domingo, 18 de julho de 2010

Filmes para uma vida (3)



"Breakfast at Tiffany's"  ("Boneca de Luxo", 1961), de Blake Edwards

Com: Audrey Hepburn, George Peppard, Buddy Ebsen, Patricia Neal;
Produção: Paramount Pictures

Esta comédia melodramática constitui um dos maiores sucessos da história do cinema. Embora intemporal, soube ser  também o retrato de uma época e vê-se hoje com a mesma frescura de há 50 anos.  O filme recebeu dois Oscares: Melhor Banda Sonora e Melhor Canção (Moon River). Hepburn foi nomeada para melhor actriz principal.
A película baseia-se no livro homónimo de Truman Capote, de 1958, que se veio a tornar um verdadeiro clássico da literatura americana contemporânea. A obra foi reeditada entre nós em 2009, sob a chancela da D. Quixote, com o título "Boneca de Luxo".  A versão cinematográfica alterou bastante o argumento do livro. Algo que desagradou muito a Capote, especialmente a solução encontrada para o final.
Blake Edwards é um prolixo realizador, conhecido sobretudo por ter sido o criador da série Pantera Côr de Rosa. Mas para lá da comédia, de que o genial "The Party", com um inesquecível Peter Sellers, é exemplo maior - um filme cujo humor absurdo e obsessivo evoca Jacques Tati - experimentou o drama e mesmo filme de terror ("Experiment in Terror", 1962). Depois do seu casamento com Julie Andrews, é opinião corrente entre os críticos que a sua produção decaiu de qualidade.
Holly Golighly é a personagem principal de "Breakfast at Tiffany's". Protagonizada  por Audrey Hepburn, numa interpretação inesquecível. Deslumbrante, espirituosa e ternamente vulnerável, imprevisível, inquieta as vidas dos que com ela se cruzam. Mesmo usando uma voluptuosidade bastante esbatida em relação à personagem original, aqui substituída pela ingenuidade e pelo humor, não recua diante de expedientes para sobreviver e de planos para triunfar. Para uma história que é um autêntico libelo à sedução e, porque não, à amizade.A primeira escolha do realizador recaiu sobre Marilyn Monroe, a instâncias de Capote, que terá pensado nela como a actriz perfeita para reencarnar Holly. A que não terá sido estranho a partilha de uma vida de dissipação entre ambos.O primitivo realizador pensado pela Paramount para ao filme foi John Frankenheimer. Todavia, acabou por valer a escolha de Edwards, ao que parece imposta pela actriz.
A extraorinária banda sonora de Henry Mancini foi determinante para o sucesso da película. O tema principal, "Moon River" (composto em co-autoria com Johnny Mercer), passou imedatamente a clássico, mal o filme estreou. Moon River foi gravado em 500 versões diferentes e vendeu um milhão de cópias logo na edição original.
Há sequências no filme verdadeiramente emblemáticas. Pondo de parte a icónica serenata à janela de Holly, ressalta o plano-sequência da festa em sua casa. Os encontros mundanos eram tema corrente em certo cinema produzido nesta época. Basta lembrar o "Oito e Meio" e o "La Dolce Vita" de Fellini, o "La Notte", de Antonioni, mas sobretudo os primeiros filmes de Cassavetes, de que "Shadows" e "Too Late Blues" são exemplos maiores. Eram sobretudo uma oportunidade para a inovação estética, para mostrar o desembaraço nos costumes, para o humor, para os encontros inesperados e as declarações intempestivas.


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