sábado, 3 de março de 2007

Os malefícios do tabaco - 2

O Governo acaba de aprovar uma proposta de lei anti-tabaco que, a ser aprovada no Parlamento, porá um ponto final na matéria. O país ficou pois a saber que o Ministro da Saúde tem desta uma noção próxima de "normalização sanitária", ou pior. Mas veja-se melhor o conteúdo da lei. Desde logo, concordo que se interdite a venda de tabaco a menores e o seu consumo nas escolas. Só que, a versão primitiva da proposta - que proíbe o consumo em qualquer estabelecimento de restauração ou diversão e dispensa os centros de saúde terem consultas para quem quer deixar de fumar - foi aquela que veio a ser aprovada. Ao contrário do que se esperaria, após o recuo do Ministro nesse ponto o ano passado. Já aqui tive ocasião de criticar este caminho agora formalizado pelo Governo. Com argumentos para os quais remeto. Temos então um novo Volstead Act (mais conhecida como Lei Seca) para o tabaco. Sob pressão dos sectores mais fundamentalistas e histéricos. Onde pontuam um ou dois médicos e ruidosos activistas. Que gostam de aparecer na TV com um discurso neo-pidesco em relação ao que o cidadão deve ou não fazer para combater o seu deficit sanitário. Até vir a ser higienicamente perfeito, genitalmente irrepreensível, civicamente insuspeito, doce serventuário do novo eugenismo em marcha... Algo que nem o próprio Willheim Reich nos seus piores pesadelos poderia prever. E com uma postura digna de uma Florence Nightingale tratando dos estropiados do tabagismo. Desconhecem todos que a verdadeira saúde è cosa mentale. O Estado vem pois reforçar o controle de comportamentos por definição privados e a limitar a liberdade de circulação de quem fuma. Para quem defende que os poderes públicos se devem abster de se intrometer naquilo que os indivíduos consomem ou deixam de consumir, como vivem, com quem, etc., como é o caso do escriba, esta lei proibicionista é intolerável. Para além de vir a afectar significativamente a indústria hoteleira. Pelo que, tudo farei para ir preso da próxima vez que puxar de uma cigarrilha "Cohiba", no final de um jantar memorável num dos meus restaurantes preferidos. A defesa da liberdade pode passar por este caminho. A questão é séria e não pode ser deixada a incompetentes e a demagogos. É altura de os sinos tocarem a rebate.

publicado no jornal "O Interior"

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