Anna Politkovskaya foi assassinada à porta de sua casa em Moscovo. Exactamente há um ano. Já aqui tinha deixado a minha profunda indignação por este acto hediondo. A qual decerto não deixará de estar presente em todos os que acreditam nos valores em que ela acreditava. De entre a sua obra, escolhi "A Rússia de Putin", (edição Pedra na Lua, 2007, trad. António Costa Santos), o seu último livro. Trata-se de um conjunto de peças jornalísticas cujo pano de fundo é o défice democrático e a cleptocracia que se instalaram na Rússia. Começa por relatar vários casos ocorridos no Exército em que os responsáveis ficam invariavelmente impunes. Graças à dependência das instâncias judiciais em relação ao poder político. Com excepção do respeitante ao Coronel Budanov, acusado de ter espancado um oficial subalterno e assassinado uma civil tchetchena. Depois de uma série de expedientes, incluindo relatórios psiquiátricoa forjados pelos mesmos que atiravam os dissidentes na era soviética para o degredo, o caso foi finalmente julgado. Com o resultado esperado pelos "patriotas". No entanto, a pressão do governo alemão determinou que o Supremo tribunal Militar anulasse o julgamento. Repostas as garantias básicas da acusação, Budanov foi finalmente condenado a 10 anos de degredo num campo prisional. A jornalista conta-nos também as profundas transformações que sofreu o país desde a perestroika. Através das histórias cruzadas e em primeira mão de quatro pessoas. As quais sinalizam a história recente da Rússia: Tanya, uma ex-engenheira que singrou no comércio que só graças a uma infinidade de subornos consegue manter a actividade; Misha, um tradutor e intérprete qualificado, despedido, que caiu no alcoolismo e se voltou para a Igreja, acabando por suicidar-se; Lena, sua mulher; Rinat, um antigo combatente operacional dos serviços especiais da era soviética, vítima da intriga de um oficial de secretaria, burocratas que naturalmente singraramm na era Putin. Fala-nos também da história tenebrosa da nova máfia dos Urais. Em especial do seu líder, Pashka Fedulev, que graças a uma rede de apoios e subornos na Administração se tornou um intocável. Realce para o seu antigo capanga, Nikolai Ovchinnikov, o qual foi designado por Putin para vice-ministro do Interior e chefe do GUBOP, a Agência Central de Combate ao... Crime Organizado.
1.Sobre a obra, veja-se também este comentário.
2. A recente recusa de uma editora russa em publicar um livro de Kasparov não augura nada de bom.
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2. A recente recusa de uma editora russa em publicar um livro de Kasparov não augura nada de bom.
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