quarta-feira, 5 de julho de 2006

O soccer, o futebol e o clister.

Chegou-me este artigo publicado num jornal online norteamericano. A propósito da inclusão de Portugal no top four do futebol mundial e que, pelos vistos, incomoda muita gente. Fiquei obviamente chocado. Não por razões patrióticas. Mas porque gosto de ser português, o que acredito ser incompatível com a condescendencia e a ignorância boçal manifestada nesta inqualificável redacção. Aqui, ao contrário de Oscar Wilde, não penso que falar mal de nós seja lamentável e não falar de todo seja trágico. Este "argumentário" claramente xenófobo do articulista não é gratuito. Uma opinião vale o que vale, é certo. Mas este desprezo cavernícola traduz de facto uma ignorância mais próxima do cidadão médio americano e cuja dimensão estava longe de imaginar. Corresponde a uma tendência cultural e sociológica caracterizada pela soberba.
O bom senso dos "founding fathers" da nação americana sempre me fascinou. Um bom senso de pequenos proprietários, num momento histórico em que a tecnologia ainda não tinha separado irremediavelmente o homem da compreensão e do domínio de facto dos objectos com que lida no seu dia a dia. Um bom senso que erigiu um sistema de poderes que se fiscalizam mutuamente e que da política retirou o fundamental: os factos resultam da acção e não de intenções. Sobre eles rege a lei e nada mais. Esse sistema tem impedido que o mundo se tenha tornado um local perigoso e fanatizado. Que esta identificação fique clara.
Mas existe o reverso da medalha. O imperialismo americano não é só retórica. Há uma ignorância irresponsável, uma insuportável arrogância que lhe subjazem. Que alimentam um discurso onde a verdadeira diversidade se reduz ao tipicismo uniformizador e hollywoodesco. Que demoniza quaisquer argumentos que questionem a sua superioridade (veja-se o ostracismo a que Noam Chomsky foi relegado após o 11 de Setembro). E que, finalmente, numa verborreia chauvinista, procura ridicularizar as nações de menor dimensão.

Sobre o assunto, leia-se o apropriado texto de Pedro Martins, em "Sesimbra e Ventos". Aqui

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