segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Engano

O homem é um castelo feito no ar. O que ele tem de não existente, é o que lhe dá existência. O engano em que ele vive é que lhe dá vida. Toda a realidade do seu corpo se firma na mentira da sua alma.

Aforismos, Teixeira de Pascoaes, selecção e organização de Mário Cesariny

Proporção

Não existimos mais que os nossos sonhos.

Aforismos, Teixeira de Pascoaes, selecção e organização de Mário Cesariny

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Stalker

Breviário

Não sem algum acerto, o manuel a. domingos quis aqui repartir o mal pelas aldeias, no que à questão da crença/não crença diz respeito. Efectivamente, num tempo onde o sujeito perdeu de vista a sua relação com a transcendência e onde a crença ela própria se tornou um assunto privado, fará todo o sentido relativizar a crença em Deus, cuja existência se torna assim indiferente perante ela. Humaniza-se a crença e transforma-se em desejo mágico, uma vez que não só é impossível a certeza como facultativa a sua necessidade. Mas os problemas não acabam aí. Para o sagrado se revelar é preciso que alguém o veja desse modo. Ou seja, manifestar a sua fé. E, em paralelo, quem não queira ver, ou porque nega ou porque explica.  Seja como  for,  é a incerteza do objecto que determina a dimensão (trágica?) do erro em ambos os casos. Por isso, ao contrário do que diz o manuel, não serão aquilo que ele considera como vantagens - fé e dúvida, respectivamente para crentes e não crentes - precisamente as pedras no sapato? É que, salvo melhor opinião, ambas significam não saber as respostas certas. Por acção ou omissão.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Madrid (1)

Há duas semanas, estive uns dias por Madrid. Dessa forma me retratando de um pecadilho, já com alguma dimensão, que é viver a 350 km da metrópole e nunca ter lá posto os pés. Ou quase, pois há a registar uma fugaz e anódina passagem já  algum tempo, sem qualquer significado.
Pois bem, a cidade conserva ainda o charme característico da capital de um império, duas zonas monumentais densamente povoadas, a leste e a oeste, a que correspondem duas extensas áreas verdes, um norte "rico", arrojado e cosmopolita e um sul "pobre", étnico e popular, três dos melhores centros de arte do mundo e zonas "alternativas" qb. Com nota alta, limitada ao pouco que vi, saliento o mercado novecentista de San Miguel, readaptado a zona gourmet, junto à Plaza Mayor, o trepidante bairro de Malasaña, a colecção Thyssen, no centro de arte homónimo, a exposição temporária "Atlas, Cómo llevar el mundo a cuestas", no centro Reina Sofia, o vastíssimo Parque do Retiro, com uma feira permanente de livros usados na alameda que conduz à Puerta del Ángel Caído, a fabulosa colecção de armas e armaduras do Palácio Real,  o mercado do Rastro,  o carismático bairro de Lavapiés, os jardins de Sabatini, a Puerta del Sol como epicentro incontornável da urbe. Aqui ficam algumas fotos da incursão madrilenha.







Madrid (2)








Madrid (3)





Madrid (4)





quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Pólvora seca

Há dias, passou uma emissão do conhecido Jay Leno show, onde a convidada principal foi Cameron Diaz. Nem de propósito, pois tinha acabado de ver o "seu" penúltimo filme, "Dia e Noite" ("Knight and Day"), onde contracena com Tom Cruise. A entrevista propriamente dita foi algo desinteressante, por muito que o apresentador tentasse "animar" a plateia. A páginas tantas, depois de umas remexidelas langorosas na cadeira, a actriz revelou a sua faceta desportiva, no segmento radical. Nem mais. A voz emprestada da Princesa Fiona no "Shrek para Sempre" deu então um arzinho da sua graça. Ao confessar a sua predilecção por desportos náuticos. De preferência longe da costa, mas com ela à vista, não vá o diabo tece-las. Altura para o escriba aqui fazer um trocadilho engraçadote e bem apropriado entre cabotagem e cabotinismo, o que dá algo parecido com "cabotinagem"... Mas adiante. Ao longo dessa parte da conversa, proezas marítimas à parte, a actriz lá ia fazendo umas insinuações sobre fotografias suas em bikini. Sendo que  não permitiu que Leno mostrasse uma delas no programa, facto que não deixou de sublinhar.  Oportunidade para referir  outras fotografias, very special, onde aparecia em trajes menoríssimos e que tinham grande procura junto do público, segundo a própria. Isto enquanto se meneava com ar deliciado, de uma sonsice católica, à mistura com uns trejeitos impostos pelo star system, mas notoriamente pouco credíveis. Do tipo: "queriam ver mamocas e o meu rabiosque, queriam?" "Isso é que era!"  "Tendes muito que pedalar!" "Olhem que eu sou virtuosa nos dias ímpares, vale?" "Nos outros logo se vê..." Percebi nesse momento a razão de ser do "diaz" no seu nome, sabendo-se que o pai da actriz é cubano. Mas nada de confusões. Pruridos étnicos estão de fora nesta redacção. O que me traz aqui é a evidência de uma herança cultural ibérica, visível, ainda que de forma  extremamente subtil, na linguagem (em sentido amplo) da actriz. Ou seja, a marca de um pudor não assumido completamente,  de um jogo de sombras ambíguo, cujo poderoso erotismo, em vez de impregnar os sentidos, é destruído, em última instância, pela competência atlética exibida por quem dele deveria ser o centro.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Stalker

Serviço público

1. «A Presidência do Conselho de Ministros (PCM) clarificou que o cartão de cidadão “serve apenas para identificar” e “não possui o número de eleitor” em chip ou sob qualquer outra forma».(p)
.

2. « um documento prático que agrega e substitui os actuais cartões de contribuinte, de utente do serviço nacional de saúde, de beneficiário da segurança social e de eleitor
.
(na página do Cartão do Cidadão, da responsabilidade Agência para a Modernização Administrativa, IP, dependente da Presidência do Conselho de Ministros.

Gabriel Silva, no "Blasfémias"

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Uma vitória a sério, várias a brincar e uma promessa

Remexendo no rescaldo eleitoral, algumas breves conclusões:
a) no Facebook e nas televisões, seguindo o "bom povo da esquerda", através dos seus porta-vozes opinativos, a vitória moral foi obviamente sua. Evidência amparada por várias conjunções adversativas e advérbios relativizadores. Que intercalam amíude os apelos milenaristas costumeiros, com destaque para o anunciado fim do estado social e do ensino público, entre outros delírios. b) o expediente catastrofista, se já foi razoavelmente útil nos idos de 80, pelos vistos, não convenceu ninguém durante esta campanha eleitoral e nem uma pedra comoverá neste cenário pós-coital. c) de resto, todos tiveram direito à sua vitoriazinha, mesmo os entusiásticos comunistas, graças à habitual sofística aritmético-compulsiva, muito esforçada nestas alturas. d) o sinistro Louçã envolvendo o cabisbaixo Alegre num abraço mefistofélico: uma imagem para a posteridade. e) a “proeza” do candidato-poeta em arrecadar menos votos do que em 2006; f) os números da abstenção, que nada decidiram, mas que devem ser motivo de reflexão; g) a vergonhosa inoperância dos serviços da CNE, o que impossibilitou muitos cidadãos de votarem por razões burocráticas; h) ah, já agora, ganhou Cavaco à primeira volta! i) Fora isso, o único verdadeiro acontecimento foi a brecha aberta por Nobre na vida política nacional, o “cavalo” em que apostei nesta corrida. Esse caminho, só agora iniciado, será árduo, mas profundamente apaixonante e crucial para o país. Juntará a urgência e a maturação de um saber num referencial inclusivo e proactivo. Que reunirá, à margem dos partidos, o que a sociedade portuguesa possui de mais dinâmico, audacioso, íntegro e esclarecido. Mas que, por enquanto, se considera sub-representado no actual sistema político-partidário. Em suma, o desafio nacional desta década.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Pluvioso

De 20 de Janeiro a 18 de Fevereiro

O carrossel dos leitores


Para que cessem as dúvidas, também há o Escritor-Que-Mede-Leitor-A-Metro. O tal que vai anotando, à margem, alguns dos seus tipos de ouvintes: Leitores de Ontem, Leitores do Ano Passado, Leitores da Rua A, Leitores da Rua B, Leitoras de Olhos Claros, Leitoras de Cachecol, Leitores Pouco Interessantes, Leitores Estratégicos, Leitores Tácticos, Leitores Inimigos, Leitores Bajuladores, Leitores Raivosos, Leitores Traidores, Leitores na Patagónia, Leitores de Berlim, Leitores Insuportáveis, Leitores Sentados no Trono, Leitores que Mexem com os Lábios, Leitores de Cuecas, Leitores Professores, Leitores de Faculdade, Leitores com Verrugas no Nariz, Leitores em Tese, Leitoras com Bâton cor de Abacate e Leitoras a dez mil metros Acima de Nós.

Ponto de ordem

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Fome

Viver é ter fome! A vida é fome: fome de alma e de pão! Fome negra!

Aforismos, Teixeira de Pascoaes, selecção e organização de Mário Cesariny

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Repudiar o repúdio

Fonte: "Café Mondego"
A Assembleia Municipal da Guarda aprovou recentemente uma moção de repúdio contra o cidadão Américo Rodrigues, por alegadas afirmações deste pondo em causa aquele órgão. O episódio está relatado pelo visado aqui e aqui. Com a respectiva reacção da imprensa local. Por sua vez, já neste blogue comentei o assunto. Convido pois todos os que discordam deste tipo de práticas a tomarem posição, assinando e divulgando um pequeno manifesto condenando o sucedido, acessível a partir do link infra.

domingo, 16 de janeiro de 2011

E agora, algo completamente diferente

Aquele amanhecer foi mesmo penoso. De bom, só havia a reconfortante vaga canora dos pássaros. O ruído de fundo da eternidade. Podia ser. Essa de que o tempo é a imagem móvel. Poesia pura, o melhor de Platão. Mas pronto, devia andar sempre com um bloco de notas directamente ligado às impressões sem data. Ao fulgor de certas paisagens que nunca existiram, porque demasiado reais. Todavia, estão ali, com uma luz impossível, ao alcance de uma lágrima, de uma pequena obscuridade lançada pelo desejo. Mas acontece que essa rudimentar tecnologia poética só aparece na medida em que nada se espere dela, pois nada garante. A não ser, talvez, o sobressalto de não saber o que se pode deixar para trás.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Stalker

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

a Tia foi à maTa de moTa

Segundo foi anunciado, amanhã o Prof. Malaca Casteleiro virá ao Instituto Politécnico da Guarda, onde proferirá uma conferência, intitulada "O novo acordo ortográfico". Como é sabido, o académico é o artífice principal do mencionado acordo. Que, pelos vistos, não perde uma oportunidade para defender a sua dama. Ou seja, caucionar cientificamente decisões políticas tomadas previamente por quem o contratou para a "empreitada". Ora, como já foi expresso pela opinião pública contrária ao acordo, para além da eminência, dos "especialistas" que coadjuvaram no cozinhado e dos zelotas politicamente correctos do costume, ninguém compreende a necessidade do aludido "acordo". Nesta nota da minha página do Facebook encontrarão uma súmula dos argumentos que utilizei ou transcrevi neste blogue, em defesa da preservação da língua portuguesa.  Para que conste, NUNCA irei respeitar a nova norma, que irei combater por todos os meios. Sucede que deixei um comentário noutro blogue acerca do tema e da referida conferência. Logo uma "especialista" (que não conheço de lado nenhum) veio à carga, chamando-me (e aos críticos do Acordo) "ignorante" e desconhecedor dos "princípios orientadores e basilares das novas teorias", alvitrando mais à frente que "talvez nem nunca me tenha dado ao trabalho de as ler". Claro que, quando se trata deste tipo de argumentário, quem o esgrime possui quase sempre o dom da infalibilidade e da omnisciência. À falta de outras armas, procuram contradizer os argumentos contrários diminuindo os seus autores. No fundo, para mim, são velhos conhecidos. Que assumem inúmeras formas, qual delas a mais caricata. Desta feita, caso invulgar, respondi à comentora no lugar próprio. Sugerindo, entre outras coisas, que esta se informe melhor sobre o que sobre o assunto já tornei público e que a humildade e a civilidade são sempre boas companheiras nesta azáfama do espaço público. Para Lá do que foi dito, subsiste ainda um ponto fundamental. Ou seja, qualquer língua  é um corpo móvel, permanentemente reinventado e quase sempre auto-determinado. As transformações acontecem naturalmente, como uma espécie de resposta a diferentes ambientes e condicionalismos. Não é um assunto de especialistas, pois interessa a todos os que a falam e, por isso mesmo, são os seus únicos intérpretes. Quando aparece um grupo de académicos a fazer esse trabalho em representação de todos, algo está mal. E quando os seus postulados são seguidos cegamente pelas legiões de sub-académicos que "acham muita piada" às sumidades que, nos seus gabinetes, decretaram o futuro da português, como é o caso da comentadora, então a situação é trágica. À semelhança de milhões, a língua portuguesa é a minha ferramenta primordial de trabalho, a minha janela para o exterior, a cifra que me permite descodificar o mundo. Está fora de causa aceitar que um punhado de "especialistas" legislem, sem qualquer justificação, sobre algo tão precioso e inconspícuo.

Sarebbe bello vivere una favola - 17

A preparação do actor

Algures durante a semana anterior, passou um programa no Canal Odisseia acerca da linguagem gestual aplicada aos políticos. O universo em análise era claramente o anglo-saxónico. Onde, como é sabido, foi consagrada a gestão da imagem dos actores políticos como uma tarefa de primeira água. E nada aí é deixado ao acaso. A partir de um determinado nível de exposição pública e de importância institucional, qualquer político que se preze terá que dominar um conjunto básico de procedimentos mais ou menos estilizados. Os quais são imprescindíveis para uma performance convincente, fazer passar uma  mensagem positiva e reforçar a credibilidade. Ou seja, a forma capturou o conteúdo. Um bom político terá que ser necessariamente um bom actor, mas onde os gestos obrigatórios esmagam os artísticos. Dito de outra forma, um político bem sucedido não poderá jamais descurar um conjunto de técnicas de comunicação gestual, aplicadas a situações bem determinadas. E cuja margem de disponibilidade para o próprio é muito reduzida. Eis alguns exemplos referidos no programa:

1º O orador político deve convencer a audiência da espontaneidade e da naturalidade das suas declarações, o que se traduz na conveniência em aparecer primeiro o gesto e imediatamente depois as palavras. E de esse gesto (preferencialmente utilizando as mãos e a cabeça) ser dirigido exactamente para o mesmo lado para onde se fala. O exemplo mais conhecido de como a inobservância deste procedimento pode ter consequências trágicas, também referido na transmissão, foi o da célebre negação de Clinton em relação a aventuras sexuais com Monica Lewinski. O Presidente americano não só apontou com o dedo para o lado oposto para onde falava, como parou de agitar subtilmente a cabeça em sinal de negação enquanto proferia a declaração. Resultado: poucos ficaram convencidos de que dizia a verdade. 

2º Em contexto mediático, um político não pode nunca deixar um gesto a meio. É um péssimo sinal de hesitação e falta de firmeza. Exemplo: a conhecida sequência da entrada de Blair na sua residência oficial em Downing Street, acompanhado da mulher, logo após ter sido empossado pela Rainha no seu 1º mandato. A certa altura, o novo Primeiro-Ministro passa o braço pelos ombros da mulher, que interpretou o gesto como sinal para o beijo protocolar. De imediato se voltou para Blair, o qual, em vez de consumar o ósculo, continuou a acenar à multidão, ignorando (olimpicamente) a mulher. Percebendo o erro, pouco depois abraçou-a, mas sem convencer ninguém da autenticidade do gesto. Claro que, nos dias seguintes a imprensa britânica não poupou as críticas a Blair pelo seu "repúdio". Graças a um deslize aparentemente inócuo, os tablóides ousaram passar por cima do estado de graça próprio dos vencedores.

3º Outra técnica, utilizada especificamente em campanhas eleitorais, consiste em o candidato, antes e, sobretudo, depois do seu discurso, apontar para pessoas determinadas na audiência e, em seguida, saudá-las de forma individualizada. O recurso é claramente cénico, pois o candidato não aponta para, ou saúda realmente ninguém. Quer simplesmente transmitir a mensagem de que certos cidadãos, de quem ele é "próximo", quiseram vir engrossar o seu caudal de apoiantes. E que esses cidadãos podiam ser um qualquer "de nós". E de que a referida "proximidade" reforça a ideia de confiança dos eleitores no "seu" candidato. No fundo, é a  evocação trivial da velha ideia liberal do "contrato social " de Locke, fundadora da democracia americana. Pelas imagens mostradas na emissão, quer Obama quer Hillary Clinton, usaram e abusaram do expediente, durante as últimas eleições presidenciais.

Notas: 
I - Stanislavski que me perdoe a utilização do título homónimo do seu livro, para fins tão pouco artísticos.
II - Após o tristemente célebre acordo ortográfico, "actor" passou a "ator". Algo muito próximo da designação do deus escandinavo, mas que nem por isso afasta a desgraça.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Stalker

sábado, 8 de janeiro de 2011

Mais fruta da época


Chama-se "Mentira Desportiva". O nome diz tudo. Trata-se de uma página deveras interessante e permanentemente actualizada sobre essa escola de virtudes aplicadas ao futebol, com sede para os lados de Contumil.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Presença

Existir não é pensar: é ser lembrado.

Aforismos, Teixeira de Pascoaes, selecção e organização de Mário Cesariny

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Despedida




A minha avó partiu. Talvez para bordar pelos séculos adiante. Talvez para repartir o seu sorriso. Tão secreto que só alguns sabiam dele. Talvez para engrossar o caudal do grande rio do mistério e da beatitude. Talvez para me segredar onde está o néctar do alento, quando for preciso, "mesmo ali, à tua frente, não vês?"

Balanxo 2010

À semelhança dos anos anteriores, Américo Rodrigues, autor do blogue "Café Mondego", convida várias figuras a escrever uma espécie de balanços sobre o que na Guarda se passou no ano transacto. Os "balanxos" são depois reunidos e editados no blogue. Este ano, o meu foi assim:

(...) não se espere um rol exaustivo e ordenado de acontecimentos. Para isso, já existem os jornais e as rádios. Ficar-me-ei pela pincelada instaladora das sobras da memória. E à maneira dos mensageiros militares romanos, ciosos da permanência de uma cabeça sobre os ombros, comecemos pelas más notícias:
- o fecho anunciado da Delphi
- a descoordenação e incompetência evidenciada pela Protecção Civil em dias de neve
- a inexistência de jornalismo de investigação e equidistante dos poderes
- a continuação das admissões de pessoal na Câmara Municipal, após o início oficial da austeridade
- o desmazelo urbanístico que tomou conta da cidade
- a permanência de um Quasímodo ignorante e prepotente na Sé, a que alguns chamam “guia”
- a continuação no papel da Alameda da Ti Jaquina
- o tratamento noticioso dado aos chamados “gangues” da Guarda
- o definhamento do IPG
- a “inauguração” do Museu de Arte Sacra
- a morte lenta do Centro Histórico, em particular da Praça Velha
- a degradação imparável de uma das alas do antigo Convento de S. Francisco
- o adiamento da Plataforma Logística
- a continuação da incapacidade em fixar competências e vocações na cidade
- o estado comatoso de boa parte da classe política local, ao prestar-se a colocar o órgão máximo do município no grau zero da dignidade, por via da inqualificável aprovação de um voto de repúdio, por delito de opinião, contra um cidadão que nem sequer foi ouvido.
Agora as boas:
- as obras do novo Hospital a bom ritmo
- a nova rede de transportes urbanos
- a reconversão do Hotel Turismo em escola de hotelaria
- a criação de uma Unidade de Limpeza de Neve, por instâncias do Governador Civil
- o funcionamento razoável da Biblioteca Municipal
- os “Passos à volta da memória”, visitas encenadas ao centro histórico, durante o Verão.
- a mega-produção “Guarda: a República”, no palco do TMG em Novembro.
- a capacidade dos guardenses de enfrentar os desafios e ousar sonhar sem esperar que outros o façam.
Sobra a nova simultaneamente péssima (para alguns) e tonificante (para larguíssimas minorias)
- o TMG continua a dar cartas e baralhar de novo.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Mais um tasco onde o gajo papou o farnel

O rescaldo

Abrimos sempre os convites por recusar, recusando assim a única razão válida para os aceitar. São os jantares em que não se participou no repasto, mas todavia se marcou presença, os filmes que foram vistos e esquecidos no momento seguinte, um olhar mais ousado com vontade de mais saber, mas que se rejeita num desvio rápido e frágil. Triunfa, sem se dar por isso, a aceitação da única razão pela qual não se pode recusar um convite.