Há dias, alguém me questionava acerca da minha profissão de fé de ter sempre um plano B para tudo. Como se tal facto tivesse atrás de si uma suspeição permanente lançada aos outros. Nada disso! Pela parte que me toca, logo à partida existem duas vantagens em jogar dessa maneira. A primeira é de ordem essencialmente prática. Procede daquela ideia tributária do cinismo, que consiste em "esperar o melhor, mas contar com o pior". E não há aqui qualquer juízo de valor. Perante a evidência, nada melhor do que estar preparado para ela. Ora, se a realidade não é confiável, se os outros nos poderão surpreender a qualquer momento, a única forma de encarar o facto com naturalidade é precisamente confiar nessa tendência. Com agilidade. Sem dramas. A outra razão é de ordem filosófica e, aparentemente, mais obscura. Tem a ver com a necessidade permanente da desidentificação. Ou seja, com a capacidade de não fazer depender a nossa realidade das nossas circunstâncias. De saber despojar-nos delas. De não fazer depender uma certa plenitude dos objectos familiares que, supostamente, a confirmam. Tudo está e depois deixa de estar. Ou vice-versa. E onde entra o plano B? É simples: actuar permanentemente como visitas ou visitados. Saber ficar aceitando o que é, estando ou não.
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