos, qual o modelo de desenvolvimento para a Guarda, com quem, etc. O seu programa e a sua mensagem não passaram de uma colecção de vacuidades, que poucos levaram a sério. Ninguém no PSD percebeu que o figurino de uma campanha para as autárquicas é diferente de outra campanha qualquer. Onde o sentimento de partilha de uma situação de proximidade, de desafios comuns, de pertença a determinada comunidade, são os sinais afectivos estruturantes de qualquer programa que se apresenta a sufrágio. O perfil da equipa liderada por Crespo de Carvalho mais parecia o de um grupo de amadores, "senhoritos" ao jeito ibérico, "cavalheiros" da indústria (?) sem fábricas, avessos ao debate, ao potencial da cultura como alavanca de desenvolvimento, à criatividade, à "política". pura e dura. No fundo, um modus operandi consentâneo com a característica vacuidade ideológica do PSD. Uma fatalidade, por muito que Pacheco Pereira reme contra a maré...
Vale agora a pena, en passage, despender algumas linhas sobre o BE (nacional e local). Como é sabido, trata-se de um partido que, organicamente, congregou grande parte da extrema-esquerda. Mas cuja expressão eleitoral há muito ultrapassou a sua marca genética. Cresceu amparando-se nos grandes temas da agenda política nacional e internacional. Seleccionado alguns deles para condicionar a agenda parlamentar do PS e do PCP, sem descurar o protesto "na rua". Tudo com o beneplácito da comunicação social, que escandalosamente o apaparicou de forma acrítica. Entretanto, a crise económica e social validou-o como partido oficial do protesto. Algo que os números expressivos que obteve nas últimas legislativas vieram dar corpo. Todavia, para um observador atento, tornou-se patente que esses números sinalizaram o tecto eleitoral do BE, o seu princípio de Peter. Com as autárquicas, a fragilidade e o carácter volúvel do seu eleitorado, da sua implantação, vieram ao de cima. Limitando-se a recolher o voto dos indefectíveis e afastando o "outro", o que votou no Bloco há três semanas. Que confia no BE como "megafone" reivindicativo, mas não como "aqueles" que vão alcatroar a estrada e reparar as condutas de saneamento. Para agravar o cenário local, o BE guardense prima pela ortodoxia e pelo aparelhismo do tipo Estalinista. Em vez de eleger temas onde, normalmente, o BE, na sua versão esclarecida, está mais à vontade - a cultura, os novos movimentos sociais, os costumes, as novas formas de determinação e inclusão/exclusão dos cidadãos - o seu cabeça de lista, Jorge Noutel, quis aparecer como o magnânimo "provedor municipal". O mesmo que declarou, em relação à cultura, que apreciava fundamentalmente ranchos folclóricos e bandas filarmónicas, sem uma palavra sobre políticas culturais no concelho, nem um gesto de simpatia para com as (poucas, mas activas) colectividades locais que "falam outra língua", nem uma intervenção que denotasse preocupações ambientais. Preocupou-se sobretudo em cativar, de forma populista, certos nichos eleitorais onde era previsível o Bloco penetrar. Todavia, ao evitar tudo aquilo que compõe a verdadeira modernidade, demonstrou porque é que o conservadorismo de esquerda é o mais nefasto de todos.
Portanto, Joaquim Valente ganhou e grande parte dos créditos do triunfo pode reivindicá-los pessoalmente. Espero agora que o PS local perceba que este reforço da votação traduz um conjunto de sinais inequívocos por parte do eleitorado. Um deles manda que se enterrem de vez as figuras de cera do "antigamente". O outro diz que se dê voz ao know how, às competências técnicas, humanas e profissionais dos guardenses, até agora, em grande medida, subrepresentadas. Outro ainda, mais ténue, que a cultura e o ambiente sejam temas prioritários na nova gestão. Será?

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A noite das facas longas


A vitória de Isaltino Morais e Valentim Loureiro nos respectivos municípios levam-nos a ter em conta duas coisas: Em primeiro lugar, o sentimento de partilha, de pertença a uma comunidade e a responsabilidade individual que daí advém é diminuta. Não há muito mal em ter um presidente que ‘roube’ aos outros, desde que sobre algo para mim. Em segundo lugar, está a pouca consideração que se tem pela Justiça. Isaltino foi condenado a 7 anos de prisão, uma decisão judicial que pouco interessou à maioria dos eleitores de Oeiras. Há muitos anos que os tribunais fazem pouco dos cidadãos. Agora recebem o troco.

André Abrantes Amaral, n'"O Insurgente"

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O trigo e o joio

"A vitória [do PS ] foi em especial sobre as expectativas nos media. (...) Comentadores como Constança Cunha e Sá e Sousa Tavares, que contribuem ultimamente para um tom mais socialista da "nova" TVI, diziam às 20h45 que não se devia fazer "leituras nacionais", mas rapidamente alteraram a sua opinião quando se verificou a subida do PS em número de câmaras. Rodadas pelas eleições anteriores, as três TV fizeram um bom trabalho. (...) Houve apenas o habitual parolismo tecnológico, desta vez a cargo de José Alberto Carvalho (RTP), mostrando um operador de câmara num Segway, o que, aliás, não trouxe vantagens no dispositivo comunicacional da RTP. O aspecto mais negativo das emissões é a habitual falta de senso dos repórteres quando se amalgamam nos mesmos locais. Perdem a perspectiva da relevância jornalística e política. Intervêm para dizer minutos a fio que Fulano ainda não chegou, que Sicrano continua no 13.º andar. A patetice chegou ao ponto do repórter da SIC perguntar a Santana Lopes se ele se deslocava na rua para ir à casa de banho. O longo processo eleitoral desde Junho veio acentuar a crescente pobreza dos comentadores das TV, nomeadamente da SIC e TVI. O que mais impressiona é que há vários muito mal preparados. Não estudaram os resultados das eleições anteriores, não conhecem nada ou quase nada das autarquias, acompanharam pouco ou nada a campanha, quase nada acrescentam de politicamente relevante. A crescente exigência da sociedade e dos espectadores e leitores exige mais preparação e mais qualidade, não apenas no dispositivo técnico e jornalístico, mas também nos painéis de comentadores. "

Manuel Cintra Torres, no "PÚBLICO" de hoje

Stalker

Lido

Ontem foram criados muitos empregos: 308 para Presidente de Câmara, 4 260 para Presidente de Junta de Freguesia, 2633 para deputados municipais. Começou a retoma económica.

no "Combustões"

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A frente Leste

Esta senhora chama-se Herta Müller. Foi-lhe recentemente atribuído o Prémio Nobel da Literatura. A escritora é praticamente desconhecida em Portugal. Sendo romena, é etnicamente alemã, em cuja língua escreve. Uma dupla identidade comum nos países do centro-leste europeu, de que Kafka foi o exemplo maior, como é sabido. Vive em Berlim desde 1987, onde se exilou por motivos políticos, para fugir ao regime ditatorial de Ceausescu. Da sua já vasta bibliografia, só três obras têm edição em português: O homem é um grande faisão sobre a terra, trad. Maria Antonieta C. Mendonça, Cotovia, 1993; A terra das ameixas verdes, trad. Maria Alexandra A. Lopes, Difel, 1999; O Compromisso, trad. Lya Luft. Globo, 2004. Uma obra a descobrir, naturalmente.

Esmiuçar as músicas

Uma das vantagens de morar no centro, durante uma campanha eleitoral, é ficar a saber de cor as músicas utilizadas pelas várias comitivas para galvanizar a populaça, alinhadas no meio de soundbytes cada vez mais uniformes. Esses temas icónicos são generosamente difundidos através de algumas dezenas de decibéis. Bom, para começar, devo dizer que o solo de harmónica do hino do PSD é particularmente interessante. Anda ali mãozinha do Rui Veloso, com certeza. Digna de nota é a introdução coral, muito semelhante à de "All you Need is Love", dos Fabulous Four. A CDU insiste na "carvalhesa", um best seller medieval recuperado pelos comunistas para uso doméstico. À mistura com vozes megafónicas anunciando novas políticas, embora nunca se sabendo quais, graças ao conhecido efeito Doppler. O PS apostou na criação local. E fez bem. Quem consegue ainda ouvir os hits do Paco Bandeira? Quanto ao PP, esperava uma coisa mais arrojada, mais vanguardista, atendendo ao lema da campanha: F de Futuro. Ou até mesmo um solo de canto lírico registado no jacuzzi de Portas. Mas não, tudo ficou por um mix beato-pimba. O silêncio do BE é que me desiludiu redondamente. Esperava uns temas arab-funk e hip-hop incendiário pour épater les bourgeois... Pena... Será que não têm dinheiro para uma reles instalação sonora? Ou foi todo gasto em tranquilizantes para Louçã, dada a sua característica impulsividade verborreica ("segurem-me senão eu bato em todos!")?

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A doce mentira

Alguém teve a amabilidade de me enviar a seguinte pérola trendy por email:
Até que ponto confias na tua companheira ou no teu companheiro? Tens dúvidas quanto à fidelidade da tua cara-metade? Já alguma vez a/o apanhaste em falso, a mentir ou a dizer que estava em determinado local que depois vieste a comprovar não ser verdade? Sentes que a vossa relação está diferente e que podes estar a ser traída/o ou enganada/o? Com este novo dispositivo para telemóvel que te propomos, a qualquer momento e em qualquer lugar podes saber onde se encontra qualquer pessoa que desejes, simplesmente inserindo o número do seu telemóvel. O sistema funciona através de localização por satélite cruzada com informação de código IMEI que os telemóveis emitem a cada minuto e é recebido pelas operadoras. Experimenta já... e oxalá não te surpreendas com o resultado!

Recapitulando... Já existe o chip detector para cães e está prevista a instalação obrigatória de um dispositivo semelhante nos veículos automóveis. Só faltava pois um substituto dos detectives de outros tempos. Ou, se quiserem, um "ciumómetro" todo o terreno, um gadget para idiotas desocupados/as certificarem onde estão as suas "caras-metade". Pelo menos, em que célula estão os seus telemóveis. Portanto, uma oportunidade de borla para o utilizador ir meditando sobre as diferenças entre o significado romanesco das mortes de Emma Bovary e de Anna Karenina. Ou entre a degradação dos valores, enquanto tema de fundo da trilogia "Os Sonâmbulos", de Broch e a triste sina do agrimensor n' "O Castelo" de Kafka. Entretanto, pode ir trauteando o tema "Satellite of Love", de Lou Reed. Por último, o anunciante não disse mas eu adivinho: garantido pelo serviço está seguramente uma coisa. Já adivinharam? Isso mesmo, um belo par de cornos. Ou então, quem sabe, o início de um folhetim para outra telenovela...

Stalker

O papão

O Bastonário da Ordem dos Médicos veio, em boa hora, sossegar o país acerca da gripe A H1N1, mais conhecida como, simplesmente, "A". Segundo ele, a doença é "banal e pouco letal". Algo que nos EUA os especialistas já tinham concluído taxativamente há algum tempo atrás. Pedro Nunes criticou ainda o excesso de zelo e o alarmismo inusitado que têm acompanhado a doença em Portugal. Criando um cenário virtual de pandemia, nunca desmentido pelo Ministério da Saúde. Quem sabe se para desviar as atenções de outros problemas bem mais reais. Por outro lado, a comunicação social fez o que lhe competia: atear a fogueira e alimentar o clima de pânico, sem qualquer preocupação profiláctica ou de rigor profissional. Basta acrescentar, como exemplo, que, na cidade onde vivo, a entrada nas urgências de uma criança com os sintomas da doença foi motivo de reportagem alargada da SIC. Onde não faltaram sirenes, basbaques e declarações dos próprios familiares... Por outro lado, o negócio dos toalhetes e dos desinfectantes naturalmente prosperou. É claro que o correspondente reforço, em grande escala, de hábitos de prevenção sanitária, constitui um activo fundamental para a saúde pública. Um dado positivo, portanto, embora não iluda a questão de fundo. Que culmina, como é sabido, na prevista campanha de vacinação, dirigida em primeira linha para os "grupos prioritários". O medicamento, do qual o estado português já adquiriu três milhões de doses, já havia sido objecto de fortes criticas no seio da comunidade científica. Uma notícia saída no "Correio da Manhã" de 17 de Setembro vem, entretanto, dar conta dos efeitos extremamente perigosos do uso da vacina. Mais concretamente, a síndrome Guillain-Barré, que causa paralisia, insuficiência respiratória e pode levar à morte. Está pois na hora de o Governo reformular o plano de combate à doença.

domingo, 4 de outubro de 2009

Stalker

O pronunciamento

A República foi instaurada há 99 anos. Os anos de violência e demagogia que se seguiram mais parecem um guião para um filme de terror. Não é que eu tenha uma especial simpatia pela causa monárquica, mas cada vez mais sinto que, nesta data, nada encontro que me empurre para o entusiasmo de uma comemoração, ou para a simpatia com um suposto movimento regenerador. Que produziu algumas reformas de vulto e pouco mais. Portanto, exaltem-se os heróis, dignifiquem-se os visionários, aprenda-se com os erros e lembrem-se as vítimas. E é tudo...

Outro tasco, onde ontem o gajo tomou um chá

O poder à rua


O que é isto? A explicação consta da apresentação desta acção, no blogue respectivo: "através do reaproveitamento dos cartazes de propaganda política que cercam o espaço urbano por estes dias, a ocupação das escadas de acesso ao Estúdio PerFormas, em Aveiro. Tendo a ironia como meio, mas não como fim, o que se pretende é esvaziar esses cartazes da retórica mediática, tanto gráfica como textual, imprimindo uma urgência e imediatismo na reflexão sobre o processo político que é, eminentemente, um projecto comunitário. A partir da adição de balões, usados frequentemente em Banda Desenhada, o público terá a oportunidade de escrever as falas dos políticos integrantes deste comício e de cumprir a utopia cívica: fazer dos políticos marionetas dos eleitores."
Portanto, trata-se de uma intervenção onde se associa de forma particularmente feliz as saudosas acções situacionistas, as flash mobs e a ecologia (ambiental e também cívica.) Pedro Fonseca, o mentor da ideia e amigo de longa data, está de parabéns.

sábado, 3 de outubro de 2009

Vamos ao teatro

MENINA ELSE, de Arthur Schnitzler. Adaptação e Encenação de Christine Laurent. Com Rita Durão. Produção: Teatro da Cornucópia. Música: Tzigane Tango in Mi Buenos Aires Querido por Daniel Barenboim Waldszenen; op. 82, 1. Schumann, por Maria João Pires. Hoje pelas 21.30 no Pequeno Auditório do TMG. Portanto, se quem me ler para já estiver na Guarda, ou perto, ainda está a tempo de ver este grande espectáculo.

Preces atendidas - 33

Kate Winslet

Ver anterior

As fontes

Alguns me solicitaram um comentário sobre a recente declaração presidencial, a propósito das alegadas "escutas" em Belém. A questão é: tudo não passou de um fait divers apropriado para a silly season, ou houve mesmo um Belemgate, maquinado por agências de comunicação ao serviço do Governo e por instâncias do partido que o apoia? A coisa até faz lembrar certos episódios da 1º República, onde o sectarismo e a violência instigada pelo PRP produziram coisas inimagináveis. A prudência manda que não haja certezas de nada. O que não impede que se perceba até onde pode levar a intoxicação da opinião pública, em período eleitoral, com doses maciças de casos fabricados. Fiquemo-nos, entretanto, pelo comentário sensato e certeiro de Luciano Amaral, n' "O Insurgente". Para já, é a sabedoria possível.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Mau perder


O Dr. Louçã continua imparável no desconchavo. Que diabo! Podia muito bem organizar uma semana de reflexão pós eleitoral, com os acólitos da seita, numa quinta qualquer, recitando cânticos milenaristas e mantras anti-capitalistas, leituras em voz alta das obras completas de Trotsky e uma sessão sobre "como fazer cocktails molotov!". Tudo apimentado com alto teor de THC, é claro, providenciado pelo Oliveira. O Daniel. Pois. Mas não! O auto-proclamado demiurgo da esquerda voltou logo à carga. É a saudosa revolução permanente, meus amigos... Agora voltou-se contra Portas, num acesso intempestivo de hidrofobia. Acusando-o, vejam só, de ter feito desaparecer o contrato dos submarinos, no meio das fotocópias que o então ministro tirou antes de sair. Mesmo depois, note-se, de o MP ter concluído o inquérito e determinado a autoria das irregularidades cometidas. Assim ilibando Portas de qualquer responsabilidade. O país ficou então a saber que o Dr. Louçã, para além de exibir uma inusitada ideia de si próprio, tem mau perder. Pois.

Muito mais gira assim...




A obra foi ontem apresentada
nesta cidade pela Agência para a Promoção da Guarda. Para além das fotografias e dos textos, contem uma nota introdutória de Antonieta Garcia.
António Saraiva, responsável pela APG, esclareceu que esta edição vem na sequência de outras publicações através das quais têm “sido destacados factores identitários da nossa zona e fornecida informação para um melhor conhecimento da Guarda”. Para aquele gestor urbano, a nova obra tem a particularidade de oferecer uma perspectiva “bem interessante da Guarda e do concelho a partir do céu”.Imagens inéditas da Guarda, e de alguns dos seus mais expressivos monumentos, integram este livro, com edição bilingue.
Fonte: "Correio da Guarda"

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Stalker

Então pronto...

Ainda bem cedo, aqui dei a entender que o sentido do meu voto nas eleições autárquicas que se avizinham seria uma decisão essencialmente racional, dada a abundância das dúvidas e perguntas por responder. A sua natureza seria pois a de uma escolha o mais esclarecida possível, independentemente do apelo da família política, digamos, "natural". Agora que já se conhecem os programas, as listas e os métodos de cada uma das forças em presença, decidi subscrever a candidatura de Joaquim Valente à Câmara da Guarda. As razões são essencialmente duas: 1º é aquela que, apesar das dúvidas que noutro momento suscitei e que mantive até agora, tem condições para protagonizar um novo ciclo político na cidade e, porque não, na região; 2º um segundo mandato do actual presidente da Câmara é a situação que melhor defende os interesses da Guarda, de acordo com as prioridades apresentadas.