segunda-feira, 29 de março de 2010

Preces atendidas - 37

Teresa Wright

A graçola dos caviares

Daniel Oliveira, uma das estrelas da constelação bloquista, acaba de nos brindar com mais uma das suas pérolas de requintado humor. No seu blogue "Arrastão", chegou a apelidar de "carne tenrinha" as crianças abusadas por elementos do clero católico... Aos interessados, valerá depois a pena ler a sua argumentação a amparar a asneira. Bom, já conhecíamos a proverbial boçalidade destes revolucionários do croquete. Ficámos agora a saber até onde pode ir a sua miséria moral...

PS: sobre o mesmo tema, mas claramente de outro campeonato, leia-se este magnífico texto de Miguel Serras Pereira, no "Vias de Facto".

A visita pascal


Sócrates estará amanhã no distrito da Guarda. Ao que parece, a comitiva reunir-se-á no Baraçal, afim de se inteirar, no estaleiro local, do estado das obras da nova auto estrada do Douro Interior/IP2 (Celorico-Trancoso-Meda-Foz Côa-Bragança). Como é de calcular, e como é habitual nestas ocasiões, a fina flor do entulho local, a que gravita muito perto do deputado Albano, incluindo inúmeros dadores de sangue, não deixará de marcar presença. Imagino também que o Engenheiro irá comparar os seus doutos conhecimentos na matéria com os técnicos locais, esperando-se melhorias ao nível da sinalização, graças ao seu aperfeiçoado inglês técnico...

sábado, 27 de março de 2010

Falta pouco...


O jogo de hoje demonstrou que a equipa mencionada nas escutas do "Apito Dourado" como o "Braguinha" é uma formação claramente vulgar. Diria mesmo banal, que tem sido largamente beneficiada por factores estranhos às quatro linhas. O Benfica, embora a meio gás, demonstrou ser superior ao seu "rival" a todos os níveis: competitivo, desportivo, civilizacional. O Domingos a chorar no final, desfilando a lengalenga de que foram iguais e mereciam a igualdade, no seguimento das declarações plenas de fel ao longo da semana, demonstram bem a menoridade cívica e profissional deste candidato a treinador e cidadão. O créme de la créme veio depois: Mossoró, um exemplo de "compostura" em campo, apareceu perante a imprensa já engessado, a "vítima" perfeita, clamando durante 20 minutos contra as "estranhezas" dos jogos encarnados. Era só fel a escorrer pelos beiços do reco. Foi digno de se ver. Pois bem, perante a demonstração de grandeza do Glorioso diante desta miserável pequenez enfermiça, só há que dizer: refocilem filhos da puta, que o vosso reinado e de quem vos governa acabou!!!

PS: a satisfação é ainda maior depois dos grunhidos dessa figura exemplar chamada Mesquita Machado, o eterno presidente da Câmara de Braga, clamando por uma arbitragem "justa"....
PS 2: já agora, é de realçar a quantidade de gente nervosa com a onda vitoriosa do Benfica. Por falar nisso, terça-feira à noite vai estar o cappo flatulento na RTP, entrevistado pela Judite de Sousa. Será que a miserável contribuição audiovisual também inclui o visionamento periódico de criminosos de delito comum?

As traseiras da casa do gajo, em dia de nevão

A procissão do Passos

Passos Coelho é o novo presidente do PSD. Quais os ingredientes da longa marcha que antecede? Uma preparação férrea, os apadrinhamentos convenientes, as vagas e misteriosas retiradas académicas, a conquista interna dos sindicatos do voto, os soundbites certos no local e hora apropriados, a campanha à americana, a chegada num andor... Eis os sinais que compuseram a entronização do antigo líder da JSD à frente do outro partido do Bloco Central. Por detrás, esteve a nebulosa clientelar do aparelho, sustentada pelas autarquias, alguns condottieri como Santana, o maluquinho de Gaia, Menezes qualquer coisa, o inenarrável Marco António, umas fulanas com ar (só ar) de veras lagoas, que aparecem nos congressos com tiques histéricos... Em síntese, um conjunto sinistro e bem agarrado aos seus interesses e aos seus jogos de influência, completamente deste mundo, e às suas fixações paranóides. Pois é só disso que se trata. O PSD revelou aqui um afastamento das suas origens como partido de base popular, da "sociedade civil". Assemelhando-se cada vez mais, na sua caracterização, aos partidos do circuito do poder da segunda fase da Regeneração liberal - o pós-fontismo - com Hintze Ribeiro e Luciano de Castro eternizando-se no Governo. Ou seja, nem uma ideia, nem uma leitura arrojada da actualidade, nem sombra de debate, nem vontade de rupturas, incorporando alguns temas liberais e tirando algum partido do estertor ideológico, mas sobretudo moral, de certa esquerda. Nada. É então esta a direita com expressão partidária que temos? O corpo político cuja nova cabeça é uma espécie de Sócrates bem arranjadinho e sem licenciaturas duvidosas? No meu caso, este jogo de espelhos até vai facilitar a vida. Se fosse outro o candidato vencedor, talvez uma simpatia natural impedisse a crítica distanciada e pertinente. Todavia, graças ao novo líder e sua entourage, fiquei com um magnífico campo de tiro à disposição. Ou seja, baterias assestadas e fogo à discrição!... Boa Páscoa e amendoinhas...

quinta-feira, 25 de março de 2010

Stalker

Uma história de amor...

As conversões, as iluminações, as combustões espontâneas, as apostasias, as revelações místicas, as hierofanias inexplicáveis e outros fenómenos congéneres têm, quase sempre, um tronco comum. Acreditemos que sim. Ainda que, neste caso, encimado por uma carinha laroca... Aconteceu à hora de almoço. No meio do habitual zapping, deparei com a proverbial TVI. Exactamente no momento em que irrompeu a Marta, correspondente da Agência Financeira, por entre as resmas de pixels do ecrã. Ah, momento sublime!!! Ah, perdição que tomaste conta de mim!!! Como foi possível? Ah, o doce desespero, a altura, o mar, a soberania do acaso... Coisas não fechadas, abertas de par em par, como se o peito rebentasse... Quando me recordo do eco, que antes palavras como "ratings", "flutuações cambiais", "índice Dow Jones", "abrir em baixa", "cair em alta", "títulos transaccionados", "praça de Tóquio", tinham em mim!... Quedas consentidas, subidas fulgurantes, lances virtuais que compunham uma linguagem fantasmática, estéril, que produzia tantas emoções no meu ser como um algoritmo matemático ou a leitura das indicações terapêuticas de um anti-inflamatório. Ou seja, o mesmo que uma ladainha numa língua ininteligível. Uma cifra cuja repetição cadenciada induzia a memorização da forma, a neutralidade do fonema oco. Uma frenética liturgia do capital, sem templos nem genuflexões, ampliada pelos holofotes do espectáculo. A narrativa possível para o vazio. Mas tudo isso acabou, mal vi a Marta... O que era asséptico tornou-se um sopro e um arrepio, o que era inatingível ficou ao alcance da mão... Enfim, das trevas nasceu a luz, essa é a mais pungente realidade, meus amigos. Apesar dos seus "espirros", das amoráveis hesitações, dos "portantos", do à vontade esforçado... Mas será que a verdadeira beleza dispensará uma ligeira imperfeição para se fazer anunciar? E pronto, já só ambiciono ser o corretor preferido das suas primícias...

quarta-feira, 24 de março de 2010

O Museu



Dois exemplos de obras expostas no Museu Nacional do Azulejo, que (re)visitei recentemente. Um espaço magnífico, dos mais emblemáticos da capital, graças ao acervo artístico que encerra, maxime a vista panorâmica de Lisboa antes do terramoto, à localização privilegiada e ao notório dinamismo. Além disso, a permanência por alguns momentos no novo espaço de cafetaria, com abertura para o claustro, é um verdadeiro regalo. Pude ver também a exposição temporária "Casa Perfeitíssima", a propósito dos 500 Anos da Fundação do Mosteiro da Madre de Deus, (onde o Museu se situa), pela Rainha D Leonor, patente até 11 de Abril.

Lembram-se do Zé?

A Câmara de Lisboa vai pagar ao consórcio CME/Tâmega 18,1 milhões de euros por causa do Túnel do Marquês, segundo o acordo alcançado entre as duas partes nas negociações que permitiram à autarquia poupar 6,5 milhões. De acordo com fonte do município, o acordo entre a Câmara de Lisboa e o consórcio foi assinado terça feira, quase seis anos depois de as obras no Túnel do Marquês terem parado por causa de uma providência cautelar interposta por José Sá Fernandes, hoje vereador na autarquia.
(Notícia completa aqui).

Eis um bom exemplo de como a factura da demagogia é sempre paga pelos mesmos...

domingo, 21 de março de 2010

Germinal

(de 21 Março a 20 de Abril)

sábado, 20 de março de 2010

Insónia

E se de repente as pessoas começassem a dizer sempre a verdade? Podemos imaginar que seria o caos. Ao nível da comunicação, das regras sociais, das crenças, religiosas ou não, do comércio, da política, das relações amorosas. Seria como desligar os faróis do carro durante a noite, numa estrada à beira da falésia. Assustador.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Le jour de gloire est arrivé


O Benfica passou aos quartos de final de Liga Europa. Demonstrando uma classe que silenciou o Velodrome, os jornaleiros avençados do costume e a agremiação anti-Benfica, o 2º maior clube português, como se sabe. Uma vitória com sabor a mel, já que não só a imprensa francesa já cantava, precisamente, de galo, como também a bolsa das apostas já dava 2/3 pela derrota benfiquista. Um feito conseguido, ainda por cima, para não variar, contra uma arbitragem à moda da casa, pela mão de um obscuro esloveno. Por outro lado, o Sporting ficou pelo caminho. Temos pena. O único consolo dos adeptos da vetusta colectividade foi terem assobiado a plenos pulmões o pobre do Simão Sabrosa, sempre que pegava na bola. Comentários para quê? São mesmo diferentes, não são?

Vô cê si lembra?

Fotos da nossa Turma na Escola... saudades!!!
Nossa... não acredito que consegui achar você pela internet. Eu sou a Maria Eugenia prima do Roberto, lembra ? Há um tempo atrás, estava a procurar todos que estudavam na nossa escola, e por intermédio da Paula eu consegui achar o seu email. Você lembra da minha câmara fotográfica de tirar fotos que peguei escondido da vovó? Consegui passar TODAS para o meu computador, onde você está em pé. Clique na foto para baixar e veja se você me reconhece... Eu fui a menina mais tímida da turma e estou na parte de baixo da foto.

Recebi ontem este regalo no outlook. Claro que, se abrisse a anunciada foto, sairia logo da cartola um daqueles vírus mais feios do que o predador do outro mundo, quando tira a máscara para o mano a mano final com o Schwarzenegger. O filme passou ontem na RTP, by the way. E a besta não pararia até fazer merda a sério no meu querido PC. Ah, Eugénia de Tróia!!! Hoje vou sonhar contigo... Será que ainda és tímida?

Lido

O Partido Socialista é socialista nos anos eleitorais, neoliberal nos restantes.
O Partido Social Democrata é neoliberal na oposição e socialista no governo.

João Miranda, no "Blasfémias"

quarta-feira, 17 de março de 2010

Playlist da casa (22)



"Scratch My Back" é o 14º álbum do arcanjo Peter Gabriel. Lançado no mês passado, contém uma selecção de covers com tratamento gourmet. Imprescindível. Fiquem com o tema de abertura, "Heroes", o eterno hino de Bowie.

Ver anterior

Stalker

terça-feira, 16 de março de 2010

O Partido do senhor Silva e do tio Alberto (1)

Por iniciativa do eterno Santana Lopes, o país assistiu durante o passado fim de semana a mais um Congresso do PSD. A magna reunião decorreu, como é sabido, em Mafra. Mais precisamente no Pavilhão Eng. Ministro dos Santos, presidente da autarquia local desde, salvo erro, o período Cretáceo. O qual, fazendo jus à profícua tradição inaugurada pelo comendador Vieira de Carvalho na Maia, baptiza equipamentos pagos com dinheiros públicos com o seu cristianíssimo nome. Vá, caros amigos, nada de poses de virgens ofendidas... "Afinal", pensará o Ministro engenheiro, "se eu não me homenagear a mim próprio, quem o fará?". E no seguimento, "olhem, quem nunca quis construir um calhau (nome que é dado na gíria militar local ao Convento, e que dificilmente esquecerei, graças aos 4 penosos meses de instrução e muita lama na Tapada), nem que seja no Lego, que atire a primeira pedra!!!". Justíssimas lucubrações, direis, e com toda a razão! Toda uma teia argumentativa de peso... Que ilustra uma síntese perfeita entre o epicurismo puro e duro e a literatura de auto-ajuda! Mormente as prolixas edições do guru Osho, diria eu... Adiante. Do convénio propriamente dito, algumas notas:
- Tirando o bónus extra de campanha oferecido aos dois candidatos underscore (Aguiar Branco declaradamente e Rangel cada vez menos), o Congresso pouco ou nada trouxe à clarificação da vida interna e à definição de uma linha política consistente pelo PSD;
- Passos Coelho surpreendeu-me pela positiva. Sobretudo porque insistiu em fazer passar um discurso sustentável para o país, conseguindo assim marcar a agenda política para o exterior. E também porque não quis alinhar no patético beija-mão a Jardim. Por outro lado, num lance de contra-fogo, quis cortar pela base as críticas pessoais mais recorrentes que lhe são atiradas. Demonstrou pois ter a lição bem estudada;
- Rangel optou pela tonitruância tribunícia, percebendo que nada melhor entusiasma e une o povo do PSD do que a emergência do poder e a proclamação do seu exercício. Mas pouco ou nada de substancial se lhe ouviu. Mormente em relação ao PEC. Eis um exemplo feliz da aplicação da linguagem binária espera/esperança ao debate político. Com isso, garantiu aliados, fez vacilar muitos indecisos e trouxe para si alguns neófitos. Mas chegará?

- Aguiar Branco, em circunstâncias normais e num partido sem sindicatos de voto nem lógicas clientelares, demonstrou que seria o melhor candidato dos três;
- Marcelo, como seria previsível, passeou o seu proverbial brilhantismo. Dessa forma condicionando a própria agenda eleitoral dos candidatos, nomeadamente quanto ao apoio à reeleição de Cavaco. Graças ao seu discurso, confirmou uma vez mais ter um sentido de oportunidade único no que à análise, avaliação e antecipação do jogo político diz respeito. Todavia, percebeu-se que esgotou aqui a sua derradeira oportunidade para a acção. Para além de assegurar um lugar cativo como valido/conselheiro do próximo líder, seja ele quem for. Talvez Marcelo não tenha percebido, para seu prejuízo, que o pavor de errar é menos desculpável do que o erro propriamente dito. Ou então, se percebeu, esqueceu-se que um Code Civil, por muito brilhante e revolucionário que seja, de pouco vale se não tiver um Napoleão a outorgá-lo.
(continua)

O Partido do senhor Silva e do tio Alberto (2)

- O cesáreo Jardim, como não podia deixar de ser, abrilhantou o Concílio com a sua majestática presença. Desta feita, conseguindo congregar na sua pessoa um inédito unanimismo piedoso, uma lacrimejante reverência, só devida, sejamos francos, aos "grandes do reino". Algo nunca visto. A explicação mais óbvia para esta genuflexão devocional colectiva (que, em grande medida, faz lembrar a célebre sequência da gorada execução do protagonista de "O Perfume", de Süskind) estará no peso dos delegados madeirenses, aquando da contagem final de espingardas. Também, é claro. Mas o que aconteceu foi outra coisa, incomparavelmente mais grave. Jardim comprou a tragédia que se abateu sobre a Madeira por dez reis de mel coado. Para vendê-la, a preços exorbitantes e em momentos cirúrgicos, a quem depende, politica e financeiramente. Jardim deu a conhecer neste Congresso a sua nova roupagem: embaixador plenipotenciário de uma catástrofe humanitária que utiliza para fins de branqueamento político, amealhando os dividendos que essa situação possa trazer. Uma velhacaria a que o PSD reunido em Mafra deu ampla cobertura, como se viu.
- Sobra a já célebre "lei da rolha", aprovada por proposta de Santana Lopes. A qual diz mais ou menos isto: qualquer militante que se atreva a criticar a direcção nos dois meses anteriores a um acto eleitoral terá um processo disciplinar à perna, que pode ir até à expulsão. A solução, que consagra um autêntico delito de opinião, é abominável, evidentemente. Mas já lá vamos. Antes, é preciso referir que o episódio foi imediatamente comentado pelo speaker socialista de serviço: Vitalino Canas. A melíflua personagem balbuciou algumas indignações de ordem apocalíptica, com uns sinistros trejeitos bocais pelo meio. O problema, nestes casos, são os telhados de vidro. Como se sabe, o debate e a crítica não abundam para os lados do Rato. O silêncio é devidamente policiado pela núcleo duro socratiano desde 2005. E toda a gente se recorda do tratamento que foi dado ao histórico Edmundo Pedro, quando colocou algumas dúvidas sobre a existência de pluralismo interno no PS, precisamente antes da reeleição de Sócrates como secretário-geral. De resto, leia-se o art. 94º dos estatutos do PS. Embora a letra da lei não seja a mesma, o resultado é idêntico. E sem os 6o dias. Como li algures na blogosfera, pelo menos desde que mataram a Rosa Luxemburgo, ninguém se lembra de ver um socialista criticar os seus dirigentes.
- Seja como for, ao aprovar esta alteração estatutária, o PSD perdeu qualquer autoridade política para manter na sua agenda a denúncia da "asfixia democrática". A questão da liberdade de informação e de expressão é demasiado séria para ser desbaratada por tão pouco. E "tão pouco" quer dizer que a proposta de SL se deve exclusivamente ao seu ajuste de contas com o passado. Aliás, a hidden agenda de Santana para este Congresso incluía certamente a terapia de grupo e o uso intensivo do role playing. Todavia, se as suas limitações óbvias ao nível da personalidade e o seu permanente auto-centramento são já dados adquiridos, não se compreende como proposta tão aberrante teve tamanho acolhimento entre os delegados. Como também não se compreende como a tímida discordância manifestada pelos candidatos não foi expressa de forma mais veemente e comprometida. A não ser, como alguns dizem, que o PSD já percebeu que o próximo líder, qualquer que ele seja, será uma solução transitória, incapaz de unir o partido. E desta forma se conformando com uma solução administrativa de carácter disciplinador, numa área onde a política é quem mais ordena. Ou devia.

PS: os esclarecimentos dados a posteriori por Santana Lopes, em defesa da alteração, valem por si.

Playlist da casa (21)

"Elegiac Cycle" (Warner Brothers, 1999), Brad Mehldau,

liner notes, (texto do autor incluído no CD)

segunda-feira, 15 de março de 2010

Lembrete

Logo à noite, no programa "Prós & Contras", na RTP1, irão estar frente a frente (ou lado a lado, embora a primeira opção seja mais estimulante) José Gil e Eduardo Lourenço. Ir-se-á discutir o futuro de Portugal, sob o tema "Novos Horizontes" (designação kitsch até dizer chega, mas o que é que se há-se fazer?). Graças à presença dos dois pensadores, já valerá a pena uma espreitadela. A emissão começa por volta das 22.30H.

domingo, 14 de março de 2010

Borges sempre connosco

Soy

Soy el que sabe que no es menos vano
que el vano observador que en el espejo
de silencio y cristal sigue el reflejo
o el cuerpo (da lo mismo) del hermano.

Soy, tácitos amigos, el que sabe
que no hay otra venganza que el olvido
ni otro perdón. Un dios ha concedido
al odio humano esta curiosa llave.

Soy el que pese a tan ilustres modos
de errar, no ha descifrado el laberinto
singular y plural, arduo y distinto,

del tiempo, que es de uno y es de todos.
Soy el que es nadie, el que no fue una espada
en la guerra. Soy eco, olvido, nada.

Jorge Luis Borges

sexta-feira, 12 de março de 2010

Irena Sendler (1912-2010)


Esta senhora, recentemente falecida com 98 anos, deveria ser nomeada, com inteira justiça, de Benfeitora da Humanidade, se tal título existisse. A história conta-se em poucas palavras. Durante a 2ª Guerra Mundial, Irena conseguiu uma autorização para trabalhar no Gueto de Varsóvia, como especialista de canalizações. Tal só foi possível graças à sua nacionalidade alemã e ao atestado de "sangue puro", é claro. Mas os seus verdadeiros objectivos iam muito mais além... Sabia muito bem quais eram os planos dos nazis relativamente aos judeus, mesmo que a palavra "endlosung" lhe fosse desconhecida. Como actuava? Irena transportava crianças judias para fora do gueto, escondidas no fundo da sua caixa de ferramentas. Levava também um saco de serapilheira, na parte de trás da sua camioneta, para crianças de maior tamanho. Como meio dissuasor, no mesmo compartimento levava sempre um cão, a quem ensinara a ladrar aos soldados nazis quando entrava e saia do Gueto. Claro que os soldados não queriam nada com o cão e, para além disso, o ladrar encobriria qualquer ruído que as crianças pudessem fazer. Enquanto conseguiu manter este trabalho, conseguiu retirar e salvar cerca de 2500 crianças. Por fim, os nazis apanharam-na e foi torturada brutalmente. Irena mantinha um registo, com o nome de todas as crianças que conseguiu retirar do Gueto, o qual guardava num frasco de vidro, enterrado debaixo de uma árvore no seu jardim. Depois de terminada a Guerra, tentou localizar os pais que tivessem sobrevivido e reunir as respectivas famílias. Infelizmente, a maioria tinha sido levada para os campos de extermínio. Para aqueles que tinham perdido os pais, mesmo assim, ajudou a encontrar casas de acolhimento, ou pais adoptivos.
No ano passado foi proposta para receber o Prémio Nobel da Paz... Mas sabem que mais? Acabou por ser preterida em favor de Al Gore. Um ex-presidente americano que andou a fazer conferências por todo mundo, pagas a peso de ouro, onde mostrava uns diapositivos sobre o Aquecimento Global. Lembram-se?

O escravo sorridente


Leiam bem a seguinte oferta de emprego, na parte dos requisitos exigidos. Acreditem que é mesmo real.

Nível de Aptidões Técnicas: 1.Fortes capacidades conceptuais; 2.Excelente capacidade na resolução de problemas.
Nível de Capacidades Profissionais: 1.Excelente capacidade de comunicação escrita e oral; 2.Excelente capacidade de Organização; 3.Capaz de trabalhar eficientemente cruzando diferentes ambientes funcionais; 4.Atitude positiva e um excelente senso de Humor; 5.Capaz de trabalhar sob stress, em tempos de execução de tarefas muito curtos e de forma autónoma; 6.Excelente capacidade de Análise; 7.Capacidade de trabalho excepcional.
Atributos: 1.Paixão; 2.Accountability; 3.Orientação a resultados; 4.Capacidade de adaptação; 5.Atenção ao detalhe; 6.Bom trabalhador em equipa; 7.Excelente capacidade a resolver problemas.

Como porventura se deram conta, trata-se de um emprego para um autêntico Übermensch nietzscheano caricatural. Ou seja, para um verdadeiro apaixonado por accountability (que, em bom português, significa, "pôr-se a jeito"), um cruzador de diferentes ambientes funcionais, acima de qualquer suspeita, capaz de trabalhar sob stress olhando para o relógio, sem sequer praguejar onde um estóico o teria feito, possuidor de um conceptualismo à prova de detalhe, não vá o diabo tecê-las, bom em equipa e em "autonomia", adaptável a tudo, calcinhas sempre em baixo, agradecer sempre, e ainda capaz, ainda pronto para tudo resolver, tudo prever, tudo organizar, tudo remendar, o funcionário modelo que preenche os sonhos mais lúbricos do capital, o que cumpre a hagiografia do produtor* inefável, do executor multiusos, de um émulo de Deus sem Deus, de um semideus sem arte, gravitando em torno da perfeição de um autómato, destilando energia positiva, sempre energia positiva, e humor, muito humor, enquanto o látego sobe e desce, enquanto os dias se estendem como tições em brasa, enquanto a mentira vai sobrando como a única verdade, enquanto lhe é negado o último reduto da sua dignidade, enquanto o sorriso regulamentar vai enganando a submissão.

*Vd. "Vigiar e Punir", Michel Foucault

Stalker

quinta-feira, 11 de março de 2010

Estudos para um ódio de estimação perfeito

O arquétipo generosamente esculpido do espertalhaço, que arrecadou uns fundos na formação no "bom tempo", o suburbano da roulotte na Caparica, o tal da sardinha assada, o que fala alto na tasca da sua agremiação mas baixa as orelhinhas com o "Senhor Doutor", o tal que montou uma empresa de sondagens, depois de alguém lhe ter explicado que não eram furos artesianos, o que já mexeu no "meio" sindical, cujo patois vai soletrando, à mistura com um arremedo de discurso tecnocrático que copiou dos "empresários", os quais sempre invejou secretamente, capataz inconfessado, o mesmo que enche a boca com palavras como chairman e cluster e que associa a bebidas requintadas, o tal que tem um primo no Ministério, o tal que sabe umas coisitas de relações de trabalho e pequenas manigâncias reivindicativas, que agitou umas bandeirinhas na era do aquário, o bacano que se vai safando, que manda uns bitaites esclerosados, que defende as suas cores na TV com a desfaçatez dos ignorantes, o tal que, mal abre a boca, não consegue esconder uma langue de bois do tamanho das suas gravatas... SIM, ecce homo!

quarta-feira, 10 de março de 2010

A máquina de guerra do gajo

O poço

1. em certos momentos, sinto que neste blogue falta metier, suor honesto, um tempero discreto mas poderoso, alçapões comunicantes, o estandarte do alferes cristóvão rilke, antepassado do poeta, os cavaleiros valorosos em repouso, as águas do levante, as linhas do levante no teu rosto, os outros mortos, os que resistiram até ao fim, as pequenas vitórias, o barro primordial, os anjos sussurrantes, as palavras em trânsito, as palavras por despertar...
2. com isto, não sei quão optimistas serão os poetas e os amantes. só que eu nunca disse: mãe, olha, sem mãos!

terça-feira, 9 de março de 2010

O homem do aparelho

A corrida eleitoral no interior do PSD está ao rubro. Só espero que, ao longo da campanha, o debate politico-ideológico, e não simplesmente os casos da actualidade, seja o cerne do argumentário. Sobre Passos Coelho, já aqui tornei público por várias vezes o que penso acerca dele: um produto genuíno dos berçários partidários. Está mais firme do que nunca a minha convicção de que se trata de uma espécie de Sócrates laranja, só que aprumado como quem vai para um baile de finalistas do liceu. Recentemente, um amigo relativamente bem colocado na engrenagem daquele partido, relatou-me um episódio assaz curioso. Porventura à semelhança de outras organizações, existe no PSD uma figura carismática e privilegiada, no que toca ao seu modus operandi: a secretária das secções. É por ela que passa toda a informação relativa à actividade política, à logística, às finanças. É a secretária o elo incontornável, o filtro, o pilar silencioso, mas insubstituível. Por isso mesmo, desde sempre, à cautela, instalou-se a ideia de que, quem quer que ambicione a liderança ou um lugar de destaque nas estruturas do partido, não pode ignorar o verdadeiro poder paralelo das secretárias. Passos Coelho, ao que parece, foi mais longe. Ainda líder da JSD, contou-me o meu amigo, chegou a memorizar a lista das secretárias das secções mais importantes do partido, tratando-as pelo nome antes de iniciar qualquer expediente organizativo. Imagino mesmo que, no limite, teria uma agenda com o rol completo. Just in case!!!...

Preces atendidas - 36

Lauren Bacall


Os nichos do escritor

Para que cessem as dúvidas, também há o Escritor-Que-Mede-Leitor-A-Metro. O tal que tudo dá e tudo pode tirar. O que vai anotando, à margem, alguns dos seus tipos de ouvintes: Leitores de Ontem, Leitores do Ano Passado, Leitores da Rua A, Leitores da Rua B, Leitoras de Olhos Claros, Leitoras de Cachecol, Leitores Pouco Interessantes, Leitores Estratégicos, Leitores Tácticos, Leitores Inimigos, Leitores Bajuladores, Leitores Raivosos, Leitores Traidores, Leitores na Patagónia, Leitores de Berlim, Leitores Insuportáveis, Leitores Sentados no Trono, Leitores que Mexem os Lábios, Leitoras que Cruzam e Descruzam as Pernas, Leitores em Trânsito, Leitores de Cuecas, Leitores Professores, Leitores de Faculdade, Leitores com Verrugas no Nariz, Leitores em Tese, Leitoras com Bâton cor de Abacate, Leitoras no Meio de Batalhas Feromónicas, Leitores a dez mil metros Acima de Nós...

segunda-feira, 8 de março de 2010

Stalker

domingo, 7 de março de 2010

A paisagem do escritor

Criou-se a ideia de que, nos encontros literários, os escritores se aproximam do público, o público se aproxima da literatura e os livros se transformam num prato de amendoins no meio da cavaqueira. Por sua vez, cre-se que os escritores supostamente despem a sua áurea de inacessibilidade - "até falam de futebol", disse-me uma prima que esteve num encontro desses, há uns anos -, fazem esquecer epopeias misantrópicas e trocam acaloradamente os respectivos cheiros a sovaco. Alguns não se importam mesmo em subir a saia e deixar escapar algumas inconfidências acerca da sua próxima obra. Outros, são já profissionais da "coisa". Misturam-se no milieu como agentes infecciosos oportunistas. Nunca escreveram nada que se aproveitasse, mas o seu esforço penetro-insinuante acaba por dar frutos sumarentos. Estão quase sempre. São vistos. E se são vistos, algum editor acaba por convidá-los para. Neste caso, a chamada endurance do croquete, com final feliz. Já agora, por falar em croquete, vou dizer o que, para mim, representa a maioria dos encontros literários: sessões de masturbação colectiva. Nem mais. Isto porque os verdadeiros encontros literários passam-se, digamos, noutra frequência hertziana, noutro filme: é o escritor, quando se encontra a si próprio, ou seja, o seu terreno. Alguns exemplos: Malcolm Lowry e o México, Duras e a Indochina, Rilke e os anjos, Kafka e as sombras, Yourcenar e as ilhas gregas, Camus e o sol do Mediterrâneo, Nabokov e o exílio, Borges e os labirintos, Faulkner e Yoknapatawpha.

sábado, 6 de março de 2010

O algodão não mente

Eis o resultado de um exame detalhado, efectuado ao certificado de habilitações do "engenheiro" José Sócrates, disponibilizado pelo Jornal "PÚBLICO". Só fico admirado como há ainda quem leva este "pavãozinho de aparelho" a sério...


Não me detive nas classificações. Verifiquei que o documento estava datado ( 96/08/26), assinado pelo chefe da secretaria e...e... como sempre, os meus olhos detiveram-se em dois pormenores sem importância: no papel timbrado da Universidade Independente, no rodapé, entre outras informações, constam o endereço (físico e electrónico) e os números de telefone e de fax ( 351 21 836 19 00 e 351 21 836 19 22). Só que,... em 1996, os números de telefone não apresentavam os indicativos 21, 22, 290, mas sim, 01, 02, 090... etc, como aliás, pude confirmar (a alteração só foi feita em 31 de Outubro de 1999).


Um pouco mais à frente, consta ainda, um código postal composto por sete algarismos (1800-255), o que é deveras estranho, uma vez que só em 1998 começa a ser utilizada esta nova forma de indicação. Conclusão: o certificado parece ter sido emitido, não em 26/08/1996, mas em data posterior a 31 de Outubro de 1999. O problema ("o maior dos problemas") reside no facto de o Gabinete do primeiro-ministro já ter esclarecido, que a data válida era mesmo a do certificado que se encontra na Câmara da Covilhã." Mais um erro administrativo, que só pode ser imputado à UNI" (dirá o Gabinete do primeiro-ministro. Esta ultrapassou largamente as minhas expectativas...de tão básica que é!!!...

sexta-feira, 5 de março de 2010

I' ve got a feelin'

Carlos Queiróz, o ex-futuro campeão de alguma coisa, já comentou os assobios e os "olés" ouvidos ontem no estádio Municipal de Coimbra, durante o jogo amigável com a China: "não caíram bem na generalidade dos portugueses" (sic)! Pudera! É que o "treinador das palestras", como é conhecido, esqueceu que o futebol é, sobretudo, um espectáculo. E, como tal, o público pode e deve apreciar a qualidade do desempenho dos executantes. Que não podem excluir-se dessa sujeição ao escrutínio. Um país apoia a sua selecção se sentir que ela representa o melhor futebol que aí se produz e não os interesses de uma tribo nebulosa. Um seleccionador deve ser alguém impermeável a pressões. Alguém que sabe o que quer e para onde vai, por muito que isso doa às redes de influência. Infelizmente, Carlos Queiróz é hoje pouco mais do que um moço de recados do FCP. E a selecção uma simples montra para jogadores daquele clube e uma agência de naturalização para emigrantes brasileiros. A qualidade do seu jogo deixa antever que não passará da fase de grupos em África do Sul. Com algumas humilhações pelo meio. Assim sendo, aqui fica a minha posição oficial na fase final do campeonato do mundo: apoiar a Argentina. Ou seja, a selecção onde jogarão Di Maria, Saviola e Aimar. O resto já sabem...

Mãos limpas (4)

Depois deste autêntico script para mais um cult movie de Tarantino...

Chegou a vez de Mercúrio fazer jus ao seu nome, levando a mensagem na hora certa ao "chefe" Júpiter e seus apaniguados. Para quando um pedido de resignação em cima da mesa?

O périplo brandeburguês (1)

Eis algumas das imagens recolhidas durante a recente e infelizmente curta estadia em terras berlinenses. Trata-se de registos avessos ao mainstream, frutos do momento, e onde se valoriza o particular e as circunstâncias subjectivas.


Numa loja perto de Alexanderplatz, uma zona hoje irreconhecível depois da reunificação.

Restos do Muro , entre o Reichstag (edifício do Parlamento) e a Hauptbahnhof, a nova plataforma central de transportes.

Publicidade artesanal no bairro de Kreuzberg, o "quartier latin" do sudeste de Berlim.

Um momento de nostalgia blogosférica, na Unter den Linden

Figura do telhado do Pavilhão chinês, nos Jardins do Palácio de Sanssouci, em Potsdam.

Cartaz publicitário

O périplo brandeburguês (2)

Evocação de Alfred Döblin

Mais uma lembrança do Muro, junto à Potsdamer Platz. Uma área onde a "ferida" causada pela divisão da cidade era mais visível, num golpe de mágica, transformou-se num dos símbolos da reconversão urbanística de Berlim, maxime o complexo da praça Sony.

As marcas da II Guerra, visíveis num edifício do centro de Potsdam

Num restaurante da zona de Prenzlauer Berg, o novo bairro da movida berlinense.

Pavilhão holandês do parque de Sanssouci (Potsdam), ao lado do palácio com o mesmo nome, residência de Verão de Frederico o Grande e onde Voltaire pontuou durante 3 anos na tertúlia animada pelo monarca.

Memorial das vítimas do Holocausto, junto a Wilhelmstrasse, quarteirão onde outrora funcionou o centro do poder nazi.

Low tech

Aquele amanhecer foi mesmo penoso. De bom, só havia a reconfortante vaga canora dos pássaros. O ruído de fundo da eternidade. Podia ser. Essa de que o tempo é a imagem móvel. Poesia pura, o melhor de Platão. Mas pronto, devia andar sempre com um bloco de notas directamente ligado às impressões sem data. Ao fulgor de certas paisagens que nunca existiram, porque demasiado reais. Todavia, estão ali, com uma luz impossível, ao alcance de uma lágrima, de uma pequena obscuridade lançada pelo desejo. Mas acontece que essa rudimentar tecnologia poética só aparece na medida em que nada se espere dela, pois nada garante. A não ser, talvez, o sobressalto de não saber o que se pode deixar para trás.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Stalker

Arte poética

Mirar el río hecho de tiempo y agua
y recordar que el tiempo es otro río,
saber que nos perdemos como el río
y que los rostros pasan como el agua.

Sentir que la vigilia es otro sueño
que sueña no soñar y que la muerte
que teme nuestra carne es esa muerte
de cada noche , que se llama sueño.

Ver en el día o en el año un símbolo
de los días del hombre y de sus años,
convertir el ultraje de los años
en una música, un rumor, y un símbolo,

ver en la muerte el sueño, en el ocaso
un triste oro, tal es la poesía
que es inmortal y pobre. La poesía
vuelve como la aurora y el ocaso.

A veces en las tardes una cara
nos mira desde el fondo de un espejo;
el arte debe ser como ese espejo
que nos revela nuestra propia cara.

También es como el río interminable
que pasa y queda y es cristal de un mismo
Heráclito inconstante, que es el mismo
y es otro, como el río interminable.

Joerge Luis Borges

O gira-discos recuperado do gajo


Reabilitado com pompa q.b. e na circunstância inaugurado com "Tutu", de Miles Davis.