terça-feira, 20 de novembro de 2007

A minha patria é a lingua portuguesa

Portugal vai pedir um prazo de dez anos para a entrada em vigor do novo Acordo Ortográfico, que unifica a escrita da Língua Portuguesa, anunciou há dias a ministra da Cultura. Questionada no Parlamento durante a apresentação do orçamento da Cultura para 2008, Isabel Pires de Lima disse que os ministérios da Cultura e da Educação vão pedir uma moratória de dez anos para que Portugal tenha tempo de se adaptar ao novo Acordo Ortográfico. É que o novo acordo, que unifica a escrita em língua portuguesa no países da CPLP, obriga a muitas adaptações e alterações, incluindo nos manuais escolares. Portugal já ratificou o Acordo Ortográfico, mas tem ainda de ratificar o segundo protocolo modificativo do documento. O que, segundo a Ministra, deverá acontecer até ao final do ano. Até agora, só o Brasil, Cabo Verde e S. Tomé o fizeram. Ler aqui a notícia completa. Esta azáfama deve-se à CPLP II - Reunião do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - que decorreu esta sexta-feira em Lisboa. E que levou o MNE Amado a adiantar que os restantes países que também ainda não o fizeram se comprometeram a ratificá-lo «rapidamente». Está pois tudo explicado. Continuamos a reboque dos interesses do Brasil nesta matéria. Como reconhece o próprio "Jornal do Brasil" de 31.07.2002: "Os brasileiros sentirão as reformas bem menos do que os portugueses". As associações representativas do sector editoral já reagiram. Dizendo e bem que não foram sequer chamadas a pronunciar-se no processo. Nem muito menos o Ministério da Educação é parte nele, como devia.
Lembro-me de uma artigo luminoso do Miguel Esteves Cardoso, a propósito deste Acordo, incluído na compilação "Explicações de Português" (Assírio Alvim, 2ª ed. 2001). Chama-se justamente "O Acordo Tortográfico". Uma brevíssima recensão pode ser aqui encontrada. Querem os promotores do Acordo - dois ou três linguistas encabeçados por Malaca Casteleiro - normalizar administrativamente a ortografia da língua portuguesa. O único beneficiário parece ser o mercado editorial brasileiro. Do lado dos custos, eles serão incalculáveis. O governo deveria denunciar o Acordo, optando por reformas pontuais, em vez de assinar o Protocolo, o que tornará o desvario irreversível. De outro modo, passaremos a escrever o célebre verso de Pessoa como no título deste post.

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