Em "O MUNDO PERFEITO", Isabela escreve sobre os homens em Portugal. Segundo ela, sejam eles gay ou straight, enfermam do mesmo pathos: inconstância, imaturidade, propensão para o engano, uma inclinação para a deriva predatória em que as mulheres, no que aqui interessa, coitadinhas, são invariavelmente as vítimas, etc. Conclui então que, no fundo, o que os homens gostariam era ser gays com mulheres, por via dos argumentos que desenvolve. Helas! A vociferante e paródica comunidade panasca agradece estas pérolas de sabedoria. Vejam-se os comentários ao post. Nem sequer perceberam a suprema ironia que ela encerra: os homossexuais, de um modo geral, sexualizam a vida muito para lá dos limites do doentio. Para eles, o ideal seria haver uma marcha do "orgulho" todos os dias e uma casa de banho em cada esquina. "Vamos?" "Bora lá!" É o grau zero da linguagem, 20 000 anos depois de ela ter sido inventada. É o mercantilismo no seu estado puro, de que, pelos vistos, são os melhores intérpretes. E quem sabe se a linguagem e a delicadeza não nasceram para tornar possível que uma doce mentira desperte uma inocente gargalhada? Longe, muito longe do carrossel gay do deboche minimalista. Mas o que me espanta neste tipo de discurso é outra coisa: a invocação redentora de uma espécie de superioridade moral em razão do género. De uma tendência para a generalização, que tudo distorce. Esta atitude - falsamente identitária - poderia advir, por hipótese, do estrato social, do clube, da região, da filiação política, etc. Todavia, neste caso, a causa é indiferente perante a produção de um mesmo efeito. Ora, será que a autora não percebeu que os piores defeitos atribuídos aos homens são precisamente aqueles que, hoje em dia, muitas mulheres copiam em larga escala? Será este lapso no texto motivado por falta de atenção ou simples pudor? Suponho que nem uma coisa nem outra, mas antes não querer admitir o óbvio. Senão vejamos: afirma a autora em tom irónico que "as mulheres dão muito trabalho". Mas não será essa a regra fundamental, cujo contraponto é "os homens darem-se ao trabalho"? Não será também o "doce engano" uma peça fundamental do jogo? Que restará então a esta dança sem o encanto da negociação subtil, com avanços e recuos, das mentiras inocentes, da aceitação de um jogo que raramente se confessa jogar? Já adivinharam? É a SEDUÇÃO o que está em causa. É esse o pano de fundo deste debate. Misturá-lo com a estéril dicotomia sexo/amor, se com ou sem, mais um ou menos outro, ou assim-assim, é pura perda de tempo.
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