quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Da pieguice

Não me surpreende a costumeira indignação dos cry babies saudosos do bom velho agit prop, por causa de uma afirmação de Passos Coelho numa conferência académica acerca da congénita pieguice dos portugueses. Alguns desses portugueses, uns por osmose com catecismos de outros tempos, já em fase de morte assistida, outros por obrigação "revolucionária", outros por ressabiamento, outros porque uma ilusão de que l´air du temps ainda é o seu particular l'air du temps, esganiçaram-se num alvoroço de capoeira contra a recomendação da Passos Coelho. Devo dizer que não me surpreendeu a regulamentar halitosis ideológica propalada pelos chefes da esquerda "revolucionária" com assento parlamentar. No entanto, confesso que a má citação de Camões por Zorrinho, líder parlamentar do PS, me deixou boquiaberto. Seja como for, o 1º ministro acertou em cheio. Juntamente com a inveja, a fome social e o medo da cidadania, a pieguice é um dos sintomas mais graves da degenerescência nacional. Uma coisa é a luta individual, anónima, muitas vezes heróica, de milhões de portugueses, por uma vida digna. Isso é sério e intangível. Outra coisa é a sua caricatura: precisamente a pieguice. Ou seja, o hábito da queixinha, da eterna lamentação, da revolta desperdiçada, do papaguear de catecismos exóticos, decalcados do tempo em que a palavra ainda fundava o poder. Ou seja, um colete de forças letal. Tudo isto enquanto as guitarras tangem e se canta o fado...

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