quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Passeando na blogosfera - 3

Com as botas de trekking calçadas, mochila às costas e um impermeável para o que desse e viesse, mas sem bússola, fiz recentemente uma incursão exploratória pela blogosfera. Algumas surpresas agradáveis aconteceram. Vejamos então quais:
1. Para quem gosta de estar actualizado em matéria de software, com algumas dicas para optimizar os sistemas operativos, o Peopleware é imprescindível. Trata-se de um site que funciona como um blogue, onde são colocadas as novidades de software, informação q.b. e o respectivo link para descarga imediata. A apresentação é muito simples e intuitiva e o template do site está irrepreensível. Excelente.
2. Numa altura difícil para quem tem a sua paixão clubista pintada de vermelho, como é o caso do escriba, recomendo dois blogues: o Dianabol, editado pelo"guitarrista", o mesmo que transitou do biqueiradas. As questões são colocadas de forma séria, descontraída e irreverente, fugindo um bocado ao habitual maniqueísmo dos blogues sobre futebol, mas sem deixar de vincar uma insuspeita parcialidade; noutro registo, temos o Ser benfiquista. Um fórum mais estritamente futebolístico, onde a "clubite" está ausente, substituída por uma análise rigorosa e descomprometida da gestão, resultados e intervenientes do SLB e não só. E onde não se foge à verdade, mesmo que ela doa.
3. Por último, e num assomo de nostalgia, fui dar ao Bar Velho. Trata-se de um blogue editado por alunos da Faculdade de Direito de Lisboa, bastante participado e, embora direccionado para temas mais próximos, não se esgota aí. Recordo que, quando frequentei a Casa do Pó e Leys , ainda não havia blogues. O fervilhar de ideias e projectos tinha outros canais. Que passavam quase sempre pela distribuição de fotocópias com textos inflamados, ou por discussões intermináveis na sala da Tertúlia e...no Bar Velho. Força, pessoal.

Nota: realce para o post de João Gonçalves no "Portugal dos Pequeninos", intitulado, "A Escrita Maricas", a propósito de mais um académico de sucesso criado nas capelinhas literárias. Inspirado e arrazador. Ver aqui.

Ver anterior

12 comentários:

  1. Gil,

    As conversas eram intermináveis, não terminaram e essa é a nossa vitória...

    André

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  2. André:

    Saibamos nós dar-lhe continuidade. E se assim for, a vitória não será só nossa.

    Abraço

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  3. Gil,

    Não tenho tido muito tempo para te escrever uma prosa sobre aquilo a que dediquei os últimos quatro anos da minha vida profissional, ou seja o Diálogo com os países islâmicos. Não gostei do teu post embora até lhe achasse graça. Mas aviso-te que deves ser exacto e profissional porque a questão é importante. Repara, por exemplo que te esqueceste duma palavra fundamental na tua tradução do discurso do Papa ( não sei se o JPP também mas o JPP não é intelectual de confiança) que aliás nem foi em italiano. Na citação do Imperador esqueceste-te da palavra "soltanto" (sómente, apenas) que faz toda a diferença. Dizer que o Maomé trouxe coisas más é coisa que os islâmicos aceitam no Diálogo mas dizer que "só'trouxe coisas más e desumanas é coisa que nenhum interlocutor com uma civilização brilhante do seu lado, aceitaria.

    André

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  4. O peopleware é realmente uma feliz descoberta...

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  5. Caro anónimo,

    Diga lá o que é que quer dizer com isso por favor. Significa o valor acrescentado deste paleio "livre" da Internet, em que alguma sabedoria ou experiência pessoal vem ao de cima? Se for isso, agradeço mas eu ponha-a aqui porque sou admirador do Gil que conheço há uns anitos, n=ao a ponho ao serviço de gente que não pode ou não quer dizer quem é. Já agora digo-lhe que o post do Gil sobre o bacalhau à Brás é um perfeito disparate e ele nao precisa que eu lho diga para saber o que penso. Um bom silêncio diz muito. E, depois como nos roubam o tempo, não posso andar a publicar aqui artigos que tenho de publicar noutros sítios. Mas queria saber mais, porque "ware" ainda nao me sinto. Sei por saber que tudo o que vem na Internet é fichado na Segurança e passamos a ser hardware deles. Eu explico: depois de uns paleios, registam-se as ocorrências do texto (adjectivos, advérbios e outros sinais); depois vai-se ao Google especial que eles têm e aprece lùa o nosso nome e os sites onde estivemos. É claro que isto esta mal, e quem se regista no Sol ainda faz pior.

    Mas olhe, se esta na Guarda que fique bem claro com o ceu da Estrêla: eu sou do bando do Júlio Santos, com honra de Zé do Tilhado!

    André

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  6. Gil,

    Ora bem. Há para aí uma certa confusão. O Kemalismo na Turquia representa uma cisão do Império Otomano, muito depois de este ter deixado de se considerar Califado. O Nasserismo representa uma cisao da civilizaçao árabe-muçulmana ( que é outra coisa diferente da civilizaçao islâmica e que se bateu duramente contra os turcos como te deves lembrar do filme Lawrence da Arábia) após o período colonial. Duas coisas bem diferentes quando se trata de um importante actor na História europeia, como a Porta e de uma situação post-colonial, extra-europeia, no segundo caso. Depois, há muito outros nomes bem mais importantes de Ataturk,no islamismo moderno como Wahab na Arabia Saudita e no Sudão ou como todo o Nahdat na civilização árabe-muçulmana de que Nasser é até um fraco exemplo ( Marrocos e a Argélia talvez te sugiram mais qualquer coisa). Mas se calhar estou a ser erudito ( enquanto os outros me fazem o favor de ser ignorantes ou matarruanos). O conceito de Islao como civilização é efectivamente algo que termina com a batalha de Ankara, pouco depois do Palológo andar a penar sobretudo por causa do Ocidente, e a substituição do Império turco pelo mONGOL ( ninguém integra o império mongol no conceito de civilização islâmica. Isto quando acaba também o de Império Romano. O mal é que substituíram cultura por jornalismo, e deixaram que um cientista político, Huntington, dissesse coisas como Historiador que não é nem nunca foi, nem -- o que é pior- se reivindicou. Mas enfim...como a civilizaç=ao ocidental não é a mesma coisa que a civilização cristã, a civilizaç=ao islâmica não é a civilização asiática, árabe-muçulmana ou mediterrânica. O Islão é uma Religião, não é uma Civilização.
    Quanto ao Indomeneo vê lá se te actualizas com algumas análises especializadas sobre o 11 de Setembro e vês as questões políticas que se levantam, como as da publicaçao das caricaturas na Dinamarca e na sua exploraçao pelos interessados nesta "guerra", que por exemplo n=ao sao partilhadas por um Governo de centro-Direita francês. Como sabes muito bem há caricaturistas bem mais experimentados e contundentes em França, de origem argelina e com a cabeça a prémio ( e alguns pagaram-no) pela FIS que nunca fizeram a nazistada dos dinamarqueses, como também não andam a gozar com Cristo nem com Buda, nem com os sentimentos mais profundos das pessoas. Como calculas, os imans não se costumam queixar das publicações pornográficas ou libertinas aí da Europa, em que aparece tudo mais alguma coisa, simplesmente porque não as lêem nem a comunidade por que são responsáveis as suscita.Há uma diferença clara entre liberdade de consciência e liberdade de expressão (como um objector de consciência não tem que justificar a razão da objecção mas apenas enunciá-la, um islamita não tem que se justificar para expressar a sua indignação por ver o seu enviado de Deus achincalhado num jornal público).

    Falas de medo. Não te falo do medo que uma série de desgraçados, sobretudo mais escuros sentem a partir de Lyon até Novosibirsk, dos skin-heads, quando saiem à rua, sejam islâmicos, usem véu ou não.Lê os relatórios da Amnesty International.

    De outro medo falas. É de quem não tem tomates porque ja nao tem nem conteúdo cultural, nem alma, por trás, para trazer gente consigo. Se bem vires, repararás que foi a Directora da Ópera que decidiu não assumir a responsabilidade, justamente quando há uma cerrada eleição na Austria e um referendo sobre imigração na Suíça.

    Quanto ao equívoco, lamento...bem menor que o de dizer que o que Maomé trouxe de novo só foram coisas más e desumanas.

    André

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  7. Muito bem, André:

    É sempre inspirador escutar as tuas palavras. Todavia, no essencial, não desmentiste a ideia de que o mundo islâmico, com as suas várias nuances, perdeu o comboio da história.
    O problema aqui é outro e já percebi qual. Tu dás uma importancia às crenças religiosas, enquanto conformadoras da sociedade, que eu não dou. Para mim são apenas opções da consciência de cada um. Tudo o que seja mais do que isso é um entrave às liberdades individuais. No limite, quando o ódio necessita de um veículo para ser exercido, para muitos a religião é o mais óbvio. Porque aí adquire uma justificação inquestionável, absoluta.
    O humanismo secular e o Estado laico foram conquistas civilizacionais muito difíceis. Se essa dicotomia não tem condições para triunfar no Islão, problema deles. Mas que não queiram impôr-nos a barbárie pelo terror.
    Quanto à questão das caricaturas dinamarquesas, já tomei posição na altura. Dizendo que está em causa algo por que muitos lutaram e morreram: a liberdade de expressão. E não são turbas de fanáticos que poderão dar lições sobre isso. A liberdade de consciência é algo anterior a qualquer direito reconhecido. Um islamita pode expressar a sua indignação, é claro, se vir Maomé caricaturado. Não pode é ameaçar, coagir, decretar a morte. Até porque, supondo que viste os desenhos, o humor e a representação são criações do Ocidente e que eles desconhecem.E temem, pois o riso é devastador. Por outro lado, já viste as caricaturas que lá fizeram sobre o Holocausto e sobre Israel? Alguém no Ocidente ameaçou os jornais que as publicaram?
    Quanto às análises sobre o 11 de Setembro, espero que não estejas a falar sobre as teorias da conspiração, postas a circular por alguns patuscos. Essas só conseguem divertir-me. As outras vou ver melhor. Mas repara que, mesmo essas teorias são iguais a qualquer outro subproduto criado no âmbito de uma espécie de novo-riquismo espiritual que invadiu o Ocidente. Basta lembrares-te da invasão dos livros sobre enigmas históricos que invadiram as livrarias.

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  8. O autor do blogue parece estar mais perto da realidade. Não se pode transigir com a chantagem de quem não admite a diferença. A forma como eles tratam as mulheres é elucidativo do seu grau de progresso.

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  9. Passei por aqui e li com interesse os argumentos de parte a parte. Sobre a matéria, seria interessante reproduzir um post de António Ribeiro Ferreira em "O Estado do Sítio":

    "O Papa decidiu fazer uma série de comentáriosa sobre o Islão. Está no seu direito. Como os islamitas têm todo o direito de fazerem comentários sobre o catolicismo. Mas o que se está a passar mostra como este mundo ocidental tem o que merece. Quando aceitam censurar desenhos sobre Maomé e se põem a carpir como virgens ofendidas quando os terroristas islâmicos e outros começam aos berros; quando justificam as barbáries, os bandidos, os massacres e o terrorismo islâmico; quando propõem o diálogo com bandidos que vivem na Idade Média e nada de nada trouxeram ao mundo há muitos séculos; quando tudo isto acontece e se vê tanta gente no mundo ocidental de cócoras e cheia de medo sempre que alguém exerce o seu direito a exprimir livremente opiniões, é caso para dizer que esta civilização de liberdade e direitos humanos está em perigo se ficar nas mãos da esquerda e de uma certa direita cobarde. Perante as ameaças, as manifestações, os gritos, o folclore, a única resposta é a firmeza na defesa dos nossos valores, como o da liberdade de expressão. Gostem ou não os senhores e senhoras que livremente são islamitas."

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  10. Comentando o post propriamente dito, achei um piadão ao tal professor Frederico Lourenço. Sobretudo quando ele declara urbi et orbi: "O meu Verão passou-se em fervorosa releitura dos meus dois autores preferidos: o divino Marcel e o divino Thomas". Não é tão querido?

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  11. "Pensar é como andar à chuva", já dizia o Alberto Caeiro. Então, ainda bem que há quem prefira molhar-se do que andar irrepreensivelmente seco. Com um bem a propósito módico de humildade, o escriba nomeia onde começou a sua vontade de andar à chuva: "O Discurso da Servidão Voluntária" de La Boétie, um amigo de Montaigne, morto jovem e decerto porque os deuses amavam. Este escriba passou então a creditar em utopias, em que cada um possa ser senhor do seu destino, onde as regras derivariam directamente da necessidade e da inocência. Daí o desdém por movimentos supostamente religiosos, onde a rigidez histérica serve só para mascarar uma vacuidade, um abismo de poder. Ora, à medida que o poder “desaparece”, a nossa vontade de poder deveria ser o desaparecimento.Mas não, para os fanáticos do Islão, o poder que desejam expandir tem uma legitimidade divina, de que eles são os executores. Para isso, contam com uma espécie de má-consciência ocidental, que dá cobertura a este tipo de delírios de ordem patológica. Não ter medo desta praga obscurantista é o mínimo que podemos fazer.
    Crendo que as várias posições sobre o assunto ficaram suficientemente explícitas, agradeço a participação dos que aqui intervieram, e especialmente ao André.

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  12. Não deixo de manifestar a minha indignação com a frase do anónimo que se intitula André - até aí me parecendo ser uma pessoa bem informada - quando diz para não nos preocuparmos com as mulheres "deles", mas sim das "nossas". E que, ao fim ao cabo, são elas que aparecem à frente a defender a causa islamita. O patético senhor Yossuf Adamgy, que apareceu no último prós e contras na RTP não diria melhor. Falo do tal que afirmou que, ao fim ao cabo, eram elas que aceitavam livremente a lei islâmica. Ora, em primeiro lugar. devo dizer que o anónimo está muito mal informado. Há movimentos de mulheres criados nalguns países islâmicos com um papel activo na luta contra o estatuto a que são submetidas. Todos os dias aparecem nos jornais denúncias de mulheres que foram perseguidas e obrigadas ao exílio por não terem aceite as regras. Por outro lado, o anónimo parece também padecer de alguma ingenuidade: será que não percebeu que os fanáticos metem as mulheres em primeira linha nas manifestações enquanto operação de marketing para "Ocidente ver"? Fazem-no, aliás, da mesma forma que usam escudos humanos no sul do Libano. Por último, misturar a pornografia e a pedofilia com isto é de muito mau tom. Como mulher, estou farta deste tipo de moralistas que relativizam tudo à medida das suas conveniências argumentativas. E que normalmente, dizem uma coisa e fazem outra. Conheço o Gil relativamente bem e creio que, neste ponto, pensa da mesma maneira que eu. E que só por uma questão de boa educação e deferência para com alguém que creio amigo não respondeu como agora o faço.

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