domingo, 31 de maio de 2009

sábado, 30 de maio de 2009

Esquema de uma nova ideologia política

Há que admitir que o 25 de Abril morreu e, com ele, a ideologia de Esquerda. Por outro lado, a ideologia de Direita serviu apenas de reacção à ideologia de Esquerda. Esta, a da Esquerda, tinha tomado a dianteira com a implantação da República e, provavelmente, já com a Revolução liberal de 1820. Os apelos à Liberdade deram alívio a muita coisa que oprimia a mente dos portugueses mas mostraram-se pouco produtivos em termos concretos. Do Império onde muitas pessoas foram humilhadas na sua dignidade humana básica e cultural, mas também dum Império que foi constituído por obrigação das potências europeias que queriam dividir um mundo onde Portugal estava há cinco séculos sobretudo para fugir das escravaturas da Europa, passou-se para os Fundos comunitários. O projecto português, portanto, foi passando de uma para outra muleta, cada vez mais incapaz. Razões que se perdem na noite dos tempos continuam, todavia, a obrigar-nos à nossa especificidade, muito mais profunda que a dos bascos ou catalães, dos bretões, os dos bósnios. Não é fácil nem viável dissolver Portugal. O reconhecimento da morte do 25 de Abril dispensa-nos igualmente de procurar saber se foi feito por pessoas mal-intencionadas, nomeadamente responsáveis pelas tragédias que constituíram as Guerras civis em várias ex-colónias. O que importa reconhecer é que uma Democracia directamente inspirada no 25 de Abril, quer dizer, uma Democracia baseada fundamentalmente na Ideologia de Esquerda ou de uma Direita que a segue, não é viável. A sociedade portuguesa mostra sinais de grande sofrimento e mesmo de dissolução. A Esquerda tem uma capacidade muito grande de manifestar este sofrimento mas não tem capacidade nem de lhe pôr fim nem de o prevenir. O Estado não faz a sociedade, não produz comida, não gere a família. A Direita é apenas a reacção para endireitar um desvio que se processa há muito tempo e não tem capacidade de endireitar algo que é profundamente torto, acabando por ganhar a forma desta tortura. As soluções extremistas, quer de Direita, quer de Esquerda, apenas aumentariam estes males, provocando, quando muito, uma reacção contra ambas que não se sabe como seria, mas que não seria certamente nem meiga, nem racional. Há que, portanto, ultrapassar a Direita e a Esquerda, nomeadamente limitando um universo de perspectivas em que só a Direita ou a Esquerda podem fornecer soluções. Não se trata esta de uma questão «técnica» de Ciência política, algo em que todos somos cientistas, desde que nascemos. A primeira solução é também a de limitar os efeitos concretos de votações ou eleições desestabilizadoras, nomeadamente começando por refrear e condicionar o fenómeno político. Uma solução que já provou – e durante vários séculos – é a de estabelecer uma Chefia de Estado que não seja elegível, como a de uma Monarquia. E outros órgãos de Estado não deverão ser tão-pouco elegíveis mas apenas mudarem de acordo com outros critérios, uns baseados na tradição, outros no consenso e outros na utilidade e no bom senso. A segunda solução é a de que, sendo certo que proclamar um Rei sobre a República não nos vai resolver problemas sociais profundos que aliás afligem o mundo inteiro, há que procurar uma nova ideologia política, pelo valor de ordenação que esta tem. A busca dessa nova ideologia política não se faz a somar e diminuir, nem a vamos consultar à bruxa, mas é um conjunto de ideais que implicam sacrifício e que se não realizarão facilmente como uma promessa que apenas falta cumprir. Essa ideologia política é necessária, precisará talvez de outras datas que esconjurem o fantasma do 25 de Abril e terá que voltar-se para a resolução urgente dos problemas concretos das pessoas concretas que nos rodeiam, de um modo muitas vezes experimental. O mérito desta etapa das nossas vidas será avaliado – como tantas vezes aconteceu – de um modo que ainda não sabemos.

André

Ana útil


"Penso que posso ser particularmente útil no Parlamento Europeu, entendendo-me como intérprete dos interesses do nosso país e da Europa no seu conjunto."
Ana Gomes, durante o lançamento do seu livro de crónicas "Todo-o-Terreno - Quatro Anos de Reflexões", adiantando que está bem junto das instituições comunitárias e que gostava de cumprir mais um mandato (TSF, 20/11/2008).

Tenho uma embirração de estimação por esta senhora. O que é que querem? Onde há um sinal de peixeirada, lá está ela. Brandindo argumentos em registo mural, dos tempos do MRPP. Uma questão hormonal, talvez. Ou uma nostalgia profunda dos tempos da Praia do Meco. Na questão de Timor, até esteve bem. Depois veio a vertigem das luzes da ribalta. Perdeu-se uma diplomata aguerrida, mas eficaz, e veio ao mundo uma criatura irrequieta, a tentar justificar de forma ridícula as sinecuras com que foi premiada. Foram os voos da CIA, foram as quotas de pesca e, agora, vem atacar o neófito Rui Tavares. É a peixeira preferida de Sócrates. Já alguém lhe fez saber que o ridículo pode matar?

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Crónicas da paróquia

Hoje fui almoçar a um local bem popular na Guarda. Agrada-me o sítio. Sobretudo pela qualidade da comida, pela decoração e ar vetusto. Mas no melhor pano cai a nódoa. Um feudalismo viscoso insinua-se no tipo de tratamento que é dado à clientela. Predomina a subserviência, medida pela "importância" dos comensais. Uma avaliação tão duradoura como o segundo mandato de Nixon, diga-se de passagem. Feita, ainda por cima, com requintes pícaros, à maneira popular: "este é o senhor dotor, mas no final vai desembolsar como gente grande!". É o farejamento e lambimento canídeo dos "dotores", dos influentes, do fulano de tal empregado na Câmara, que "nunca se sabe, ainda nos pode ser útil", dos sacos de ego portáteis, do "xenhor" Y do banco, "então e que tal, estava bonzinho?", mais uma lambidela, cheeeelp! e por aí adiante... Alguns dos senhores dotores são dos maiores filhos da puta lambe-botas com que já me deparei algum dia. Mas agarrados ao arrozinho, ou de volta das entradazinhas, são mesmo uns amorzinhos!... Claro que adoro ir a este local. Nem que mais não seja, porque é um mostruário do socialite guardense. Saio de lá sempre inspirado. E sabem que mais? Lá sou tratado com uma deferência natural, sem excessos deletérios, nem bajulações invasivas. Não estou na classe dos importantes, nem dos "dotores e engenhêros", nem dos mangas de alpaca sazonais. Sou o "gajo esquisito do teatro e dos jornais", que "escreve umas coisas e é melhor que não seja sobre nós", "vai lá almoçar sempre com uma gaja diferente". Portanto, "o melhor é tratá-lo bem", antes que, nunca se sabe... "antes que o chamemos também por dotôr"...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O cinema está vivo

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Recentemente, tive a felicidade de poder assistir ao filme " Cada um o seu cinema" (2007), uma tradução discutível de "Chacun son Cinema". A obra nasceu a propósito dos 60 anos do festival de Cannes. Trata-se de um registo colectivo, composto por 33 curtíssimas metragens de 3 minutos, criadas por outros tantos realizadores, cujos nomes poderão ser vistos ampliando o cartaz em cima. O tema comum é o próprio cinema, as salas, a relação entre a arte e o espectador. A forma de abordagem é diversa, abarcando desde o cómico até ao sarcástico, passando pelo dramático. Um dos momentos fulgurantes da obra acontece no segmento "Três Minutos", de Theo Angelopoulos. Precisamente quando Jeanne Moreau lê "para" Marcelo Mastroiani o mesmo poema que quarenta anos antes o personagem do actor italiano tinha lido à sua mulher, na sequência final de "A Noite", de Antonioni. Um filme que, por mero acaso, vi há pouquíssimo tempo. Um momento mágico, realmente comovente. É assim o cinema.

Elogio dos Homens de Boa-vontade

Recordei-me hoje de quem morreu há cerca de um ano. Do jornalista João Isidro, ex-MRPP, companheiro de Ribeiro Santos, o qual foi assassinado pela PIDE, em 1972. Andou no Liceu da Guarda e desenvolveu a sua vida em Lisboa. Teve cargos: foi jornalista do Expresso, foi dirigente do sindicato dos jornalistas, e neste último cargo conseguiu um direito que se estende também à Blogosfera, o direito de autor dos jornalistas. Era um homem apaixonado, lutador, foi preso pela PIDE logo no seu primeiro ano de estudante na Faculdade de Direito de Lisboa. Morreu de cancro, com pouco menos de sessenta anos, apesar de ser sempre jovem de espírito. E hoje, lembro-me dessa gente valorosa do MRPP, para quem inventaram umas teorias de que eram pagos pela CIA para boicotarem o processo revolucionário em curso. Se houve algo que lhes pagava, era o desejo de Justiça. Por lá, como por outros lugares, passaram oportunistas, manipuladores e muitos do MRPP foram certamente tratar da sua vidinha por caminhos mais espertos. Mas se Portugal não caiu num regime impossível, tipo Cuba ou a Venezuela de Chávez, onde seria imediatamente invadido pelas tropas espanholas, como ficou provado recentemente, ou por uma esquadra norte-americana, para não dizer que ficaria irreversivelmente separado dos Açores e da Madeira, foi graças a indivíduos como os do MRPP, que teimaram em acreditar que o seu desejo de Justiça não era igual às partilhas de Poder feitas pelos Grandes deste Mundo. E João Isidro bem o ilustra, na maneira como viveu. Ligado há muito tempo à Maçonaria, não foi por isso que se encheu de riquezas ou honrarias. Recusando a falta de ética que invadiu o moderno jornalismo, este jornalista profissional de tantos anos, acabou reduzido a escrever para uma Revista de Bombeiros. Tenho a certeza que Deus e a consciência dos Homens guardam um lugar de Paz, para esta gente, que se não satisfaz com a desolação e a cegueira do nosso egoísmo. E pergunto-me se está destinado aos Bons do Mundo a morrerem em dor e canseiras. Não sei, nada sei. Olho o céu e peço misericórdia. Deus é o único Vencedor.

André

quarta-feira, 27 de maio de 2009

A campanha alegre

Prossegue a sobrehumana excitação provocada pela campanha eleitoral para o Parlamento Europeu. Zaratustra Vital avança com o imposto europeu! Esta é de mestre! Mais uns tirinhos de salva para animar o pagode da feira! Continuando nas hostes socialistas, deu à costa o não sei quantos Pereira, ministro não se sabe bem de quê e clone bem sucedido de Sócrates. Fez um trocadilho superengraçadérrimo com aviões, a propósito do PSD: que "andaram vê-los passar estes anos todos e agora querem descolar" e tal. Historietas de caserna para divertir a assistência, composta na maioria por mulheres entusiastas da causa e solicitamente aplaudentes, daquele tipo "educadoras de infãncia" com uma perninha na política (ironia à parte e ao lado). Fartei-me de rir hoje ao almoço! Mais à frente, salvo seja, apareceu a candidata do PCP, não sei quantas eufêmia.. Ah, esperem, estão-me ali a segredar que não é essa. Prometo que um dia destes vou-me lembrar do nome dela. Foi a Coimbra, acompanhada de uma gaita de foles. Instrumento com uma sólida tradição na Lusa Atenas, como é sabido. Pois enquanto a gaita tocava, e dois ou três bailavam, a Ilda (é isso, lembrei-me agora), num impulso solidário, pastoral, foi meter conversa com uns estudantes que iam a passar. E que aproveitaram para perguntar onde ficava Estrasburgo e cravar uns guronsans para a manhã seguinte. Após consulta do oráculo, a Ilda pitonisa declarou então que "o ensino superior devia ser gratuito"!!! Com o mesmo à vontade com que o célebre ministro do interior iraquiano disse que as tropas americanas estavam a ser derrotadas em toda a linha. Isto enquanto já se viam tanques daquelas forças nas ruas de Bagdade. Um episódio que veio a fazer história, motivo de gargalhada e case study em todas as faculdades do comunicação do globo, como se sabe. Repito então. A candidata disse que O ENSINO SUPERIOR DEVIA SER GRATUITO. Ouviram agora? Ainda estão aí? Bom, vou continuar. O candidato do PSD parece que tem dito umas coisas, segundo me tem contado uma prima minha que tem um fraquinho por homens com ar de contabilistas e que já foram chefes de escuteiros. O do PP também, mas esse não brinca em serviço, como já se viu nos cartazes. Ah, resta então o Portas Miguel. Quer ele quer a lista do BE até está bem compostinha. Tem o Rui Tavares e tal. A quem saúdo, pois a vénia à inteligência faz sentido no meio de tanta estupidez. Estava então a almoçar e, ao ouvir o Portas Miguel, uma sugestão se apossou de mim: o registo vocal do eurodeputado parecia igualzinho ao do vocalista dos Tindersticks! As semelhanças eram impressionantes! Parecia uma alucinação! Sabem que mais? Se não for à praia nesse dia ou outras coisas que tais, vou mas é votar na Laurinda. Nem é tarde nem é cedo! Pior do que esta campanha só mesmo o festival Eurovisão deste ano. Com candidatos capazes de aceitar um pedido de asilo político ao David Hasselhof...

Stalker

terça-feira, 26 de maio de 2009

Coisas doces

Durante a estadia em Viana do Castelo, nos Encontros "Olhares Frontais", pude comprovar in loco porque é que a Confeitaria Natário (de Manuel Natário, desde 1950) é, muito provavelmente, a 8ª maravilha do mundo. Algumas celebridades são clientes habituais. Aquelas bolas de berlim, só de pensar nelas sinto uma estranha e fatal solidariedade com o cão de Pavlov. As meias-luas e os croissants são objectos cuja apropriação indevida deveria figurar no Código Penal como causa permanente de exclusão de ilicitude. Nem digo mais nada, pois está a chegar a hora do lanche... Entretanto, fiquem com um naco de prosa retirado da respectiva página do Facebook. Digam lá se não parece um poema do Cesário Verde:
Ao fim da manhã chegam os tabuleiros de madeira, fechados, com os folhados quentinhos a sair do forno: rissóis de camarão, os bolinhos de bacalhau, os croquetes de carne, os folhados de camarão e de carne, “frigideiras” de carne, empada de pato, empada de salmão e de lampreia (na época) com massa folhada, trabalho artesanal de convento", são deliciosos, ah e a bola de carne também… tudo acompanhado por uma tacinha de vinho branco verde fresco, claro! Nos doces: “Mariazinhas”, croissants, gemas ou cavacas, meias luas, manjericos, torta de Viana e "inigualável" Pão-de-ló, e ainda os variados biscoitos de Viana… e não podemos esquecer das famosas bolas de Berlim, que se classificam como as "melhores do mundo", e que fazem com que, às 17.00h, haja fila até à rua.

Festival Silêncio

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Olha uma cena que não dá para faltar. Mas não há bela sem senão. Se virem bem na mancha dos participantes, está lá também... adivinhem... não é o Willy, mas podia ser... vá, digo já, pois estou quase a sair: o inevitável, o sempre em pé", o "está em todas", o polivalente divulgador, comunicador, autor de crónicas, editor, gastrónomo, fumador de charuto, romancista, homem darrrádioidatêvê, senhoras e senhoras, palmas para Franciiiiiiiiiisco José Viegas! Avisados para este pormenor desagradável, não faltem. Só se não puderem, claro. Quanto ao resto, está tudo aqui.

A palavra

Em representação do Cineclube da Guarda, participei recentemente nos "Olhares Frontais", encontros de cinema e vídeo, organizados pelo Cineclube "Ao Norte", em Viana do Castelo. O programa revelou-se particularmente interessante, com exibição de vários documentários no ciclo "Outros Olhares", o concurso "PrimeirOlhar", uma apresentação do Esodoc, de duas escolas de cinema, uma italiana e outra de Hong Kong, vários debates e workshops. A encerrar, decorreu uma homenagem a Manoel de Oliveira. Antes, a projecção do documentário "O Pintor e a Cidade", o seu primeiro filme a cores. Se bem que, para o realizador, não haja diferença de género entre o documentário e a ficção. Durante a conversa com a assistência, que se seguiu, ficaram retidas na minha memória algumas das suas palavras. Nomeadamente, o comentário que fez do último filme de Dryer, "Gertrud". Precisamente porque este o imaginou inicialmente a cores. O realizador dinamarquês, como é sabido, foi sempre uma das suas referências básicas. Oportunidade, no documentário, para descobrir o Porto em todo o seu esplendor. Com o pretexto da paleta do artista, claro, mas com a destilação do olhar de quem conhece a cidade melhor do que ninguém. No final, do próprio realizador ouvi a melhor definição, ainda que provavelmente involuntária, da sua obra. Foi quando comparou o teatro e o cinema, afirmando que ambos são praticamente iguais. A nuance está nas palavras do teatro serem substituídas pelas imagens no cinema.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O fim de um tempo


A indústria discográfica, apavorada com as quebras de vendas na ordem dos 40%, deu corda à imaginação para acabar com aquilo a que chama "pirataria de ficheiros" na internet, ou "trocas ilegais" de músicas. Ou seja, partilha livre de temas musicais, sem necessidade de dispender 20 euros por um CD, cujo PVP é 1000% superior ao seu custo de produção. Pois é isso e só isso que está em causa. Ou alguém acredita que os paladinos "anti-pirataria" estão preocupados com os direitos autorais dos músicos, um valor perfeitamente residual? Tozé Brito, o pau mandado oficial (a que alguns chamam lobista, uma realidade ainda sem expressão institucional no nosso país) das multinacionais da indústria, vem agora mandar mais uma acha para a fogueira. Segundo esta luminária, os ISPs deveriam cortar imediatamente o fornecimento de sinal aos clientes com IPs onde fossem detectados fluxos de ficheiros ilegais. Ou seja, para o Tózé não há problema algum em os fornecedores de internet andarem a vasculhar aquilo que os cidadãos seus clientes andam a consumir na web! Bah, simples detalhes! Mas se o "big brother" dá conta de um "traficozito", toca a bloquear o acesso, "képáprenderes". Claro que a produção e disponibilização de ficheiros contendo obras protegidas, com fins comerciais, constitui acto ilícito. Mas já não a partilha de bens culturais sem intuito lucrativo. Se uma medida deste tipo fosse implementada, a violação de correspondência deixaria de ser crime, uma vez que os ISPs teriam carta branca para espiolhar os consumos dos seus clientes, os seus hábitos, o tipo de procura, os conteúdos descarregados, etc. Pelos vistos, a imaginação deste sector, penalizado com uma natural baixa da procura, já atingiu dimensões para lá de qualquer razoabilidade.

domingo, 24 de maio de 2009

Mais um domingo e tal

blog blog, morde, vá blog, blog, tá quieto blogui, democaracia, sim, não é gralha, democaracia opinatinativa, idem, opinatinativa, blog, blog, adoro opinatinar, opinatinar é sempre mais belo do que a Vénus de Milo, nem se compara, ainda outro dia à noite opinatinei sobre os donos da cultura, que belo serão, então opinatinas ou os filhos almoçam? raistaparta, opinatinandor já daqui, pina, pina, não é pra dar de comer às galinhas, idiota, pila, pila, diz lá, na orelha? sim, já vai, agora isto é para ti, opipatinador compulsivo, another o'pint, ó leopold? meteram-te assim, sem mais nem menos, numa alegoria das errâncias da alma, vejam só, estás bem arranjado, ó pintas ó upinas, não há meio de seamus, da democaraxia, da guinessima opintas urinada na baía de dublin, não ligues, blog, blog, outras vez o chato, o arcebispo às bolinhas tracejantes, coçando o infinito, e eu a querer morder-te a orelha, blog, ó pinas nativa, ó sativa inclemêeeeeencia, como na fita, tinoni, tinoni, tinoni, o carro da polícia, já consegui dar-te uma dentadinha no lóbulo e assim por diante até a democaracia ficar devidamente urinada com teraresmas de opinatinanices. blog blog. pschiii! quietinho, blogui!!!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Stalker

A torre e a feira

Em relação às novas redes sociais do momento, tenho algumas reservas, como é sabido. Que não nascem, creio, do preconceito ou do arcaísmo. É bom que fique claro: não duvido de todo das suas potencialidades intrínsecas, do seu poder mobilizador, das infinitas possibilidades de comunicação. A questão radica noutras águas: sempre busquei a perplexidade e o conhecimento no silêncio. No silêncio que repousa da agitação e a busca de novo. Ou seja, a realidade física e a torre do castelo de Montaigne como duas faces da mesma moeda. Sem intermediários virtuais. Portanto, organizar um pensamento dá muito trabalho. Mas ter muitos ideias, e espalhá-las como cascas de tremoços, até um papagaio consegue. A sofreguidão informativa que se vê no Twitter e no Facebook fazem temer o pior. O frenesi comunicacional é muitas vezes sinónimo de um vazio que não se quer reconhecer. Será mesmo que essas redes são veículos de partilha de conhecimento? Tenho sérias dúvidas. A revolução operada pelas redes sociais só faz sentido se elas forem encaradas como o terceiro elemento instrumental, a concha do peregrino, o meio congregador. Ou seja, o pretexto, nunca o tema. Ora, nestes assuntos fica sempre bem contar uma história. Ainda agora recebi, através do Facebook, uma mensagem convidado-me a integrar aquio que me pareceu ser o "grupo do soutien". Eh lá! Parei tudo o que estava a fazer, claro. Abri o link e, afinal, era um convite para aderir ao grupo de "soutien (apoio) aux refórmes de Valérie Pécresse", jornalista do canal "Arrêt sur images", entidade a que já aqui fiz referência. Afinal, um fórum de discussão política que me pareceu interessante e onde dá para desenferrujar o francês. Nada, portanto, de lingerie e temas associados...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O programa

Há cenários onde é aconselhável deixar um comentário breve e antecipado. Eis um exemplo. Já não falta muito para as eleições autárquicas serem tema de fundo na Guarda. Altura pois para um ponto da situação. Quanto ao enredo, ele está praticamente definido, não se prevendo surpresas de maior. Ou seja, quase toda a gente já percebeu que, se não cometer nenhum deslize de última hora, Joaquim Valente será reeleito para um segundo mandato à frente da Câmara guardense. E com uma legitimidade acrescida para poder executar o programa com que se propõe ao eleitorado. O candidato do PSD, Crespo de Carvalho, não irá certamente descolar de uma posição underscore até ao sufrágio. E qual será o guião para este espectáculo? Ou seja, que projecto político está em causa na sua candidatura? Qual será o teor das propostas de Valente? Que visão para a Guarda? Mais do mesmo? A audácia própria de um segundo mandato? Que estratégias? Que prioridades? Que recursos disponíveis? Que plano para mobilizar a cidade? Qual a equipa que o irá acompanhar? São essas e só essas as questões por que vale a pena esperar.

A paixão de uma vida


Hoje é dia de luto para o cinema em Portugal. Acaba de nos deixar um dos maiores divulgadores e cultores da 7ª arte: João Bénard da Costa. Segundo pode ler-se no site do ICA, JBC esteve "ligado à Cinemateca Portuguesa desde 1980, onde assumiu o cargo de Presidente a partir de 1991, João Bénard da Costa faleceu hoje, aos 74 anos. Numa vida dedicada ao cinema, começou como dirigente cineclubista enquanto ocupava também o cargo de presidente da Juventude Universitária Católica. Foi um dos fundadores da revista O Tempo e o Modo, dirigiu o Sector de Cinema do Serviço de Belas-Artes da Fundação Calouste Gulbenkian e presidia à Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal. Escreveu crónicas no Expresso, passou pelo Diário de Notícias e, em 1988, no semanário O Independente assinou “Os filmes da minha vida”. Publicou várias obras, entre as quais monografias sobre Alfred Hitchcock ou John Ford. Foi homenageado com o prémio Pessoa em 2001 e recebeu de Mário Soares a Ordem do Infante D. Henrique. Internacionalmente, foi reconhecido em França que o instituiu como «Officier des Arts et des Lettres». Pelo trabalho à frente da Cinemateca, João Bénard da Costa foi condecorado em Setembro de 2008 pelo Ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, com a medalha de mérito cultural."

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O gajo a dar ares

o gajo. tiff

O voo

Uma das sensações mais extraordinárias que conheço acontece quando acabo de conhecer alguém e, imediatamente, sou tomado pela impressão de que esse conhecimento não é, de todo, fruto do momento. Não se trata, obviamente, de "já ter visto ou convivido com essa pessoa" anteriormente, em circunstâncias fugazes. E essa recordação agora emergir, ainda que quase indetectável. É mais uma partilha anterior, anónima claro. Uma soma de linhas paralelas, de feridas nos mesmo locais, de paisagens sonhadas, de traços que compõe um rosto que, numa fracção de segundo, se toma por igual. Situação que dispensa, naturalmente as regras normais, as aproximações cerimoniosas, certas perguntas, o small talk cauteloso, o tiro no escuro. A comunicação é simplesmente "retomada", depois de uma mudez forçada. Não é que bastasse antes olhar para o lado, para se descobrir essa pessoa. Não! Isso só acontece nos filmes em que entra o Robin Williams. Aqui, o movimento é outro! É aquele onde dois pterodactilos se reconhecem num voo picado: "então, também por aqui?"

Efuméride


Faz hoje dois anos que deixei de ser cliente de Nicot. "Grande coisa!", dirão alguns. Claro que não é por ter deixado de fumar que aumentou a inovação social, ou que a crise financeira dá sinais de abrandar. Isso é mais do que certo. Todavia, lamento desmentir os relativistas, afirmando bem alto que foi mesmo uma grande coisa. As razões já se conhecem, tornando-se redundante estar a repeti-las. E acreditem que, sem fumo, a vida sabe melhor. O que conta, agora, é a alavanca de uma vitória suada. Sem vencedores nem vencidos.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Libertas

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Hoje é o aniversário da Tertúlia Académica. Uma vez mais, não poderei estar na Portugália. Eis mais um custo da interioridade. Este custa mais um bocadinho, diga-se de passagem. Pois andei à procura de imagens digitalizadas do "sai quando sai". Ou seja, para quem não sabe, de "O Berro", órgão oficial da Tertúlia. E não encontrei mesmo. A não ser o manifesto do Bardo, sempre actual, que em boa hora digitalizei. A razão é uma só: na altura em que era redactor daquele prestimoso periódico, ainda mandava a tesoura e a cola, para além de outro requintes da era pré-digital...Enfim. Hoje é um dia diferente. Daqui saúdo todos os tertulianos, estejam eles onde estiverem.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Assim não...


Comemora-se amanhã o 102º aniversário da fundação do Sanatório Sousa Martins. Entretanto, a degradação tomou conta de um património edificado e natural que outrora foi a imagem de marca da cidade. No "Correio da Guarda", Helder Sequeira (autor da foto) uma vez mais adverte para a gravidade da situação e a indiferença das entidades responsáveis. O texto chama-se precisamente "A agonia dos centenários pavilhões do Sanatório". Onde pode ler-se: no Parque da Saúde vão agonizando os antigos Pavilhões D. Amélia e D. António de Lencastre; a Guarda corre o risco de perder uma património ímpar e uma parcela da sua própria história, da história de uma instituição que a projectou dentro e fora das fronteiras nacionais...

Formação acelerada

Julgo-me um tipo honesto e frontal. O que significa que, num mundo do "todos contra todos", à maneira hobbesiana, não me vou "safar" sem aquela ligeireza que muitos assumiram como segunda pele. Isso é que era bom! Impõe-se, portanto, a frequência de um curso intensivo de... filhadaputice. Nem mais! Uma aprendizagem onde pudesse conhecer estratégias, maneiras de roer a corda, traições florentinas, saltos de rã, como eliminar escrúpulos em 10 segundos, etc. É surpreendente como nenhuma instituição nacional se candidatou às verbas comunitárias para acções de formação neste domínio. É de uma vulgaridade atroz ver ofertas formativas na área pedagógica, técnicas disto e daquilo, jardinagem, hotelaria, informática, etc. Todavia, ninguém se lembrou ainda de apostar em cursos de filhadaputice! Uma área em franco desenvolvimento e onde a procura suplantaria todas as expectativas! No nosso país, combinar o tradicional e useiro desenrascanço com índices de filhadaputice "aceitáveis", elevaria drasticamente os níveis de qualificação. Uma das batalhas deste Governo, como é sabido. Nessas acções, haveria vários níveis, consoante as necessidades: básico, intermédio e avançado. Para este, seriam convidados como formadores certos dirigentes desportivos, notabilizados como distribuidores de fruta. Espero então que alguém apanhe a ideia. Serei dos primeiros a fazer a inscrição. Está prometido. O quê, disse alguma coisa?

O labirinto

É um erro pensar que os outros, alguns outros, não têm uma consciência. Que algo os impede de uma dissimulada contrição. Que não possam, ou não saibam, reconhecer as regras que precedem a secura de uma lei ou o peso da uma obrigação. Não é que essa ausência não se manifeste com frequência. Mas quem foge, não foge com a sua consciência. Simplesmente atrasou um encontro. Ou seja, o tal pêndulo, chamemos-lhe do ethos, que julgamos não encontrar, está sempre lá. A questão é que nem sempre se manifesta no local onde o esperaríamos.

domingo, 17 de maio de 2009

Stalker

Cadê o suco, cara...

A apreciação e discussão da petição/manifesto em defesa da língua portuguesa, em sessão plenária da Assembleia da República, está agendada para o próximo dia 20 de Maio. Entretanto, até essa data é possível ainda assinar o documento. Aceder aqui. Contra o acordo ortográfico, a luta continua!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Os 5 magníficos

Desta vez, vou abrir uma excepção e transcrever um daqueles textos que "circulam" na net e que fazem as vezes do anedotário que antes se vertia à mesa dos cafés. A sua ironia crua e dura justifica-o.

ERA UMA VEZ... 4 Funcionários públicos chamados Toda-a-Gente Alguém, Qualquer-Um e Ninguém.
Havia um trabalho importante para fazer e Toda-a-Gente tinha a certeza que Alguém o faria. Qualquer-Um podia fazê-lo, mas Ninguém o fez. Alguém se zangou porque era um trabalho para Toda-a-Gente. Toda-a-Gente pensou que Qualquer-Um podia tê-lo feito, mas Ninguém constatou que Toda-a-Gente não o faria. No fim, Toda-a-Gente culpou Alguém, quando Ninguém fez o que Qualquer-Um poderia ter feito.
Foi assim que apareceu o Deixa-Andar, um 5º funcionário, para evitar todos estes problemas.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

O casaco do gajo

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Lido

Preces atendidas - 32

Anita Ekberg (em "La Dolce Vita", de Fellini)


Informação

A webpage do Cineclube da Guarda foi redireccionada para o blogue homónimo, recém-criado. As vantagens da sua utilização são óbvias: maior interactividade, versatilidade e possibilidade de actualização em tempo real. O novo espaço está ainda em fase de construção. Todavia, convido desde já os leitores a fazerem uma visita. Está aqui, podendo ser acedido também através deste sidebar.

O novo "i"

No que toca ao debutante "i", resolvi esperar para ver. Como no póquer. Ao fim de seis lances, tantos quanto os números até agora saídos, o veredicto: seis não é a conta que Deus fez, mas já dá para o melífluo abandalhamento de uma apreciação. Pois bem, meus caros amigos, este jornal, ainda por cima diário, tirou-me do sério. Já antes tinha havido uma coisa parecida, quando saiu o 1º número do "Público", seu concorrente "sénior", há já uns anos valentes. Estava eu na Cantina Velha, à hora do café, a discutir estratégias associativas. E zás, deparo com "ele", nas mãos de alguém da mesa! Topei logo a "fitinha" do "Calvin & Hobbes". Apropriei-me imediatamente do periódico, em passo de corrida, e de forma, convenhamos, malcriada. E pensei logo: nada será como dantes, no que tange ao jornalismo luso. O "no que tange" acrescentei agora, pois queria lá eu tanger! Isso é que era bom! Querias tanger, querias? Então vai tanger para determinado local onde haja consumo obrigatório! E vou contar a história rápido, antes que aí apareça o meu primo Bruno Aleixo. Aliás, não sei se sabiam, mas quando era puto falava como ele. E até sabia uma anedota onde entrava o busto do Napoleão. E que acabava assim, depois de uma proposta extremamente desonesta, embora gorada: "o que tu querias era um busto do vencedor de Iena"! Claro que esta do "vencedor de Iena" meti agora à pressão, em vez do "marido da Josefina", prosápia esta de um gosto, digamos, pequeno-burguês. Mas não conto o resto, senão os meninos crescidos ainda coram. Sim, já que as meninas... enfim... cala-te boca. Adiante. Então e não é que as feromonas criadas por esta 1º leitura compuseram a química perfeita para um amor à 1ª vista? E que, com alguns remoques, tem durado até hoje! O problema é que agora há um rival de peso. Neste caso, a paixão não foi à primeira, mas à sexta. Todavia, a situação é esta: com a entrada em cena do "i", antevejo um menáge à trois que já me deixa água na boca. E aos costumes direi pois que tão preclara inclinação se deve ao seguinte:
1º A felicíssima arrumação em 4 blocos: opinião, radar (grande informação), zoom (reportagem, temas da actualidade, entrevista), mais (lazer, desporto, cartaz, tendências). Uma confecção que agiliza a procura, facilita a leitura, direcciona a pesquisa.
2º Um excelente naipe de colunistas e colaborasdores, tão plural quanto pertinente.

3º Opção por textos sóbrios, embora não esquálidos. Que informam com esclarecimento, mas não distraem do essencial.

4º Direccionamento para uma audiência urbana, dinâmica, com alguma instrução. Que não gosta de perder muito tempo à procura das notícias, mas que não prescinde de uma boa FAQ na ponta da língua, no que toca às respectivas áreas de interesse.
5º Opção generosa e coerente por temas associados às novas tecnologias e à web 2.0, onde pontuam as redes sociais.

6º Uma versão online que se saúda pela qualidade e pela disponibilização plena dos conteúdos. Incluindo os textos de opinião, acedidos a partir do sidebar. O portal inclui igualmente algumas ferramentas como o Twingly, inquéritos, uma plataforma de blogues e uma tag cloud.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Elogio de Fausto


Recentemente, passou na RTP um documentário sobre aquilo a que se convencionou chamar de "música de intervenção". Com especial destaque, naturalmente, para os seus intérpretes maiores. A propósito do tema, apeteceu-me lançar uma pequena provocação ao auditório. Que nada tem a ver com a estafada discussão sobre a bondade da designação "intervenção". A qual, confesso, já cheira mal. Não, aqui o propósito é outro. E tem como pano de fundo as razões de uma escolha. As quais vêm já a seguir, à desfilada.
Existem cantores/intérpretes/autores cujo lugar não é, pura e simplesmente, questionável, ou sujeito à subjectividade desgovernada. JOSÉ AFONSO e ADRIANO CORREIA DE OLIVEIRA são os nomes mais óbvios. O último será lembrado mais pela imensa generosidade e combatividade, do que pela música, à excepção de alguns hinos. O primeiro é, simplesmente, o compositor de música popular portuguesa mais importante do séc. XX. E que sobreviverá, mesmo apesar da acção nefasta de alguns epígonos, muitos prosélitos e certos maus divulgadores.
VITORINO é outra figura à parte. E cuja veia criativa parece ter esgotado. Mas que, todavia, não integra a minha playlist actual, sobretudo por duas razões: os temas mais antigos já não consigo ouvir, devido a nostalgite aguda, e os mais recentes não me interessam.
SÉRGIO GODINHO é um caso mais complexo, mas simultaneamente mais simples de explicar: só gosto e só ouço o que fez até meados dos anos 80. Depois disso, prefiro o Serge Gainsbourg no original, embora reconheça o mérito artístico de alguns temas.
Outro problema é JOSÉ MÁRIO BRANCO. O qual mais facilmente me disporei a escutar "ao vivo" do que noutra qualquer situação. Talvez porque a sua música, hoje em dia, inspira mais do que ilumina.
Há alguns nomes cuja lembrança menos pesa. É o caso, por exemplo, de PEDRO BARROSO. Ao ouvir as sua baladas campestres, ocorre-me imediatamente o queijo "tipo" serra. Ou seja, um produto que se faz passar por aquilo que não é: música tradicional. É uma sonoridade que combina bem com uma feijoada acompanhada de um carrascão ribatejano. Seguida de uns versos flatulentos, dedilhados à guitarra e dedicados às moçoilas da região.
Resta então FAUSTO, para incluir na tal minha playlist multiusos. Onde permanece, de pedra e cal. E porquê? Para já, é o único que nunca atou a pedra da ideologia àquilo que se impunha que flutuasse: a sua arte. E foi por causa disto que alguém duvidou do seu posicionamento político? Por outro lado, Fausto assemelha-se mais a um herdeiro da tradição dos jograis e de entremezes, da tradição pícara ibérica. O seu registo vocal é o oposto daquele que se usaria num comício. Denotando uma elegância e uma ironia que escasseiam noutros. Onde coexiste a intensidade artística e o distanciamento. Fausto nunca utilizou a música como suporte para fins proselitistas. Nunca teve preconceitos em usar temas que outros considerariam pouco dignos. Nunca confundiu a solidez da mensagem com a crispação de uma "língua de trapos". Evidenciou um profundo conhecimento da cultura e da história nacionais. E compôs a opus magnum da música popular portuguesa da década de 80: "Por este rio acima". Cada disco seu é diferente de todos os outros, mas nenhum exclui os anteriores. Fausto é o único cujo nome não evoca mecanicamente nenhum adjectivo, sendo ele próprio um. Algo que não é, decididamente, para todos. Em suma, com Fausto sabemos sempre que "Grande, grande é a viagem"...

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A longa marcha

Eis algumas das velas que amanhã não irei apagar.

La Dolce Vita

Aguardado ansiosamente por borlistas e basbaques, abriu finalmente o "Dolce Vita Tejo". Trata-se do anunciado maior espaço comercial da península. Deve ser mesmo "península", e talvez mais do que isso. Pois no norte da Europa, que não são parvos nenhuns, já deixaram há muito de apostar nestes hiperespaços comerciais. Passou então a "reportaje" na SIC. O povoléu, exultante, onde pontuavam decerto alguns dos que encheram a barriga na mega-feijoada da inauguração da ponte Vasco da Gama, lá ia recolhendo os saquinhos de plástico e as lembranças de boas-vindas. Que vantagens? Que futuro? Gosta? Ninguém tinha uma opinião formada, "acho bem, e tal", assim como assim... Os lojistas, esses esperam pelo próximo lance. A interstícios, lá se viam os inevitáveis operários em acção, com a brocazinha ou a rebarbadora. Dando os últimos retoques na obra. Imprescindíveis apontamentos lusos em qualquer "boda inaugural". "Boda inaugural"? Isto não soa bem, mas adiante... Querida, olhá promoção! Crise, qual crise? Lembras-te dos Supertramp, lembras-te, querido? Assim como assim. A feira cabisbaixa no seu melhor. O O 'Neill que me perdoe, está bem?

Post it

Viver é mais fácil do que parece:
Basta sorrir de cor,
Sem sangrar,
Acreditar solarmente no amanhã –mesmo que o advérbio e o dia não existam,
E em Deus nosso senhor que nos protege a todos,
Mesmo que também - triunfalmente - não exista.
Basta não acordar o vento
Ou soltar a memória
(Que é o mesmo).
Basta ser sensato,comedido,
E saber que a dor se grita em voz baixa
Ou se abafa na alegria morna dos dias.

A.M. in "A Imitação dos Dias"

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O passeio

Hoje transferi a caminhada aeróbica quase/diária para a cidade, em vez do parque de Rio Diz. Momento perfeito para reactivar memórias, recolher impressões digitais de um tempo que acabou. O tempo em que a Guarda tinha "rua", tinha uma "proximidade" aconchegante, tinha uma convivialidade natural, espontânea, tinha cafés carismáticos, inspiradores, tinha tertúlias acaloradas, uma irreverência imprescindível, um pulsar colectivo que se sentia, uma leveza que fazia esquecer a solidez e a asfixia do granito. Hoje, infelizmente, a cidade não tem "rua". Funciona como um centro de dia, animada pelos serviços e algum comércio. E nem mesmo os arranjos no "mobiliário" urbano conseguem disfarçar uma urbanidade degradada, bisonha. Seria de esperar que, numa cálida noite de Primavera, se vissem pessoas na rua, disponíveis, com tempo. Que houvesse um "cheirinho" de civitas no ar. Mas não! Nos cafés, todos com os olhos pregados na TV. Imagino que assistindo a mais uma transmissão de futebol. Nas artérias principais, três pessoas a falar ao telemóvel, dois casais com ar de forasteiros e um polícia a torcer o bigode. And that's all, folks. Duas notas finais. Dei conta da existência de uma lavandaria self service, uma novidade absoluta... Por outro lado, na Praça Velha, deparei com várias filas de estudantes do IPG, munidos de um papel. Pareciam as filas para o check in no aeroporto de Lutton, em Londres. Ou uma flash mob de circunstância. Todavia, imaginei que não passasse de mais uma praxe ou coisa que o valha. Segui caminho, para não me desapontar...

Nós, os fundadores...

"Se vivêssemos no tempo do fascismo, eram uma boa carta de de recomendação para integrar os quadros da PIDE". Palavras do líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares, respondendo ao deputado socialista Mota Soares. Foi durante o debate sobre as agressões dirigidas a Vital Moreira na manif do 1º de Maio, após aquele ter acusado os comunistas de terem "uma história sobre a calúnia, como têm todos os partidos comunistas do Bloco de Leste" e compreender o «nervosismo» do PCP por ter sido ultrapassado pelo Bloco de Esquerda nas intenções de voto. Bernardino teve depois o seu "momento chavez", digno de figurar na história recente do parlamentarismo em Portugal. Foi quando, depois de negar que o seu partido seja "um bando de arruaceiros", reclama-o, imaginem, como "um PARTIDO FUNDADOR DA DEMOCRACIA"!!! Leram bem, foi mesmo isso que ele disse!!! Então e a multidão ululante, pastoreada por capangas do aparelho e formada por lumpen arregimentado que, durante o "Verão Quente", queria invadir a Assembleia da República e paralisar os trabalhos da Assembleia Constituinte, sob os gritos "abaixo as instituições burguesas", "as eleições são uma farsa" , "viva a ditadura do proletariado" e outras palavras de ordem com o apropriado air du temps? Durante um ano e meio, os portugueses puderam apreciar quanto baste as "virtudes democráticas" desta força obscura, sectária, irresponsável, cada vez mais reduzida a um grupo de fanáticos e desequilibrados.

Stalker

Caminhos

Estou realmente impressionado com a quantidade de peregrinos de Fátima que tenho visto ao longo da EN 17, conhecida como a "estrada da Beira", entre Celorico e Seia. Felizmente que a regra do colete reflector já se generalizou, para segurança de todos. Embora, por vezes, grandes grupos tendam a afunilar a faixa livre para a circulação automóvel. Já estou preparado para que, nestes dias, a situação se mantenha. O episódio recordou-me que, este ano, pelo Verão, talvez em Setembro, vou repetir uma caminhada gloriosa até Santiago de Compostela. Desta feita, em vez de seguir o "caminho português", menos utilizado, a partir de Tuy, seguirei pelo "caminho real francês", mais conhecido e, do ponto de vista patrimonial, mais interessante. E em vez de 100 serão 300 Km! O ponto de partida será em Léon, oportunidade para visitar o novíssimo MUSAC, Museu de Arte Contemporânea de Castilla Y Léon e a fabulosa Igreja românica da Colegiada de Santo Isidoro.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Pour Finkielkraut, internet est une poubelle

Finkielkraut, Alain, é um conhecido filósofo francês. Polémico quanto baste nas suas obras e nas crónicas radiofónicas que mantém na France Culture, intituladas "Répliques". Recordo-me de me ter entusiamado sem moderação por uma obra de que é co-autor, com Pascal Bruckner: "A Nova Desordem Amorosa", (Bertrand, 1981). Recentemente, foi convidado a participar num debate promovido pelo "Arrêt sur images". Trata-se de um canal televisivo temático, cujo site funciona também como um agregador de conteúdos com especial incidência nos media e na web. Nesse programa, respondendo a Guy Birembaum, insurge-se contra a internet, considerando-a um "local de anarquia, pronto a contaminar os media tradicionais mais civilizados". Claro que o autor de "A Derrota do Pensamento" deve saber do que fala. É pena que nunca lhe tenha passado pela cabeça inverter o fluxo contaminador, pois é esse sentido de circulação que realmente devia preocupar a comunidade internauta e não só. Certo é que, Alain dixit, o lugar da world wide web é a mentureira (em bom vernáculo luso). Então que viva a mentureira e que vivam os respigadores e os alquimistas, que por lá praticam uma estranha ecologia global e democrática!...

Film Ist


Este ano, no que diz respeito ao Festival Indie Lisboa, só houve tempo para ver "Film Ist. a girl and a gun", de Gustav Deutsch. Trata-se de um registo singular, a que chamaria, à falta de melhor, uma instalação cinematográfica. Uma narrativa a que o autor preferiu chamar "drama musical". Mas que, pela intensidade e vertigem das sequências, mais parece uma operação mediúnica de reinvenção do mundo, através das imagens. O filme integra a série Film Ist, projecto a que o realizador tem dado seguimento desde 1997. Neste caso, reuniu uma quantidade impressionante de registos visuais de arquivo, nem sempre com origem no cinema, todavia confinados às quatro primeiras décadas do século XX. Os textos utilizados, de autores clássicos gregos, no caso Platão (com "O Banquete"), Safo e Hesíodo, iluminam as cinco partes em que se divide a obra. Que constitui uma operação visual deveras impressiva, onde o artifício não se nota e a força genesíaca do cinema, refeito a partir do seu vigor inicial, se mostra em toda a sua plenitude.

Nota: À semelhança de outros anos, o Festival vai ter oito extensões em várias localidades do país. Este ano serão oito. Só é pena que o TMG não se tenha associado à iniciativa.